{"id":110465,"date":"2014-11-14T00:00:54","date_gmt":"2014-11-14T02:00:54","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=110465"},"modified":"2014-11-13T23:15:27","modified_gmt":"2014-11-14T01:15:27","slug":"bacterias-ajudam-a-tratar-agua-utilizada-por-refinarias-de-petroleo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2014\/11\/14\/110465-bacterias-ajudam-a-tratar-agua-utilizada-por-refinarias-de-petroleo.html","title":{"rendered":"Bact\u00e9rias ajudam a tratar \u00e1gua utilizada por refinarias de petr\u00f3leo"},"content":{"rendered":"

As refinarias de petr\u00f3leo usam grande quantidade de \u00e1gua em um processo industrial denominado craqueamento catal\u00edtico, que visa aumentar o rendimento de produtos como gasolina e g\u00e1s liquefeito de petr\u00f3leo (GLP), por meio da convers\u00e3o de fra\u00e7\u00f5es pesadas provenientes da destila\u00e7\u00e3o do petr\u00f3leo em fra\u00e7\u00f5es mais leves e de maior interesse comercial.<\/p>\n

Por ter alta concentra\u00e7\u00e3o de contaminantes t\u00f3xicos, como fen\u00f3is, gases sulf\u00eddrico e cian\u00eddrico, al\u00e9m de am\u00f4nia, hidrocarbonetos e mercaptanos, esse efluente industrial \u2013 chamado de \u201c\u00e1gua \u00e1cida\u201d \u2013 n\u00e3o pode ser destinado diretamente para tratamento e precisa ser estocado pelas refinarias para a remo\u00e7\u00e3o da am\u00f4nia e de sulfetos antes de ser descartado.<\/p>\n

\u201cAs concentra\u00e7\u00f5es de contaminantes t\u00f3xicos nesse efluente industrial podem variar de 100 a 1.000 ppm [partes por milh\u00e3o]. Se essa \u00e1gua residual for enviada diretamente para uma lagoa de tratamento, pode causar graves problemas ambientais\u201d, disse Elen Aquino Perpetuo, professora do Instituto do Mar da Universidade Federal de S\u00e3o Paulo (Unifesp), \u00e0 Ag\u00eancia FAPESP.<\/p>\n

Em colabora\u00e7\u00e3o com colegas do Centro de Capacita\u00e7\u00e3o e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) \u2013 um centro cooperativo em Engenharia Ambiental apoiado pela FAPESP \u2013, a pesquisadora encontrou uma solu\u00e7\u00e3o mais pr\u00e1tica para o tratamento desse efluente industrial.<\/p>\n

Os cientistas identificaram duas bact\u00e9rias \u2013 a Achromobacter sp. e a Pandoraea sp. \u2013 capazes de reduzir a concentra\u00e7\u00e3o de contamina\u00e7\u00e3o da \u201c\u00e1gua \u00e1cida\u201d para n\u00edveis aceit\u00e1veis e permitir lan\u00e7\u00e1-la no ambiente ou reutiliz\u00e1-la em processos industriais nas refinarias.<\/p>\n

Alguns dos resultados do projeto foram apresentados no encontro Brazil-UK Frontiers of Engineering, realizado entre 6 e 8 de novembro em Jarinu, no interior de S\u00e3o Paulo, pela Royal Academy of Engineering, do Reino Unido, em colabora\u00e7\u00e3o com a FAPESP.<\/p>\n

O evento reuniu 63 jovens pesquisadores de diferentes \u00e1reas da Engenharia \u2013 33 do Brasil e 30 do Reino Unido \u2013, atuantes em universidades, institui\u00e7\u00f5es de pesquisa e empresas, como Shell, Foster Wheeler e Petrobras, entre outras.<\/p>\n

\u201cAs bact\u00e9rias conseguiram remover todos os contaminantes de amostras de efluentes de refinarias\u201d, afirmou Perpetuo, que realizou mestrado, doutorado e p\u00f3s-doutorado com Bolsas da FAPESP.<\/p>\n

De acordo com a professora, as duas bact\u00e9rias foram isoladas do ar e descobertas por acaso, quando trabalhava como pesquisadora no Cepema, em Cubat\u00e3o, pr\u00f3ximo a uma refinaria da Petrobras.<\/p>\n

Ao deixar uma solu\u00e7\u00e3o de fenol com 500 ppm exposta em uma \u00e1rea de processos ao ar livre do Cepema, os pesquisadores perceberam que dias depois a solu\u00e7\u00e3o come\u00e7ou a turvar \u2013 sinal de crescimento celular.<\/p>\n

\u201cComo s\u00f3 tinha fenol como fonte de carbono na solu\u00e7\u00e3o, percebemos que microrganismos estavam degradando o composto\u201d, disse Perpetuo. \u201cPosteriormente, come\u00e7amos a isolar as bact\u00e9rias e a inocul\u00e1-las em diferentes concentra\u00e7\u00f5es de poluentes para verificar quem resistia mais \u00e0 presen\u00e7a de fen\u00f3is. E constatamos que a Achromobacter sp. e a Pandoraea sp. eram mais eficientes na degrada\u00e7\u00e3o do composto.\u201d<\/p>\n

Degradar fenol<\/strong> – A fim de testar a efic\u00e1cia das bact\u00e9rias na degrada\u00e7\u00e3o de fen\u00f3is, os pesquisadores realizaram dois experimentos diferentes. No primeiro, feito em biorreatores, adicionaram 100 mililitros (ml) de biomassa de Achromobacter sp. em 500 ml de \u00e1gua \u00e1cida e mantiveram as bact\u00e9rias na solu\u00e7\u00e3o por 82 horas.<\/p>\n

J\u00e1 no segundo experimento, mantiveram por 96 horas cepas de Pandoraea sp. em uma solu\u00e7\u00e3o de \u201c\u00e1gua \u00e1cida\u201d em bal\u00e3o de Erlenmeyer (frasco de vidro) sob agita\u00e7\u00e3o e temperatura controlada.<\/p>\n

Para tornar incolor a \u201c\u00e1gua \u00e1cida\u201d tratada com as bact\u00e9rias foi utilizada uma concentra\u00e7\u00e3o de 6 gramas por litro de carv\u00e3o ativado, como o utilizado em filtros de \u00e1gua dom\u00e9sticos.<\/p>\n

Os resultados dos experimentos indicaram que as bact\u00e9rias foram capazes de degradar os fen\u00f3is e compostos como o-cresol e m-cresol presentes na solu\u00e7\u00f5es em concentra\u00e7\u00f5es de 500 ppm.<\/p>\n

A bact\u00e9ria Achromobacter sp, contudo, foi a mais eficiente e demonstrou ser capaz de degradar fen\u00f3is em concentra\u00e7\u00e3o de at\u00e9 2 gramas por litro de solu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\u201cAt\u00e9 ent\u00e3o n\u00e3o tinha sido identificada uma bact\u00e9ria com uma capacidade t\u00e3o alta de efluentes reais [n\u00e3o sint\u00e9ticos].. As j\u00e1 relatadas na literatura cient\u00edfica t\u00eam capacidade de degradar concentra\u00e7\u00f5es de at\u00e9 200 ou 300 ppm de efluentes sint\u00e9ticos, como \u00e1gua adicionada de fenol, onde n\u00e3o h\u00e1 mistura de contaminantes\u201d, disse Perpetuo.<\/p>\n

Por meio de um projeto de doutorado, realizado com Bolsa da FAPESP, os pesquisadores analisaram o proteoma (conjunto de prote\u00ednas) da bact\u00e9ria a fim de identificar as enzimas envolvidas na capacidade de degrada\u00e7\u00e3o de fen\u00f3is pelo microrganismo.<\/p>\n

Os resultados da an\u00e1lise foram publicados na revista Current Proteomics e demostraram que o microrganismo possui algumas enzimas que apresentam uma grande express\u00e3o quando expostas ao fenol.<\/p>\n

\u201cAchamos que a Achromobacter sp pode ser uma esp\u00e9cie nova de bact\u00e9ria. Por isso, j\u00e1 solicitamos a realiza\u00e7\u00e3o do sequenciamento do genoma total dela\u201d, disse Perpetuo.<\/p>\n

Aplica\u00e7\u00e3o em larga escala<\/strong> – De acordo com a professora, uma das poss\u00edveis formas de utiliza\u00e7\u00e3o das bact\u00e9rias para o tratamento de \u201c\u00e1gua \u00e1cida\u201d seria por meio da aplica\u00e7\u00e3o de biofilme dos microrganismos em cilindros biol\u00f3gicos, semelhantes a rodas d\u2019\u00e1gua, que ficariam parcialmente imersos e girando sobre a superf\u00edcie de tanques de armazenamento do efluente, uma vez que as bact\u00e9rias necessitam de aera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ao girar, o cilindro possibilitaria que as bact\u00e9rias ora entrassem em contato com o efluente e degradassem os contaminantes t\u00f3xicos e ora ficassem expostas ao ar.<\/p>\n

\u201cDesenvolvemos um prot\u00f3tipo do cilindro biol\u00f3gico para um tanque de um litro em um ambiente aberto e ele funcionou. Achamos que n\u00e3o seria dif\u00edcil fazer um para uma escala bem maior\u201d, estimou.<\/p>\n

Na avalia\u00e7\u00e3o de Perpetuo e de outros especialistas presentes no evento em Jarinu, a biorremedia\u00e7\u00e3o \u2013 como \u00e9 chamado o uso de microrganismos para transforma\u00e7\u00e3o biol\u00f3gica de produtos qu\u00edmicos indesej\u00e1veis, para imobiliza\u00e7\u00e3o de metais ou modifica\u00e7\u00e3o das propriedades dos materiais para melhorar a utiliza\u00e7\u00e3o de recursos, como a \u00e1gua e a terra \u2013 \u00e9 reconhecida como uma das solu\u00e7\u00f5es de mais baixo custo para a limpeza de \u00e1gua e solos contaminados.<\/p>\n

Com as novas tecnologias de sequenciamento gen\u00e9tico, a \u00e1rea come\u00e7ou a se desenvolver mais nos \u00faltimos anos, avaliou Andrew Singer, pesquisador do Centro de Ecologia e Hidrologia do Natural Environment Research Council (Nerc), do Reino Unido.<\/p>\n

\u201cA microbiologia molecular moderna se desenvolveu em um ritmo t\u00e3o grande nos \u00faltimos anos que poder\u00e1 nos permitir n\u00e3o s\u00f3 identificar micr\u00f3bios isolados e sua atividade gen\u00e9tica, como tamb\u00e9m fazer um levantamento r\u00e1pido de um ambiente inteiro para determinar as esp\u00e9cies de microrganismos presentes e estimar a abund\u00e2ncia e sua atividade\u201d, disse Singer em palestra durante o evento.<\/p>\n

Colabora\u00e7\u00e3o em pesquisa<\/strong> – O Brazil-UK Frontiers of Engineering teve como objetivo possibilitar que os participantes conhecessem outros pesquisadores promissores em outras \u00e1reas e de lugares diferentes para desenvolver uma perspectiva multidisciplinar em Engenharia. Al\u00e9m disso, buscou estimular o estabelecimento de redes multinacionais de colabora\u00e7\u00e3o em pesquisa.<\/p>\n

\u201cA ideia foi criar um espa\u00e7o de discuss\u00e3o durante o encontro em que jovens pesquisadores provenientes tanto de universidades e institui\u00e7\u00f5es de pesquisa como de empresas pudessem conversar sobre temas que v\u00e3o ter impactos econ\u00f4micos e sociais no futuro\u201d, explicou Euclides de Mesquita Neto, professor da Faculdade de Engenharia Mec\u00e2nica (FEM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos coordenadores do evento.<\/p>\n

\u201cPara esta edi\u00e7\u00e3o selecionamos como temas para discuss\u00e3o \u00f3leo e g\u00e1s, redes inteligentes, big data em sa\u00fade e biorremedia\u00e7\u00e3o\u201d, disse Mesquita Neto, que \u00e9 membro da coordena\u00e7\u00e3o da \u00e1rea de Engenharia da FAPESP.<\/p>\n

Durante os tr\u00eas dias de dura\u00e7\u00e3o do evento foram realizadas 16 apresenta\u00e7\u00f5es orais e sess\u00f5es de p\u00f4steres sobre esses quatro temas. (Fonte: Ag\u00eancia FAPESP)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Microrganismos identificados por pesquisadores s\u00e3o capazes de eliminar contaminantes t\u00f3xicos presentes em efluente industrial; resultados do estudo foram apresentados no encontro Brazil-UK Frontiers of Engineering. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[22,35,260],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/110465"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=110465"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/110465\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=110465"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=110465"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=110465"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}