{"id":101023,"date":"2013-12-18T00:00:54","date_gmt":"2013-12-18T02:00:54","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=101023"},"modified":"2013-12-17T23:47:31","modified_gmt":"2013-12-18T01:47:31","slug":"aquiferos-do-recifepe-correm-risco-de-salinizacao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2013\/12\/18\/101023-aquiferos-do-recifepe-correm-risco-de-salinizacao.html","title":{"rendered":"Aqu\u00edferos do Recife\/PE correm risco de saliniza\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"

Os aqu\u00edferos do Recife (PE) correm risco de saliniza\u00e7\u00e3o e contamina\u00e7\u00e3o em raz\u00e3o da perfura\u00e7\u00e3o indiscriminada de po\u00e7os tubulares privados na capital pernambucana nos \u00faltimos anos.<\/p>\n

O alerta foi feito pelo professor Ricardo Hirata, do Instituto de Geoci\u00eancias (IGc) da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) e diretor do Centro de Pesquisas de \u00c1guas Subterr\u00e2neas (Cepas), durante a 1\u00aa Reuni\u00e3o de Avalia\u00e7\u00e3o do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas Globais (PFPMCG), realizada nos dias 28 e 29 de novembro em Bragan\u00e7a Paulista, no interior de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n

\u201cHouve um aumento impressionante de po\u00e7os tubulares no Recife para uso privado, com 100 a 200 metros de profundidade, que passaram a ser utilizados como fonte suplementar de abastecimento de \u00e1gua na cidade, principalmente pelas classes mais abastadas\u201d, disse Hirata \u00e0 Ag\u00eancia FAPESP.<\/p>\n

\u201cDevido a uma s\u00e9rie de fatores, as \u00e1guas desses po\u00e7os e do aqu\u00edfero t\u00eam ficado salinizadas\u201d, afirmou o pesquisador, que coordena um Projeto Tem\u00e1tico, financiado pela FAPESP, com o objetivo de avaliar a degrada\u00e7\u00e3o das \u00e1guas subterr\u00e2neas em Recife no contexto das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas globais.<\/p>\n

O estudo \u00e9 realizado no \u00e2mbito de um acordo mantido pela FAPESP com a Funda\u00e7\u00e3o de Amparo \u00e0 Pesquisa de Pernambuco (Facepe) e a Agence Nationale de la Recherche (ANR), da Fran\u00e7a, e re\u00fane, do lado de S\u00e3o Paulo, pesquisadores do IGc, da Escola de Engenharia de S\u00e3o Carlos da USP e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).<\/p>\n

De acordo com Hirata, uma das constata\u00e7\u00f5es feitas durante a realiza\u00e7\u00e3o do projeto, iniciado no fim de 2011, \u00e9 que tem ocorrido mudan\u00e7as no padr\u00e3o de consumo e de intera\u00e7\u00e3o dos moradores do Recife com a \u00e1gua nas \u00faltimas d\u00e9cadas.<\/p>\n

A exemplo de outras capitais nordestinas, a cidade registra, desde o in\u00edcio da d\u00e9cada de 1970, crescimento populacional e, consequentemente, aumento da demanda por \u00e1gua pot\u00e1vel.<\/p>\n

Segundo Hirata, o abastecimento p\u00fablico dos 3,7 milh\u00f5es de habitantes da cidade \u00e9 realizado pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e baseado em fontes superficiais de \u00e1gua \u2013 como a de reservat\u00f3rios \u2013, que abrange a regi\u00e3o metropolitana de Recife.<\/p>\n

Uma pequena regi\u00e3o na \u00e1rea norte da cidade e pr\u00f3xima a Olinda \u00e9 abastecida por meio de \u00e1guas subterr\u00e2neas, provenientes do aqu\u00edfero Beberibe.<\/p>\n

Em raz\u00e3o de secas severas, como a ocorrida entre 1998 e 1999, e de frequentes racionamentos de \u00e1gua, Recife aumentou o uso do j\u00e1 bastante explorado aqu\u00edfero por meio da perfura\u00e7\u00e3o de po\u00e7os privados, localizados, principalmente, na regi\u00e3o central da cidade e em Boa Viagem, contou o pesquisador.<\/p>\n

\u201cExistem, aproximadamente, 13 mil po\u00e7os privados em Recife; \u00e9 a cidade brasileira com o maior n\u00famero de capta\u00e7\u00f5es de \u00e1guas subterr\u00e2neas\u201d, destacou Hirata. \u201cA maior parte deles \u00e9 ilegal, com exist\u00eancia desconhecida pelos \u00f3rg\u00e3os administradores. Isso dificulta o planejamento, pelo Estado, de um programa de gest\u00e3o dos recursos h\u00eddricos. Ao mesmo tempo, essa estrutura desconhecida garante a seguran\u00e7a h\u00eddrica da cidade, porque esse abastecimento complementar de \u00e1gua \u00e9 fundamental em per\u00edodos de estiagem.\u201d<\/p>\n

Saliniza\u00e7\u00e3o dos aqu\u00edferos<\/strong> – Um dos principais problemas dos po\u00e7os privados \u00e9 que muitos se tornam salinizados e s\u00e3o perdidos e abandonados. Uma das prov\u00e1veis causas da saliniza\u00e7\u00e3o \u00e9 a intrus\u00e3o de \u00e1guas salinas do mar induzida pelo bombeamento desordenado.<\/p>\n

O bombeamento dos po\u00e7os faz com que as \u00e1guas salgadas de canais e estu\u00e1rios, al\u00e9m de paleomangues (sedimentos que tiveram contato com \u00e1guas salgadas, quando o n\u00edvel do mar era mais alto), penetrem no aqu\u00edfero, provocando sua saliniza\u00e7\u00e3o, explicou Hirata.<\/p>\n

\u201cParte do aqu\u00edfero de Boa Viagem, que \u00e9 mais raso e de menor espessura, tem v\u00e1rios po\u00e7os salinizados e abandonados\u201d, disse.<\/p>\n

\u201cUma vez salinizados os po\u00e7os e o aqu\u00edfero h\u00e1 pouco o que fazer. As tecnologias de dessaliniza\u00e7\u00e3o s\u00e3o limitadas e os sistemas de tratamento individual de \u00e1gua salgada de po\u00e7os s\u00e3o muito caros\u201d, ressaltou o professor do IGc-USP.<\/p>\n

A pesquisa verificou que os propriet\u00e1rios abandonam os po\u00e7os ou os aprofundam, at\u00e9 atingir os aqu\u00edferos Cabo e Beberibe \u2013 mais profundos que o de Boa Viagem \u2013, quando constatam que suas \u00e1guas ficaram salinizadas.<\/p>\n

Al\u00e9m do aumento dos custos na extra\u00e7\u00e3o de \u00e1guas, os po\u00e7os abandonados tamb\u00e9m t\u00eam sido respons\u00e1veis por conectar as por\u00e7\u00f5es mais rasas e salinizadas dos aqu\u00edferos com aquelas mais profundas e ainda preservadas, ressaltou o pesquisador.<\/p>\n

Uma descoberta que surpreendeu os pesquisadores foi o resultado das medi\u00e7\u00f5es da temperatura de recarga (temperatura inicial) desses aqu\u00edferos profundos \u2013 o Cabo e o Beberibe \u2013, feitas por meio de medi\u00e7\u00f5es de concentra\u00e7\u00f5es de gases nobres nas \u00e1guas subterr\u00e2neas. Os resultados indicaram que essas \u00e1guas s\u00e3o muito velhas.<\/p>\n

A temperatura das \u00e1guas de recarga dos aqu\u00edferos do Cabo e de Beberibe, por exemplo, era de 15 \u00baC, que coincide com o \u00faltimo per\u00edodo glacial da Terra e leva a crer que os aqu\u00edferos foram recarregados h\u00e1 10 mil anos, estimou Hirata.<\/p>\n

\u201cNingu\u00e9m imaginava que essas \u00e1guas, localizadas a menos de cem metros da superf\u00edcie, fossem paleo\u00e1guas, ou seja, \u00e1guas muito antigas\u201d, disse.<\/p>\n

Depend\u00eancia comum<\/strong> – De acordo com o professor do IGc-USP, o problema da depend\u00eancia de \u00e1guas subterr\u00e2neas para garantir a seguran\u00e7a h\u00eddrica da popula\u00e7\u00e3o de Recife tamb\u00e9m \u00e9 comum a outras capitais nordestinas, como Natal (RN) e Fortaleza (CE), e \u00e0s metr\u00f3poles brasileiras, como Bras\u00edlia (DF) e S\u00e3o Paulo, entre muitas outras cidades do pa\u00eds.<\/p>\n

O caso mais cr\u00edtico, segundo Hirata, \u00e9 o de Natal, cujo sistema de abastecimento p\u00fablico \u00e9 baseado em \u00e1guas subterr\u00e2neas, mas com po\u00e7os distribu\u00eddos na malha urbana da cidade.<\/p>\n

Como a maior parte da malha urbana da capital do Rio Grande do Norte n\u00e3o conta com rede de esgoto, as \u00e1guas dos aqu\u00edferos e dos po\u00e7os de abastecimento p\u00fablico encontram-se contaminados por nitrato e, por isso, s\u00e3o impr\u00f3prias para uso.<\/p>\n

Segundo Hirata, na tentativa de solucionar esse problema, tem-se misturado \u00e1gua superficial \u2013 sem nitrato \u2013 \u00e0 \u00e1gua dos po\u00e7os para atender \u00e0s necessidades da popula\u00e7\u00e3o. Em raz\u00e3o da falta de \u00e1gua superficial na capital potiguar, a quantidade de mistura \u00e9 insuficiente para baixar os n\u00edveis de nitrato da \u00e1gua dos po\u00e7os.<\/p>\n

\u201cA cidade de Natal est\u00e1 recebendo \u00e1gua contaminada hoje porque n\u00e3o consegue dispor de \u00e1gua limpa. Ela representa o extremo do problema da falta de \u00e1gua que aflige o Nordeste\u201d, avaliou.<\/p>\n

J\u00e1 cidades do Sudeste como S\u00e3o Paulo dependem menos das \u00e1guas subterr\u00e2neas, uma vez que a regi\u00e3o metropolitana da cidade \u00e9 abastecida por grandes sistemas de \u00e1guas superficiais, como os de Cantareira, Cotia, Alto Tiet\u00ea e Guarapiranga.<\/p>\n

Estima-se, no entanto, que existam 12 mil po\u00e7os privados em S\u00e3o Paulo, dos quais, a exemplo dos do Recife, metade \u00e9 ilegal e que, juntos, retiram 10 metros c\u00fabicos de \u00e1gua subterr\u00e2nea por segundo, representando a quarta fonte mais importante de abastecimento da cidade, entre os oito sistemas hoje em opera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Se por um problema de contamina\u00e7\u00e3o ou aumento do custo de extra\u00e7\u00e3o essa fonte de abastecimento de \u00e1gua fosse perdida, a popula\u00e7\u00e3o ligada a essa rede fecharia seus po\u00e7os e, imediatamente, migraria para a \u00e1gua da rede p\u00fablica.<\/p>\n

Essa migra\u00e7\u00e3o de fonte de \u00e1gua poderia fazer com que o sistema de abastecimento da cidade, que atende hoje a popula\u00e7\u00e3o com 65 metros c\u00fabicos de \u00e1gua superficial por segundo, entrasse em colapso, estimou Hirata.<\/p>\n

\u201cA seguran\u00e7a h\u00eddrica da cidade de S\u00e3o Paulo \u00e9 fr\u00e1gil. \u00c9 claro que a possibilidade de perder todos esses po\u00e7os em um per\u00edodo curto de tempo, como o de um ano, \u00e9 quase imposs\u00edvel. Mas existe uma fragilidade no sistema, porque n\u00e3o h\u00e1 pol\u00edticas eficientes para \u00e1guas subterr\u00e2neas na cidade, uma vez que elas n\u00e3o s\u00e3o vistas como uma fonte de abastecimento importante\u201d, ressaltou Hirata.<\/p>\n

Nesse sentido, a seguran\u00e7a h\u00eddrica da capital paulista e de outras cidades brasileiras, como Recife, est\u00e1 nas m\u00e3os de diversos usu\u00e1rios privados \u2013 os propriet\u00e1rios dos po\u00e7os \u2013, que, mesmo sendo ilegais, t\u00eam uma fun\u00e7\u00e3o importante porque diminuem a press\u00e3o por \u00e1gua do sistema de abastecimento principal, avaliou o pesquisador.<\/p>\n

O papel desses atores no sistema de abastecimento de \u00e1gua das cidades brasileiras, no entanto, n\u00e3o est\u00e1 sendo avaliado corretamente, apontou. \u201cA solu\u00e7\u00e3o para o abastecimento de cidades como Recife e S\u00e3o Paulo n\u00e3o \u00e9 esquecer a \u00e1gua subterr\u00e2nea, mas som\u00e1-la \u00e0s \u00e1guas superficiais, porque s\u00e3o recursos muito complementares\u201d, afirmou.<\/p>\n

\u201cEsse sistema integrado \u00e9 uma das melhores estrat\u00e9gias que a pr\u00f3pria natureza est\u00e1 dando para superarmos os problemas advindos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas globais\u201d, avaliou.<\/p>\n

De acordo com o pesquisador, as \u00e1guas subterr\u00e2neas representam o grande reservat\u00f3rio de \u00e1gua da Terra, sendo respons\u00e1veis por 95% da \u00e1gua doce e l\u00edquida do planeta, e s\u00e3o usadas por 2 a 3 bilh\u00f5es de pessoas no mundo.<\/p>\n

No Brasil, segundo ele, entre 35% e 45% da popula\u00e7\u00e3o utiliza \u00e1gua subterr\u00e2nea e 75% dos munic\u00edpios do Estado de S\u00e3o Paulo s\u00e3o abastecidos total ou parcialmente por essa fonte de \u00e1gua. \u201cApesar da import\u00e2ncia desse recurso, ele n\u00e3o costuma frequentar, infelizmente, a agenda pol\u00edtica dos \u00f3rg\u00e3os decisores de gest\u00e3o de recursos h\u00eddricos\u201d, disse Hirata. (Fonte: Ag\u00eancia Fapesp)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Perfura\u00e7\u00e3o indiscriminada de po\u00e7os tubulares privados na capital pernambucana nos \u00faltimos anos \u00e9 uma das causas do problema, aponta pesquisador da USP. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[217],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/101023"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=101023"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/101023\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=101023"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=101023"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=101023"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}