{"id":125075,"date":"2016-05-09T00:00:21","date_gmt":"2016-05-09T03:00:21","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=125075"},"modified":"2016-05-08T22:52:39","modified_gmt":"2016-05-09T01:52:39","slug":"desastre-de-marianamg-pode-ter-afetado-animais-marinhos-pouco-conhecidos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2016\/05\/09\/125075-desastre-de-marianamg-pode-ter-afetado-animais-marinhos-pouco-conhecidos.html","title":{"rendered":"Desastre de Mariana\/MG pode ter afetado animais marinhos pouco conhecidos"},"content":{"rendered":"
Al\u00e9m de diversas esp\u00e9cies j\u00e1 conhecidas, o desastre ambiental de Mariana, em Minas Gerais, pode ter afetado uma enorme variedade de outros organismos marinhos ainda pouco estudados que ocorriam em regi\u00f5es atingidas pela lama t\u00f3xica vazada da barragem de rejeitos de min\u00e9rio de ferro, que rompeu no in\u00edcio de novembro.<\/p>\n
Um desses organismos \u00e9 a extremamente rara \u00e1gua-viva Kishinouyea corbini Larson, cuja \u00fanica popula\u00e7\u00e3o estabelecida e conhecida no Atl\u00e2ntico Sul Ocidental ocorria na Praia dos Padres, em Aracruz, no Esp\u00edrito Santo, atingida pela pluma de lama.<\/p>\n
\u201cEssa esp\u00e9cie \u00e9 emblem\u00e1tica da perda de informa\u00e7\u00e3o sobre diversos animais da fauna marinha ainda pouco estudados, ou at\u00e9 mesmo totalmente desconhecidos, que um evento catastr\u00f3fico como o desastre ambiental de Mariana pode ter causado\u201d, disse Antonio Carlos Marques, professor do Instituto de Bioci\u00eancias (IB) e diretor do Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), \u00e0 Ag\u00eancia FAPESP.<\/p>\n
Marques e Luc\u00edlia Souza Miranda, p\u00f3s-doutoranda no IB-USP com Bolsa da FAPESP, publicaram artigo na revista BIOTA Neotropica em que chamam a aten\u00e7\u00e3o para os impactos ocultos do desastre ambiental de Mariana sobre a fauna marinha brasileira, destacando o exemplo da K. corbini.<\/p>\n
Essa \u00e1gua-viva muito peculiar vive com a boca para cima capturando alimento, enquanto a maioria das \u00e1guas-vivas tem a boca para baixo. Ela tamb\u00e9m n\u00e3o nada, vivendo presa ao assoalho marinho ou a algum outro organismo por meio de um ped\u00fanculo. A K. corbini foi a primeira esp\u00e9cie da classe Staurozoa registrada no Brasil, exatamente na costa do Esp\u00edrito Santo.<\/p>\n
A classe Staurozoa, proposta por Marques h\u00e1 mais de 10 anos, \u00e9 considerada muito importante na evolu\u00e7\u00e3o do filo Cnid\u00e1ria \u2013 que inclui as medusas, an\u00eamonas-do-mar, caravelas-do-mar, coraismoles e duros e hidras de \u00e1gua doce \u2013e um dos primeiros grupos de animais marinhos a surgir nos oceanos.<\/p>\n
Segundo Marques, um animal semelhante \u00e0 K. corbini pode ter sido o primeiro tipo de medusa dos cnid\u00e1rios. \u201cA classe Staurozoa \u00e9 relativamente pequena, composta por cerca de 50 esp\u00e9cies com distribui\u00e7\u00e3o muito concentrada em \u00e1guas polares e temperadas.\u201d<\/p>\n
\u201cH\u00e1 duas esp\u00e9cies dessa classe de animais marinhos que ocorrem em \u00e1reas tropicais do Atl\u00e2ntico Sul Ocidental, uma das quais \u00e9 a K.corbini\u201d, disse.<\/p>\n
H\u00e1 registros no Caribe dessa esp\u00e9cie de \u00e1gua-viva dif\u00edcil de encontrar e que muitas vezes se camufla em algas marinhas, mais especificamente em Porto Rico e no M\u00e9xico.<\/p>\n
No Brasil, h\u00e1 um registro de K.corbini no arquip\u00e9lago de Abrolhos, na Bahia, mas que nunca mais foi encontrado. E h\u00e1 suspeitas de que parte daquela \u00e1rea tamb\u00e9m pode ter sido igualmente impactada pelo desastre ambiental de Mariana.<\/p>\n
A \u00fanica popula\u00e7\u00e3o dessa esp\u00e9cie de \u00e1gua-viva conhecida no Atl\u00e2ntico Sul Ocidental estava situada no litoral do Esp\u00edrito Santo.<\/p>\n
\u201cPor ser parte de um grupo que vive majoritariamente em \u00e1guas frias, com rar\u00edssimas esp\u00e9cies em \u00e1guas tropicais, a popula\u00e7\u00e3o dessa esp\u00e9cie de \u00e1gua-viva encontrada no litoral do Esp\u00edrito Santo teria uma hist\u00f3ria evolutiva \u00edmpar, relacionada a sua fisiologia, ecologia e intera\u00e7\u00f5es com outros organismos em um ambiente tropical, diferente do ambiente ancestral onde se originou e se desenvolveu\u201d, disse Marques.<\/p>\n
\u201cTodas essas particularidades dessa popula\u00e7\u00e3o de \u00e1gua-viva, que poderiam trazer informa\u00e7\u00f5es importantes e \u00fanicas sobre a qu\u00edmica, a morfologia e o contexto ecol\u00f3gico de todo o grupo e nos auxiliar a aumentar a compreens\u00e3o sobre a vida em ambientes com diferencia\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica afetados pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, podem ter sido perdidas\u201d, estimou.<\/p>\n
A identidade molecular desses animais encontrados no litoral do Esp\u00edrito Santo foi rec\u00e9m-estudada por Miranda em sua pesquisa de doutorado, tamb\u00e9m realizada com Bolsa da FAPESP. Mas ainda n\u00e3o havia informa\u00e7\u00f5es sobre suas rela\u00e7\u00f5es tr\u00f3ficas (entre presa e predadores).<\/p>\n
Al\u00e9m disso, ainda n\u00e3o se sabia se as popula\u00e7\u00f5es eram isoladas ou interdependentes, o que torna ainda mais dif\u00edcil estimar os efeitos sobre os animais de um evento da magnitude do desastre ambiental de Mariana, apontam os pesquisadores.<\/p>\n
\u201c\u00c9 como se diversas p\u00e1ginas cruciais para a compreens\u00e3o de um livro tivessem sido arrancadas e seremos obrigados, a partir de agora, a l\u00ea-lo sem ter acesso a esses trechos essenciais\u201d, comparou Marques.<\/p>\n
Levantamento de danos<\/strong> – De acordo com Marques, que realizou um estudo em parceria com colegas da Argentina, apoiado pela FAPESP, e coordena um Projeto Tem\u00e1tico sobre padr\u00f5es e processos de diversifica\u00e7\u00e3o de cnid\u00e1rios, ainda n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel estimar os impactos do desastre ambiental de Mariana na popula\u00e7\u00e3o de \u00e1gua-viva K.corbini encontrada no litoral capixaba.<\/p>\n Isso porque ainda continuam ocorrendo derramamentos espor\u00e1dicos de lama, que j\u00e1 percorreu 650 quil\u00f4metros ao longo da bacia do rio Doce \u2013 considerada uma das mais importantes bacias hidrogr\u00e1ficas da Am\u00e9rica do Sul \u2013, causando uma enorme mortalidade de sua biota, em sua maioria enterrada e sufocada pelos sedimentos, apontam os pesquisadores.<\/p>\n \u201c\u00c9 evidente que muitos animais, algas e plantas v\u00e3o desaparecer em raz\u00e3o da forma\u00e7\u00e3o de dep\u00f3sitos espessos de sedimentos porque n\u00e3o estavam preparados para lidar com cat\u00e1strofes dessa magnitude. O desastre ambiental de Mariana equivaleria a cat\u00e1strofes como erup\u00e7\u00f5es de vulc\u00f5es em pequenas ilhas, que dizimam uma extensa gama de habitantes das vizinhan\u00e7as\u201d, comparou Marques.<\/p>\n Segundo ele, ainda n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel avaliar a real magnitude do desastre ambiental de Mariana porque o processo ainda n\u00e3o foi conclu\u00eddo. Por isso, ser\u00e1 necess\u00e1rio fazer um acompanhamento da regi\u00e3o atingida por muitos anos e fazer buscas e compara\u00e7\u00f5es ao longo do tempo para compreender a resili\u00eancia e a recupera\u00e7\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 de processos e do ambiente marinho, mas tamb\u00e9m do ambiente continental.<\/p>\n \u201cA regi\u00e3o do litoral do Esp\u00edrito Santo atingida pela lama de Mariana apresentava uma grande diversidade de cnid\u00e1rios, com grandes popula\u00e7\u00f5es de diferentes esp\u00e9cies\u201d, disse o diretor do CEBIMar.<\/p>\n \u201cO substrato marinho da regi\u00e3o era tomado por algumas esp\u00e9cies chamadas de construtoras \u2013 como coraismoles, algas e coral\u00edneas, como os rodolitos [algas calc\u00e1rias] \u2013, que acabam por criar ambientes peculiares para a exist\u00eancia de outras esp\u00e9cies\u201d, explicou.<\/p>\n De acordo com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renov\u00e1veis (Ibama) e com o Instituto Chico Mendes de Conserva\u00e7\u00e3o da Biodiversidade (ICMBio), a lama j\u00e1 atingiu uma \u00e1rea total de quase 7 mil quil\u00f4metros quadrados do litoral capixaba e j\u00e1 pode ter chegado ao arquip\u00e9lago de Abrolhos.<\/p>\n \u201cV\u00ednhamos acompanhando os cnid\u00e1rios naquela regi\u00e3o e realizando estudos de gen\u00f4mica e transcript\u00f4mica do grupo para analisar como o DNA desses animais estava respondendo \u00e0quele ambiente em compara\u00e7\u00e3o com os animais de \u00e1guas frias. Mas por ora todas essas possibilidades de estudo foram perdidas talvez permanentemente\u201d, lamentou Marques.<\/p>\n Na avalia\u00e7\u00e3o dele, o desastre ambiental de Mariana n\u00e3o \u00e9 um fato isolado, mas uma consequ\u00eancia de como a sociedade brasileira vem tratando o ambiente e a conserva\u00e7\u00e3o marinha.<\/p>\n \u201cO desastre ambiental de Mariana demonstra uma desconsidera\u00e7\u00e3o com a sustentabilidade e a conserva\u00e7\u00e3o de ambientes que ser\u00e3o vitais no futuro e \u00e9 decorrente de uma pol\u00edtica ambiental que precisa ser muito melhorada em todos os n\u00edveis\u201d, afirmou. (Fonte: Ag\u00eancia FAPESP)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Lama t\u00f3xica vazada de barragem de rejeitos de min\u00e9rio de ferro pode ter causado desaparecimento de esp\u00e9cies como \u00e1gua-viva rara, apontam pesquisadores da USP. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[331],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/125075"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=125075"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/125075\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=125075"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=125075"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=125075"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}