{"id":140255,"date":"2017-11-18T00:00:29","date_gmt":"2017-11-18T02:00:29","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=140255"},"modified":"2017-11-17T22:15:12","modified_gmt":"2017-11-18T00:15:12","slug":"ser-humano-e-animais-sao-parte-da-natureza-e-tem-os-mesmos-direitos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/11\/18\/140255-ser-humano-e-animais-sao-parte-da-natureza-e-tem-os-mesmos-direitos.html","title":{"rendered":"Ser humano e animais s\u00e3o parte da natureza e t\u00eam os mesmos direitos"},"content":{"rendered":"
A aceita\u00e7\u00e3o ou n\u00e3o da dignidade dos animais depende do paradigma que cada um assume. H\u00e1 dois paradigmas que v\u00eam da mais alta Antiguidade e que perduram at\u00e9 hoje.<\/p>\n
O primeiro entende o ser humano como parte da natureza, um convidado a mais a participar da imensa comunidade de vida. Quando a Terra estava praticamente pronta, com toda a sua biodiversidade, irrompemos n\u00f3s no cen\u00e1rio da evolu\u00e7\u00e3o. Seguramente dotados de uma singularidade, a de ter a capacidade de pensar, amar e cuidar. Mas isso n\u00e3o nos d\u00e1 o direito de nos julgarmos donos dessa realidade que nos antecedeu. A culmin\u00e2ncia da evolu\u00e7\u00e3o se deu com o surgimento da vida, e n\u00e3o com o ser humano. A vida humana \u00e9 um subcap\u00edtulo do cap\u00edtulo maior da vida.<\/p>\n
O segundo paradigma parte de que o ser humano \u00e9 o \u00e1pice da evolu\u00e7\u00e3o e todas as coisas est\u00e3o a sua disposi\u00e7\u00e3o para domin\u00e1-las e poder us\u00e1-las como bem lhe aprouver. Ele esquece que, para surgir, precisou de todos os fatores naturais anteriores a ele. Ele juntou-se ao que j\u00e1 existia, e n\u00e3o se colocou acima.<\/p>\n
As duas posi\u00e7\u00f5es t\u00eam representantes em todos os s\u00e9culos, com comportamentos muito diferentes entre si. A primeira posi\u00e7\u00e3o encontra seus melhores representantes no Oriente, com o budismo e as religi\u00f5es da \u00cdndia. Entre n\u00f3s, al\u00e9m de Bentham, Schopenhauer e Schweitzer, seu maior autor foi Francisco de Assis.<\/p>\n
O segundo paradigma, o ser humano como \u201cmestre e dono da natureza\u201d no dizer de Descartes, ganhou a hegemonia. V\u00ea a natureza de fora, n\u00e3o se sentindo parte dela, mas seu senhor. Est\u00e1 na raiz do antropocentrismo moderno. O ser humano dominou a natureza, submeteu povos e explorou todos os recursos poss\u00edveis da Terra, a ponto de hoje ela experimentar uma situa\u00e7\u00e3o cr\u00edtica de car\u00eancia de sustentabilidade. Seus representantes s\u00e3o os pais fundadores do paradigma moderno, como Newton, Francis Bacon e outros, bem como o industrialismo contempor\u00e2neo, que trata a natureza como mero balc\u00e3o de recursos, em vista do enriquecimento.<\/p>\n
O primeiro paradigma \u2013 o ser humano parte da natureza \u2013 vive uma rela\u00e7\u00e3o fraterna e amig\u00e1vel com todos os seres. Deve-se alargar o princ\u00edpio kantiano: n\u00e3o s\u00f3 o ser humano \u00e9 um fim em si mesmo, mas igualmente todos os viventes, e, por isso, devem ser respeitados. H\u00e1 um dado cient\u00edfico que favorece essa posi\u00e7\u00e3o. Ao se descodificar o c\u00f3digo gen\u00e9tico por Drick e Dawson, verificou-se que todos os seres vivos, da ameba mais origin\u00e1ria, passando pelas grandes florestas e pelos dinossauros e chegando at\u00e9 n\u00f3s, humanos, todos possuem o mesmo c\u00f3digo gen\u00e9tico de base. Nessa perspectiva, todos os seres, na medida em que s\u00e3o nossos primos e irm\u00e3os, s\u00e3o portadores de dignidade e direitos. Se a M\u00e3e Terra goza de direitos, eles, como partes vivas da Terra, participam desses direitos.<\/p>\n
O segundo paradigma \u2013 o ser humano senhor da natureza \u2013 tem uma rela\u00e7\u00e3o de uso com os demais seres e os animais. Se conhecemos os procedimentos da matan\u00e7a de bovinos e de aves, ficamos estarrecidos com os sofrimentos a que s\u00e3o submetidos. Adverte-nos o cacique Seatle (1854): \u201cQue \u00e9 o homem sem os animais? Se todos os animais se acabassem, o homem morreria de solid\u00e3o de esp\u00edrito. Porque tudo o que acontecer aos animais logo acontecer\u00e1 tamb\u00e9m ao homem. Tudo est\u00e1 relacionado entre si\u201d.<\/p>\n
Se n\u00e3o nos convertermos ao primeiro paradigma, continuaremos com a barb\u00e1rie contra nossos irm\u00e3os e irm\u00e3s da comunidade de vida: os animais. Na medida em que cresce a consci\u00eancia ecol\u00f3gica, mais e mais sentimos que somos parentes e assim nos devemos tratar, como s\u00e3o Francisco com o irm\u00e3o lobo de Gubbio e com os mais simples seres da natureza.<\/p>\n
Fonte: Leonardo Boff ( O Tempo)<\/p>\n