{"id":140869,"date":"2017-12-18T00:00:48","date_gmt":"2017-12-18T02:00:48","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=140869"},"modified":"2017-12-17T23:31:37","modified_gmt":"2017-12-18T01:31:37","slug":"biologo-brasileiro-reune-imagens-de-todas-as-cobras-ja-identificadas-no-cerrado","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2017\/12\/18\/140869-biologo-brasileiro-reune-imagens-de-todas-as-cobras-ja-identificadas-no-cerrado.html","title":{"rendered":"Bi\u00f3logo brasileiro re\u00fane imagens de todas as cobras j\u00e1 identificadas no Cerrado"},"content":{"rendered":"

Ent\u00e3o, quando cursava Biologia, na mesma USP, em 1996, come\u00e7ou suas pesquisas sobre a diversidade de serpentes do bioma, o segundo maior do Brasil, com 22% do territ\u00f3rio nacional.<\/p>\n

O resultado desse trabalho \u00e9 o livro\u00a0Serpentes do Cerrado – Guia Ilustrado<\/em>, que registra em imagens todas as cobras identificadas at\u00e9 hoje na chamada savana brasileira.<\/p>\n

\"Apostolepis<\/p>\n

Image captionPesquisa sobre serpentes do bioma come\u00e7ou em 1996 | Foto: Divulga\u00e7\u00e3o<\/p>\n

A obra, produzida com seu colegas Otavio Augusto Violo Marques, do Instituto Butantan; Andr\u00e9 Eterifica, da Universidade Federal do ABC; e Ivan \u00c1zima, da Unicamp, re\u00fane 185 fotografias de 135 esp\u00e9cies de serpentes, muitas delas dif\u00edceis de serem encontradas e v\u00e1rias at\u00e9 mesmo na lista de esp\u00e9cies amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Algumas foram fotografadas no Instituto Butantan, mas a grande maioria foi mesmo capturadas no campo, em locais como o Parque Nacional das Emas e Chapada dos Veadeiros, em Goi\u00e1s; no Jalap\u00e3o, em Tocantins; na regi\u00e3o de Bras\u00edlia; na Chapada dos Guimar\u00e3es, no Mato Grosso; e no Parque Nacional Grande Sert\u00e3o Veredas, na divisa entre Minas Gerais e Bahia, entre outras.<\/p>\n

\"Serra<\/p>\n

Image captionJalap\u00e3o, na serra do Esp\u00edrito Santo \u00e9 um dos pontos onde s\u00e3o encontradas esp\u00e9cies com frequ\u00eancia | Foto: Divulga\u00e7\u00e3o<\/p>\n

“Os maiores obst\u00e1culos foram a imensa extens\u00e3o territorial do Cerrado, que cobre quase 2 milh\u00f5es de quil\u00f4metros quadrados, e a extrema dificuldade me encontrar serpentes na natureza”, conta Nogueira.<\/p>\n

“Cobras s\u00e3o o grupo de vertebrados mais dif\u00edcil de se amostrar em campo. Para um bom invent\u00e1rio desses animais, ainda mais em regi\u00f5es ricas como o Cerrado, onde uma mesma localidade pode abrigar at\u00e9 cerca de 60 esp\u00e9cies diferentes, s\u00e3o necess\u00e1rios muitos anos para que haja uma boa amostragem.”<\/p>\n

Ele conta que em um m\u00eas em campo s\u00f3 \u00e9 poss\u00edvel ver, em m\u00e9dia, de cinco a 10 esp\u00e9cimes, n\u00famero que, com muito trabalho e sorte, pode chegar a 20.<\/p>\n

\"Bothrops<\/p>\n

Segundo Nogueira, antes do seu trabalho, praticamente n\u00e3o se sabia nada sobre serpentes do Cerrado. Por isso, suas pesquisas procuraram determinar o n\u00famero de esp\u00e9cies existentes, quais as mais comuns e as mais raras, em que ambiente vivem, quantas e quais s\u00e3o end\u00eamicas (que s\u00f3 existem na regi\u00e3o), qual a sua dieta e quando e como se reproduzem. “S\u00e3o quest\u00f5es b\u00e1sicas de Hist\u00f3ria Natural, que n\u00e3o eram conhecidas”, diz.<\/p>\n

“Era como estudar dois temas cercados de total desconhecimento e muito preconceito. Primeiro, as pr\u00f3prias cobras, que por falta de conhecimento s\u00e3o tidas como animais perigosos e muitas vezes perseguidos. O segundo, o Cerrado, completamente desconhecido e desvalorizado dentro e fora do Brasil. Foi uma descoberta atr\u00e1s da outra.”<\/p>\n

O objetivo do trabalho de Nogueira n\u00e3o \u00e9 exclusivamente cient\u00edfico. “Tamb\u00e9m queremos ensinar as pessoas que encontram serpentes na natureza a identific\u00e1-las e conviver com elas”, explica. “No nosso trabalho percebemos que a popula\u00e7\u00e3o tem um desconhecimento muito grande sobre as cobras, o que gera um preconceito contra elas. Como n\u00e3o sabem diferenciar as venenosas das que n\u00e3o s\u00e3o, acaba matando todas que encontram, at\u00e9 mesmo alguns lagartos que, por n\u00e3o terem patas, s\u00e3o confundidos com serpentes.”<\/p>\n

\"Drymoluber<\/p>\n

De acordo com Nogueira, a maior parte das cobras do cerrado n\u00e3o s\u00e3o venenosas, mas mesmo assim s\u00e3o perseguidas e mortas, indiscriminadamente, em todas as \u00e1reas rurais onde foram feitos os estudos. Nesse sentido, o seu trabalho j\u00e1 trouxe resultados. “Ao mostrar as esp\u00e9cies aos moradores locais, ao explicar sua relev\u00e2ncia e que s\u00e3o, em geral inofensivas, muitas pessoas pararam de mat\u00e1-las em fazendas e localidades de estudo por onde andei ao longo de meu mestrado e doutorado”, conta.<\/p>\n

No \u00e1rea cient\u00edfica propriamente dita, o trabalho de Nogueira tamb\u00e9m trouxe resultados significativos, como a descoberta de esp\u00e9cies j\u00e1 amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o. \u00c9 o caso da corre-campo (Philodryas l\u00edvida), registrada pelo pesquisador no Parque Nacional das Emas. Como seu nome popular sugere, essa serpente vive em regi\u00f5es de campo, onde praticamente n\u00e3o h\u00e1 \u00e1gua e a vegeta\u00e7\u00e3o se limita a gram\u00edneas.<\/p>\n

“Essas \u00e1reas s\u00e3o as primeiras a desaparecer, para dar espa\u00e7o \u00e0 agricultura mecanizada”, diz. “S\u00e3o chapadas, planas, altas e f\u00e1ceis de operar as m\u00e1quinas, e, por isso, muito cobi\u00e7adas para produ\u00e7\u00e3o de milho e soja, por exemplo.”<\/p>\n

A descoberta de novas esp\u00e9cies de cobras foi outro resultado dos estudos de Nogueira, muitas ainda n\u00e3o descritas, sem nome cient\u00edfico dispon\u00edvel. “Houve tamb\u00e9m o encontro de esp\u00e9cies do g\u00eanero Siagonodon, como S. acutirostris”, diz. “Em geral s\u00e3o esp\u00e9cies foss\u00f3rias, ou seja, que vivem a maior parte do tempo sob o solo, em galerias subterr\u00e2neas, onde se alimentam e evitam os efeitos de varia\u00e7\u00e3o de umidade e de temperatura e da a\u00e7\u00e3o do fogo. \u00c9 uma adapta\u00e7\u00e3o importante, e muitas novas esp\u00e9cies nestes grupos v\u00eam sendo descobertas e depois descritas. A fauna fossorial \u00e9 bastante rica no cerrado.”<\/p>\n

\"Atractus<\/p>\n

Image captionParte das cobras foram fotografadas no Instituto Butantan, em S\u00e3o Paulo | Foto: Divulga\u00e7\u00e3o<\/p>\n

Segundo Nogueira, essas descobertas e os conhecimentos agregados ao longo deste trabalho serviram, por exemplo, para auxiliar a revis\u00e3o da lista brasileira de esp\u00e9cies amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o. Al\u00e9m disso, integraram tamb\u00e9m um estudo mundial recente mapeando, pela primeira vez, todas as esp\u00e9cies de r\u00e9pteis do planeta. “Nesse trabalho, o cerrado surgiu como uma zona de alta riqueza e relev\u00e2ncia”, diz o pesquisador. “Sem os estudos de base, como o nosso, teria sido um grande vazio nos mapas, uma ‘terra inc\u00f3gnita’, como era at\u00e9 bem recentemente.”<\/p>\n

Os bons resultados e o livro n\u00e3o encerram o trabalho de Nogueira, no entanto. “Ele ainda est\u00e1 em andamento”, diz. “Hoje passamos de uma fase de documenta\u00e7\u00e3o b\u00e1sica da diversidade para estudar a conserva\u00e7\u00e3o das serpentes, e para entender o papel delas e dos r\u00e9pteis em geral do cerrado no contexto de sua distribui\u00e7\u00e3o no planeta. No in\u00edcio era fazer o b\u00e1sico: quais s\u00e3o, onde est\u00e3o. Hoje, \u00e9 entender no contexto de conserva\u00e7\u00e3o da diversidade global de r\u00e9pteis, e tamb\u00e9m divulgar as descobertas para fora do meio cient\u00edfico, para o p\u00fablico geral, que se mostra muito interessado, sempre, em cobras.”<\/p>\n

Seus estudo o levam a fazer um alerta: caso n\u00e3o sejam tomadas medidas mais efetivas e en\u00e9rgicas para conservar o que restou do cerrado, hoje reduzido a menos de 30% de sua cobertura original nativa (tomada cada vez mais por monoculturas de gr\u00e3os, como soja, milho e sorgo), em breve ser\u00e1 perdida grande parte das esp\u00e9cies de flora e fauna end\u00eamicas da regi\u00e3o, incluindo boa parte de suas cobras.<\/p>\n

“Isso ser\u00e1 uma perda irrepar\u00e1vel, e teremos destru\u00eddo uma das regi\u00f5es mais ricas e intrigantes do planeta”, diz. “Como pesquisador desse bioma e de sua riqu\u00edssima diversidade biol\u00f3gica, me entristece muito ver que a savana mais biodiversa da Terra continua a ser desmatada em ritmo muito r\u00e1pido, desaparecendo numa taxa de perda muito superior \u00e0 verificada, por exemplo, na Amaz\u00f4nia.”<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Nascido e criado no Cerrado brasileiro, o bi\u00f3logo Cristiano de Campos Nogueira, do Departamento de Ecologia do Instituto de Bioci\u00eancias (IB) da USP, sempre se interessou pela regi\u00e3o, principalmente pelas cobras que l\u00e1 vivem. Na \u00e9poca de sua juventude, elas praticamente n\u00e3o eram estudadas. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[1518,1519,1520,1521],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/140869"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=140869"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/140869\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":140870,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/140869\/revisions\/140870"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=140869"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=140869"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=140869"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}