{"id":141340,"date":"2018-01-20T00:03:26","date_gmt":"2018-01-20T02:03:26","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=141340"},"modified":"2018-01-19T21:54:05","modified_gmt":"2018-01-19T23:54:05","slug":"projeto-iceberg-o-ambicioso-plano-da-russia-para-avancar-na-corrida-pelos-recursos-do-artico","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/01\/20\/141340-projeto-iceberg-o-ambicioso-plano-da-russia-para-avancar-na-corrida-pelos-recursos-do-artico.html","title":{"rendered":"Projeto Iceberg, o ambicioso plano da R\u00fassia para avan\u00e7ar na corrida pelos recursos do \u00c1rtico"},"content":{"rendered":"

Mas abaixo da superf\u00edcie de gelo, que varia de acordo com as esta\u00e7\u00f5es, a regi\u00e3o esconde um tesouro de recursos naturais.<\/p>\n

Estima-se que ali haja bilh\u00f5es de barris de petr\u00f3leo e trilh\u00f5es de metros c\u00fabicos de g\u00e1s natural em reservas ainda a serem descobertas.<\/p>\n

E uma superpot\u00eancia luta para ser a primeira a explor\u00e1-las: a R\u00fassia.<\/p>\n

D\u00e9cadas depois do colapso da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, Moscou embarcou em uma miss\u00e3o para perfurar o fundo do mar do \u00c1rtico, enviando uma frota de rob\u00f4s e embarca\u00e7\u00f5es n\u00e3o tripuladas ao local.<\/p>\n

Agora, depois de anos de perfura\u00e7\u00e3o na \u00e1rea, planeja usar uma tecnologia nunca antes vista para dar o pr\u00f3ximo passo.<\/p>\n

Bem-vindos ao Projeto Iceberg: um ambicioso plano para a utiliza\u00e7\u00e3o de tecnologia avan\u00e7ada em condi\u00e7\u00f5es extremas.<\/p>\n

Corrida antiga<\/h2>\n

A corrida pelos preciosos recursos do \u00c1rtico n\u00e3o \u00e9 nova. As reservas de g\u00e1s e petr\u00f3leo est\u00e3o cercadas por pa\u00edses poderosos – R\u00fassia, Dinamarca, Noruega, Estados Unidos e Canad\u00e1 disputam um peda\u00e7o desse tesouro.<\/p>\n

A pr\u00f3pria R\u00fassia vem perfurando a regi\u00e3o h\u00e1 d\u00e9cadas. Em agosto de 2007, enviou minissubmarinos ao Polo Norte, a 4,2 mil metros de profundidade, para colocar uma bandeira de tit\u00e2nio no fundo do mar e advogar para si o territ\u00f3rio.<\/p>\n

Agora, a comunidade global observa o pa\u00eds tentar expandir seu controle e sua influ\u00eancia sobre as \u00e1guas do \u00c1rtico.<\/p>\n

Da mesma forma que extrair petr\u00f3leo do Mar do Norte era considerado um desafio de engenharia nos anos 70, o \u00c1rtico apresenta in\u00fameros obst\u00e1culos. Com profundidades que chegam a at\u00e9 5 mil metros e em grande medida coberto de gelo, o oceano \u00e9 provavelmente o local mais dif\u00edcil do mundo para fazer perfura\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Mas jamais se tentou algo na linha do Projeto Iceberg.<\/p>\n

A Funda\u00e7\u00e3o para Estudos Avan\u00e7ados da R\u00fassia planeja “o desenvolvimento de campos de hidrocarbonetos com total autonomia sob a \u00e1gua, sob o gelo, nos mares do \u00c1rtico com condi\u00e7\u00f5es severas de gelo”.<\/p>\n

Em outras palavras: rob\u00f4s submarinos para buscar petr\u00f3leo.<\/p>\n

Mas h\u00e1 quem sugira que as metas propostas pelo Projeto Iceberg n\u00e3o s\u00e3o realistas e que poderiam ser uma cortina de fuma\u00e7a para o desenvolvimento de sistemas militares sob o gelo.<\/p>\n

Supersubmarinos e usinas nucleares debaixo d’\u00e1gua<\/h2>\n

A pe\u00e7a-chave \u00e9 Belgorod, o maior submarino nuclear j\u00e1 constru\u00eddo – s\u00e3o 182 metros de comprimento.<\/p>\n

A embarca\u00e7\u00e3o vai realizar an\u00e1lises submarinas e colocar cabos de comunica\u00e7\u00e3o sob o gelo, mas sua principal fun\u00e7\u00e3o ser\u00e1 servir de “navio-m\u00e3e” para uma frota de submarinos menores.<\/p>\n

“O Belgorod \u00e9 uma plataforma para o desenvolvimento de v\u00e1rios sistemas, incluindo aqueles que ainda n\u00e3o existem”, diz Vadim Kozyulin, analista de defesa do PIR Centre, um\u00a0think tank<\/em> focado em assuntos ligados \u00e0 seguran\u00e7a e sediado em Moscou.<\/p>\n

Esse \u00e9 o motivo por tr\u00e1s do tamanho gigantesco do submarino: a embarca\u00e7\u00e3o acaba de ganhar uma nova estrutura de 30 metros, com instala\u00e7\u00f5es de ancoragem para submarinos tripulados e n\u00e3o tripulados.<\/p>\n

Talvez o plano mais ambicioso do Projeto Iceberg seja o de que as primeiras usinas de energia nuclear funcionem como paradas para outros submarinos.<\/p>\n

Essas esta\u00e7\u00f5es de energia subaqu\u00e1ticas ser\u00e3o instaladas no fundo do mar e v\u00e3o funcionar como pontos de recarga para a passagem de submarinos n\u00e3o tripulados.<\/p>\n

O projeto atual consiste em um reator de 24 megawatts com uma vida \u00fatil de 25 anos. Cada um funcionar\u00e1 quase que inteiramente de forma aut\u00f4noma, recebendo a visita de t\u00e9cnicos uma vez por ano para manuten\u00e7\u00e3o de rotina.<\/p>\n

Mas a R\u00fassia possui um hist\u00f3rico ruim em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 seguran\u00e7a nuclear no mar, tendo perdido sete submarinos nucleares desde 1961, alguns deles por problemas de reator – os acidentes envolvendo navios operados pela antiga Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica representam 14 dos desastres nucleares mais graves ocorridos no mar.<\/p>\n

Em determinada ocasi\u00e3o, um submarino inteiro foi exposto a altos n\u00edveis de radia\u00e7\u00e3o, enquanto outro sofreu uma perda de refrigera\u00e7\u00e3o e uma fus\u00e3o parcial do reator. Um desses acidentes foi dramatizado no filme americano\u00a0K-19: The Widowmaker<\/em> (2002).<\/p>\n

A empresa de energia russa, a Nikiet, argumenta que a aus\u00eancia de operadores vai melhorar a seguran\u00e7a. Isso significa menos riscos de erros humanos, como o que causou o desastre de Chernobyl.<\/p>\n

Uma das teorias que explica a causa do maior desastre nuclear da hist\u00f3ria \u00e9 de que os operadores desligaram muitos dos sistemas de prote\u00e7\u00e3o do reator violando diretrizes t\u00e9cnicas.<\/p>\n

“Acredito que grande parte da tecnologia nuclear proposta aqui est\u00e1 amadurecida e bem compreendida”, diz William Nuttall, professor de energia da Open University, no Reino Unido.<\/p>\n

Eugene Shwageraus, do Centro de Energia Nuclear da Universidade de Cambridge, tamb\u00e9m no Reino Unido, diz que, mesmo n\u00e3o tripulado, o reator poderia ser supervisionado \u00e0 dist\u00e2ncia. Neste sentido, segundo ele, seria semelhante a muitos reatores modernos que exigem pouco envolvimento do operador no dia a dia.<\/p>\n

“Os reatores de hoje j\u00e1 s\u00e3o bastante ‘aut\u00f4nomos’, produzindo energia 24 horas por dia e durante sete dias por semana com operadores apenas observando as leituras dos instrumentos”, afirma.<\/p>\n

Os reatores subaqu\u00e1ticos est\u00e3o em est\u00e1gio avan\u00e7ado de desenvolvimento, e o objetivo \u00e9 que o primeiro entre em opera\u00e7\u00e3o at\u00e9 2020.<\/p>\n

O fator rob\u00f4<\/h2>\n

Embora haja seres humanos envolvidos nesse aspecto do projeto, muitas outras opera\u00e7\u00f5es de rotina ser\u00e3o realizadas apenas por rob\u00f4s.<\/p>\n

Os “cavalos de batalha” ser\u00e3o submarinos n\u00e3o tripulados em \u00e1guas profundas ou ve\u00edculos subaqu\u00e1ticos aut\u00f4nomos (AUVs).<\/p>\n

Os AUVs s\u00e3o atualmente usados em pequenos n\u00fameros por muitos pa\u00edses, e geralmente controlados de perto por operadores, em vez de circularem livremente. A R\u00fassia j\u00e1 esteve em desvantagem nessa \u00e1rea, mas parece ter se recuperado.<\/p>\n

O Harpsichord-2R-PM AUV foi desenvolvido para o Iceberg e pretende ser o precursor de uma fam\u00edlia de diferentes ve\u00edculos subaqu\u00e1ticos. Essa embarca\u00e7\u00e3o de duas toneladas, de 6 metros de comprimento (20 p\u00e9s) no formato de um torpedo est\u00e1 sendo testada no Mar Negro, mas tamb\u00e9m vem sendo usada para ajudar a recuperar destro\u00e7os de aeronaves.<\/p>\n

Em 2009, um desses AUVs localizou um avi\u00e3o da Marinha da R\u00fassia que caiu durante um voo teste, deixando 11 mortos.<\/p>\n

A queda aconteceu no mar de Sakhalin, uma ilha russa perto do Jap\u00e3o, mas a busca por seus destro\u00e7os foi dificultada pelo gelo e pelo clima adverso. A capacidade da AUV de operar sozinha embaixo d’\u00e1gua permitiu recuperar as caixas-pretas, necess\u00e1rias para ajudar a determinar as causas do acidente.<\/p>\n

Mas, apesar de sua fun\u00e7\u00e3o de monitoramento subaqu\u00e1tico, os AUVs nunca foram usados para perfurar o fundo do mar.<\/p>\n

Igor Vilnit, respons\u00e1vel pelo Escrit\u00f3rio de Desenho Central para Engenharia Mar\u00edtima Rubin, a maior empresa de design de submarinos da R\u00fassia, afirma que o objetivo \u00e9 ter um perfurador AUV em opera\u00e7\u00e3o nos pr\u00f3ximos cinco anos.<\/p>\n

No entanto, em meio \u00e0 perfura\u00e7\u00e3o e \u00e0 explora\u00e7\u00e3o subaqu\u00e1tica, h\u00e1 quest\u00f5es maiores que se estendem para al\u00e9m das tens\u00f5es pol\u00edticas.<\/p>\n

A mudan\u00e7a clim\u00e1tica est\u00e1 acelerando o derretimento das calotas do \u00c1rtico – e isso representa uma s\u00e9rie de desafios para os povos locais, bem como para a vida selvagem. Um exemplo s\u00e3o os ursos polares.<\/p>\n

Mas \u00e0 medida que as temperaturas mais altas derretem a cobertura de gelo do \u00c1rtico, deixando a regi\u00e3o mais acess\u00edvel \u00e0 a\u00e7\u00e3o humana, o aquecimento global tamb\u00e9m pode agravar a turbul\u00eancia pol\u00edtica na regi\u00e3o.<\/p>\n

Fortalecimento militar<\/h2>\n

Em uma entrevista a jornalistas em mar\u00e7o do ano passado, o vice-primeiro-ministro russo, Dmitry Rogozin, disse que o desenvolvimento do \u00c1rtico ajudaria a fortalecer as rela\u00e7\u00f5es com os pa\u00edses vizinhos. Segundo ele, a regi\u00e3o deveria ser um “territ\u00f3rio de paz e coopera\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n

Mas sua declara\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 consistente com outras atividades russas na \u00e1rea.<\/p>\n

Cerca de 50 ex-bases militares sovi\u00e9ticas foram recentemente reativadas. O Ex\u00e9rcito russo incorporou novas brigadas para o \u00c1rtico, chegando, inclusive, a exibir ve\u00edculos especiais militares para opera\u00e7\u00f5es polares na parada militar do ano passado.<\/p>\n

A frota marinha da R\u00fassia tamb\u00e9m vai ganhar seu pr\u00f3prio navio quebra-gelo de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o, assim como navios-patrulha adaptados \u00e0s condi\u00e7\u00f5es locais, essencialmente mini-quebra-gelos armados com m\u00edsseis.<\/p>\n

O Projeto Iceberg avan\u00e7a em meio \u00e0s san\u00e7\u00f5es impostas pelos pa\u00edses do Ocidente contra a R\u00fassia por causa da anexa\u00e7\u00e3o da pen\u00ednsula da Crimeia. As san\u00e7\u00f5es restringem o acesso que companhias russas de g\u00e1s e petr\u00f3leo t\u00eam \u00e0 tecnologia e \u00e0 ajuda financeira necess\u00e1rias para desenvolver po\u00e7os no \u00c1rtico.<\/p>\n

Apesar disso, a R\u00fassia decidiu prosseguir sozinha. No in\u00edcio do ano passado, o pa\u00eds iniciou uma complexa opera\u00e7\u00e3o de perfura\u00e7\u00e3o de uma pen\u00ednsula remota na extremidade do Mar de Laptev. O objetivo era alcan\u00e7ar reservas de petr\u00f3leo a 15 mil metros de profundidade sob o oceano congelado.<\/p>\n

Mas Kozyulin permanece c\u00e9tico quanto \u00e0 cadeia de esta\u00e7\u00f5es de carregamento de energia nuclear planejadas segundo as diretrizes do projeto. Segundo ele, essas esta\u00e7\u00f5es s\u00e3o “muito fantasiosas”. Ele se pergunta por que, sendo essa opera\u00e7\u00e3o supostamente comercial, companhias de petr\u00f3leo russas como a Gazprom n\u00e3o est\u00e3o envolvidas.<\/p>\n

Isso leva a crer, argumenta o especialista, que a verdadeira proposta do projeto \u00e9 militar. Os reatores subaqu\u00e1ticos poderiam ser usados, por exemplo, para prover energia a um sistema de monitoramento mar\u00edtimo planejado pela R\u00fassia, conhecido como Harmony, que detecta e rastreia submarinos da Otan (Organiza\u00e7\u00e3o do Tratado do Atl\u00e2ntico Norte).<\/p>\n

Em paralelo, a R\u00fassia est\u00e1 solicitando a expans\u00e3o de seu territ\u00f3rio submarino no \u00c1rtico junto \u00e0 Comiss\u00e3o dos Limites da Plataforma Continental da ONU. Tal reivindica\u00e7\u00e3o vai de encontro \u00e0 de outros pa\u00edses, incluindo o Canad\u00e1, diz Stephen Blank, especialista em R\u00fassia do\u00a0think tank<\/em> americano American Foreign Policy Council. A R\u00fassia foi bem-sucedida com alguns de seus pedidos no ano passado.<\/p>\n

“A Comiss\u00e3o concedeu \u00e0 R\u00fassia o direito a extensos territ\u00f3rios no Mar de Okhotsk (no Pac\u00edfico Ocidental) em 2013”, pondera. “Moscou rapidamente o converteu em um basti\u00e3o naval exclusivo. Isso provavelmente servir\u00e1 como um precedente em rela\u00e7\u00e3o ao \u00c1rtico”, acrescenta.<\/p>\n

Blank diz acreditar que o aumento do efetivo militar na regi\u00e3o se deve aos temores de que outros pa\u00edses cheguem primeiro aos recursos energ\u00e9ticos do \u00c1rtico.<\/p>\n

“N\u00e3o me surpreenderia se eles tamb\u00e9m tivessem mantido algum tipo de projeto secreto em \u00e1guas profundas por algum tempo”, afirma o especialista.<\/p>\n

\u00c9 dif\u00edcil dizer se o plano russo de explorar g\u00e1s e petr\u00f3leo no \u00c1rtico \u00e9 realista, ou se a R\u00fassia simplesmente quer proteger o territ\u00f3rio para que possa explor\u00e1-lo em algum momento no futuro.<\/p>\n

O que ningu\u00e9m deve duvidar \u00e9 da determina\u00e7\u00e3o de Moscou de ser pioneiro em se beneficiar da regi\u00e3o.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"