{"id":104856,"date":"2014-04-30T00:00:56","date_gmt":"2014-04-30T03:00:56","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=104856"},"modified":"2014-04-29T21:59:45","modified_gmt":"2014-04-30T00:59:45","slug":"estudo-mapeia-resistencia-primaria-entre-portadores-de-hepatite-b","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2014\/04\/30\/104856-estudo-mapeia-resistencia-primaria-entre-portadores-de-hepatite-b.html","title":{"rendered":"Estudo mapeia resist\u00eancia prim\u00e1ria entre portadores de hepatite B"},"content":{"rendered":"
A hepatite B \u00e9 considerada uma doen\u00e7a cr\u00f4nica poss\u00edvel de ser controlada com medicamentos. Ao longo do tempo, por\u00e9m, a terapia tende a selecionar cepas de v\u00edrus resistentes \u00e0s drogas usadas. O problema torna-se ainda mais grave quando o tratamento n\u00e3o \u00e9 feito de forma regular e de acordo com os protocolos mais adequados.<\/p>\n
Com o intuito de investigar a frequ\u00eancia de transmiss\u00e3o dessas cepas resistentes na popula\u00e7\u00e3o brasileira, pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical de S\u00e3o Paulo (IMT-USP) e da Faculdade de Medicina, da Universidade de S\u00e3o Paulo (FMUSP), analisaram amostras de sangue de 702 portadores de hepatite B, de sete estados brasileiros, que nunca haviam sido tratados.<\/p>\n
O trabalho foi realizado com apoio da FAPESP durante o doutorado de Michele Soares Gomes Gouv\u00eaa. Felizmente, os resultados revelaram a presen\u00e7a de cepas resistentes apenas nas amostras de 11 pacientes \u2013 o que corresponde a 1,6% da popula\u00e7\u00e3o estudada.<\/p>\n
\u201cEmbora a preval\u00eancia da resist\u00eancia prim\u00e1ria [quando o paciente \u00e9 infectado por uma forma j\u00e1 resistente do v\u00edrus] tenha sido pequena, o problema existe. Esse fator deve ser considerado caso o paciente n\u00e3o responda imediatamente ao tratamento. E para saber se isso est\u00e1 ocorrendo \u00e9 preciso realizar an\u00e1lises frequentes da carga viral. No caso da carga viral n\u00e3o reduzir, apesar da ader\u00eancia ao tratamento, o ideal \u00e9 que seja realizado o sequenciamento do genoma viral para a pesquisa de muta\u00e7\u00f5es de resist\u00eancia e adequado manejo da terapia\u201d, disse Gouv\u00eaa.<\/p>\n
Segundo ela, cerca de 80% dos pacientes tratados com a droga lamivudina adquirem resist\u00eancia em um per\u00edodo aproximado de cinco anos de terapia. Outros medicamentos levam um pouco mais de tempo, mas \u00e9 um tratamento para a vida toda e o problema, eventualmente, acaba aparecendo.<\/p>\n
\u201cDeterminadas muta\u00e7\u00f5es aumentam a capacidade de replica\u00e7\u00e3o do v\u00edrus e pode acontecer de o paciente ficar com uma supercarga viral resistente. Quer\u00edamos saber se essas cepas estavam sendo disseminadas\u201d, explicou Gouv\u00eaa.<\/p>\n
O problema da resist\u00eancia prim\u00e1ria \u00e9 grande em determinadas regi\u00f5es da \u00c1frica. De acordo com a literatura cient\u00edfica, o problema afeta 20% dos portadores de hepatite B na \u00c1frica do Sul. O \u00edndice salta para 50% quando se consideram pacientes coinfectados com o v\u00edrus da Aids.<\/p>\n
\u201cOs resultados de nosso estudo mostram que a situa\u00e7\u00e3o brasileira \u00e9 razoavelmente boa. Isso nos d\u00e1 certa tranquilidade em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 circula\u00e7\u00e3o de cepas resistentes no pa\u00eds, mas n\u00e3o podemos deixar de fazer um seguimento cuidadoso dos pacientes\u201d, disse a m\u00e9dica do IMT-USP\/FMUSP Maria C\u00e1ssia Jacintho Mendes Corr\u00eaa, coordenadora do projeto \u201cPreval\u00eancia de resist\u00eancia prim\u00e1ria aos antivirais utilizados no tratamento da hepatite B entre pacientes com infec\u00e7\u00e3o cr\u00f4nica pelo v\u00edrus da hepatite B n\u00e3o submetidos a tratamento\u201d e orientadora de Gouv\u00eaa ao lado de Jo\u00e3o Renato Rebello Pinho, do Laborat\u00f3rio de Gastroenterologia e Hepatologia Tropical do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP\/IMT-USP.<\/p>\n
\u201cAs drogas contra hepatite B precisam ser usadas com muito respeito e crit\u00e9rio para n\u00e3o aumentar o problema de resist\u00eancia prim\u00e1ria. A \u00c1frica do Sul \u00e9 um exemplo do que pode acontecer caso n\u00e3o tomemos cuidado\u201d, afirmou Pinho.<\/p>\n
De acordo com os pesquisadores, os medicamentos contra a hepatite B s\u00e3o oferecidos gratuitamente no Sistema \u00danico de Sa\u00fade (SUS), mas h\u00e1 lugares no Brasil em que s\u00e3o adotados esquemas inadequados de tratamento, seja por dificuldade de acesso a todas as drogas necess\u00e1rias ou por falta de uma educa\u00e7\u00e3o m\u00e9dica continuada.<\/p>\n
\u201cUm exemplo \u00e9 a monoterapia com lamivudina, que foi no passado muito utilizada e hoje est\u00e1 totalmente proscrita em todo o mundo por favorecer o aparecimento de cepas resistentes\u201d, comentou Corr\u00eaa.<\/p>\n
Segundo a m\u00e9dica, outro fator que contribui para o agravamento da resist\u00eancia viral s\u00e3o os casos de abandono do tratamento. \u201cA hepatite B \u00e9, na maioria dos casos, uma doen\u00e7a assintom\u00e1tica. O tratamento \u00e9 para a vida toda, mas o paciente se sente bem. Alguns acabam desistindo de tomar as drogas ou as tomam de forma irregular. Em algumas regi\u00f5es o acesso aos medicamentos \u00e9 mais dif\u00edcil\u201d, disse.<\/p>\n
Se n\u00e3o tratada adequadamente, a inflama\u00e7\u00e3o no f\u00edgado causada pelo v\u00edrus da hepatite B (HBV) pode evoluir para hepatite cr\u00f4nica, cirrose hep\u00e1tica e c\u00e2ncer de f\u00edgado. \u00c9 poss\u00edvel prevenir a infec\u00e7\u00e3o \u2013 que ocorre por via sexual, contato com sangue e secre\u00e7\u00f5es contaminados, parto ou amamenta\u00e7\u00e3o \u2013 por meio de uma vacina tamb\u00e9m dispon\u00edvel na rede p\u00fablica de sa\u00fade.<\/p>\n
Institui\u00e7\u00f5es parceiras<\/strong> – O trabalho realizado durante o doutorado de Gouv\u00eaa contou com a parceria de pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (PA), da Santa Casa de Miseric\u00f3rdia do Par\u00e1, do Centro de Pesquisa Cl\u00ednica do Hospital Universit\u00e1rio da Universidade Federal do Maranh\u00e3o (UFMA), do Servi\u00e7o de Gastro-Hepatologia do Hospital Universit\u00e1rio Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Departamento de Cl\u00ednica M\u00e9dica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Unidade de Refer\u00eancia de Tratamento de Doen\u00e7as Infecciosas e Preven\u00edveis (URDIP) da Faculdade de Medicina do ABC (UFABC), do Departamento de Doen\u00e7as Infecciosas e Parasit\u00e1rias da Faculdade de Medicina da USP, do Ambulat\u00f3rio de Hepatites da Secretaria Municipal de Sa\u00fade de Ribeir\u00e3o Preto, da 15\u00aa Regional de Sa\u00fade de Maring\u00e1 (PR), do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre (RS), e Servi\u00e7o Municipal de Infectologia do Centro Especializado de Sa\u00fade de Caxias do Sul (RS).<\/p>\n As amostras coletadas em cada um dos centros foram enviadas para an\u00e1lise no Laborat\u00f3rio de Gastroenterologia e Hepatologia Tropical do IMT-USP. \u201cForam coletadas 779 amostras e encontramos carga viral detect\u00e1vel e\/ou conseguimos amplificar a regi\u00e3o de interesse do genoma viral em 702 amostras. Fizemos ent\u00e3o o sequenciamento do genoma do HBV e analisamos a regi\u00e3o que codifica a prote\u00edna da polimerase [enzima usada no processo de replica\u00e7\u00e3o do v\u00edrus], pois \u00e9 onde ocorrem as muta\u00e7\u00f5es de resist\u00eancia\u201d, contou Gouv\u00eaa.<\/p>\n De acordo com Gouv\u00eaa, muta\u00e7\u00f5es de resist\u00eancia j\u00e1 conhecidas foram encontradas em pacientes do Par\u00e1, Maranh\u00e3o, S\u00e3o Paulo e Minas. Em cinco pacientes do Maranh\u00e3o tamb\u00e9m foi detectada evid\u00eancia de infec\u00e7\u00e3o pelo v\u00edrus da hepatite D, que se acreditava existir apenas na regi\u00e3o da Amaz\u00f4nia. Desses cinco pacientes, tr\u00eas apresentavam replica\u00e7\u00e3o ativa do v\u00edrus detectada pela presen\u00e7a genoma viral no soro. Esses resultados foram divulgados em artigo publicado na revista Virus Research.<\/p>\n \u201cO v\u00edrus da hepatite D infecta apenas portadores de hepatite B. Quando essa associa\u00e7\u00e3o acontece o resultado \u00e9 desastroso. A evolu\u00e7\u00e3o da doen\u00e7a \u00e9 muito ruim e o tratamento, pouco eficaz. O paciente acaba desenvolvendo c\u00e2ncer ou doen\u00e7a hep\u00e1tica avan\u00e7ada rapidamente\u201d, explicou Corr\u00eaa, a coordenadora do projeto.<\/p>\n Segundo Gouv\u00eaa, um dos cinco casos de hepatite D detectados no Maranh\u00e3o foi importado da regi\u00e3o amaz\u00f4nica, o que foi conclu\u00eddo com base em dados epidemiol\u00f3gicos e an\u00e1lises filogen\u00e9ticas. \u201cOs outro dois com carga viral detect\u00e1vel apresentavam um v\u00edrus com gen\u00f3tipo mais semelhante ao encontrado na \u00c1frica. Acreditamos que se trate de uma introdu\u00e7\u00e3o antiga, ocorrida na \u00e9poca do tr\u00e1fico de escravos. Nossa teoria \u00e9 que existam mais casos no estado e isso deu origem a um outro estudo que est\u00e1 em andamento para avaliar a situa\u00e7\u00e3o epidemiol\u00f3gica no Maranh\u00e3o\u201d, disse.<\/p>\n Diversidade gen\u00e9tica<\/strong> – O sequenciamento gen\u00e9tico do HBV permitiu aos pesquisadores tamb\u00e9m investigar as intera\u00e7\u00f5es entre diferentes linhagens (ou gen\u00f3tipos) virais que circulam no pa\u00eds.<\/p>\n \u201cS\u00e3o conhecidos dez diferentes gen\u00f3tipos do HBV: A, B, C, D, E, F, G, H, I e J, e alguns desses gen\u00f3tipos s\u00e3o divididos em subgen\u00f3tipos. Com esse mapeamento mostramos que tamb\u00e9m h\u00e1 v\u00e1rios subgen\u00f3tipos no Brasil e que a diversidade \u00e9 muito maior do que a imaginada. Esse \u00e9 um resultado relevante num momento em que se discute a import\u00e2ncia de se considerar o gen\u00f3tipo viral no seguimento do paciente, pois h\u00e1 possibilidade de isso influenciar na evolu\u00e7\u00e3o da doen\u00e7a e na resposta a determinadas drogas\u201d, afirmou Gouv\u00eaa.<\/p>\n Parte dos resultados sobre a diversidade gen\u00e9tica do HBV foram divulgados em artigo publicado na revista Infection, Genetics and Evolution.<\/p>\n A hepatite B afeta mais de 400 milh\u00f5es de pessoas no mundo. No Brasil, de maneira geral, afeta menos de 1% da popula\u00e7\u00e3o, mas h\u00e1 regi\u00f5es em que a preval\u00eancia pode chegar a 20%, como na Amaz\u00f4nia, no Esp\u00edrito Santo e no Oeste do Paran\u00e1 e Santa Catarina. (Fonte: Ag\u00eancia FAPESP)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" An\u00e1lise feita em 702 amostras de pacientes de sete estados brasileiros apontou que 1,6% estava infectado com formas virais j\u00e1 resistentes ao tratamento. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[101,103],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/104856"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=104856"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/104856\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=104856"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=104856"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=104856"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}