{"id":135011,"date":"2016-11-29T00:00:28","date_gmt":"2016-11-29T00:00:28","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=135011"},"modified":"2016-11-28T21:07:34","modified_gmt":"2016-11-28T21:07:34","slug":"desenhos-pre-historicos-ignorados-podem-revelar-o-mais-antigo-codigo-de-escrita","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2016\/11\/29\/135011-desenhos-pre-historicos-ignorados-podem-revelar-o-mais-antigo-codigo-de-escrita.html","title":{"rendered":"Desenhos pr\u00e9-hist\u00f3ricos ‘ignorados’ podem revelar o ‘mais antigo’ c\u00f3digo de escrita"},"content":{"rendered":"

\u00c0 primeira vista, os rabiscos parecem tra\u00e7os sem import\u00e2ncia, como estes das cavernas espanholas conhecidas como Las Chimeneas, que s\u00e3o Patrim\u00f4nio da Humanidade.<\/p>\n

S\u00e3o 32 tra\u00e7os que se repetem em diferentes cavernas de toda a Europa. Registros simples: apenas linhas em zigue-zague, pontos, tri\u00e2ngulos inacabados, cruzes retorcidas ou algo que lembra figuras geom\u00e9tricas.<\/p>\n

Nenhum deles \u00e9 cria\u00e7\u00e3o de algu\u00e9m apressado ou de um mau desenhista: os cientistas acreditam que esse conjunto forma o c\u00f3digo de escrita mais antigo de que se tem registro.<\/p>\n

Entender os tra\u00e7os est\u00e1 tirando o sono de Genevieve von Petzinger, paleoantrop\u00f3loga da Universidade de Victoria, no Canad\u00e1, respons\u00e1vel por um estudo in\u00e9dito sobre arte rupestre do per\u00edodo Paleol\u00edtico.<\/p>\n

O per\u00edodo, tamb\u00e9m conhecido como Idade da Pedra Lascada, vai de 2 milh\u00f5es a.C. (\u00e9poca aproximada em que o homem fabricou o primeiro utens\u00edlio) at\u00e9 10.000 a.C..<\/p>\n

‘Desenhos ignorados’<\/strong> – “Me interessam os grandes padr\u00f5es, as poss\u00edveis interconex\u00f5es entre desenhos e regi\u00f5es”, disse a cientista \u00e0 BBC Mundo, o servi\u00e7o em espanhol da BBC.<\/p>\n

O alcance geogr\u00e1fico do projeto \u00e9 certamente ambicioso: envolve mais de 350 s\u00edtios arqueol\u00f3gicos, “o que n\u00e3o \u00e9 muito se levarmos em conta que s\u00e3o 30 mil anos de hist\u00f3ria”.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, envolve olhar o que antes muitos outros cientistas passaram por cima.<\/p>\n

A paleoantrop\u00f3loga canadense n\u00e3o est\u00e1 interessada nas figuras mais atraentes – os bis\u00f5es, as cenas de ca\u00e7a, as representa\u00e7\u00f5es de formas claramente humanas – e sim nos registros que foram classificados como “geom\u00e9tricos” por falta de um termo mais apropriado.<\/p>\n

“S\u00e3o os desenhos negligenciados, ignorados”, ri.<\/p>\n

Viagem subterr\u00e2nea<\/strong> – Esses “desenhos ignorados”, que est\u00e3o ali desde a Idade da Pedra, s\u00e3o parte de um dos legados art\u00edsticos mais antigos do mundo, da fase final do \u00faltimo per\u00edodo glacial na Europa (por isso tamb\u00e9m chamada de arte da Era do Gelo).<\/p>\n

Silenciosos e inexplorados, esses tra\u00e7os podem falar de “uma mudan\u00e7a fundamental nas habilidades dos nossos ancestrais”, diz a cientista. Isso porque a capacidade de articular um c\u00f3digo \u00e9 a mesma exigida para desenvolver uma escrita, como fez o homem moderno.<\/p>\n

Em muitos casos, a exist\u00eancia desses s\u00edmbolos n\u00e3o \u00e9 nenhuma novidade.<\/p>\n

“Mas os invent\u00e1rios (feitos pelos paleont\u00f3logos quando v\u00e3o estudar uma nova caverna) nem sequer dizem que tipo de sinais eles s\u00e3o, os consideram secund\u00e1rios e n\u00e3o fazem compara\u00e7\u00f5es.”<\/p>\n

Foi assim que, h\u00e1 tr\u00eas anos, a cientista embarcou numa viagem subterr\u00e2nea, acompanhada do marido fot\u00f3grafo.<\/p>\n

Eles passam a maior parte do dia em grutas ou cavernas, at\u00e9 “emergirem” \u00e0 noite, como ela mesma diz.
\nTrata-se de um total de 52 cavernas, em muitos casos de acesso dific\u00edlimo por causa de condi\u00e7\u00f5es geogr\u00e1ficas ou porque est\u00e3o nas m\u00e3os da iniciativa privada.<\/p>\n

Descoberta de uma nova arte<\/strong> – \u00c9 o caso das cavernas de El Portillo, Santi\u00e1n ou Las Chimeneas, na Espanha, e Niaux e Marsoulas, na Fran\u00e7a, al\u00e9m de outras na It\u00e1lia e em Portugal.<\/p>\n

A maior parte delas n\u00e3o tem a popularidade das grutas mais “midi\u00e1ticas” como Chauvet, no sul da Fran\u00e7a, ou Altamira, no norte do Brasil.<\/p>\n

“Em muitas grutas, inclusive, encontramos uma nova arte, que n\u00e3o tinha sido descoberta”, diz Von Petzinger.<\/p>\n

“Ningu\u00e9m se preocupou em registrar estes tra\u00e7os. Quando come\u00e7amos a faz\u00ea-lo, vimos que eles se repetem. H\u00e1 um padr\u00e3o.”<\/p>\n

O casal catalogou meticulosamente os sinais at\u00e9 chegar a uma esp\u00e9cie de repert\u00f3rio, que se repete nas pedras de diferentes grutas: um total de 32 s\u00edmbolos.<\/p>\n

“\u00c9 realmente interessante verificar que eles s\u00e3o t\u00e3o espec\u00edficos, que cada um \u00e9 muito diferente do outro. Inclusive os mais incomuns se repetem (em outras grutas) de maneira id\u00eantica. As possibilidades de que isso seja uma coincid\u00eancia s\u00e3o bem pequenas”, afirma a pesquisadora.<\/p>\n

Em outras palavras, o que isso significa \u00e9 que estar\u00edamos diante de um c\u00f3digo pr\u00e9-estabelecido e compartilhado por diferentes grupos do per\u00edodo Paleol\u00edtico.<\/p>\n

Tamb\u00e9m sugere, diz ela, que havia conex\u00f5es entre lugares remotos naquela era pr\u00e9-hist\u00f3rica.<\/p>\n

“Sabemos que na Europa havia uma ativa rede de interc\u00e2mbio de popula\u00e7\u00f5es e isso nos d\u00e1 um sinal de como era sofisticada a sua estrutura social”, diz a cientista, que em maio deste ano publicou um livro com suas descobertas (The First Signs: Unlocking the mysteries of the world’s oldest symbols, algo como “Os primeiros sinais: desvendando os mist\u00e9rios dos s\u00edmbolos mais antigos do mumdo”,ainda n\u00e3o lan\u00e7ado em portugu\u00eas).<\/p>\n

Um c\u00f3digo, mas qual o significado?<\/strong> – Como qualquer cientista curioso, Von Petzinger adoraria poder ler para al\u00e9m dos tra\u00e7os e descobrir seus significados.<\/p>\n

Por exemplo, poder estabelecer com certeza que uma figura em forma de chave \u00e9 uma lan\u00e7a e que registros em forma de pena s\u00e3o folhas de \u00e1rvore.<\/p>\n

Mas a pesquisadora admite que essa \u00e9 uma miss\u00e3o imposs\u00edvel.<\/p>\n

“Por mais que desejemos, nunca vamos poder estar na cabe\u00e7a de pessoas que viveram h\u00e1 30 mil anos”, diz, rindo.<\/p>\n

“Mas se n\u00e3o sabemos o que significam, sabemos que esses tra\u00e7os deveriam ter um sentido. E isso nos \u00e9 indicado pela sua repeti\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n

O que importa, insiste Von Petzinger, \u00e9 o padr\u00e3o.<\/p>\n

“N\u00e3o se trata de um c\u00f3digo como o eg\u00edpcio, nem como a escrita cuneiforme (que \u00e9 a mais antiga l\u00edngua humana escrita). N\u00e3o \u00e9 algo t\u00e3o organizado. Nesse sentido, nunca vamos poder decifr\u00e1-lo, nem temos material de refer\u00eancia para isso.”<\/p>\n

O primeiro sistema de escrita conhecido, o cuneiforme, tem cinco mil anos e surgiu onde atualmente \u00e9 o Iraque. Mas, a exemplo dos complexos hier\u00f3glifos eg\u00edpcios, n\u00e3o faz sentido que tenha aparecido do nada.
\nPrimeiro c\u00f3digo humano?<\/p>\n

Os tra\u00e7os ordenados por Von Petzinger podem ser um sistema ainda mais antigo de escrita: um “primeiro c\u00f3digo humano” inscrito nas rochas das grutas.<\/p>\n

O que \u00e9 inovador nesta descoberta, confirmam os especialistas, \u00e9 que ela revela as habilidades b\u00e1sicas necess\u00e1rias para a cria\u00e7\u00e3o de um sistema de escrita: capacidade de abstra\u00e7\u00e3o, registro de marcas gr\u00e1ficas e sofisticado uso de s\u00edmbolos.<\/p>\n

“De maneira geral, podemos dizer que os sistemas gr\u00e1ficos desenvolvidos na Europa, na Idade do Gelo, s\u00e3o predecessores dos sistemas de escrita que v\u00eam depois. N\u00e3o porque determinado s\u00edmbolo daquela \u00e9poca esteja relacionado com outro s\u00edmbolo em uma etapa posterior, mas no sentido de que todos s\u00e3o c\u00f3digos.”<\/p>\n

Emojis pr\u00e9-hist\u00f3ricos<\/strong> – A pesquisadora os compara aos emojis, os \u00edcones da era dos smartphones, que representam um conceito em uma \u00fanica imagem.<\/p>\n

Eles s\u00e3o muito populares nas redes sociais e em comunica\u00e7\u00f5es de troca de mensagens instant\u00e2neas, como o WhatsApp.<\/p>\n

Os emojis foram descritos assim em uma coluna da revista Wired, especializada em tecnologia: “eles poderiam ter sido parte de um dos sistemas gr\u00e1ficos mais antigos do mundo, ou seja, bem mais que s\u00edmbolos simp\u00e1ticos no seu celular”.<\/p>\n

Primeiro \u00e9 preciso erradicar a ideia de que os tra\u00e7os das grutas europeias s\u00e3o figuras geom\u00e9tricas, diz a cientista.<\/p>\n

“Usamos esta compara\u00e7\u00e3o na falta de uma melhor. Mas isso condiciona a maneira como os vemos. Por exemplo, dever\u00edamos pensar que encontramos desenhos de animais e humanos, e nos perguntar: onde est\u00e1 a natureza? Por que nunca pintaram uma \u00e1rvore ou um rio, que s\u00e3o elementos importantes na vida de uma sociedade coletora-ca\u00e7adora?”<\/p>\n

Assim, a hip\u00f3tese \u00e9 que as figuras se refiram a coisas que n\u00e3o aparecem de forma \u00f3bvia nos desenhos: uma montanha, as estrelas, uma arma…<\/p>\n

N\u00e3o s\u00e3o formas abstratas, como sugere uma an\u00e1lise superficial, mas representa\u00e7\u00f5es de ideias padronizadas.
\nNa sua simplicidade, os s\u00edmbolos tamb\u00e9m t\u00eam outra qualidade: s\u00e3o democr\u00e1ticos, afirma Von Petzinger.<\/p>\n

“Desenhar um mamute ou um cavalo exige habilidades que poucos t\u00eam. Mas um quadrado ou um zigue-zague, qualquer um pode fazer.”<\/p>\n

E por serem mais acess\u00edveis, os tra\u00e7os s\u00e3o melhores como ferramenta de comunica\u00e7\u00e3o: virtude desejada por qualquer linguagem que se preze.<\/p>\n

Mas a paleoantrop\u00f3loga n\u00e3o se conforma com estas hip\u00f3teses e quer mais.<\/p>\n

Qual ser\u00e1 seu pr\u00f3ximo passo na busca de sentido para os desenhos misteriosos?<\/p>\n

Entrar, com a ajuda de rob\u00f4s submarinos, em grutas submersas e inexploradas da costa da Cant\u00e1bria, no norte da Espanha, para buscar mais signos, mais tra\u00e7os, que joguem luz sobre como o homem moderno aprendeu a escrever. (Fonte: G1)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Pesquisadora encontrou em cavernas europeias 32 s\u00edmbolos que se repetem e que, na sua vis\u00e3o, podem ter constitu\u00eddo c\u00f3digo de comunica\u00e7\u00e3o entre os homens. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[80,65],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/135011"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=135011"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/135011\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=135011"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=135011"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=135011"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}