Ashwa Faheem\u00a0\u00e9 uma rep\u00f3rter fotogr\u00e1fica de 26 anos que nasceu nas Ilhas Maldivas, uma das na\u00e7\u00f5es-ilha do Pac\u00edfico, lugar paradis\u00edaco, ideal para quem pensa numa viagem tur\u00edstica para descansar e observar a natureza. Para Ashwa, por\u00e9m, este lado quase celestial de sua terra \u00e9 apenas uma faceta, distante de sua rotina. Ela j\u00e1 convive tamb\u00e9m, desde pequena, com outro lado menos divino, digamos assim, das ilhas em que nasceu e que, de uns tempos para c\u00e1, v\u00eam sofrendo com o aumento dos oceanos, fen\u00f4meno causado pelo aquecimento global:<\/p>\n
“Nem tudo nas Maldivas \u00e9 bonito. Quando o n\u00edvel das \u00e1guas sobe, perdemos muita terra. E quando a terra desaparece, perdemos recursos, a agricultura e a pesca. Muita gente usa a pesca e o turismo para sobreviver. Afeta tudo. \u00c9 um efeito de domin\u00f3”.<\/p>\n
Para levar essa mensagem mundo afora, aproveitando o momento pr\u00e9-Confer\u00eancia do Clima (COP-23), que acontecer\u00e1 em novembro na cidade alem\u00e3 de Bonn, Ashwa se juntou a um grupo de seis jovens, todos residentes em Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, como Maldivas. Eles est\u00e3o a bordo de um navio da ONG internacional Peace Boat e est\u00e3o sendo chamados de \u201cEmbaixadores\u201d do clima e da paz. V\u00e3o visitar sete capitais e acabaram de deixar Lisboa, de onde me chegaram as not\u00edcias do grupo via jornal ” O P\u00fablico”<\/p>\n
Os jovens embaixadores visitar\u00e3o Barcelona, Nova York, Edimburgo, Londres, Bordeaux e outras capitais, mas n\u00e3o vir\u00e3o ao Brasil. Em cada um desses locais v\u00e3o contar sobre seus esfor\u00e7os para se manter num territ\u00f3rio que vai ser engolido pelo mar at\u00e9 o fim deste s\u00e9culo.<\/p>\n
Nessa mesma linha de pensamento, o premi\u00ea de outra ilha amea\u00e7ada, Fiji, Frank Bainimarama, que tamb\u00e9m \u00e9 presidente da COP,\u00a0saudou os participantes da \u00faltima Assembleia Geral da ONU. Para ele, n\u00e3o h\u00e1 como escapar do fato de que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas constituem uma amea\u00e7a t\u00e3o grande para a seguran\u00e7a global como qualquer outra fonte de conflito que a humanidade vive hoje. E n\u00e3o h\u00e1 \u201cescolha a ser feita entre prosperidade e um clima saud\u00e1vel.<\/p>\n
\u201cMilh\u00f5es de pessoas j\u00e1 est\u00e3o em movimento por causa da seca e as mudan\u00e7as na agricultura amea\u00e7ando sua seguran\u00e7a alimentar.\u00a0Ao longo da hist\u00f3ria, sabemos que os seres humanos ir\u00e3o lutar pelo acesso \u00e0 \u00e1gua.\u00a0E, a menos que abordemos as causas subjacentes das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, j\u00e1 sabemos que alguns lugares se tornar\u00e3o invi\u00e1veis e outros desaparecer\u00e3o completamente.\u00a0Na minha regi\u00e3o, tr\u00eas de nossos vizinhos est\u00e3o em risco, e \u00e9 por isso que Fiji ofereceu ref\u00fagio \u00e0s pessoas de Kiribati e Tuvalu se suas casas vierem a se afundar por completo\u201d, disse ele.<\/p>\n
Fiji j\u00e1 perdeu parte de sua terra agricult\u00e1vel por causa da salinidade excessiva trazida pelo mar. Bainimarama disse que escolheu ser presidente da COP para poder levar adiante esse recado. Pelas regras das Confer\u00eancias, j\u00e1 que ele \u00e9 o presidente, a reuni\u00e3o deveria acontecer em Fiji, mas o pa\u00eds n\u00e3o tem condi\u00e7\u00f5es para sediar um encontro t\u00e3o grande, n\u00e3o ofereceria seguran\u00e7a aos l\u00edderes. Foi feito, ent\u00e3o, um acordo com a Alemanha, que aceitou receber os conferencistas em Bonn.<\/p>\n
\u201cEsse \u00e9 um exemplo para o mundo de como pa\u00edses em extremos opostos da Terra e de meios e tamanho muito diferentes podem trabalhar efetivamente em dire\u00e7\u00e3o a um objetivo comum. Fiji est\u00e1 profundamente consciente de que os governos sozinhos n\u00e3o podem enfrentar esse desafio.\u00a0\u00c9 por isso que estamos colocando essa \u00eanfase na no\u00e7\u00e3o de uma Grande Coaliz\u00e3o de governos em todos os n\u00edveis, a sociedade civil, o setor privado e os cidad\u00e3os comuns movendo esta agenda para a frente.\u00a0Estou dialogando com governadores, prefeitos, l\u00edderes de todos os tipos em nossas sociedades.\u00a0Pessoas de f\u00e9.\u00a0Pessoas na linha de frente da luta clim\u00e1tica.\u00a0Mulheres.\u00a0E os jovens,que representam o nosso futuro\u201d, continuou o premi\u00ea.<\/p>\n
Todo o discurso de Frank Bainimarama \u00e9 um forte apelo porque ele tem certeza de que \u00e9 preciso aumentar a resili\u00eancia de seu pa\u00eds contra as tormentas que vir\u00e3o pela frente, cada vez mais fortes. Para isso, quer juntar sociedade civil, empres\u00e1rios e governos. Para isso, conta tamb\u00e9m com a performance dos jovens que est\u00e3o navegando no Peace Boat. De fato, n\u00e3o h\u00e1 como ficar imune a depoimentos como o de Selina Leem, que na COP-21, em Paris, foi a mais jovem delegada. No encerramento do encontro, ela emocionou a todos com suas palavras:<\/p>\n
\u201cTenho 18 anos e desde que nasci fico muito nervosa quanto \u00e0 minha casa. Hoje estou ainda mais. O meu pa\u00eds \u00e9 muito afetado pela subida do n\u00edvel das \u00e1guas. Quando a \u00e1gua sobe, arrasta-se por todo o lado. Toda a ilha \u00e9 inundada.\u201d<\/p>\n
Hoje com a equipe do Peace Boat, a jovem deu entrevista \u00e0 reportagem do jornal \u201cO P\u00fablico\u201d e listou o que, para ela, pode ser feito para acabar com seu problema:<\/p>\n
\u201cEducar as pessoas. Falar com os l\u00edderes pol\u00edticos. Tirar fotografias. Fazer discursos p\u00fablicos. H\u00e1 muitas pequenas coisas que todos podemos fazer\u201d, disse ela.<\/p>\n
Selina vai precisar mesmo desse discurso quando o navio Peace Boat chegar a Nova York, o que est\u00e1 previsto para o m\u00eas que vem. L\u00e1 ela vai se encontrar com representantes das Na\u00e7\u00f5es Unidas, e o pedido n\u00e3o \u00e9 qualquer coisa: os pa\u00edses-ilha querem uma mudan\u00e7a radical no consumo de combust\u00edveis f\u00f3sseis do mundo todo para que o aquecimento se mantenha a 1.5 grau acima do que era na Revolu\u00e7\u00e3o Industrial. \u00c9 este o \u00fanico jeito, afirmam os cientistas, de os impactos n\u00e3o aumentarem de intensidade.<\/p>\n
Al\u00e9m disso, querem tamb\u00e9m um financiamento. V\u00e3o precisar de dinheiro para enfrentar os problemas causados por furac\u00f5es, como o Irma, que recentemente atingiu parte da costa dos Estados Unidos,M\u00e9xico e ilhas do Caribe. N\u00e3o vai ser f\u00e1cil convencer.<\/p>\n
Fonte:G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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