{"id":139788,"date":"2017-10-31T00:00:15","date_gmt":"2017-10-31T02:00:15","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=139788"},"modified":"2017-10-30T23:29:25","modified_gmt":"2017-10-31T01:29:25","slug":"sobreviventes-de-desastre-de-mariana-sofrem-preconceito-e-moradores-pedem-volta-de-samarco","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/10\/31\/139788-sobreviventes-de-desastre-de-mariana-sofrem-preconceito-e-moradores-pedem-volta-de-samarco.html","title":{"rendered":"Sobreviventes de desastre de Mariana sofrem preconceito e moradores pedem volta de Samarco"},"content":{"rendered":"
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Em novembro de 2015, a cidade de Mariana ganhou pouco mais de mil novos habitantes. Em sua maioria, moradores dos distritos rurais de Paracatu e Bento Rodrigues, ambos engolidos pela lama de rejeito de min\u00e9rio de ferro que jorrou da barragem de Fund\u00e3o, operada pela Samarco, no dia 5 daquele m\u00eas.<\/p>\n<\/div>\n

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Dois anos depois, as fam\u00edlias reassentadas est\u00e3o espalhadas em im\u00f3veis alugados pela empresa enquanto esperam pela reconstru\u00e7\u00e3o de suas comunidades, prometidas para 2019, em terrenos recentemente adquiridos pela Funda\u00e7\u00e3o Renova, que hoje responde pelas a\u00e7\u00f5es de repara\u00e7\u00e3o da mineradora e de suas controladoras, Vale e BHP Billiton.<\/p>\n<\/div>\n

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As dificuldades de adapta\u00e7\u00e3o \u00e0 rotina provis\u00f3ria – que, ao todo, deve durar pelo menos tr\u00eas ou quatro anos – come\u00e7aram pelo choque com a vida urbana.<\/p>\n<\/div>\n

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Produtor rural de Paracatu, Marino D’\u00c2ngelo tomou um susto com o pre\u00e7o do tomate-cereja na primeira vez que teve de compr\u00e1-lo no mercado.<\/p>\n<\/div>\n

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“Nossa Senhora, eu dava esse trem pros outros de balde”, diz ele, que conseguiu ser realocado em \u00c1guas Claras, a 50 minutos de Mariana, e voltou a cultivar sua horta com a esposa, Maria do Carmo, e a criar porcos e cabras.<\/p>\n<\/div>\n

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Para os que permaneceram na sede – a grande maioria -, as mudan\u00e7as profundas no cotidiano incluem a rela\u00e7\u00e3o \u00e0s vezes conflituosa com os 45 mil marianenses.<\/p>\n<\/div>\n

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O pano de fundo \u00e9 o aumento do desemprego no munic\u00edpio, que saltou de 5% para 23% desde que as atividades da Samarco foram suspensas, segundo dados do Sistema Nacional de Emprego (Sine) local.<\/p>\n<\/div>\n

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Para efeitos comparativos, na capital, Belo Horizonte, o salto foi de 9% em 2015 para 13,9% no primeiro semestre deste ano, conforme o IBGE.<\/p>\n<\/div>\n

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“Uma minoria fora da realidade enxerga que eles s\u00e3o respons\u00e1veis pelo que aconteceu (a interrup\u00e7\u00e3o das opera\u00e7\u00f5es da mineradora)”, disse \u00e0 BBC Brasil o prefeito Duarte J\u00fanior (PPS).<\/p>\n

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A grande maioria da popula\u00e7\u00e3o, ele acrescenta, “reconhece o sofrimento” das fam\u00edlias dos distritos rurais reassentadas na sede.<\/p>\n<\/div>\n

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O rompimento da barragem de Fund\u00e3o matou 19 pessoas. Os 34 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de rejeito de min\u00e9rio desceram 55 km pelo rio Gualaxo do Norte at\u00e9 o Rio do Carmo e outros 22 at\u00e9 o Rio Doce.<\/p>\n<\/div>\n

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O vazamento soterrou os distritos rurais de Bento Rodrigues, Paracatu e Gesteira e invadiu a cidade de Barra Longa, a 60 km de Mariana.<\/p>\n<\/div>\n

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A avalanche de lama percorreu 663 km de cursos d’\u00e1gua e atingiu 39 munic\u00edpios em Minas Gerais e no Esp\u00edrito Santo – o maior desastre ambiental do pa\u00eds.<\/p>\n<\/div>\n

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‘Somos todos atingidos’<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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De um ano para c\u00e1 come\u00e7aram a aparecer de forma esparsa no com\u00e9rcio de Mariana cartazes de apoio \u00e0 retomada das atividades da empresa, que atuava h\u00e1 44 anos na regi\u00e3o e respondia por 89% da arrecada\u00e7\u00e3o do munic\u00edpio, entre tributos pagos diretamente e recolhidos de forma indireta.<\/p>\n<\/div>\n

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Um faixa pendurada em um sobrado na avenida pr\u00f3xima \u00e0 rodovi\u00e1ria, na sa\u00edda da cidade, diz “Somos todos atingidos”, em refer\u00eancia ao termo que tem sido usado para identificar os que foram afetados diretamente pelo rompimento da barragem.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n

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As manifesta\u00e7\u00f5es dos marianenses aparecem na se\u00e7\u00e3o de cartas do jornal local – na qual alguns leitores acusam os sobreviventes de extorquirem a mineradora -, nos bancos de pra\u00e7a e nas feiras de rua.<\/p>\n

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Um caso mais grave relatado por moradores e confirmado pela Prefeitura aconteceu em frente ao f\u00f3rum de Mariana, onde um grupo de atingidos foi hostilizado quando esperava pelo in\u00edcio de uma audi\u00eancia com a Renova.<\/p>\n<\/div>\n

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“Passaram gritando: ‘V\u00e3o trabalhar, seus desocupados!'”, afirma a educadora Eliene Santos. “A vis\u00e3o geral \u00e9 que n\u00f3s somos um bando de aproveitadores, mas o que a gente est\u00e1 recebendo \u00e9 direito.”<\/p>\n<\/div>\n

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“Eu gostava muito mais da minha casa no Bento do que do apartamento em que eu moro hoje, mas vou fazer o que? N\u00e3o tenho alternativa”.<\/p>\n<\/div>\n

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“Eles acham que a gente est\u00e1 com muito dinheiro, que est\u00e1 muito bem”, diz M\u00f4nica Quint\u00e3o, do sof\u00e1 que ocupa boa parte da sala do pequeno apartamento em que vive no centro de Mariana.<\/p>\n<\/div>\n

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Ela sente a perda do conv\u00edvio di\u00e1rio com os vizinhos e lembra com carinho da cachoeira que ficava a uma caminhada de sua casa e da mangueira que fazia sombra para ela e para a m\u00e3e depois do almo\u00e7o. “Aqui a gente n\u00e3o tem vida social, \u00e9 do trabalho pra casa.”<\/p>\n<\/div>\n

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Os moradores dos distritos que desapareceram embaixo da lama est\u00e3o habituados a dar entrevistas, especialmente nas semanas que antecedem o “anivers\u00e1rio” da trag\u00e9dia.<\/p>\n<\/div>\n

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Ainda assim, dois anos depois, muitos se emocionam ao falar sobre perder e sobre esperar.<\/p>\n<\/div>\n

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O presidente da Renova, Roberto Waack, diz ver “com tristeza” as dificuldades de adapta\u00e7\u00e3o e afirma que a funda\u00e7\u00e3o tem buscado melhorar as condi\u00e7\u00f5es de vida dos atingidos, com a cria\u00e7\u00e3o de um centro de conviv\u00eancia em Mariana e a manuten\u00e7\u00e3o de suas festividades e manifesta\u00e7\u00f5es culturais.<\/p>\n<\/div>\n

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A gera\u00e7\u00e3o de empatia, contudo, \u00e9 algo sobre o qual “a gente n\u00e3o tem controle”, ele acrescenta.<\/p>\n<\/div>\n

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As v\u00edtimas recebem, atrav\u00e9s do aux\u00edlio emergencial, um sal\u00e1rio m\u00ednimo por m\u00eas, mais 20% por dependente e o valor de uma cesta b\u00e1sica.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n

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Das indeniza\u00e7\u00f5es, que ainda est\u00e3o sendo negociadas, foram antecipados pagamentos de R$ 10 mil \u00e0s fam\u00edlias que tinham resid\u00eancia de uso eventual nos distritos atingidos, R$ 20 mil \u00e0s que perderam a casa em que moravam e R$ 100 mil aos parentes de desaparecidos ou mortos.<\/p>\n

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No in\u00edcio acolher, depois conviver’<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Eliene Santos viu a Escola Municipal Bento Rodrigues ruir diante do pared\u00e3o de lama como se suas colunas fossem feitas “de farinha”.<\/p>\n<\/div>\n

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No dia 5 de novembro de 2015, ela assistiu ao soterramento do lugar em que nasceu do alto de um morro, para onde levou \u00e0s pressas 58 alunos que estavam em sala quando ela, diretora, foi avisada sobre o rompimento da barragem.<\/p>\n<\/div>\n

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Na semana seguinte, os cerca de 100 alunos foram alocados na escola Dom Luciano, em Mariana, e recebidos com faixas e manifesta\u00e7\u00f5es de apoio.<\/p>\n<\/div>\n

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A rela\u00e7\u00e3o, entretanto, foi se deteriorando ao longo do tempo e os alunos da escola, depois de alguns meses, chamavam as crian\u00e7as de fora pejorativamente de “p\u00e9s de lama”.<\/p>\n<\/div>\n

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“Os meninos do Bento tinham uma estrutura toda montada a favor deles, recebiam ajuda, aten\u00e7\u00e3o, presentes. Isso pode der causado ci\u00fames, \u00e9 normal”, contemporiza a diretora.<\/p>\n<\/div>\n

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Em maio deste ano, a Escola Municipal Bento Rodrigues ganhou sede pr\u00f3pria. A despedida na Dom Luciano, ao contr\u00e1rio do \u00faltimo ano, foi leve, com festa e homenagens. “No in\u00edcio \u00e9 acolher, depois, conviver. N\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil.”<\/p>\n<\/div>\n

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Do ciclo do ouro para o ciclo do min\u00e9rio<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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“N\u00f3s queremos o retorno da minera\u00e7\u00e3o”, diz o prefeito de Mariana, ap\u00f3s ressalvar que a cidade deseja que os culpados pelo desastre sejam punidos.<\/p>\n<\/div>\n

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A Samarco era a maior pagadora de impostos do munic\u00edpio. Sem as atividades da empresa, ele afirma, a arrecada\u00e7\u00e3o despencou de uma m\u00e9dia mensal de R$ 27 milh\u00f5es em 2015 para R$ 16 milh\u00f5es neste ano.<\/p>\n<\/div>\n

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Em crise financeira, a Prefeitura tem dificuldade para prestar servi\u00e7os b\u00e1sicos e vem tomando medidas sucessivas de redu\u00e7\u00e3o de despesas.<\/p>\n<\/div>\n

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Em fevereiro, foram cortados 300 cargos comissionados, cerca de 10% do total de funcion\u00e1rios da administra\u00e7\u00e3o municipal, diz Duarte J\u00fanior, que assumiu poucos meses antes da trag\u00e9dia, em junho de 2015, quando era vice de Celso Cota (PSDB), que teve o mandato cassado.<\/p>\n<\/div>\n

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“N\u00f3s passamos do ciclo do ouro para o ciclo do min\u00e9rio. Nunca nos preparamos para viver sem a minera\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n<\/div>\n

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Desde o ano passado a empresa vem tentando obter as licen\u00e7as ambientais para voltar a operar. Em junho de 2016, protocolou na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent\u00e1vel de Minas Gerais (Semad) pedido para usar a cava Alegria do Sul – um buraco formado pela retirada de min\u00e9rio do complexo da empresa em Mariana – como dep\u00f3sito tempor\u00e1rio de rejeitos.<\/p>\n<\/div>\n

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No \u00faltimo m\u00eas de setembro, entrou com pedido de libera\u00e7\u00e3o de licen\u00e7a de opera\u00e7\u00e3o corretiva. Mais geral, ela permitiria a retomada de uma s\u00e9rie de atividades no complexo de Germano – lavra e tratamento de min\u00e9rio, extra\u00e7\u00e3o de areia e cascalho para utiliza\u00e7\u00e3o na constru\u00e7\u00e3o e realiza\u00e7\u00e3o de obras de infraestrutura como estradas e barragens.<\/p>\n<\/div>\n

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\u00c0 \u00e9poca, a Semad informou que n\u00e3o h\u00e1 prazo para a conclus\u00e3o das an\u00e1lises dos estudos apresentados pela empresa e que o prazo legal \u00e9 de um ano, descontados os eventuais pedidos de novos estudos.<\/p>\n

Fonte: G1<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"