{"id":138002,"date":"2017-07-31T00:00:15","date_gmt":"2017-07-31T03:00:15","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=138002"},"modified":"2017-07-30T20:03:16","modified_gmt":"2017-07-30T23:03:16","slug":"fosseis-mais-antigos-de-predadores-na-america-do-sul-sao-descobertos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/07\/31\/138002-fosseis-mais-antigos-de-predadores-na-america-do-sul-sao-descobertos.html","title":{"rendered":"F\u00f3sseis mais antigos de predadores na Am\u00e9rica do Sul s\u00e3o descobertos"},"content":{"rendered":"
Quais s\u00e3o os f\u00f3sseis mais antigos da Am\u00e9rica do Sul? Depende. No caso do dom\u00ednio dos procariontes, que re\u00fane os reinos das bact\u00e9rias e das arqueobact\u00e9rias, a resposta correta seriam os estromat\u00f3litos, que s\u00e3o estruturas rochosas muito antigas formadas por microrganismos aqu\u00e1ticos reunidos em \u201ctapetes\u201d microbianos.<\/p>\n
Os estromat\u00f3litos sul-americanos mais antigos datam de mais de 2 bilh\u00f5es de anos, como os que afloram na Forma\u00e7\u00e3o Fecho do Funil, no Quadril\u00e1tero Ferr\u00edfero, no Centro-Sul de Minas Gerias.<\/p>\n
No dom\u00ednio dos eucariontes \u2013 do qual fazem parte plantas, fungos, animais (vertebrados e invertebrados) e todos os microrganismos unicelulares com n\u00facleo e organelas (protozo\u00e1rios e microalgas) \u2013 os f\u00f3sseis mais antigos do continente s\u00e3o carapa\u00e7as org\u00e2nicas microsc\u00f3picas em forma de vaso, chamadas tecas.<\/p>\n
No interior das tecas viviam protozo\u00e1rios ameboides, conhecidos como tecamebas ou amebas tecadas. Em algum per\u00edodo entre 889 e 587 milh\u00f5es de anos, esses seres habitaram os mares t\u00e9pidos e rasos que cobriam a regi\u00e3o onde \u00e9 hoje o Mato Grosso do Sul. Nenhum outro protozo\u00e1rio achado na Am\u00e9rica do Sul \u00e9 mais antigo.<\/p>\n
Um artigo com a descri\u00e7\u00e3o de microf\u00f3sseis de cinco esp\u00e9cies de tecamebas, tr\u00eas delas novas para a ci\u00eancia, foi publicado no Journal of Paleontology.<\/p>\n
O artigo resulta do doutoramento da paleont\u00f3loga Luana Morais e leva as assinaturas de seu orientador, o ge\u00f3logo Thomas Rich Fairchild, do Instituto de Geoci\u00eancias (IGc) da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), do bi\u00f3logo Daniel Lahr, do Instituto de Bioci\u00eancias da USP, e de colegas do Brasil e dos Estados Unidos, entre eles J. William Schopf, da Universidade da Calif\u00f3rnia em Los Angeles (UCLA), um dos mais eminentes pesquisadores da origem da vida. O trabalho contou com apoio da FAPESP.<\/p>\n
Os f\u00f3sseis de tecamebas foram achados em Morraria do Rabicho, uma pen\u00ednsula fluvial no rio Paraguai, na qual se chega de barco, partindo do cais de Corumb\u00e1, 40 quil\u00f4metros rio acima. Os microf\u00f3sseis foram encontrados em seixos pr\u00f3ximo \u00e0 base do Grupo Jacadigo, da era Neoproterozoica, anterior ao surgimento dos primeiros animais e quando a vida ainda estava confinada aos mares, pois os continentes eram desertos e sem vida.<\/p>\n
A hist\u00f3ria da descoberta dos microf\u00f3sseis teve in\u00edcio h\u00e1 40 anos, quando Fairchild veio trabalhar como professor visitante no IGc-USP, com apoio da FAPESP.<\/p>\n
\u201cVim para a USP em 1976. No ano seguinte, um colega me passou amostras da Forma\u00e7\u00e3o Urucum de Mato Grosso do Sul. Descobri neles pequenos f\u00f3sseis que eram muito parecidos com outros, dos Estados Unidos, que havia visto durante o meu doutorado na UCLA. Da\u00ed que, em 1979, fui coletar amostras no Mato Grosso do Sul\u201d, disse.<\/p>\n
Fairchild identificou microf\u00f3sseis, possivelmente de protozo\u00e1rios, que tinham o formato de esferas, elipses e vasos, com tamanhos que mediam at\u00e9 120 micr\u00f4metros (pouco mais de um d\u00e9cimo de mil\u00edmetro). Na ocasi\u00e3o, Fairchild n\u00e3o chegou a descrever as esp\u00e9cies.<\/p>\n
Em 2014, o cientista retornou a Morraria do Rabicho para coletar material, acompanhado por Morais. De volta a S\u00e3o Paulo, e com o aux\u00edlio de novas tecnologias de imagem, as amostras rec\u00e9m-coletadas revelaram uma diversidade de microf\u00f3sseis at\u00e9 ent\u00e3o desconhecida.<\/p>\n
\u201cOs f\u00f3sseis s\u00e3o muito pequenos, menores que 200 micr\u00f4metros (0,2 mil\u00edmetro). N\u00e3o d\u00e1 para visualiz\u00e1-los a olho nu, s\u00f3 no microsc\u00f3pio. Em seu estudo de 1978, o professor Fairchild n\u00e3o diferenciou morfologicamente os vasos das tecamebas. Com os recursos de imagem atuais, conseguimos distinguir cinco morfologias diferentes. Duas delas pertencem a esp\u00e9cies j\u00e1 descritas, mas tr\u00eas s\u00e3o esp\u00e9cies novas\u201d, disse Morais.<\/p>\n
Bem conservados<\/strong> – Segundo Morais, as tecamebas do Mato Grosso do Sul fazem parte de um antigo grupo de protozo\u00e1rios em forma de vasos achado em quase todos os continentes.<\/p>\n A ocorr\u00eancia no Brasil \u00e9 a \u00fanica na Am\u00e9rica do Sul at\u00e9 o momento. Os microf\u00f3sseis s\u00e3o particularmente assemelhados a outros encontrados em rochas no Canad\u00e1, Estados Unidos e Noruega, com idades entre 811 milh\u00f5es e 635 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n \u201cAinda n\u00e3o temos a idade estabelecida das tecamebas de Morraria do Rabicho. A data\u00e7\u00e3o est\u00e1 sendo feita. Por enquanto, o que se sabe \u00e9 que teriam entre 889 e 587 milh\u00f5es de anos\u201d, disse Morais.<\/p>\n Quem explica a raz\u00e3o desta estimativa \u00e9 Fairchild. \u201cAs tecamebas que encontramos estavam originalmente dentro de pedrinhas e cascalhos. Esses, por sua vez, haviam sido depositados nos sedimentos que viriam a formar as rochas do Grupo Jacadigo. Isso quer dizer que os cascalhos com tecamebas eram o produto da eros\u00e3o de rochas mais antigas do que as rochas do grupo Jacadigo.\u201d<\/p>\n As rochas do Jacadigo foram depositadas sobre rochas com idade de 889 milh\u00f5es de anos e sofreram metamorfismo brando h\u00e1 587 milh\u00f5es de anos. \u201cPortanto, os cascalhos com as tecamebas devem, necessariamente, ter idade maior que 587 milh\u00f5es e foram depositados depois de 889 milh\u00f5es de anos\u201d, segundo Fairchild.<\/p>\n De acordo com Morais, as tecamebas do Mato Grosso do Sul se mostram mais bem conservadas do que similares da Am\u00e9rica do Norte, muito embora l\u00e1 a diversidade seja maior.<\/p>\n \u201cConseguimos ver a preserva\u00e7\u00e3o org\u00e2nica das paredes. N\u00e3o se encontra material assim em outros locais. Geralmente o que se preserva s\u00e3o moldes e r\u00e9plicas das tecas, pois a teca original acabou desaparecendo. Aqui, as tecas foram excepcionalmente preservadas\u201d, disse.<\/p>\n O estado de conserva\u00e7\u00e3o \u00e9 tal que, a partir do uso de aparelhos de imagem sofisticados no laborat\u00f3rio de Schopf, em Los Angeles, foi poss\u00edvel determinar n\u00e3o apenas a estrutura tridimensional das tecas, mas tamb\u00e9m a presen\u00e7a de s\u00edlica na parede de algumas delas.<\/p>\n \u201cA descoberta sugere que nesse grupo de eucariontes unicelulares j\u00e1 haviam esp\u00e9cies capazes de refor\u00e7ar suas paredes com compostos n\u00e3o org\u00e2nicos, uma habilidade que muitos milh\u00f5es de anos mais tarde permitiria a irradia\u00e7\u00e3o de organismos com conchas, na chamada \u2018Explos\u00e3o Cambriana\u2019\u201d, disse Fairchild.<\/p>\n Como eram as tecamebas em seu interior? \u201cAs tecas de Mato Grosso do Sul se assemelham \u00e0s tecamebas viventes, da\u00ed inferirmos que se tratava de um grupo pr\u00f3ximo. As tecamebas viventes passam a vida dentro de suas tecas, que elas pr\u00f3prias formam. Antes da divis\u00e3o celular, a ameba produz uma nova teca para receber o novo organismo. N\u00e3o conseguem sobreviver fora delas\u201d, explicou Morais.<\/p>\n Segundo Fairchild, as antigas tecamebas eram protozo\u00e1rios predadores que se alimentavam delas mesmas e de outras formas mais simples de vida unicelular, como bact\u00e9rias. \u201cAs tecamebas eram os predadores de topo daquele ecossistema microsc\u00f3pico dos mares do Neoproterozoico brasileiro\u201d, disse.<\/p>\n Com a evolu\u00e7\u00e3o dos primeiros animais, a chamada fauna de Ediacara, que surgiu entre 635 e 541 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, novos predadores macrosc\u00f3picos dominaram os mares e deslocaram as tecamebas tanto de seu posto de predador dominante, como do seu habitat marinho para continental, o que fez com que seu registro come\u00e7asse a declinar para praticamente desaparecer do registro f\u00f3ssil h\u00e1 500 milh\u00f5es de anos. (Fonte: Ag\u00eancia FAPESP)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Microrganismos que viveram h\u00e1 mais de 587 milh\u00f5es de anos onde hoje \u00e9 o Mato Grosso do Sul eram predadores dos mares do Neoproterozoico. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[65],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/138002"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=138002"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/138002\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=138002"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=138002"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=138002"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}