{"id":141534,"date":"2018-01-30T00:03:57","date_gmt":"2018-01-30T02:03:57","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=141534"},"modified":"2018-01-29T20:52:55","modified_gmt":"2018-01-29T22:52:55","slug":"cientistas-correm-contra-o-tempo-para-estudar-animal-simbolo-do-brasil-ameacado-de-extincao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/01\/30\/141534-cientistas-correm-contra-o-tempo-para-estudar-animal-simbolo-do-brasil-ameacado-de-extincao.html","title":{"rendered":"Cientistas correm contra o tempo para estudar animal s\u00edmbolo do Brasil amea\u00e7ado de extin\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"
A experi\u00eancia descrita acima foi uma das raras oportunidades de estudar uma esp\u00e9cie que existe apenas no Brasil e que, apesar de ser simb\u00f3lica – a ponto de ter sido escolhida como mascote da Copa do Mundo de 2014 -, \u00e9 muito pouco conhecida pelos cientistas, que correm contra o tempo para evitar que ela seja extinta.<\/p>\n
N\u00e3o h\u00e1 n\u00fameros precisos sobre a quantidade de tatus-bolas (Tolypeutes tricinctus<\/em>) restante na Caatinga brasileira, seu habitat nativo, mas h\u00e1 estimativas de que ela esteja reduzida a menos de 1% de sua popula\u00e7\u00e3o original. E os temores s\u00e3o de que o animal possa ser extinto nos pr\u00f3ximos 50 anos.<\/p>\n “\u00c9 uma esp\u00e9cie amea\u00e7ada pelo desmatamento da Caatinga para a agropecu\u00e1ria e porque \u00e9 muito ca\u00e7ada. O tatu-bola fornece quase 1,5 kg de prote\u00edna animal em uma \u00e1rea muito pobre”, explica \u00e0 BBC Brasil Flavia Miranda, coordenadora-t\u00e9cnica do Programa de Conserva\u00e7\u00e3o do Tatu-bola, iniciado h\u00e1 dois anos pela ONG Associa\u00e7\u00e3o Caatinga, com financiamento privado da Funda\u00e7\u00e3o Grupo Botic\u00e1rio.<\/p>\n Segundo ela, esse \u00e9 o primeiro estudo de longo prazo da esp\u00e9cie na Caatinga, que servir\u00e1 para mapear tanto a presen\u00e7a do tatu na natureza quanto para identificar suas principais amea\u00e7as.<\/p>\n Agora, a expectativa \u00e9 de que a cria\u00e7\u00e3o de uma unidade de conserva\u00e7\u00e3o ambiental no munic\u00edpio de Buriti dos Montes, no leste do Piau\u00ed, auxilie as pesquisas sobre o mam\u00edfero ao criar uma \u00e1rea protegida para essa e outras esp\u00e9cies.<\/p>\n Trata-se do Parque Estadual do C\u00e2nion do Rio Poti, \u00e1rea de 24 mil hectares implementada pelo governo piauiense em outubro passado, com base em projetos de preserva\u00e7\u00e3o de pinturas rupestres existentes em s\u00edtios arqueol\u00f3gicos no local e tamb\u00e9m da conserva\u00e7\u00e3o do tatu-bola e de nascentes de rios.<\/p>\n \u00c9 ali que os pesquisadores da Associa\u00e7\u00e3o Caatinga esperam encontrar mais esp\u00e9cimes do tatu-bola em sua pr\u00f3xima expedi\u00e7\u00e3o, planejada para o semestre que vem.<\/p>\n “\u00c9 um animal ainda muito misterioso”, aponta Miranda. “Conhe\u00e7o no m\u00e1ximo dois ou tr\u00eas estudos em andamento sobre ele. \u00c9 muito dif\u00edcil encontr\u00e1-lo, porque a Caatinga \u00e9 um ambiente quente, \u00e1rido, sem \u00e1gua. E ele costuma sair \u00e0 noite, provavelmente por causa da temperatura. Tamb\u00e9m \u00e9 um ambiente menos glamouroso (do que outras \u00e1reas mais estudadas, como a Amaz\u00f4nia), assim como o pr\u00f3prio tatu-bola.”<\/p>\n O que se sabe \u00e9 que a esp\u00e9cie existe h\u00e1 cerca de 50 milh\u00f5es de anos e tem importante fun\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica: como animal cavador, ajuda a remexer o solo e fertiliz\u00e1-lo, al\u00e9m de ser predador de insetos. “Tamb\u00e9m \u00e9 uma importante presa, servindo de alimento para animais maiores”, diz Miranda.<\/p>\n O tatu-bola se destaca sobretudo por seu formato peculiar: diante da amea\u00e7a de predadores, ele enrola seu corpo e fica protegido por seu casulo. \u00c9 a \u00fanica esp\u00e9cie mam\u00edfera com essa caracter\u00edstica.<\/p>\n Mas essa vantagem evolutiva tem um lado negativo: se o tatu em formato “bolinha” fica protegido dos demais animais, tamb\u00e9m fica mais f\u00e1cil de ser capturado pelo homem, para ser cozido vivo seja para subsist\u00eancia ou para a venda.<\/p>\n “\u00c9 justamente isso o que leva ao seu decl\u00ednio. Ele fica supervulner\u00e1vel \u00e0 a\u00e7\u00e3o humana”, explica a pesquisadora.<\/p>\n Hoje, o tatu-bola \u00e9 citado como “vulner\u00e1vel” na lista de esp\u00e9cies mais amea\u00e7adas do planeta, segundo compila\u00e7\u00e3o da Uni\u00e3o Internacional para a Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza (IUCN, na sigla em ingl\u00eas).<\/p>\n Por isso, o plano de conserva\u00e7\u00e3o do animal, feito em 2014 pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio, ligado ao governo federal), inclui ainda a fiscaliza\u00e7\u00e3o e a aproxima\u00e7\u00e3o com a comunidade local, para desencorajar a ca\u00e7a do animal. A longo prazo, espera-se que a cria\u00e7\u00e3o do parque estadual tamb\u00e9m estimule o ecoturismo e traga novas fontes de renda a essa popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n O plano do ICMBio aponta que a escassez de informa\u00e7\u00f5es dispon\u00edveis sobre o tatu-bola “dificulta as estrat\u00e9gias de conserva\u00e7\u00e3o”, mas reitera que a esp\u00e9cie vive “constantes press\u00f5es no ambiente que habita, amea\u00e7ando sua sobreviv\u00eancia”.<\/p>\n O animal tamb\u00e9m \u00e9 importante por ser considerado uma esp\u00e9cie “guarda-chuva”, ou seja, os esfor\u00e7os para proteg\u00ea-lo tendem a abarcar indiretamente outros animais amea\u00e7ados na Caatinga, como o urubu-rei, morcegos e felinos.<\/p>\n Para que isso ocorra, ser\u00e1 preciso que o parque estadual rec\u00e9m-criado seja, de fato, um espa\u00e7o protegido, diz Miranda, afirmando que muitas unidades de conserva\u00e7\u00e3o ambiental brasileiras acabam ficando s\u00f3 no papel.<\/p>\n “A cria\u00e7\u00e3o de um parque \u00e9 o primeiro passo. Agora, a briga \u00e9 para que haja guarda-parque, manuten\u00e7\u00e3o, normativas, coisas que d\u00e3o menos visibilidade pol\u00edtica”, diz.<\/p>\n Segundo o secret\u00e1rio estadual de Meio Ambiente do Piau\u00ed, Ziza Carvalho, essa preocupa\u00e7\u00e3o estar\u00e1 presente no plano de manejo do parque, ainda em fase de elabora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n “Criamos o parque por decreto e agora estamos na fase de desapropria\u00e7\u00e3o de duas fazendas (localizadas dentro da unidade de conserva\u00e7\u00e3o), amigavelmente. O passo seguinte \u00e9 o plano de manejo, com sinaliza\u00e7\u00e3o, abertura de trilhas, treinamento de guias e gest\u00e3o do parque, para mostrar a presen\u00e7a do Estado ali, do ponto de vista ambiental”, diz \u00e0 BBC Brasil.<\/p>\n Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Em uma \u00e1rea isolada de Caatinga entre o Piau\u00ed e o Cear\u00e1, um grupo de quatro cientistas sai \u00e0 noite para longas caminhadas, acompanhado de c\u00e3es farejadores e moradores locais. S\u00e3o necess\u00e1rias 12 madrugadas de buscas para encontrar cinco tatus-bolas – que t\u00eam o habitat analisado, as medidas tiradas e as amostras de sangue, recolhidas naquela que \u00e9 uma das principais expedi\u00e7\u00f5es do tipo j\u00e1 realizadas.<\/p>\nVulner\u00e1vel \u00e0 a\u00e7\u00e3o humana<\/h2>\n
Guarda-chuva<\/h2>\n