{"id":139000,"date":"2017-09-30T00:00:37","date_gmt":"2017-09-30T03:00:37","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=139000"},"modified":"2017-09-29T20:14:18","modified_gmt":"2017-09-29T23:14:18","slug":"o-plano-de-fuga-de-comunidade-indigena-em-ilha-ameacada-de-desaparecer-sob-o-mar","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/09\/30\/139000-o-plano-de-fuga-de-comunidade-indigena-em-ilha-ameacada-de-desaparecer-sob-o-mar.html","title":{"rendered":"O plano de fuga de comunidade ind\u00edgena em ilha amea\u00e7ada de desaparecer sob o mar"},"content":{"rendered":"
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As ilhas do Caribe habitadas pela popula\u00e7\u00e3o ind\u00edgena Guna, no Panam\u00e1, est\u00e3o amea\u00e7adas pelo aumento do n\u00edvel do mar e um clima cada vez mais imprevis\u00edvel.<\/p>\n<\/div>\n

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Mas, diferentemente de outras comunidades insulares que enfrentam esse problema, os gunas t\u00eam um plano de fuga.<\/p>\n<\/div>\n

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O pequeno porto de Cart\u00ed, na costa norte do pa\u00eds, \u00e9 o ponto de partida dos turistas que buscam essas ilhas id\u00edlicas.<\/p>\n<\/div>\n

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Barcos a motor sobem e descem levando visitantes sorridentes com coletes salva-vidas e chap\u00e9us para se proteger do sol. \u00c9 um dos principais destinos tur\u00edsticos do Panam\u00e1.<\/p>\n<\/div>\n

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As 360 ilhas – quase uma para cada dia do ano – formam a regi\u00e3o aut\u00f4noma de Guna Yala, juntamente com uma faixa de territ\u00f3rio continental.<\/p>\n<\/div>\n

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A maior parte das comunidades guna vive h\u00e1 s\u00e9culos no arquip\u00e9lago, ap\u00f3s ter sido expulsa da costa por doen\u00e7as e cobras venenosas. Mas, agora, voltar ao continente parece ser, para muitos, a \u00fanica forma vi\u00e1vel de garantir seu futuro.<\/p>\n<\/div>\n

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A popula\u00e7\u00e3o de Gardi Sugdub, na Isla Cangrejo, est\u00e1 liderando o projeto de realoca\u00e7\u00e3o. Eles reservaram 17 hectares, localizados a um quil\u00f4metro ao sul do porto de Cart\u00ed, para criar uma nova cidade: La Barriada.<\/p>\n<\/div>\n

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Em compara\u00e7\u00e3o a outras comunidades amea\u00e7adas pelos efeitos da mudan\u00e7a clim\u00e1tica, os gunas apresentam uma grande vantagem: j\u00e1 s\u00e3o donos do terreno para onde querem se mudar.<\/p>\n

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Victoria Navarro \u00e9 uma das moradoras de Gardi Sugdub que j\u00e1 vislumbra uma nova vida com mais espa\u00e7o – em um terreno seco e mais elevado.<\/p>\n<\/div>\n

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“Imagino nossa comunidade aqui em La Barriada”, diz Navarro, olhando para a regi\u00e3o de vegeta\u00e7\u00e3o tropical, com direito a riacho e uma pequena colina.<\/p>\n<\/div>\n

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“Meus netos querem jogar futebol e v\u00f4lei, mas n\u00e3o h\u00e1 lugar para isso na ilha. Aqui eles podem ser livres como p\u00e1ssaros”, completa.<\/p>\n<\/div>\n

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Em 2010, Navarro e seus vizinhos come\u00e7aram a limpar o terreno em quest\u00e3o, perto de uma \u00e1rea de cultivo, para preparar a constru\u00e7\u00e3o de um novo povoado.<\/p>\n

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“Todo mundo veio e participou. Foi muito bonito”, lembra.<\/p>\n<\/div>\n

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Ao mesmo tempo, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o governo do Panam\u00e1 come\u00e7ou a construir uma escola nova perto de La Barriada. O complexo de US$ 9 milh\u00f5es, projetado para crian\u00e7as de todo arquip\u00e9lago, est\u00e1 quase pronto. Um pouco mais abaixo da colina, US$ 11 milh\u00f5es foram investidos em um novo centro de sa\u00fade.<\/p>\n<\/div>\n

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O projeto foi em frente especialmente depois que o governo se comprometeu, em 2015, a construir 300 habita\u00e7\u00f5es em La Barriada. Os gunas s\u00e3o donos da terra, mas n\u00e3o disp\u00f5em de recursos financeiros para construir tantas casas.<\/p>\n

No entanto, as obras na escola e no centro de sa\u00fade se encontram paralisadas atualmente em consequ\u00eancia de uma s\u00e9rie de dificuldades contratuais e, principalmente, devido ao fracasso na hora de planejar o fornecimento adequado de \u00e1gua e eletricidade. A constru\u00e7\u00e3o das 300 casas sequer come\u00e7ou.<\/p>\n

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Os gunas est\u00e3o desapontados, mas n\u00e3o desistem. Eles continuam pressionando e arrecadando fundos.<\/p>\n<\/div>\n

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Navarro \u00e9 otimista. Ela ainda vai com frequ\u00eancia a La Barriada para ajudar a limpar os 17 hectares. Mesmo assim, o peda\u00e7o de terra j\u00e1 est\u00e1 sendo invadido novamente pela selva, da mesma forma que o mar do Caribe engole devagar a casa de Navarro.<\/p>\n<\/div>\n

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A ilha onde ela vive tem apenas 400 metros de comprimento e 150 metros de largura, mas \u00e9 habitada por cerca de 2 mil pessoas. Cada cent\u00edmetro da ilha conta com constru\u00e7\u00f5es, a n\u00e3o ser os caminhos de areia.<\/p>\n<\/div>\n

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Navarro mora em um conjunto de casas com sua fam\u00edlia. S\u00e3o 50 pessoas, sendo que 17 compartilham sua simples moradia de bambu.<\/p>\n<\/div>\n

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A falta de espa\u00e7o para uma popula\u00e7\u00e3o que est\u00e1 crescendo parece um problema maior do que o aumento do n\u00edvel do mar, que subiu entre 2,3 e 2,5 mm por ano.<\/p>\n<\/div>\n

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Mas os esfor\u00e7os para expandir a ilha podem tornar seus habitantes ainda mais vulner\u00e1veis \u200b\u200baos efeitos da mudan\u00e7a clim\u00e1tica.<\/p>\n

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Delfino Davies, que trabalha como guia tur\u00edstico, vive com sua extensa fam\u00edlia em seis casas de bambu constru\u00eddas lado a lado, desde o centro da ilha at\u00e9 a costa. Para seus antepassados, fazia sentido ampliar a costa.<\/p>\n<\/div>\n

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“Quando meu av\u00f4, Charlie Davies, chegou, essa ilha era pequena. Ele trouxe pedras e ampliou a terra”, conta.<\/p>\n<\/div>\n

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Isso aconteceu em todo o arquip\u00e9lago de Guna Yala. A popula\u00e7\u00e3o encheu as bordas das ilhas com pedras, lixo – e o mais pol\u00eamico – corais.<\/p>\n<\/div>\n

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“Os recifes de coral barram a a\u00e7\u00e3o das ondas. Ent\u00e3o, quando voc\u00ea os elimina – mesmo com at\u00e9 3 metros de profundidade – voc\u00ea fica sem prote\u00e7\u00e3o. Isso gerou o caos para a popula\u00e7\u00e3o”, diz Hector Guzman, pesquisador do Instituto Tropical Smithsonian, da Cidade do Panam\u00e1.<\/p>\n

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“Na regi\u00e3o de Cart\u00ed foi onde encontramos os dados mais dram\u00e1ticos da destrui\u00e7\u00e3o de recifes de coral, quando comparamos fotografias a\u00e9reas dos anos 60 e de 2003.”<\/p>\n<\/div>\n

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Isso significa que os moradores da ilha est\u00e3o particularmente vulner\u00e1veis \u200b\u200baos efeitos das ondas durante as tempestades. Quando a chuva e o vento chegam, Victoria Navarro costuma ficar com os tornozelos submersos dentro de sua pr\u00f3pria casa.<\/p>\n<\/div>\n

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“Nunca durmo bem. Estamos alertas 24 horas por dia”, diz.<\/p>\n

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Em 2008, uma forte tempestade atingiu a ilha por duas semanas. Embora j\u00e1 tivesse sido discutida a mudan\u00e7a para o continente, foi ap\u00f3s a destrui\u00e7\u00e3o causada por essa tempestade que a popula\u00e7\u00e3o de Gardi Sugdub come\u00e7ou a montar um plano de fuga.<\/p>\n<\/div>\n

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Os gunas est\u00e3o muito bem organizados. L\u00edderes espirituais e civis tomam decis\u00f5es baseadas nas sugest\u00f5es da comunidade em reuni\u00f5es realizadas quase diariamente. E um comit\u00ea espec\u00edfico se dedica a desenvolver o plano de realoca\u00e7\u00e3o e a manter contato com as ag\u00eancias governamentais.<\/p>\n

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“Este projeto ser\u00e1 um modelo para o resto do povo Guna”, diz Blas L\u00f3pez, soci\u00f3logo e ativista comunit\u00e1rio.<\/p>\n<\/div>\n

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“Mas algumas comunidades de outras ilhas acreditam que isso nunca vai acontecer. Eles creem que n\u00e3o temos o apoio do governo, ent\u00e3o est\u00e3o esperando para ver se \u00e9 verdade ou n\u00e3o. Se realizarmos nosso sonho, outras comunidades v\u00e3o voltar para o continente tamb\u00e9m”.<\/p>\n<\/div>\n

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Na ilha de Gardi Muladup, ainda menor, a falta de espa\u00e7o faz com que os porcos sejam alimentados em currais constru\u00eddos no oceano. Aos 102 anos, Carlos P\u00e9rez, um dos l\u00edderes nesta comunidade de 500 pessoas, est\u00e1 preocupado.<\/p>\n<\/div>\n

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“N\u00e3o podemos controlar a \u00e1gua. Em janeiro e fevereiro, tiveram ventos muito fortes e ondas enormes”, conta.<\/p>\n<\/div>\n

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Esta ilha tem ainda menos prote\u00e7\u00e3o do que Gardi Sugdub.<\/p>\n

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“Somos uma ilha solit\u00e1ria. N\u00e3o existem outras ilhas na nossa frente, por isso somos muito mais vulner\u00e1veis \u200b\u200ba inunda\u00e7\u00f5es”.<\/p>\n<\/div>\n

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Carlos Perez diz que seu povo tamb\u00e9m quer voltar ao continente. Eles s\u00e3o donos de uma \u00e1rea de terra chamada Montanha Vermelha e esperam seguir os passos dos habitantes de Gardi Sugdub.<\/p>\n<\/div>\n

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Mas nem todo mundo est\u00e1 disposto a come\u00e7ar uma vida nova longe de sua ilha natal.<\/p>\n<\/div>\n

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Embora sua casa inunde, Antoneta Reurter diz que n\u00e3o tem pretens\u00e3o de deixar Gardi Sugdub. Na verdade, essa m\u00e3e de seis filhos cr\u00ea que ter\u00e1 mais espa\u00e7o para sua fam\u00edlia se seus vizinhos se mudarem para La Barriada.<\/p>\n<\/div>\n

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Ela n\u00e3o acredita nas previs\u00f5es de que algumas ilhas do arquip\u00e9lago estar\u00e3o debaixo d’\u00e1gua em uma d\u00e9cada.<\/p>\n<\/div>\n

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“N\u00e3o acredito nos cientistas, n\u00e3o acho que as ilhas v\u00e3o desaparecer, s\u00f3 Deus pode decidir isso”, declarou.<\/p>\n<\/div>\n

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“Se as pessoas est\u00e3o corrompidas e se comportando mal, Deus pode enviar um furac\u00e3o ou um terremoto e talvez as ilhas possam desaparecer”, pondera.<\/p>\n

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A cren\u00e7a de que outros fen\u00f4menos podem punir os gunas por seu mau comportamento n\u00e3o \u00e9 compartilhada por todos.<\/p>\n<\/div>\n

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“Somos cada vez mais afetados pela mudan\u00e7a clim\u00e1tica”, diz Francisco Gonzales, diretor de Educa\u00e7\u00e3o em Gardi Sugdub.<\/p>\n<\/div>\n

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“E o que estamos vendo ultimamente n\u00e3o \u00e9 o mesmo que vimos antes: o clima pode estar bom, mas muda de repente. O mar est\u00e1 subindo, h\u00e1 inunda\u00e7\u00f5es nas ruas e os ventos fortes danificam o telhado da escola. Quando isso acontece, temos que enviar as crian\u00e7as para casa para mant\u00ea-las seguras”, acrescenta.<\/p>\n<\/div>\n

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H\u00e1 cerca de 500 alunos estudando nas salas de aula da ilha por turno.<\/p>\n<\/div>\n

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A escola que est\u00e1 sendo constru\u00edda ao lado de La Barriada deveria ter sido aberta h\u00e1 tr\u00eas anos. Quando neste ano – mais uma vez – as aulas n\u00e3o come\u00e7aram, os gunas protestaram bloqueando a estrada principal que parte do porto de Cart\u00ed para exigir o fim de falsas promessas.<\/p>\n<\/div>\n

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Agora, parece que o governo do presidente Juan Carlos Varela est\u00e1 ouvindo as reivindica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n<\/div>\n

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“Esperamos poder retomar as obras na escola e finaliz\u00e1-las no primeiro trimestre de 2018”, disse \u00e0 BBC Jorge Gonz\u00e1lez, ministro que assumiu a lideran\u00e7a do projeto de realoca\u00e7\u00e3o.<\/p>\n<\/div>\n

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“Vamos tentar encontrar os recursos econ\u00f4micos e obter eletricidade para a escola e o centro de sa\u00fade”, acrescentou.<\/p>\n

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E a constru\u00e7\u00e3o das 300 casas prometidas para 2015?<\/p>\n<\/div>\n

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“Est\u00e1 no or\u00e7amento para este ano e o pr\u00f3ximo. O Minist\u00e9rio da Habita\u00e7\u00e3o est\u00e1 no processo de contrata\u00e7\u00e3o de uma empresa para constru\u00ed-las. Esperamos que sejam entregues em 2018”, respondeu.<\/p>\n<\/div>\n

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H\u00e1 ind\u00edcios de que o compromisso do governo \u00e9 genu\u00edno, como a visita de representantes do Executivo a La Barriada para inspecionar os terrenos.<\/p>\n<\/div>\n

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Talvez, no fim de tudo, os gunas consigam colocar em pr\u00e1tica seu plano de fuga e seus esfor\u00e7os possam servir de modelo para outras comunidades amea\u00e7adas pelos efeitos da mudan\u00e7a clim\u00e1tica na regi\u00e3o.<\/p>\n

Fonte: G1<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"