{"id":118581,"date":"2015-08-31T00:01:19","date_gmt":"2015-08-31T03:01:19","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=118581"},"modified":"2015-08-30T22:48:37","modified_gmt":"2015-08-31T01:48:37","slug":"mudancas-climaticas-causam-alteracoes-no-comportamento-de-beija-flores","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2015\/08\/31\/118581-mudancas-climaticas-causam-alteracoes-no-comportamento-de-beija-flores.html","title":{"rendered":"Mudan\u00e7as clim\u00e1ticas causam altera\u00e7\u00f5es no comportamento de beija-flores"},"content":{"rendered":"
As mudan\u00e7as clim\u00e1ticas podem causar a diminui\u00e7\u00e3o da atividade de voo de beija-flores e, consequentemente, da poliniza\u00e7\u00e3o de vegetais por esse grupo de aves.<\/p>\n
A constata\u00e7\u00e3o \u00e9 de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Taubat\u00e9 (Unitau), em colabora\u00e7\u00e3o com colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de S\u00e3o Paulo (EEL-USP) e da University of Toronto Scarborough, do Canad\u00e1, durante o Projeto Tem\u00e1tico \u201cAssessment of impacts and vulnerability to climate change in Brazil and strategies for adaptation option\u201d, realizado com apoio da FAPESP no \u00e2mbito de um acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient\u00edfico e Tecnol\u00f3gico (CNPq).<\/p>\n
\u201cObservamos que o aumento da temperatura causa a diminui\u00e7\u00e3o da taxa metab\u00f3lica de beija-flores [a quantidade de oxig\u00eanio consumido necess\u00e1rio para produzir energia]. Com isso, cai a frequ\u00eancia de batimentos de asa das aves e, consequentemente, elas passam a voar menos e diminuem a procura por n\u00e9ctar em flores\u201d, disse Maria Cec\u00edlia Barbosa de Toledo, professora do Departamento de Biologia da Unitau e coordenadora do projeto, \u00e0 Ag\u00eancia FAPESP.<\/p>\n
Os pesquisadores estudaram oito esp\u00e9cies de beija-flor encontradas em diferentes n\u00edveis de altitude no Vale do Para\u00edba, no interior de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n
Duas das esp\u00e9cies s\u00e3o de baixa altitude \u2013 o beija-flor rajado (Ramphodon naevius<\/em>) e o topetinho-verde (Lophornis chalybeus<\/em>) \u2013, outras duas s\u00e3o de alta altitude \u2013 o beija-flor de topete (Stephanoxis lalandi) e o beija-flor de papo branco (Leucochloris albicollis<\/em>) \u2013, tr\u00eas ocorrem ao longo de todo o gradiente elevacional do Vale do Para\u00edba \u2013 o beija-flor de fronte violeta (Thalurania glaucopis<\/em>), beija-flor rubi (Clytolaema rubricauda<\/em>) e beija-flor de garganta verde (Amazilia fimbriata<\/em>) \u2013 e a \u00faltima \u2013 o beija-flor preto (Florisuga fusca<\/em>) \u2013 \u00e9 migrat\u00f3ria.<\/p>\n O grupo de aves foi escolhido porque apresenta uma alta taxa metab\u00f3lica, relacionada com fatores ambientais, como temperatura e altitude.<\/p>\n \u201cEstim\u00e1vamos que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas poderiam causar grandes impactos em esp\u00e9cies de beija-flor e que, por isso, podiam ser usadas como bioindicadoras\u201d, disse Toledo.<\/p>\n A fim de simular os efeitos das varia\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas nesses animais, os pesquisadores usaram como refer\u00eancia o gradiente clim\u00e1tico altitudinal da regi\u00e3o montanhosa do Vale do Para\u00edba, que varia de tr\u00eas metros \u2013 como os das cidades de Ubatuba e Caraguatatuba \u2013 a 1,8 mil metros de altitude, como o da cidade de Campos do Jord\u00e3o.<\/p>\n Nessas regi\u00f5es, com diferentes n\u00edveis de eleva\u00e7\u00e3o altitudinal e temperatura vari\u00e1vel entre 10 e 30 \u00baC, eles avaliaram a taxa metab\u00f3lica em campo de beija-flores rubi (Clytolaema rubricauda<\/em>) \u2013 uma das tr\u00eas esp\u00e9cies de beija-flor que ocorrem ao longo de todo o gradiente altitudinal do Vale do Para\u00edba.<\/p>\n Para isso, usaram um sistema em que o beija-flor \u00e9 capturado e colocado dentro de uma c\u00e2mara com um alimentador, no alto do recinto \u2013 composto por um tubo pl\u00e1stico contendo uma solu\u00e7\u00e3o de sacarose a 20% \u2013, e um poleiro que serve de balan\u00e7a para indicar o peso do animal.<\/p>\n Para conseguir se alimentar da solu\u00e7\u00e3o de sacarose, a ave precisava pairar no ar e inserir a cabe\u00e7a dentro do tubo de pl\u00e1stico do alimentador, que funciona como uma m\u00e1scara respirat\u00f3ria, com passagem de 2,5 mil mililitros (ml) de ar por minuto.<\/p>\n Ao pairar no ar e inserir a cabe\u00e7a na m\u00e1scara respirat\u00f3ria, os pesquisadores conseguiam analisar a temperatura, al\u00e9m do volume de oxig\u00eanio consumido e o total de di\u00f3xido de carbono produzido pela ave durante o voo pairado.<\/p>\n Dessa forma, conseguiram estimar as taxas metab\u00f3licas dos p\u00e1ssaros em diferentes temperaturas ao longo do gradiente altitudinal do Vale do Para\u00edba.<\/p>\n \u201cEsse sistema possibilita avaliarmos a taxa metab\u00f3lica de beija-flores em atividade, que \u00e9 o dado mais importante para mensurarmos os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas no metabolismo dessas aves\u201d, explicou Toledo.<\/p>\n Menos voo<\/strong> – Uma das constata\u00e7\u00f5es dos experimentos foi que o aumento da temperatura diminui a taxa metab\u00f3lica do beija-flor rubi.<\/p>\n A taxa metab\u00f3lica da ave foi maior em uma faixa de temperatura mais amena, entre 20.1 e 25 \u00baC, e menor sob temperaturas mais altas, entre 25.1 e 30 \u00baC, indicaram os experimentos.<\/p>\n Nessa faixa de temperatura mais elevada, o p\u00e1ssaro tende a diminuir a frequ\u00eancia de batimento de asas, procura mais sombra para permanecer em repouso e voa menos para manter seu metabolismo e diminuir o gasto energ\u00e9tico, explicou Toledo.<\/p>\n \u201cEssa mudan\u00e7a de comportamento pode causar a diminui\u00e7\u00e3o da poliniza\u00e7\u00e3o de vegetais por essas aves\u201d, estimou a pesquisadora. \u201cOs beija-flores passam a visitar menos as flores silvestres em busca de n\u00e9ctar e, consequentemente, deixam de transportar p\u00f3len de uma flor para outra\u201d, estimou a pesquisadora.<\/p>\n Algumas esp\u00e9cies de beija-flor possuem prefer\u00eancias clim\u00e1ticas, apontou o estudo.<\/p>\n O beija-flor rubi, por exemplo, apresenta maior ocorr\u00eancia no Vale do Para\u00edba em regi\u00f5es com temperatura na faixa de 20 \u00ba a 25 \u00baC, e n\u00e3o \u201cd\u00e1 as caras\u201d em regi\u00f5es de baixa altitude durante o ver\u00e3o, quando a temperatura m\u00e9dia atinge 28 \u00baC, disse Toledo.<\/p>\n \u201cSe a temperatura aumentar, elevando a m\u00e9dia das terras altas, provavelmente os beija-flores tentar\u00e3o acompanhar essa mudan\u00e7a\u201d, estimou a pesquisadora.<\/p>\n \u201cObservamos durante o estudo que os beija-flores apresentam varia\u00e7\u00f5es morfom\u00e9tricas em fun\u00e7\u00e3o da altitude, tais como massa, comprimento e \u00e1rea da asa, comprimento do bico e comprimento total. Mas ainda n\u00e3o sabemos se poder\u00e3o sofrer mudan\u00e7as morfom\u00e9tricas r\u00e1pidas a tempo de se adaptarem \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas\u201d, disse Toledo.<\/p>\n O aumento da temperatura, contudo, n\u00e3o representa um fator limitante para a sobreviv\u00eancia dos beija-flores, uma vez que esse grupo de aves possui alta resist\u00eancia t\u00e9rmica.<\/p>\n A temperatura corp\u00f3rea dos beija-flores \u00e9 em torno de 40 \u00baC. Dessa forma, a ave \u00e9 capaz de suportar de forma confort\u00e1vel uma temperatura ambiente em torno de 38 \u00baC \u2013 considerada bastante alta \u2013, explicou Toledo.<\/p>\n \u201cOs beija-flores s\u00f3 conseguem manter esse estresse t\u00e9rmico por muito tempo, entretanto, se houver energia dispon\u00edvel, que \u00e9 o n\u00e9ctar das flores. E isso representa um ponto de preocupa\u00e7\u00e3o\u201d, ponderou.<\/p>\n Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia de Lorena, da USP, no \u00e2mbito do projeto, identificou que a quantidade de energia disponibilizada pelas plantas para os beija-flores na regi\u00e3o do Vale do Para\u00edba varia de acordo com a eleva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Algumas esp\u00e9cies de plantas visitadas por beija-flores em regi\u00f5es de terras altas, como Campos do Jord\u00e3o, possuem n\u00e9ctar com maior teor de sacarose \u2013 o a\u00e7\u00facar preferido pela ave \u2013 do que em regi\u00f5es de terras baixas, como Ubatuba, apontou o estudo.<\/p>\n \u201cNossa preocupa\u00e7\u00e3o \u00e9 se as plantas visitadas pelos beija-flores ser\u00e3o capazes de ajustar suas concentra\u00e7\u00f5es de n\u00e9ctar em tempo de acompanhar as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e continuarem fornecendo energia para essas aves\u201d, ressaltou Toledo. (Fonte: Ag\u00eancia FAPESP)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"