{"id":139807,"date":"2017-10-31T00:00:08","date_gmt":"2017-10-31T02:00:08","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=139807"},"modified":"2017-10-31T00:00:34","modified_gmt":"2017-10-31T02:00:34","slug":"agricultura-biossalina-permite-usar-agua-salobra-na-irrigacao-de-pequenas-areas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/10\/31\/139807-agricultura-biossalina-permite-usar-agua-salobra-na-irrigacao-de-pequenas-areas.html","title":{"rendered":"Agricultura biossalina permite usar \u00e1gua salobra na irriga\u00e7\u00e3o de pequenas \u00e1reas"},"content":{"rendered":"

A \u00e1gua \u00e9 fundamental pro sucesso de qualquer atividade agropecu\u00e1ria. Imagina ent\u00e3o, como os produtores do sert\u00e3o do Nordeste sofrem com a falta dela. O Globo Rural mostrou uma tecnologia que pode ajudar muitos agricultores a continuar trabalhando, mesmo nos per\u00edodos de seca prolongada.<\/p>\n

Quem vive e produz no semi\u00e1rido nordestino sabe que a seca faz parte do clima desse peda\u00e7o do Brasil. Em geral, nos anos normais, chove apenas tr\u00eas, quatro meses por ano. Mas de tempos em tempos, a seca se prolonga.<\/p>\n

A chuva irregular faz com que \u00e1gua seja um bem precioso e raro. Os agricultores sertanejos est\u00e3o sempre em busca de alternativas para continuar trabalhando nos per\u00edodos de seca. Mas encontrar \u00e1gua no subsolo nem sempre resolve o problema.<\/p>\n

Uma estimativa feita\u00a0Embrapa<\/a> mostra que h\u00e1, pelo menos, 200 mil po\u00e7os perfurados em todo semi\u00e1rido nordestino. Mas a maior parte dessa \u00e1gua n\u00e3o vem sendo usada por causa da qualidade. \u00c9 uma \u00e1gua salobra \u2013 com sal.<\/p>\n

O agr\u00f4nomo Tony Jarbas \u00e9 doutor em solos e pesquisador da Embrapa semi\u00e1rido, em Petrolina. Ele explica que a presen\u00e7a de sais na \u00e1gua se deve \u00e0 forma\u00e7\u00e3o geol\u00f3gica dessa regi\u00e3o. \u201cS\u00e3o rochas cristalinas e essas rochas cont\u00eam na sua estrutura cristalogr\u00e1fica cloretos e elementos qu\u00edmicos que levam a forma\u00e7\u00e3o de sais. Ent\u00e3o, quando essa \u00e1gua entre em contato com essas rochas, que o intemperismo se inicia, esses sais s\u00e3o liberados e v\u00e3o ficar nessas \u00e1guas subterr\u00e2neas em todo semi\u00e1rido.\u201d<\/p>\n

A \u00e1gua salobra \u00e9 composta por diversos tipos de sais, como o cloreto de s\u00f3dio, que tem no sal de cozinha, al\u00e9m de c\u00e1lcio, magn\u00e9sio e pot\u00e1ssio, por exemplo. O gosto \u00e9 bem ruim, \u00e0s vezes n\u00e3o d\u00e1 nem para beber. Em geral os animais tomam, mas se o teor de s\u00f3dio for alto, isso pode trazer s\u00e9rios problemas de sa\u00fade para o rebanho. O uso dessa \u00e1gua na irriga\u00e7\u00e3o de lavouras \u00e9 uma grande amea\u00e7a para o meio ambiente.<\/p>\n

\u201cQuando a gente tem uma \u00e1gua rica em s\u00f3dio, por exemplo, e a gente usa essa \u00e1gua como fonte de irriga\u00e7\u00e3o, a gente est\u00e1 levando para o solo esse s\u00f3dio. E qual \u00e9 o efeito desse s\u00f3dio? Ele entra no solo e come\u00e7a a quebrar os agregados. Ele tem um efeito de dispers\u00e3o das argilas do solo. E a\u00ed, essa argila dispersa, ela migra em profundidade e acaba entupindo os poros do solo. Por isso que a gente acaba tendo um efeito de compacta\u00e7\u00e3o. E a\u00ed, indiretamente, al\u00e9m de ser feito de compacta\u00e7\u00e3o, um efeito de eros\u00e3o do solo. Porque quando chove a \u00e1gua n\u00e3o consegue infiltrar e ela acaba erodindo. Ent\u00e3o, escorrendo sobre a superf\u00edcie e carregando a camada superficial. \u00c9 um processo de degrada\u00e7\u00e3o e desertifica\u00e7\u00e3o\u201d, explica a pesquisadora da Embrapa Diana Signor.<\/p>\n

A \u00e1gua n\u00e3o \u00e9 a ideal, mas \u00e9 a que tem. Por isso, a Embrapa criou um grupo de pesquisa que est\u00e1 adaptando \u00e0s condi\u00e7\u00f5es do Nordeste, uma t\u00e9cnica j\u00e1 usada em outros pa\u00edses: a chamada agricultura biossalina. Como conta o zootecnista Gherman Ara\u00fajo, coordenador do grupo: \u201ca agricultura biossalina \u00e9 uma alternativa de cultivo, \u00e9 uma alternativa de agricultura, onde se tem como base o uso de \u00e1guas com certos teores de sais. \u00c9 uma agricultura que tem sido utilizada desde da d\u00e9cada de 50, onde a disponibilidade de \u00e1gua doce \u00e9 extremamente restrita. Ent\u00e3o, essas \u00e1guas com certos teores de sais, uma vez utilizadas com crit\u00e9rios, podem se tornar uma excelente alternativa de produ\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n

A ideia \u00e9 trabalhar em pequenas \u00e1reas, destinadas \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de forragem pra alimenta\u00e7\u00e3o animal. O sistema deve seguir tr\u00eas regras fundamentais: an\u00e1lise da \u00e1gua do po\u00e7o que vai ser usado para determinar a quantidade e os tipos de sais que ela cont\u00e9m; conhecer muito bem o solo que vai ser irrigado; escolher culturas adequadas pra cada situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A Embrapa vem testando algumas plantas em um campo experimental. Gherman Ara\u00fajo explica que as plantas recomendadas para o sistema de agricultura biossalina devem ser as hal\u00f3fitas. \u201cS\u00e3o aquelas plantas que toleram sais, que s\u00e3o resistentes aos sais. A planta mundialmente reconhecida como obrigatoriamente hal\u00f3fita \u00e9 a erva-sal ou atriplex nummularia. Essa precisa, inclusive, de s\u00f3dio para o seu crescimento.\u201d<\/p>\n

A erva-sal tem mais de 20% de prote\u00edna. Por isso, pode ser usada como forrageira. \u201cA prote\u00edna, na verdade, \u00e9 o nutriente mais importante, mais rico e, digamos, mais caro no processo de formula\u00e7\u00e3o de uma dieta para os animais. Ent\u00e3o, essa planta tem import\u00e2ncia enorme para o nosso semi\u00e1rido tamb\u00e9m\u201d, completa o zootecnista.<\/p>\n

A Embrapa tamb\u00e9m est\u00e1 testando plantas j\u00e1 conhecidas e cultivadas por muitos agricultores sertanejos, como a gliric\u00eddia e a palma forrageira. Os testes tamb\u00e9m mostraram bons resultados com sorgo, moringa, leucina e palma.<\/p>\n

A palma, al\u00e9m de forrageira para matar a fome dos animais, \u00e9 tamb\u00e9m uma fonte de \u00e1gua, que pode ser usada para matar a sede do rebanho. A planta \u00e9 uma produtora de \u00e1gua. Ela tem 90% de \u00e1gua e 10% de mat\u00e9ria seca.<\/p>\n

Para conseguir bons resultados \u00e9 preciso tomar alguns cuidados. O primeiro \u00e9 associar a irriga\u00e7\u00e3o com uma aduba\u00e7\u00e3o org\u00e2nica. Quanto menos \u00e1gua salgada for para o solo, melhor. Por isso, os pesquisadores est\u00e3o trabalhando para determinar qual o volume ideal de irriga\u00e7\u00e3o que cada planta precisa.<\/p>\n

Mesmo com todo cuidado, essa \u00e1gua acaba salinizando o solo. Por isso, os pesquisadores est\u00e3o desenvolvendo um sistema de manejo que ajuda a preservar a qualidade da terra. Funciona assim: o agricultor divide a propriedade em talh\u00f5es. Escolhe um, instala a irriga\u00e7\u00e3o e faz o plantio. Periodicamente, a \u00e1rea tem que passar por uma an\u00e1lise de solo. Quando o teor de sal ficar cr\u00edtico, o talh\u00e3o tem que ser abandonado e o agricultor tem que mudar todo o sistema para outro e a terra vai descansar at\u00e9 baixar o n\u00edvel de sal. O tempo varia de acordo com o tipo de solo e a quantidade de sais que ele absorveu. \u00c9 um tipo de agricultura que casa muito bem com pequenos agricultores.<\/p>\n

Fonte: Globo Rural<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Tecnologia pode ampliar a \u00e1rea das lavouras irrigadas no sert\u00e3o semi\u00e1rido do Nordeste.
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