{"id":141460,"date":"2018-01-26T00:00:37","date_gmt":"2018-01-26T02:00:37","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=141460"},"modified":"2018-01-25T21:15:22","modified_gmt":"2018-01-25T23:15:22","slug":"morre-loba-que-inspirou-projeto-pioneiro","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/01\/26\/141460-morre-loba-que-inspirou-projeto-pioneiro.html","title":{"rendered":"Morre loba que inspirou projeto pioneiro"},"content":{"rendered":"
A loba-guar\u00e1, que passou um ano sendo treinada e cuidada para voltar \u00e0 natureza, morreu atropelada no dia 14 de janeiro em uma estrada rural no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra. Lobinha, como carinhosamente era chamada pelos pesquisadores, fazia parte de um projeto pioneiro de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa e Conserva\u00e7\u00e3o de Mam\u00edferos Carn\u00edvoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conserva\u00e7\u00e3o da Biodiversidade (ICMBio) e parceiros. O objetivo da pesquisa, uma atividade do Plano de A\u00e7\u00e3o para a Conserva\u00e7\u00e3o do Lobo-Guar\u00e1, coordenado pelo Cenap, era criar um protocolo de reabilita\u00e7\u00e3o comportamental para soltura de lobos-guar\u00e1s \u00f3rf\u00e3os, resgatados na natureza, depois de perderem seus pais ca\u00e7ados, nas queimadas, ou atropelados.<\/div>\n
A morte precoce da loba deixou todos na equipe do projeto muito tristes. “Ficamos devastados com essa trag\u00e9dia. Hoje digo que est\u00e1 muito dif\u00edcil de acreditar que um dia os lobos conseguir\u00e3o sobreviver a todas as amea\u00e7as que est\u00e3o sujeitos. Por\u00e9m, vamos continuar lutando para melhorar as condi\u00e7\u00f5es de sobreviv\u00eancia desta esp\u00e9cie”, afirma o pesquisador do Cenap, Rog\u00e9rio Cunha de Paula.<\/div>\n
Fazia quase dois meses que a lobinha tinha sido solta na Serra da Canastra, e estava sendo monitorada por um colar de GPS. “O colar nos enviou aviso de mortalidade e fomos atr\u00e1s para verificar, torcendo que fosse somente um mau funcionamento. Infelizmente, n\u00e3o foi. Ela sofreu um impacto, provavelmente por uma moto, e se arrastou para dentro do cafezal onde faleceu 30 minutos depois”, relata. O exame de necropsia, realizado poucas horas ap\u00f3s o resgate na Universidade de Franca, pelo veterin\u00e1rio respons\u00e1vel do projeto, Pedro Teles, indicou um alto impacto no corpo do animal. Foram fraturas em cinco costelas, les\u00f5es graves no pulm\u00e3o que gerou hemorragia e provocou asfixia.<\/div>\n
\u201cEla estava com um estado de sa\u00fade bom, musculatura apropriada, forte, saud\u00e1vel. Estava com o est\u00f4mago e intestino bem cheios, sinal que estava se alimentando bem\u201d, lamenta o veterin\u00e1rio Pedro Teles. Os dados de movimenta\u00e7\u00e3o e atividade enviados pelo colar confirmam essa constata\u00e7\u00e3o. \u201cEla ainda se encontrava em per\u00edodo de explora\u00e7\u00e3o, o que \u00e9 normal nos primeiros meses ap\u00f3s a soltura de animais reintroduzidos, por\u00e9m seus padr\u00f5es de atividade j\u00e1 assemelhavam com o dos lobos adultos da regi\u00e3o\u201d, ressalta Rog\u00e9rio. Segundo ele, esses indicativos apontam para o sucesso dos esfor\u00e7os do treinamento.<\/div>\n
\"localizacoes<\/div>\n
A esp\u00e9cie, um dos \u00edcones da biodiversidade do Cerrado, corre risco de extin\u00e7\u00e3o, e os atropelamentos s\u00e3o hoje uma das maiores amea\u00e7as \u00e0 sua sobreviv\u00eancia. \u201cSempre que se fala em atropelamento, pensamos numa rodovia, e n\u00e3o numa estradinha rural de terra. Quantos outros bichos n\u00e3o estar\u00e3o morrendo desse mesmo jeito por a\u00ed, sem a gente ficar sabendo?\u201d, indaga Rog\u00e9rio. O acidente reacende uma quest\u00e3o importante, a da dr\u00e1stica redu\u00e7\u00e3o de popula\u00e7\u00f5es de esp\u00e9cies amea\u00e7adas nas estradas de todo pa\u00eds. O caso da Lobinha alerta que os levantamentos de animais atropelados podem estar muito subestimados.<\/div>\n
O projeto, conduzido com extremo rigor t\u00e9cnico, aproveitando dados cient\u00edficos existentes para reabilita\u00e7\u00e3o comportamental e informa\u00e7\u00f5es coletadas a partir de lobos monitorados na regi\u00e3o, foi desenvolvido pelos pesquisadores do ICMBio, do Instituto Pr\u00f3-Carn\u00edvoros e da Universidade de Franca (SP). “A iniciativa deu certo, tivemos sucesso na primeira fase do projeto, a da prepara\u00e7\u00e3o do animal para a vida livre. Durante esse per\u00edodo, levantamos muitas informa\u00e7\u00f5es, pesquisamos mais sobre a esp\u00e9cie”, ressalta.<\/div>\n
Hist\u00f3ria –<\/strong> A loba foi resgatada ainda filhote depois que os pais desapareceram em meio a uma queimada em um canavial no interior de S\u00e3o Paulo em agosto de 2016. Assim, come\u00e7ou a hist\u00f3ria da lobinha, que foi resgatada com apenas 4 meses de vida. Os pesquisadores sabiam que ela n\u00e3o sobreviveria por conta pr\u00f3pria nessa idade. Ela seria, como \u00f3rf\u00e3os de lobos resgatados, incorporada ao plantel de alguma institui\u00e7\u00e3o mantenedora de animais em cativeiro. Buscando solucionar o problema da redu\u00e7\u00e3o das popula\u00e7\u00f5es de lobo pela retirada de filhotes e jovens, os pesquisadores decidiram inovar. Cuidaram do animal para que ele pudesse retornar \u00e0 natureza. No per\u00edodo de semi-cativeiro (em um cercado de 2.600 m2 em uma \u00e1rea natural) no munic\u00edpio de S\u00e3o Roque de Minas, aos p\u00e9s da Serra da Canastra, ela recebeu frutos colhidos na regi\u00e3o, treinamento para ca\u00e7ar e acompanhamento peri\u00f3dico de sua sa\u00fade. Assim, ela foi treinada a sobreviver.<\/div>\n
Depois de quase um ano, no dia 2 de dezembro, os pesquisadores abriram o port\u00e3o do recinto de treinamento, libertando a loba para reencontrar a liberdade e viver em meio a natureza. “Durante esse per\u00edodo, ela atendeu todas as marcas esperadas para ganhar sua liberdade. Seu comportamento de ca\u00e7a era impec\u00e1vel, sua sa\u00fade era perfeita”, conta o pesquisador. Infelizmente, depois de todo o esfor\u00e7o realizado de ambos os lados, de todos esses cuidados e treinada para sobreviver em seu habitat natural, a pesquisa foi abreviada por um acidente, que encerrou o projeto e as muitas possibilidades que Lobinha traria para a ci\u00eancia e conserva\u00e7\u00e3o dos lobos-guar\u00e1s do Brasil. No entanto, o per\u00edodo em que ela viveu livre, atestou o sucesso do projeto e reacendeu uma grande esperan\u00e7a para os \u00f3rf\u00e3os. Gra\u00e7as ao caminho trilhado por Lobinha em seus 20 meses de vida, todos eles poder\u00e3o ter suas segundas chances.<\/div>\n

Fonte: ICMBio<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"