{"id":137682,"date":"2017-07-12T00:00:08","date_gmt":"2017-07-12T03:00:08","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=137682"},"modified":"2017-07-11T21:17:12","modified_gmt":"2017-07-12T00:17:12","slug":"superbacterias-avancam-no-brasil-e-levam-autoridades-de-saude-a-correr-contra-o-tempo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/07\/12\/137682-superbacterias-avancam-no-brasil-e-levam-autoridades-de-saude-a-correr-contra-o-tempo.html","title":{"rendered":"Superbact\u00e9rias avan\u00e7am no Brasil e levam autoridades de sa\u00fade a correr contra o tempo"},"content":{"rendered":"
Bact\u00e9rias que n\u00e3o respondem a antibi\u00f3ticos v\u00eam aumentando a taxas alarmantes no Brasil e j\u00e1 s\u00e3o respons\u00e1veis por ao menos 23 mil mortes anuais no pa\u00eds, afirmam especialistas.<\/p>\n
Capazes de criar escudos contra os medicamentos mais potentes, esses organismos infectam pacientes geralmente debilitados em camas de hospitais e se espalham rapidamente pela falta de antibi\u00f3ticos capazes de cont\u00ea-los. Por isso, as chamadas superbact\u00e9rias s\u00e3o consideradas a pr\u00f3xima grande amea\u00e7a global em sa\u00fade p\u00fablica pela OMS (Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade).<\/p>\n
“Estamos numa situa\u00e7\u00e3o de alerta”, diz Ana Paula Assef, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, da Funda\u00e7\u00e3o Oswaldo Cruz (IOC\/Fiocruz), que faz a estimativa sobre mortes anuais no pa\u00eds com base nos dados oficiais dos Estados Unidos. No Brasil, ainda n\u00e3o h\u00e1 um compilado nacional sobre o n\u00famero de v\u00edtimas por bact\u00e9rias resistentes.<\/p>\n
“Sabemos que, assim como v\u00e1rios pa\u00edses em desenvolvimento, o Brasil tem alguns dos maiores \u00edndices de resist\u00eancia em determinados organismos. H\u00e1 bact\u00e9rias aqui que n\u00e3o respondem mais a nenhum antibi\u00f3tico”, aponta Assef.<\/p>\n
Um exemplo \u00e9 a Acinetobacter spp. A bact\u00e9ria pode causar infec\u00e7\u00f5es de urina, da corrente sangu\u00ednea e pneumonia e foi inclu\u00edda na lista da OMS como uma das 12 bact\u00e9rias de maior risco \u00e0 sa\u00fade humana pelo seu alto poder de resist\u00eancia.<\/p>\n
De acordo com a Anvisa, 77,4% das infec\u00e7\u00f5es da corrente sangu\u00ednea registradas em hospitais por essa bact\u00e9ria em 2015 foram causadas por uma vers\u00e3o resistente a antibi\u00f3ticos poderosos, como os carbapenems.<\/p>\n
Essa fam\u00edlia de antibi\u00f3ticos \u00e9 uma das \u00faltimas op\u00e7\u00f5es que restam aos m\u00e9dicos no caso de infec\u00e7\u00f5es graves.<\/p>\n
“Quando as bact\u00e9rias se tornam resistentes a eles, praticamente n\u00e3o restam alternativas de tratamento”, explica Assef.<\/p>\n
Outro exemplo \u00e9 a Klebsiella pneumoniae. Naturalmente encontrada na flora intestinal humana, \u00e9 considerada end\u00eamica no Brasil e foi a principal causa de infec\u00e7\u00f5es sangu\u00edneas em pacientes internados em unidades de terapia intensiva em 2015, segundo dados da Anvisa.<\/p>\n
O mais preocupante \u00e9 que ela tem se tornado mais forte com o passar do tempo. Nos \u00faltimos cinco anos, a sua taxa de resist\u00eancia aos antibi\u00f3ticos carbapen\u00eamicos (aqueles usados em pacientes j\u00e1 infectados por bact\u00e9rias resistentes) praticamente quadruplicou no Estado de S\u00e3o Paulo – foi de 14% para 53%, segundo dados do Centro de Vigil\u00e2ncia Epidemiol\u00f3gica paulista.<\/p>\n
“Os dados do Estado de S\u00e3o Paulo s\u00e3o um retrato do Brasil. \u00c9 um problema crescente e muito grave, principalmente pela r\u00e1pida dissemina\u00e7\u00e3o dessas bact\u00e9rias resistentes”, diz Jorge Luiz Mello Sampaio, professor de microbiologia cl\u00ednica da USP e consultor da C\u00e2mara T\u00e9cnica de Resist\u00eancia Microbiana em Servi\u00e7os de Sa\u00fade da Anvisa.<\/p>\n
A capacidade de bact\u00e9rias de passar por muta\u00e7\u00f5es para vencer medicamentos desenvolvidos para mat\u00e1-las \u00e9 chamada de resist\u00eancia antimicrobiana – ou resist\u00eancia a antibi\u00f3ticos.<\/p>\n
Essa extraordin\u00e1ria habilidade \u00e9 algo natural: os rem\u00e9dios, ao atacar essas bact\u00e9rias, exercem uma “press\u00e3o seletiva” sobre elas, que lutam para sobreviver. Aquelas que n\u00e3o s\u00e3o extintas nessa batalha s\u00e3o chamadas de resistentes. Elas, ent\u00e3o, se multiplicam aos milhares, passando o gene da resist\u00eancia a sua prole.<\/p>\n
Esse processo natural pode ser acelerado por alguns fatores, como o uso excessivo de antibi\u00f3ticos. Um agravante \u00e9 o emprego desses medicamentos tamb\u00e9m na agricultura, na pecu\u00e1ria e em outras atividades de produ\u00e7\u00e3o de prote\u00edna animal.<\/p>\n
Muitos fazendeiros injetam regularmente medicamentos em animais saud\u00e1veis como um aditivo de performance. Isso acelera a sele\u00e7\u00e3o de bact\u00e9rias no ambiente e em animais, que podem vir a contaminar humanos.<\/p>\n
De acordo com especialistas, o n\u00famero crescente de infec\u00e7\u00f5es – que poderiam ser barradas por mais higiene e saneamento b\u00e1sico – tamb\u00e9m \u00e9 um problema, porque demanda maior uso de antibi\u00f3ticos, o que, por sua vez, seleciona mais bact\u00e9rias resistentes, perpetuando um c\u00edrculo vicioso.<\/p>\n
Um estudo encomendado pelo governo brit\u00e2nico no ano passado estima que tais organismos ir\u00e3o causar mais de 10 milh\u00f5es de mortes por ano ap\u00f3s 2050. Atualmente, 700 mil pessoas morrem todos os anos v\u00edtimas de bact\u00e9rias resistentes no mundo.<\/p>\n
Os efeitos na economia tamb\u00e9m podem ser devastadores. Pa\u00edses como o Brasil estariam sob o risco de perder at\u00e9 4,4% de seu PIB em 2050, segundo estimativas do Banco Mundial.<\/p>\n
Caracter\u00edsticas espec\u00edficas, como hospitais superlotados e alta atividade agropecu\u00e1ria com uso de antibi\u00f3ticos, fazem do Brasil um grande facilitador a bact\u00e9rias resistentes.<\/p>\n
O pa\u00eds \u00e9 hoje o terceiro no mundo a mais utilizar antibi\u00f3ticos na produ\u00e7\u00e3o de prote\u00edna animal, atr\u00e1s apenas da China e dos Estados Unidos – e deve continuar nessa posi\u00e7\u00e3o at\u00e9 pelo menos 2030, aponta um estudo coordenado por Thomas P. Van Boeckel, da Universidade de Princeton (EUA).<\/p>\n
Consultado, o Minist\u00e9rio da Agricultura, Pecu\u00e1ria e Abastecimento diz que atua para diminuir o uso desses produtos em animais. A pasta afirma que j\u00e1 \u00e9 proibido utilizar antibi\u00f3ticos como as penicilinas e as cefalosporinas para melhorar o desempenho dos animais.<\/p>\n
No ano passado, a colistina, um antibi\u00f3tico considerado a \u00faltima op\u00e7\u00e3o de tratamento a bact\u00e9rias resistentes tamb\u00e9m teve seu uso proibido em animais saud\u00e1veis.<\/p>\n
“O Brasil est\u00e1 comprometido com o tema”, diz Suzana Bresslau, auditora fiscal federal agropecu\u00e1ria da Coordena\u00e7\u00e3o de Programas Especiais do minist\u00e9rio. “O pa\u00eds reconhece que se trata de uma amea\u00e7a global \u00e0 sa\u00fade p\u00fablica e apoia os esfor\u00e7os para minimizar os riscos associados \u00e0 resist\u00eancia antimicrobiana.”<\/p>\n
Na \u00e1rea hospitalar, a Anvisa monitora as infec\u00e7\u00f5es da corrente sangu\u00ednea em UTIs, associadas ao uso de instrumentos para aplica\u00e7\u00e3o de rem\u00e9dios, como o cateter. Somente em 2015, foram mais de 25 mil infec\u00e7\u00f5es desse tipo – a maioria causada por bact\u00e9rias com altos \u00edndices de resist\u00eancia.<\/p>\n
“Estamos com problemas graves de Estados falidos, com recursos menores para a sa\u00fade, hospitais com poucos funcion\u00e1rios, aqu\u00e9m do necess\u00e1rio para cuidar dos pacientes. \u00c0s vezes, nessa situa\u00e7\u00e3o, protocolos b\u00e1sicos, como desinfec\u00e7\u00e3o das m\u00e3os, acabam passando”, diz Sampaio.<\/p>\n
“Quanto maior a sobrecarga de trabalho, maior \u00e9 a taxa de infec\u00e7\u00e3o hospitalar. Nesse cen\u00e1rio, h\u00e1 maior risco de selecionar bact\u00e9rias multirresistentes.”<\/p>\n
Desde dezembro, o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade vem elaborando, com diferentes pastas e a Anvisa, um plano nacional de combate a bact\u00e9rias resistentes, a pedido da OMS. O material deveria ter sido apresentado em maio na 70\u00aa assembl\u00e9ia da organiza\u00e7\u00e3o, em Genebra, na Su\u00ed\u00e7a.<\/p>\n
Questionado sobre o documento ter sido discutido no encontro e quais seriam seus objetivos, o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade n\u00e3o respondeu. De acordo com informa\u00e7\u00f5es enviadas \u00e0 OMS, o plano estrat\u00e9gico est\u00e1 pronto, mas ainda \u00e9 necess\u00e1rio definir como ser\u00e1 a implementa\u00e7\u00e3o e o monitoramento das a\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
A proposta brasileira est\u00e1 prevista para ser colocada em a\u00e7\u00e3o a partir de 2018, com expectativa de conclus\u00e3o at\u00e9 2022. Comparado com outras economias em desenvolvimento, o pa\u00eds est\u00e1 atrasado: a \u00c1frica do Sul come\u00e7ou a colocar seu plano em pr\u00e1tica ainda em 2014, enquanto a China implementa o seu desde 2016. J\u00e1 a \u00cdndia come\u00e7ou nesse ano.<\/p>\n
O pa\u00eds \u00e9 tamb\u00e9m um dos \u00fanicos Brics (sigla para Brasil, R\u00fassia, \u00cdndia, China e \u00c1frica do Sul) que ainda n\u00e3o disponibilizou o documento publicamente no site da OMS, juntamente com a R\u00fassia.<\/p>\n
Consultada, a OMS disse que os pa\u00edses n\u00e3o s\u00e3o obrigados a compartilharem seus planos, mas que ela encoraja a pr\u00e1tica “como uma forma de transpar\u00eancia e de boas pr\u00e1ticas”.<\/p>\n
Mas enquanto o governo trabalha numa estrat\u00e9gia, bact\u00e9rias aprimoram sua capacidade de sobreviver aos rem\u00e9dios mais poderosos.<\/p>\n
Em outubro, a Anvisa encontrou no Brasil uma cepa da E. coli que tinha a capacidade de trocar material gen\u00e9tico com outras esp\u00e9cies de bact\u00e9rias e transferir o gene da resist\u00eancia a outros organismos – n\u00e3o apenas \u00e0 sua prole.<\/p>\n
Esse mecanismo a torna resistente a uma fam\u00edlia de antibi\u00f3ticos chamada polimixinas, que se tornaram a \u00faltima escolha de m\u00e9dicos frente a bact\u00e9rias resistentes.<\/p>\n
O novo mecanismo de resist\u00eancia exemplifica o quanto o assunto \u00e9 urgente, diz Sampaio, da USP, para quem “a cada dia h\u00e1 uma surpresa” no universo desses organismos.<\/p>\n
“Elas se multiplicam a cada 20 minutos. \u00c9 uma competi\u00e7\u00e3o dif\u00edcil. N\u00f3s levamos anos para colocar um antibi\u00f3tico no mercado, elas podem levar 20 minutos para mutarem e vencerem o rem\u00e9dio.” (Fonte: G1) <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Taxas de resist\u00eancia de micro-organismos a rem\u00e9dios aumenta, impulsionada por superlota\u00e7\u00e3o de hospitais e uso de antibi\u00f3ticos na pecu\u00e1ria; governo elabora plano de combate. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[260,103],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/137682"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=137682"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/137682\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=137682"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=137682"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=137682"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}