{"id":103925,"date":"2014-03-28T00:00:25","date_gmt":"2014-03-28T03:00:25","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=103925"},"modified":"2014-03-27T22:31:28","modified_gmt":"2014-03-28T01:31:28","slug":"pesquisa-aprimora-metodo-de-deteccao-de-mercurio-em-peixes","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2014\/03\/28\/103925-pesquisa-aprimora-metodo-de-deteccao-de-mercurio-em-peixes.html","title":{"rendered":"Pesquisa aprimora m\u00e9todo de detec\u00e7\u00e3o de merc\u00fario em peixes"},"content":{"rendered":"

Metal potencialmente t\u00f3xico e com capacidade de se acumular no organismo, o merc\u00fario \u00e9 encontrado em rios amaz\u00f4nicos como resqu\u00edcio da atividade de minera\u00e7\u00e3o e, em alguns pontos, como ocorr\u00eancia natural. Essa presen\u00e7a afeta a fauna aqu\u00e1tica e pode atingir humanos que consomem o pescado com merc\u00fario.<\/p>\n

Iniciado em 2011, um projeto coordenado pelo Instituto de Bioci\u00eancias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), utilizou ferramentas da biologia molecular para aprimorar m\u00e9todos de detec\u00e7\u00e3o de merc\u00fario nos principais peixes consumidos na bacia do rio Madeira, em Rond\u00f4nia.<\/p>\n

Com apoio da FAPESP, na modalidade Aux\u00edlio \u00e0 Pesquisa \u2013 Regular, o projeto \u201cDesenvolvimento de m\u00e9todos anal\u00edticos para estudo metal\u00f4mico do merc\u00fario em peixes coletados na \u00e1rea de influ\u00eancia do AHE Jirau Bacia do Rio Madeira\u201d analisou tr\u00eas esp\u00e9cies de peixes entre as mais consumidas na regi\u00e3o: dourada (Brachyplatystoma rousseauxii<\/em>), pacu (Mylossoma sp. , Myleus sp.<\/em>) e jaraqui (Semaprochilodus sp.<\/em>).<\/p>\n

Esse trabalho continuou o aprimoramento de t\u00e9cnicas trabalhadas em outro projeto, \u201cDesenvolvimento de metodologias anal\u00edticas para avalia\u00e7\u00e3o de metaloprote\u00ednas de til\u00e1pia do Nilo (Oreochromis niloticus<\/em>)\u201d, outro Aux\u00edlio \u00e0 Pesquisa \u2013 Regular FAPESP, realizado de 2008 a 2010, com peixes dessa esp\u00e9cie encontrados no Estado de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n

Desta vez, o estudo se restringiu aos peixes coletados na \u00e1rea de influ\u00eancia da usina hidrel\u00e9trica de Jirau, que represou em 2010 parte do rio Madeira em um trecho a 120 quil\u00f4metros de Porto Velho (RO). \u201cEsse tipo de constru\u00e7\u00e3o altera a din\u00e2mica do rio, podendo disponibilizar esp\u00e9cies mercuriais que estavam inertes no leito do rio e podem ser absorvidas pela biota aqu\u00e1tica\u201d, explicou o qu\u00edmico Pedro de Magalh\u00e3es Padilha, professor da Unesp e coordenador do projeto.<\/p>\n

De acordo com Padilha, o trabalho conseguiu otimizar os m\u00e9todos de especia\u00e7\u00e3o de metais por meio de uma \u00e1rea do conhecimento recente, a metal\u00f4mica. Uni\u00e3o da prote\u00f4mica com t\u00e9cnicas de detec\u00e7\u00e3o de metais, a metal\u00f4mica procura verificar a distribui\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies met\u00e1licas e metaloides e elucidar aspectos fisiol\u00f3gicos e funcionais das biomol\u00e9culas que contenham \u00edons met\u00e1licos em suas estruturas.<\/p>\n

Padilha disse que h\u00e1 duas maneiras de uma prote\u00edna carrear metais. A primeira \u00e9 quando o metal faz parte da pr\u00f3pria mol\u00e9cula de prote\u00edna \u2013 caso da hemoglobina, metaloprote\u00edna que possui \u00e1tomos de ferro utilizados para transportar oxig\u00eanio.<\/p>\n

A outra maneira de transporte \u00e9 quando o metal ou metaloide se liga \u00e0 prote\u00edna por liga\u00e7\u00f5es n\u00e3o espec\u00edficas, formando uma prote\u00edna denominada metal-binding. \u00c9 desse \u00faltimo grupo que a equipe de pesquisa elegeu prote\u00ednas capazes de atuar como poss\u00edveis biomarcadores da presen\u00e7a de merc\u00fario nos peixes.<\/p>\n

\u201cIdentificamos oito tipos de prote\u00ednas e 16 isoformas como fortes candidatas a biomarcadores\u201d, informou o professor. Isoformas s\u00e3o prote\u00ednas com mesma fun\u00e7\u00e3o, por\u00e9m, codificadas por genes distintos e que apresentam pequenas diferen\u00e7as em suas sequ\u00eancias pept\u00eddicas. A defini\u00e7\u00e3o de um biomarcardor eficaz ocorrer\u00e1 em uma pr\u00f3xima etapa do trabalho. Neste projeto, os pesquisadores aprimoraram os m\u00e9todos de estudo metaloprote\u00f4mico do merc\u00fario, segundo o professor da Unesp.<\/p>\n

A rotina de pesquisa iniciava-se em Rond\u00f4nia com a captura dos peixes, execu\u00e7\u00e3o de biometria e a retirada de tecidos muscular e hep\u00e1tico para as an\u00e1lises. As amostras eram congeladas a -190\u00b0C em nitrog\u00eanio l\u00edquido e enviadas \u00e0 Unesp. Nos laborat\u00f3rios em Botucatu, os pesquisadores enfrentaram uma das partes mais complicadas do trabalho, a extra\u00e7\u00e3o das prote\u00ednas.<\/p>\n

\u201cO desafio \u00e9 extrair a prote\u00edna sem destruir nem alterar sua estrutura, ainda que isso implicasse a destrui\u00e7\u00e3o do tecido que a continha\u201d, contou Padilha. Optou-se por um m\u00e9todo simples, a macera\u00e7\u00e3o do tecido em nitrog\u00eanio l\u00edquido e em \u00e1gua ultrapura.<\/p>\n

A solu\u00e7\u00e3o aquosa obtida passava por eletroforese bidimensional e depois por fluoresc\u00eancia de raios X por radia\u00e7\u00e3o s\u00edncrotron, etapa realizada nas instala\u00e7\u00f5es do Laborat\u00f3rio Nacional de Luz S\u00edncrotron (LNLS), em Campinas (SP).<\/p>\n

O trabalho fez um mapeamento qualitativo que determinou os chamados spots proteicos ou poss\u00edveis prote\u00ednas que continham merc\u00fario. A determina\u00e7\u00e3o quantitativa do merc\u00fario nos spots proteicos foi feita por espectrometria de absor\u00e7\u00e3o at\u00f4mica em forno de grafite e a realiza\u00e7\u00e3o de c\u00e1lculos estequiom\u00e9tricos complexos. Por isso, um dos resultados da pesquisa foi o aperfei\u00e7oamento de uma nova tecnologia para determina\u00e7\u00e3o de merc\u00fario, publicada no Food Chemistry em dezembro de 2013.<\/p>\n

Uma das revela\u00e7\u00f5es mais importantes do projeto foi a especial rela\u00e7\u00e3o do merc\u00fario com as prote\u00ednas pequenas. O metal foi encontrado principalmente nas prote\u00ednas de baixa massa molar, que seriam as suas principais carreadoras e mais fortes candidatas a biomarcadores.<\/p>\n

J\u00e1 as c\u00e9lulas do tecido hep\u00e1tico s\u00e3o particularmente importantes para esse estudo porque, na presen\u00e7a de alguns metais, o f\u00edgado produz as chamadas metalotione\u00ednas, prote\u00ednas detoxificadoras e diretamente relacionadas \u00e0 presen\u00e7a de metais no organismo.<\/p>\n

Nos animais estudados no projeto n\u00e3o foram encontradas quantidades de merc\u00fario igual ou superior a 500 microgramas por quilo de carne, limite m\u00e1ximo estipulado pela Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade (OMS) para esse metal.<\/p>\n

No entanto, Padilha alertou para os efeitos no longo prazo. \u201cDevemos considerar que, quando um metal se ligou a uma prote\u00edna, \u00e9 porque ele deslocou algum elemento essencial que poder\u00e1 fazer falta no organismo\u201d, disse.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, o pesquisador lembra que o merc\u00fario, assim como metais semelhantes, tem a propriedade de se acumular no organismo, provocando efeitos na sa\u00fade quando atinge quantidades maiores com o passar do tempo.<\/p>\n

Merc\u00fario no leite materno<\/strong> – At\u00e9 o momento, o projeto de pesquisa produziu quatro artigos cient\u00edficos publicados e a tese de doutorado \u201cDesenvolvimento de m\u00e9todos anal\u00edticos para estudo metal\u00f4mico do merc\u00fario em peixes coletados na \u00e1rea de influ\u00eancia do AHE Jirau, Bacia do Rio Madeira\u201d, da bi\u00f3loga Paula Martin de Moraes que recebeu bolsa FAPESP na modalidade Doutorado Direto.<\/p>\n

O trabalho tamb\u00e9m rendeu a pesquisa de mestrado \u201cEstudo metaloprote\u00f4mico do merc\u00fario em amostras de tecido hep\u00e1tico de peixes coletados na \u00e1rea de influ\u00eancia do AHE Jirau – Bacia do Rio Madeira\u201d, do bi\u00f3logo Jos\u00e9 Cavalcante Souza Vieira, tamb\u00e9m bolsista FAPESP. Ambos foram orientados por Padilha.<\/p>\n

Felipe Andr\u00e9 dos Santos participou do projeto analisando, em seu doutorado, outro tipo de amostra. Em vez de peixes, Santos aplicou t\u00e9cnicas de metal\u00f4mica no leite materno coletado entre a popula\u00e7\u00e3o ribeirinha do Rio Madeira, com o objetivo de detectar tra\u00e7os de merc\u00fario e encontrar biomarcadores para o metal.<\/p>\n

A investiga\u00e7\u00e3o gerou a tese \u201cEstudo metal\u00f4mico do merc\u00fario em leite materno coletado da popula\u00e7\u00e3o ribeirinha da \u00e1rea de influ\u00eancia do AHE Jirau – Bacia do Rio Madeira\u201d. \u201cA proposta se baseou na hip\u00f3tese de que a popula\u00e7\u00e3o ribeirinha, por consumir mais pescado do rio em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 popula\u00e7\u00e3o urbana, estaria mais sujeita ao merc\u00fario encontrado nos peixes\u201d, explicou Padilha, que tamb\u00e9m orientou Santos.<\/p>\n

Como no projeto maior, o objetivo da pesquisa de Santos consistiu em identificar prote\u00ednas respons\u00e1veis pelo transporte de merc\u00fario, s\u00f3 que por meio de amostras de leite materno. Inicialmente, o estudante selecionou as lactantes que estavam contaminadas por merc\u00fario. Essa etapa foi executada analisando-se o cabelo das mulheres que estavam amamentando, uma vez que os cabelos t\u00eam a propriedade de acumular metais potencialmente t\u00f3xicos.<\/p>\n

Depois, foram analisadas amostras de leite do grupo que teve a contamina\u00e7\u00e3o confirmada. Santos obteve o proteoma de cada amostra por meio de eletroforese bidimensional e, ap\u00f3s submeter o material a outras t\u00e9cnicas anal\u00edticas, ele selecionou prote\u00ednas nas quais o merc\u00fario se mostrou presente. Esse trabalho levantou a prote\u00edna lisozima C como um poss\u00edvel biomarcador do merc\u00fario.<\/p>\n

O projeto de pesquisa coordenado por Padilha contou com a participa\u00e7\u00e3o de especialistas da Universidade Federal de Rond\u00f4nia (Unir), Universidade de Bras\u00edlia (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto Nacional de Pesquisas da Amaz\u00f4nia (Inpa), da Pontif\u00edcia Universidade Cat\u00f3lica de Goi\u00e1s (PUC-Goi\u00e1s) e da Energia Sustent\u00e1vel do Brasil (ESBR), cons\u00f3rcio que administra a usina hidrel\u00e9trica de Jirau. (Fonte: Ag\u00eancia FAPESP)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Grupo da Unesp realiza an\u00e1lises metaloprote\u00f4micas, estudando a express\u00e3o de prote\u00ednas que apresentam merc\u00fario ligado em suas estruturas. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[21,264,75],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/103925"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=103925"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/103925\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=103925"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=103925"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=103925"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}