{"id":140355,"date":"2017-11-23T00:03:18","date_gmt":"2017-11-23T02:03:18","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=140355"},"modified":"2017-11-23T00:03:18","modified_gmt":"2017-11-23T02:03:18","slug":"os-impactos-da-black-friday-sobre-nosso-planeta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/11\/23\/140355-os-impactos-da-black-friday-sobre-nosso-planeta.html","title":{"rendered":"Os impactos da ‘Black Friday’ sobre nosso planeta"},"content":{"rendered":"
Dia desses, uma amiga perguntou-me de onde eu tiro tantas not\u00edcias para escrever aqui neste espa\u00e7o. N\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil, respondi. Al\u00e9m de ler muito a respeito, tenho uma rede de pessoas no Brasil, mundo afora, que me alimenta diariamente com reflex\u00f5es, casos, acontecimentos, discuss\u00f5es sobre aquecimento global, socioeconomia, tipos de desenvolvimento etc.<\/p>\n
O dif\u00edcil, sinceramente, \u00e9 tentar evitar o tom pessimista que a maioria dessas \u201cconversas\u201d traz em si. \u00c0s vezes eu at\u00e9 gostaria de ser mais alegre. Mas h\u00e1 um desencanto no mundo que se reflete diretamente nas not\u00edcias que leio. E n\u00e3o \u00e9 para menos. Como admitir, com naturalidade, a viol\u00eancia sem sentido feita contra os elefantes que o presidente\u00a0Trump acaba de permitir? <\/a>Vou ser clara: n\u00e3o \u00e9 nem s\u00f3\u00a0\u00a0porque a popula\u00e7\u00e3o de elefantes no mundo est\u00e1 em extin\u00e7\u00e3o que se deveria parar de ca\u00e7\u00e1-los e mandar suas cabe\u00e7as por avi\u00e3o para outros pa\u00edses. A quest\u00e3o \u00e9 mais s\u00e9ria, \u00e9 \u00e9tica: enquanto a humanidade tratar assim os animais, sinceramente, n\u00e3o vejo luz no fim do t\u00fanel para abrandar nossa vida no planeta.<\/p>\n Na rota dos criminosos est\u00e3o ainda os rinocerontes, pobres infelizes a quem a natureza resolveu adornar com um chifre que os humanos decidiram botar na lista de \u201csup\u00e9rfulos necess\u00e1rios\u201d. Em 2014, 1.215 desses bichos foram abatidos por criminosos na \u00c1frica do Sul.\u00a0O quilo do chifre de rinoceronte <\/a>vale US$ 60 mil.<\/p>\n E vejam s\u00f3 como as reflex\u00f5es sobre o desenvolvimento, englobando a\u00ed os cuidados ou n\u00e3o com o meio ambiente ao redor, acabam se encaixando. Ainda sob o impacto da not\u00edcia sobre a libera\u00e7\u00e3o da matan\u00e7a dos elefantes, busco a leitura do colunista George Monbiot, no jornal brit\u00e2nico \u201cThe Guardian\u201d, e ele est\u00e1 escrevendo exatamente sobre o consumo exagerado no mundo. Mas o que isso tem a ver com as mortes dos bichos? Tudo. Porque \u00e9 exatamente para acumular coisas que as pessoas querem joias e objetos, mesmo que, para obt\u00ea-las, seja necess\u00e1rio provocar o fim de uma vida.<\/p>\n O mote de Monbiot \u00e9 a Black Friday, a Sexta-Feira Negra. Desde os anos 50, para os norte-americanos, a sexta-feira que antecede o per\u00edodo das comprasnatalinas \u00e9 festejada com uma saraivada de pre\u00e7os abaixo daqueles que normalmente s\u00e3o cobrados. O h\u00e1bito come\u00e7ou nos Estados Unidos e, gra\u00e7as aos avan\u00e7os tecnol\u00f3gicos, se espalhou mundo afora. Se, l\u00e1 no in\u00edcio, era um tempo para comprar presentes para os parentes, agora j\u00e1 se tornou um momento de acumular besteiras, comprar coisas que um dia, certamente, ir\u00e3o para o lixo.<\/p>\n Monbiot cita algumas bugigangas que se candidatam, facilmente, a entulhar uma casa. Entre elas, acreditem, uma impressora alimentar capaz de \u201cimprimir panquecas distribuindo automaticamente a massa diretamente sobre uma grelha\u201d. Como diz Monbiot, n\u00e3o levar\u00e1 muito tempo at\u00e9 que a pessoa que consumir a tal quinquilharia perceba a inutilidade de uma m\u00e1quina dessas.<\/p>\n Quanto ao \u201cconsumo consciente\u201d, termo que se acostumou a empregar para identificar pessoas que t\u00eam cuidados na hora de comprar coisas para n\u00e3o impactar ainda mais o meio ambiente… bem, aqui tamb\u00e9m as not\u00edcias n\u00e3o s\u00e3o boas. Segundo v\u00e1rios estudos, n\u00e3o h\u00e1 uma diferen\u00e7a muito expressiva entre os consumistas e os consumistas conscientes. Um artigo recentemente publicado na revista\u00a0\u201cEnvironment and Behavior\u201d, <\/a>por exemplo, diz o seguinte: quem mais se preocupa com o meio ambiente s\u00e3o as pessoas que t\u00eam mais dinheiro. E essas pessoas, se por um lado podem reciclar meticulosamente todos os seus lixos, comprar produtos org\u00e2nicos e at\u00e9 evitam adquirir besteiras como a tal m\u00e1quina de fazer c\u00f3pia de panquecas, por outro viajam facilmente, e s\u00f3 a\u00ed j\u00e1 est\u00e3o ampliando bastante sua pegada de carbono.<\/p>\n A pergunta que se faz desde sempre quando se colocam quest\u00f5es relativas \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o ambiental e seus malef\u00edcios, \u00e9: \u201c\u00c9 poss\u00edvel desacoplar o crescimento dos impactos ao meio ambiente?\u201d N\u00e3o, garante Monbiot. E ele escreve isso com base num estudo divulgado no\u00a0jornal \u201cPlos One\u201d, <\/a>onde est\u00e1 claro que nenhum pa\u00eds conseguiu isso nos \u00faltimos 50 anos.<\/p>\n \u201cUma taxa de crescimento global de 3% significa que o tamanho da economia mundial se duplica a cada 24 anos. \u00c9 por isso que as crises ambientais est\u00e3o acelerando\u201d, disse ele.A quest\u00e3o \u00e9 que a humanidade quer crescer perpetuamente, mas se esquece de que o planeta n\u00e3o est\u00e1 crescendo na mesma velocidade nem na mesma medida que seus anseios.<\/p>\n Imposs\u00edvel, sendo assim, n\u00e3o lembrar os efeitos que esse jeito de viver est\u00e1 causando no meio ambiente. E l\u00e1 vem tristeza e m\u00e1s not\u00edcias. Uma cartilha lan\u00e7ada agora pela Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Organiza\u00e7\u00f5es N\u00e3o-Governamentais (Abong) em parceria com Iser Assessoria, lista algumas delas. Voc\u00eas sabiam, por exemplo, que no Haiti h\u00e1 hoje apenas 1% de florestas? E que alguns rios muito importantes n\u00e3o chegam mais ao seu destino, ou seja, ao mar, por conta de polui\u00e7\u00e3o causada por esgotos n\u00e3o tratados e agrot\u00f3xicos? Entre eles est\u00e3o o Colorado, nos Estados Unidos e o Rio Amarelo, na China.<\/p>\n \u201cOs mares est\u00e3o se degradando: pescamos demais, produzimos muito lixo e o descartamos em parte no oceano, enorme quantidade de esgoto n\u00e3o tratado \u00e9 jogado nos mares e afetamos seriamente os ecossistemas. A interfer\u00eancia da atividade humana tamb\u00e9m \u00e9 respons\u00e1vel pelo aumento das chamadas zonas mortas, por\u00e7\u00f5es de \u00e1gua com n\u00edveis de oxig\u00eanio t\u00e3o baixos que a exist\u00eancia de vida se torna imposs\u00edvel. Encontram-se, sobretudo, nas faixas oce\u00e2nicas costeiras e est\u00e3o crescendo a um ritmo de 5% ao ano. Este aumento est\u00e1 relacionado ao descarte de nitrog\u00eanio \u2013 em boa medida devido aos fertilizantes \u2013, mat\u00e9rias org\u00e2nicas \u2013 dejetos humanos \u2013 e sedimentos, que provocam a prolifera\u00e7\u00e3o de algas e a queda vertiginosa da concentra\u00e7\u00e3o de oxig\u00eanio\u201d, diz um trecho da cartilha, escrita por Ivo Lesbaupin.<\/p>\n Seguem-se outros tantos problemas, como polui\u00e7\u00e3o da terra, excesso de minera\u00e7\u00e3o, de lixo… Ora, mas \u00e9 poss\u00edvel se chegar a uma boa not\u00edcia? Algu\u00e9m est\u00e1 fazendo algo que possa dar um outro rumo, n\u00e3o s\u00f3 \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o ambiental, como tamb\u00e9m \u00e0 crise econ\u00f4mica e social que se agrava pelo mundo? Sim, h\u00e1, e a cartilha traz alguns desses exemplos.<\/p>\n A quest\u00e3o \u00e9 que j\u00e1 os conhecemos, de longa data. A\u00a0Rede Xingu, <\/a>que tem como objetivo dar condi\u00e7\u00f5es mais dignas aos ind\u00edgenas e, ao mesmo tempo, ajudar a preservar as matas.As\u00a0cisternas rurais, <\/a>programa que est\u00e1 sendo levado adiante pela Articula\u00e7\u00e3o do Semi\u00e1rido (ASA). Um projeto de microgera\u00e7\u00e3o de energias solar e e\u00f3lica em Juazeiro, na Bahia tamb\u00e9m \u00e9 citado.<\/p>\n S\u00e3o excelentes iniciativas que provam que \u00e9 tudo, ou quase tudo, uma quest\u00e3o de ter vontade para mudar, de verdade, o jeito de viver a vida. E, como est\u00e3o sempre encabe\u00e7ando lista de bons exemplos, vai dando a sensa\u00e7\u00e3o de que n\u00e3o h\u00e1 muitas outras.<\/p>\n Compartilho com voc\u00eas o desabafo de Monbiot:<\/p>\n \u201cPrecisamos de um sistema diferente, enraizado n\u00e3o em abstra\u00e7\u00f5es econ\u00f4micas, mas em realidades f\u00edsicas, que estabelecem os par\u00e2metros pelos quais julgamos sua sa\u00fade.\u00a0Precisamos construir um mundo em que o crescimento seja desnecess\u00e1rio, um mundo que n\u00e3o seja de mis\u00e9ria p\u00fablica e luxo privado.\u00a0\u00a0E devemos faz\u00ea-lo antes que a cat\u00e1strofe nos obrigue\u201d.<\/p>\n Fonte: Amelia Gonzales\u00a0 G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Dia desses, uma amiga perguntou-me de onde eu tiro tantas not\u00edcias para escrever aqui neste espa\u00e7o. N\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil, respondi. 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