{"id":139385,"date":"2017-10-14T00:01:15","date_gmt":"2017-10-14T03:01:15","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=139385"},"modified":"2017-10-13T22:19:30","modified_gmt":"2017-10-14T01:19:30","slug":"os-homens-que-criam-geleiras-para-sobreviver-a-seca-no-himalaia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/10\/14\/139385-os-homens-que-criam-geleiras-para-sobreviver-a-seca-no-himalaia.html","title":{"rendered":"Os homens que criam geleiras para sobreviver \u00e0 seca no Himalaia"},"content":{"rendered":"
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\u00c9 meia noite no vale Ladakh, no Himalaia, extremo norte da \u00cdndia, a 3,5 mil metros acima do n\u00edvel do mar. \u00c9 o per\u00edodo mais frio do dia em um dos lugares mais frios do planeta – no auge do inverno, a temperatura chega a -30\u00baC.<\/p>\n<\/div>\n

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Um grupo de dez volunt\u00e1rios est\u00e1 reunido para colocar em pr\u00e1tica um plano capaz de resolver a falta d’\u00e1gua cr\u00f4nica que afeta a regi\u00e3o. Eles est\u00e3o construindo geleiras de mais de 30 metros de altura na esperan\u00e7a de que derretam na primavera e forne\u00e7am a \u00e1gua necess\u00e1ria aos vilarejos e agricultores.<\/p>\n

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As estruturas de gelo s\u00e3o fruto da mente do engenheiro Sonam Wangchuk. Nascido ali, ele trabalha h\u00e1 v\u00e1rios anos em solu\u00e7\u00f5es inovadoras para problemas cotidianos das comunidades locais.<\/p>\n<\/div>\n

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“Tendemos a buscar solu\u00e7\u00f5es criadas em Nova York ou Nova D\u00e9li, que n\u00e3o funcionam para n\u00f3s aqui”, diz ele. “Acredito que o povo das montanhas tem de encontrar solu\u00e7\u00f5es por conta pr\u00f3pria.”<\/p>\n

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Isolamento<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Os 300 mil habitantes de Ladakh enfrentam condi\u00e7\u00f5es de vida duras. Os vilarejos ficam em locais remotos a altitudes que variam entre 2,7 mil e 4 mil metros acima do n\u00edvel do mar. As estradas ficam bloqueadas durante a maior parte do inverno, isolando a regi\u00e3o do resto do pa\u00eds.<\/p>\n

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Chove muito pouco ali. A m\u00e9dia \u00e9 de 100 mil\u00edmetros por ano – em compara\u00e7\u00e3o, a m\u00e9dia anual \u00e9 de 450 mil\u00edmetros no sert\u00e3o de Pernambuco, segundo dados do Laborat\u00f3rio de Meteorologia da Universidade Federal do Vale do S\u00e3o Francisco.<\/p>\n<\/div>\n

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Wangchuk diz que os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e o aquecimento global est\u00e3o intensificando os problemas locais ao mexer com seu j\u00e1 delicado equil\u00edbrio h\u00eddrico.<\/p>\n<\/div>\n

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“Vemos que as geleiras est\u00e3o encolhendo, sendo encontradas em altitudes cada vez maiores. H\u00e1 menos \u00e1gua na primavera, mas, nos meses de ver\u00e3o, temos enfrentado inunda\u00e7\u00f5es perigosas. O fluxo de \u00e1gua no vale tornou-se irregular”, explica ele.<\/p>\n<\/div>\n

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Wangchuk inspirou-se em um colega de profiss\u00e3o que trabalha na regi\u00e3o, o engenheiro Chewang Norphel, que criou uma geleira artificial plana em altitudes de 4 mil metros ou mais. Mas os moradores dos vilarejos relutavam em subir at\u00e9 l\u00e1.<\/p>\n<\/div>\n

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Wangchuk conta que estava cruzando uma ponte quando teve a ideia de congelar suas estruturas.<\/p>\n<\/div>\n

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“Notei que havia gelo sob a ponte, que, a 3 mil metros de altitude, \u00e9 a \u00e1rea mais baixa e quente da regi\u00e3o. Ent\u00e3o, pensei que se a gente protegesse o gelo da incid\u00eancia direta do sol, a gente poderia armazen\u00e1-lo.”<\/p>\n<\/div>\n

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‘Stupas’<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Ent\u00e3o, em 2013, ele e seus estudantes da Escola Alternativa Secmol come\u00e7aram a fabricar pr\u00f3ximo do vilarejo de Phyang prot\u00f3tipos destas estruturas, chamadas de stupas, por causa de sua semelhan\u00e7a com a stupas tibetanas – belas constru\u00e7\u00f5es religiosas, formadas por domos ou cones e com extremidade pontiagudas, usadas para guardar rel\u00edquias, como os restos mortais de monges budistas.<\/p>\n<\/div>\n

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A tecnologia por tr\u00e1s delas \u00e9 simples. Uma das extremidades do cano fica enterrada abaixo do ponto de congelamento, profundidade em que a umidade do solo congela, enquanto o restante se eleva acima do ch\u00e3o.<\/p>\n<\/div>\n

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A diferen\u00e7a de altura, temperatura e for\u00e7a gravitacional cria press\u00e3o dentro do cano, fazendo com que a \u00e1gua subterr\u00e2nea seja bombeada para fora do cano, como em uma fonte, e congele gradualmente ao entrar e contato com o ar frio, formando uma pir\u00e2mide de gelo.<\/p>\n

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“Congelamos a \u00e1gua que n\u00e3o costuma ser usada no inverno. Por causa da forma geom\u00e9trica da estrutura, o gelo n\u00e3o derrete at\u00e9 o fim da primavera”, diz Wangchuk. Nessa \u00e9poca, explica, a \u00e1gua pode ser usada para irrigar planta\u00e7\u00f5es.<\/p>\n<\/div>\n

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Sucesso e amplia\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n<\/div>\n

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Como o invento tem uma forma semelhante \u00e0 stupa religiosa, Wangchuk acredita que isso faz com que elas sejam mais familiares aos habitantes locais. Depois de obter sucesso com uma das estruturas, em 2014, um monast\u00e9rio da regi\u00e3o se envolveu na iniciativa, e monges budistas pediram que fossem constru\u00eddas outras 20.<\/p>\n<\/div>\n

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Uma campanha para financiar a empreitada arrecadou US$ 125,2 mil (R$ 396 mil), que custeou a constru\u00e7\u00e3o de uma linha de transmiss\u00e3o de 2,3 km para levar \u00e1gua at\u00e9 Phyang. Wangchuk afirma que esses canos comportam a produ\u00e7\u00e3o de at\u00e9 50 stupas de gelo.<\/p>\n

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Ele agora est\u00e1 ajudando a construir novas estruturas pr\u00f3ximo da cidade de St. Moritz, na Su\u00ed\u00e7a. Depois de testar o primeiro prot\u00f3tipo, o plano \u00e9 expandir o projeto para combater os efeitos do r\u00e1pido derretimento das geleiras das montanhas do pa\u00eds.<\/p>\n<\/div>\n

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“Em troca dessa tecnologia, os su\u00ed\u00e7os compartilhar\u00e3o seus conhecimentos sobre turismo sustent\u00e1vel com as pessoas de Phyang, para recuperar a economia decadente do vilarejo”, diz Wangchuk.<\/p>\n<\/div>\n

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Ele diz estar otimista com o futuro: “Queremos treinar os jovens por meio de nossa universidade e esperamos estar criando uma nova gera\u00e7\u00e3o de empreendedores do gelo.”<\/p>\n<\/div>\n

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*Essa reportagem faz parte da s\u00e9rie “Inovadores: Transformando Vidas”, que trata de solu\u00e7\u00f5es criadas para lidar com os principais desafios atuais do sul da \u00c1sia, um projeto financiado pela Funda\u00e7\u00e3o Bill e Melinda Gates<\/em><\/p>\n

Fonte: G1<\/em><\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n

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