{"id":139364,"date":"2017-10-13T00:01:39","date_gmt":"2017-10-13T03:01:39","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=139364"},"modified":"2017-10-12T20:43:58","modified_gmt":"2017-10-12T23:43:58","slug":"este-pais-minusculo-alimenta-o-mundo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/10\/13\/139364-este-pais-minusculo-alimenta-o-mundo.html","title":{"rendered":"Este pa\u00eds min\u00fasculo alimenta o mundo"},"content":{"rendered":"
Em uma planta\u00e7\u00e3o de batatas<\/strong> perto da fronteira da Holanda com a B\u00e9lgica, o agricultor holand\u00eas Jacob van den Borne est\u00e1 acomodado na cabine de uma enorme colheitadeira, diante de um painel que poderia muito bem ter sa\u00eddo da nave espacial\u00a0Enterprise<\/em>.<\/p>\n Do seu poleiro a 3 metros de altura, ele monitora dois rob\u00f4s \u2013 um trator aut\u00f4nomo que percorre o campo e um drone que paira no ar \u2013, os quais lhe fornecem dados detalhados sobre a composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica do solo, o teor de umidade, os nutrientes e o crescimento, medindo o progresso de cada planta e at\u00e9 mesmo de cada batata individualmente. As safras colhidas por Van den Borne testemunham a efic\u00e1cia dessa \u201cagricultura de precis\u00e3o\u201d, como \u00e9 chamada. A produtividade m\u00e9dia global de batatas fica ao redor de 20 toneladas por hectare. Nos seus campos, Van den Borne obt\u00e9m mais de 47 toneladas por hectare.<\/p>\n Tal produtividade excepcional \u00e9 ainda mais not\u00e1vel quando examinada pelo lado dos insumos. Quase duas d\u00e9cadas atr\u00e1s, os produtores holandeses se comprometeram com uma agricultura sustent\u00e1vel, num programa nacional cujo lema era \u201cDobrar os alimentos com metade dos insumos\u201d. Desde o ano 2000, Van den Borne e outros cultivadores locais reduziram em at\u00e9 90% o consumo de \u00e1gua em algumas safras b\u00e1sicas. E conseguiram eliminar quase todo o uso de pesticidas qu\u00edmicos nos cultivos em estufas. Al\u00e9m disso, desde 2009, os criadores de frango e de gado cortaram os antibi\u00f3ticos em at\u00e9 60%.<\/p>\n H\u00e1 outro motivo de admira\u00e7\u00e3o: a Holanda (ou Pa\u00edses Baixos) \u00e9 uma na\u00e7\u00e3o pequena e densamente povoada, com mais de 500 habitantes por quil\u00f4metro quadrado. \u00c9 desprovida de quase todos os recursos tidos como necess\u00e1rios para o cultivo agr\u00edcola em larga escala. No entanto, em termos de valor monet\u00e1rio, o pa\u00eds \u00e9 o segundo maior exportador mundial de alimentos, atr\u00e1s apenas dos Estados Unidos, os quais contam com um territ\u00f3rio 270 vezes maior. Como os holandeses conseguiram algo t\u00e3o assombroso?<\/p>\n Ao sobrevoar os Pa\u00edses Baixos, n\u00e3o distinguimos nada parecido com os outros grandes produtores de alimentos \u2013 uma colcha de campos de cultivo intensivo, interrompida por cidades e sub\u00farbios movimentados. J\u00e1 na Holanda, mais da metade do territ\u00f3rio nacional \u00e9 destinada \u00e0 agricultura e \u00e0 horticultura: nas principais regi\u00f5es agr\u00edcolas do pa\u00eds, n\u00e3o se v\u00ea nenhuma planta\u00e7\u00e3o de batata, nenhuma estufa, nenhum galp\u00e3o de cria\u00e7\u00e3o de porcos que esteja situado longe de pr\u00e9dios, f\u00e1bricas e \u00e1reas urbanizadas.<\/p>\n Fileiras do que parecem ser espelhos gigantescos se estendem atrav\u00e9s do interior, cintilando sob os raios do sol e brilhando com uma misteriosa luminosidade interna quando cai a noite. S\u00e3o os extraordin\u00e1rios complexos de estufas do pa\u00eds, alguns cobrindo mais de 70 hectares. Essas \u00e1reas de cultivo com clima controlado permitem que um pa\u00eds situado a meros 1 600 quil\u00f4metros do C\u00edrculo \u00c1rtico seja um dos principais exportadores mundiais de tomate, um fruto de zonas clim\u00e1ticas quentes. Os holandeses tamb\u00e9m est\u00e3o entre os maiores exportadores de batata e cebola, assim como de hortali\u00e7as. E mais de um ter\u00e7o de todo o com\u00e9rcio mundial de sementes de hortali\u00e7as tem origem na Holanda.<\/p>\n O n\u00facleo por tr\u00e1s da gera\u00e7\u00e3o de todos esses resultados surpreendentes est\u00e1 na Universidade e Centro de Pesquisa de Wageningen (WUR, na sigla em ingl\u00eas), a 80 quil\u00f4metros de Amsterd\u00e3. Reconhecida como a principal institui\u00e7\u00e3o de pesquisa agr\u00edcola do mundo, a WUR est\u00e1 no cora\u00e7\u00e3o do chamado Vale dos Alimentos, um agrupamento de empresas inovadoras no campo da tecnologia agr\u00edcola e de fazendas experimentais.<\/p>\n Ernst van den Ende, diretor administrativo da Divis\u00e3o de Bot\u00e2nica da WUR, \u00e9 um exemplo rematado da abordagem mesclada do Vale dos Alimentos. Um renomado estudioso com o jeito descontra\u00eddo de barista de caf\u00e9 moderninho, Van den Ende \u00e9 uma autoridade mundial em patologia das plantas. No entanto, diz ele, \u201cn\u00e3o sou apenas diretor de faculdade. Metade de mim dirige a Divis\u00e3o de Bot\u00e2nica, mas a outra metade supervisiona nove unidades de neg\u00f3cio distintas e voltadas para pesquisas comerciais sob contrato\u201d. Apenas essa mistura, com \u201co empenho cient\u00edfico associado ao empenho empresarial\u201d, sustenta ele, \u201cest\u00e1 \u00e0 altura do desafio que vem por a\u00ed\u201d.<\/p>\n Que desafio? Em termos nada menos que apocal\u00edpticos, diz Van den Ende, o planeta precisa produzir \u201cmais alimento nas pr\u00f3ximas quatro d\u00e9cadas do que tudo o que os agricultores cultivaram nos \u00faltimos 8 mil anos\u201d. Por um motivo simples: at\u00e9 2050, a Terra vai abrigar at\u00e9 10 bilh\u00f5es de pessoas, um ter\u00e7o a mais que a popula\u00e7\u00e3o atual, de 7,5 bilh\u00f5es. Caso n\u00e3o se consiga dar um salto na produtividade agr\u00edcola, acompanhado de decr\u00e9scimos significativos no uso da \u00e1gua e dos combust\u00edveis f\u00f3sseis, cerca de 1 bilh\u00e3o de pessoas podem ser condenadas a morrer de fome. Diante do que pode se tornar o problema mais urgente do s\u00e9culo 21, os vision\u00e1rios do Vale dos Alimentos est\u00e3o convencidos de estarem aperfei\u00e7oando solu\u00e7\u00f5es inovadoras. \u201cOs meios para evitar surtos catastr\u00f3ficos de fome est\u00e3o ao nosso alcance\u201d, insiste Van den Ende. O seu otimismo est\u00e1 baseado no retorno que recebe de mil e tantos projetos da WUR em mais de 140 pa\u00edses, assim como dos acordos oficiais com governos e universidades de cinco continentes visando compartilhar os avan\u00e7os e coloc\u00e1-los em pr\u00e1tica.<\/p>\n Um papo com Van den Ende \u00e9 uma corrida resfolegante por uma torrente de ideias, estat\u00edsticas e previs\u00f5es. Seca na \u00c1frica? \u201cA \u00e1gua n\u00e3o \u00e9 o maior problema, e sim a pobreza do solo\u201d, diz ele. \u201cA aus\u00eancia de nutrientes pode ser compensada pelo cultivo de plantas que atuam em simbiose com certas bact\u00e9rias a fi m de produzir o seu pr\u00f3prio fertilizante.\u201d E o custo crescente de cereais para alimentar rebanhos? \u201cBasta aliment\u00e1-los com gafanhotos\u201d, sugere. Um hectare de terra produz, por ano, 1 tonelada de prote\u00edna de soja \u2013 ra\u00e7\u00e3o comum para o gado. A mesma \u00e1rea de terra \u00e9 capaz de produzir 150 toneladas de prote\u00edna de insetos.<\/p>\n A conversa logo passa para o emprego das l\u00e2mpadas de LED de modo a permitir o cultivo ininterrupto em estufas de clima controlado. Da\u00ed passamos a falar de uma concep\u00e7\u00e3o equivocada: a de que a agricultura sustent\u00e1vel implica na menor interven\u00e7\u00e3o humana poss\u00edvel na natureza. \u201cVeja o que acontece em Bali!\u201d, exclama. H\u00e1 pelo menos mil anos, os agricultores da ilha criam patos e peixes nas mesmas \u00e1reas inundadas em que cultivam arroz. Esse \u00e9 um sistema alimentar autossufi ciente, irrigado por complexos sistemas de canais em terra\u00e7os montanhosos esculpidos por m\u00e3os humanas. \u201cA\u00ed est\u00e1 um bom modelo de sustentabilidade\u201d, conclui Van den Ende.<\/p>\n Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"