{"id":136159,"date":"2017-03-28T00:02:41","date_gmt":"2017-03-28T03:02:41","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=136159"},"modified":"2017-03-27T18:30:54","modified_gmt":"2017-03-27T21:30:54","slug":"da-autorizacao-do-corte-de-araucarias-velhas-isoladas-e-em-pinheirais-nativos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/exclusivas\/2017\/03\/28\/136159-da-autorizacao-do-corte-de-araucarias-velhas-isoladas-e-em-pinheirais-nativos.html","title":{"rendered":"Artigo: Da autoriza\u00e7\u00e3o do corte de arauc\u00e1rias velhas isoladas e em pinheirais nativos"},"content":{"rendered":"

Prof. Dr. Alvaro Boson de Castro Faria
\nPer\u00edcias e Prote\u00e7\u00e3o Florestal \/ UTFPR-DV<\/em><\/p>\n

Em janeiro deste ano, a Portaria IAP n. 10\/2017 prorrogou novamente a suspens\u00e3o das normativas paranaenses que regulamentavam o corte e aproveitamento de material lenhoso senil, desvitalizado e seco de \u00e1rvores nativas. O aproveitamento de \u00e1rvores isoladas tamb\u00e9m foi suspenso. Esta decis\u00e3o foi tomada acatando o interesse do Minist\u00e9rio P\u00fablico Estadual, que v\u00ea com preocupa\u00e7\u00e3o a degrada\u00e7\u00e3o da Mata Atl\u00e2ntica, bioma especialmente protegido pela legisla\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A quest\u00e3o das \u00e1rvores nativas velhas, em ambiente natural ou isoladas \u00e9 instigante, me fez pensar em escrever sobre outros aspectos que contribuiriam com o debate. Vou tomar a liberdade para escrever poucas reflex\u00f5es sobre o caso dos pinheirais nativos e as arauc\u00e1rias velhas e senis. <\/p>\n

As percep\u00e7\u00f5es que vou apresentar tem o intuito de provocar uma an\u00e1lise pelo enfoque da \u00e1rea de conhecimento cient\u00edfico intitulada Prote\u00e7\u00e3o Florestal, pelo CNPq. Em escolas de engenharia florestal de outros pa\u00edses, esta \u00e1rea \u00e9 denominada como Forest Health Protection.<\/p>\n

O adjetivo health, n\u00e3o foi \u00e0 toa inserido nesta nomenclatura, adotada pelo Servi\u00e7o Florestal americano. A silvicultura de esp\u00e9cies nativas, que para eles \u00e9 simbolizada pelo manejo das con\u00edferas em Florestas P\u00fablicas, j\u00e1 reconhece h\u00e1 muito tempo que as plantas precisam estar saud\u00e1veis para n\u00e3o serem atacadas por insetos e doen\u00e7as. <\/p>\n

Trata-se do conhecido conceito de Bem Estar. Mas, n\u00e3o se pretende politizar o assunto, pois nas \u00e1reas das ci\u00eancias econ\u00f4micas o termo bem-estar pode ser associado ao welfare state, bem estar social. A ideia aqui \u00e9 falar de bem estar humano, animal, e ressaltar que tamb\u00e9m vale para o reino vegetal.<\/p>\n

Se uma pessoa precisa cuidar do corpo, mente e esp\u00edrito para n\u00e3o adoecer, para os animais o desenvolvimento tecnol\u00f3gico vai ao mesmo sentido, quando se fala em sistemas integrados de produ\u00e7\u00e3o, onde as \u00e1rvores cultivadas fornecem sombra para os animais, contribuindo com outros servi\u00e7os ambientais, e favorecendo a sustentabilidade. <\/p>\n

E para as plantas idem. <\/p>\n

A sociedade de forma geral reconhece a import\u00e2ncia do Bem Estar vegetal na forma das certifica\u00e7\u00f5es, que nada mais tratam da quest\u00e3o da QUALIDADE de um manejo florestal, aquele que utilize boas pr\u00e1ticas, diminu\u00eddo a competi\u00e7\u00e3o entre \u00e1rvores por \u00e1gua, luz e nutrientes. Regimes de podas e desbastes para tanto. Uso de rem\u00e9dios (agroqu\u00edmicos) s\u00f3 em \u00faltima alternativa, pois estaria demonstrando que o manejo n\u00e3o vai bem.<\/p>\n

Cientificamente, o bem estar vegetal j\u00e1 foi demonstrado por muitos pesquisadores. Destacam-se os trabalhos do Dr. Francis Chaboussou da \u201cEmbrapa\u201d francesa, que escreveu sobre adotando o termo \u201cteoria da trofobiose\u201d desde a d\u00e9cada de 1960, abrindo o campo da agroecologia.<\/p>\n

\u00c9 f\u00e1cil entender. Insetos e microrganismos consomem material org\u00e2nico das plantas. Se as cadeias de carboidratos das \u00e1rvores estiverem resistentes, estes animais ter\u00e3o maior dificuldade de quebr\u00e1-las para alimentarem-se. E como s\u00e3o espertos, escolhem os indiv\u00edduos menos resistentes para deles, buscar alimenta\u00e7\u00e3o. Pelo prisma do bem-estar vegetal, as pragas e doen\u00e7as n\u00e3o passam de bioindicadores! <\/p>\n

Exemplos s\u00e3o diversos. O manejo integrado da vespa da madeira vale-se da estrat\u00e9gia de uso de \u00e1rvores armadilhas, estressadas intencionalmente com herbicidas, para chamarem estes insetos se estiverem na \u00e1rea, e caso isso ocorra, o m\u00e9todo biol\u00f3gico ser\u00e1 utilizado para combater esta praga.<\/p>\n

Ao falar de pragas nativas, a teoria da trofobiose tem efeito inverso no caso das formigas cortadeiras. Como elas \u201cca\u00e7am\u201d plantas para fornecerem material vegetal para o fungo basidiomiceto que cultivam dentro dos formigueiros, h\u00e1 ind\u00edcios que elas sabem selecionar as plantas sadias, cujas folhas apresentam mais nutrientes, para as atacarem. No caso de lagartas desfolhadoras, tamb\u00e9m preferem as folhas novas.<\/p>\n

Quero chegar ao ponto abordado na pe\u00e7a do Minist\u00e9rio P\u00fablico Estadual, que levanta a hip\u00f3tese na qual as arauc\u00e1rias que est\u00e3o senis, n\u00e3o poderiam ser manejadas, com planos autorizados pelos \u00f3rg\u00e3os ambientais. Tal afirma\u00e7\u00e3o \u00e9 totalmente despropositada, considerando a teoria da trofobiose e a defesa do Bem-Estar Vegetal das \u00e1rvores do presente e futuro. <\/p>\n

Segundo a opini\u00e3o do MP, o est\u00e1gio de podrid\u00e3o das \u00e1rvores, no momento em que cessa a atividade fisiol\u00f3gica do pinheiro, seria o ponto de inflex\u00e3o que mostraria que uma \u00e1rvore estaria morta, e que at\u00e9 este ponto n\u00e3o poderia ser autorizado nenhuma interven\u00e7\u00e3o humana para o manejo florestal. O Minist\u00e9rio P\u00fablico desta forma, enseja defender a vida vegetal como se fosse a vida humana, esta que \u00e9 uma garantia fundamental pela Carta Magna. Por\u00e9m, a an\u00e1lise deveria ser considerando a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme explicitado pelo artigo 225.<\/p>\n

De fato a podrid\u00e3o em \u00e1rvores velhas \u00e9 um sinal de ataque de fungos. Por que eles escolheriam estas \u00e1rvores? Ao acaso? Obviamente que n\u00e3o. A an\u00e1lise pelo prisma cient\u00edfico \u00e9, porque estes indiv\u00edduos, pela senilidade, ou por dificuldades do meio f\u00edsico, n\u00e3o estariam mais conseguindo realizarem suas trocas. Uma an\u00e1lise fitossanit\u00e1ria que os identificasse na floresta \u2013 atrav\u00e9s de invent\u00e1rios e planos de manejo \u2013 poderia ser utilizada para favorecer o bem estar do pinheiral, no momento em que o corte destes indiv\u00edduos estaria contribuindo para diminuir a concorr\u00eancia com as \u00e1rvores saud\u00e1veis.<\/p>\n

Para n\u00e3o me estender muito, gostaria de lembrar um exemplo interessante que poderia ser utilizado para diagnosticar as \u00e1rvores estressadas dos pinheirais, e que estariam em fase de decl\u00ednio de desenvolvimento fisiol\u00f3gico.<\/p>\n

Citam-se diversos estudos na \u00e1rea de Prote\u00e7\u00e3o Florestal com os besouros escolit\u00eddeos. Estes insetos s\u00e3o conhecidos por conseguirem identificar subst\u00e2ncias qu\u00edmicas exaladas pelas \u00e1rvores, e as colonizam, cultivando fungos e fazendo galerias nos troncos ainda em p\u00e9. Os escolit\u00eddeos j\u00e1 foram verificados atacando as arauc\u00e1rias. A hip\u00f3tese \u00e9 que seriam bons indicadores para a sele\u00e7\u00e3o das \u00e1rvores a serem desbastadas dos pinheirais, tamb\u00e9m conhecidas como \u201c\u00e1rvores do passado\u201d, parafraseando o prof. Rudi Seitz (in memorian).<\/p>\n

Implica\u00e7\u00f5es no manejo florestal utilizando a teoria da trofobiose levam a crer que um novo paradigma deva ser utilizado. Pinheirais nativos n\u00e3o possuem compromisso de atender crit\u00e9rios de certifica\u00e7\u00f5es. Mas a consci\u00eancia aqui, para que o manejo florestal sustent\u00e1vel seja adotado, deve partir da consci\u00eancia de quem representa a sociedade em defesa do meio ambiente, ou seja, dos \u00f3rg\u00e3os ambientais, e tamb\u00e9m do Minist\u00e9rio P\u00fablico. N\u00e3o se trata de criticar quem quer fazer manejo de nativas, e sim, de exigir e apresentar regulamenta\u00e7\u00f5es que garantam a preserva\u00e7\u00e3o (e conserva\u00e7\u00e3o) da esp\u00e9cie, com base na garantia do BEM ESTAR DESTES ECOSSISTEMAS. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Prof. Dr. Alvaro Boson de Castro Faria Per\u00edcias e Prote\u00e7\u00e3o Florestal \/ UTFPR-DV Em janeiro deste ano, a Portaria IAP n. 10\/2017 prorrogou novamente a suspens\u00e3o das normativas paranaenses que regulamentavam o corte e aproveitamento de material lenhoso senil, desvitalizado <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[5,3],"tags":[73],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/136159"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=136159"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/136159\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=136159"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=136159"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=136159"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}