{"id":141561,"date":"2018-01-31T00:03:14","date_gmt":"2018-01-31T02:03:14","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=141561"},"modified":"2018-01-30T21:42:00","modified_gmt":"2018-01-30T23:42:00","slug":"pesquisa-brasileira-tenta-provar-que-o-homem-chegou-a-antartida-antes-do-descobrimento-oficial","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/01\/31\/141561-pesquisa-brasileira-tenta-provar-que-o-homem-chegou-a-antartida-antes-do-descobrimento-oficial.html","title":{"rendered":"Pesquisa brasileira tenta provar que o homem chegou \u00e0 Ant\u00e1rtida antes do ‘descobrimento oficial’"},"content":{"rendered":"
Em uma saga que come\u00e7ou h\u00e1 mais de 20 anos, o arque\u00f3logo argentino Andr\u00e9s Zarankin, professor da UFMG, capitaneia uma equipe com outros cinco pesquisadores que embarca no pr\u00f3ximo dia 3 para cerca de 40 dias de expedi\u00e7\u00e3o pelo continente de gelo.<\/p>\n
A expectativa \u00e9 seguir coletando ind\u00edcios que provem que a Ant\u00e1rtida teve presen\u00e7a humana anterior \u00e0 escrita oficial, ou seja, muito antes das famosas expedi\u00e7\u00f5es de europeus no s\u00e9culo 19 e in\u00edcio do s\u00e9culo 20.<\/p>\n
No ano passado, por exemplo, os pesquisadores encontraram restos de sapatos e garrafas de vinho e cerveja que provavelmente foram deixados ali por ca\u00e7adores de focas, baleias e le\u00f5es-marinhos do fim do s\u00e9culo 18.<\/p>\n
“Atualmente se sabe que os primeiros grupos a ocuparem o continente, a fins do s\u00e9culo 18 ou in\u00edcio do 19, foram os ca\u00e7adores de mam\u00edferos marinhos de diversas nacionalidades que formavam parte das tripula\u00e7\u00f5es e navios de companhias privadas e viajavam at\u00e9 l\u00e1 para obter peles e gorduras desses animais”, explica o professor.<\/p>\n
“Da pele desses animais eram fabricadas roupas no com\u00e9rcio europeu e chin\u00eas; e da gordura, era manufaturado um \u00f3leo utilizado para ilumina\u00e7\u00e3o p\u00fablica urbana e como lubrificantes das m\u00e1quinas das ind\u00fastrias em expans\u00e3o. As informa\u00e7\u00f5es sobre esses grupos, assim como os vest\u00edgios materiais deixados pelos mesmos, foram e s\u00e3o encontradas nos s\u00edtios arqueol\u00f3gicos.”<\/p>\n
Ou seja, antes das hist\u00f3rias de ilustres expedicion\u00e1rios europeus, como o registro do capit\u00e3o ingl\u00eas William Smith (1790-1847) que, em 1819, chegou at\u00e9 as ilhas Shetlands do Sul e acabou galgando seu lugar na historiografia oficial como o primeiro homem a pisar na Ant\u00e1rtida.<\/p>\n
Ou ainda do noruegu\u00eas Roald Amundsen (1872-1928), o primeiro a pisar no Polo Sul, em 1911. Ou o brit\u00e2nico Robert Scott (1868-1912), que foi \u00e0 Ant\u00e1rtida em duas expedi\u00e7\u00f5es, a primeira em 1901.<\/p>\n
A pesquisa coordenada por Zarankin foi criada em 1995 a partir de um descobrimento por acaso de restos arqueol\u00f3gicos na Ant\u00e1rtida \u2013 um material precioso encontrado por ge\u00f3logos argentinos.<\/p>\n
H\u00e1 dez anos o projeto integra o Proantar, o Programa Ant\u00e1rtico Brasileiro. Toda a pesquisa, que j\u00e1 acumula mais de mil itens coletados, \u00e9 liderada pelo Laborat\u00f3rio de Estudos Ant\u00e1rticos em Ci\u00eancias Humanas da UFMG, o Leach.<\/p>\n
Expedi\u00e7\u00f5es\u00a0in loco<\/em> s\u00e3o organizadas e realizadas praticamente todos os anos, sobretudo nas ilhas Shetland do Sul, consideradas \u00e1rea de grande biodiversidade. “Parte de nossa equipe esteve l\u00e1 em novembro e encontrou novos s\u00edtios arqueol\u00f3gicos. Agora vamos escane\u00e1-los”, conta o pesquisador.<\/p>\n Hoje, eles est\u00e3o se dedicando a utilizar um equipamento que captura imagens em 3D desses locais. Gra\u00e7as a uma parceria com o Google, em breve qualquer pessoa poder\u00e1 conferir, via internet, como s\u00e3o esses locais de pesquisa.<\/p>\n “Isso representa importante passo para a democratiza\u00e7\u00e3o do conhecimento e preserva\u00e7\u00e3o da mem\u00f3ria da Ant\u00e1rtida”, diz Zarankin.<\/p>\n Para o professor, fazer pesquisas arqueol\u00f3gicas em condi\u00e7\u00f5es abaixo de zero tem uma boa vantagem: a conserva\u00e7\u00e3o do material. Afinal, a Ant\u00e1rtida funciona como um grande freezer. “Trata-se de um ambiente capaz de preservar objetos org\u00e2nicos que, em outros lugares do mundo, desapareceriam em dez anos”, explica.<\/p>\n Academicamente, os resultados dessa empreitada ant\u00e1rtica j\u00e1 rendem bons frutos. \u00c9 o caso da tese defendida em junho de 2015 por Gerusa de Alkmim Radicchi, no Programa de P\u00f3s-Gradua\u00e7\u00e3o em Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ci\u00eancias Humanas da UFMG.<\/p>\n Ela estudou os sapatos utilizados pelos ca\u00e7adores no s\u00e9culo 19 nas ilhas Shetland do Sul. A pesquisadora utilizou parte do acervo coletado nas expedi\u00e7\u00f5es \u00e0 Ant\u00e1rtida e analisou como os cal\u00e7ados eram incorporados ao cotidiano desses homens.<\/p>\n “Os modelos e a forma de utiliza\u00e7\u00e3o sinalizam produ\u00e7\u00e3o em massa e consumo padronizado. Eles trazem marcas de intenso uso e reparos. O pequeno tamanho dos cal\u00e7ados pode ser uma evid\u00eancia da baixa faixa et\u00e1ria dos ca\u00e7adores”, relata a pesquisadora.<\/p>\n Radicchi concluiu que os sapatos foram feitos artesanalmente, j\u00e1 que n\u00e3o encontrou evid\u00eancias de uso de m\u00e1quinas de costura ou outras tecnologias.<\/p>\n Os lobeiros-baleeiros tinham diferentes nacionalidades: havia americanos, ingleses, espanh\u00f3is, portugueses, a\u00e7orianos, cabo-verdianos, argentinos e brasileiros, entre outros. Eram contratados por companhias internacionais, geralmente dos EUA.<\/p>\n Eles eram, em geral, jovens adultos ou at\u00e9 mesmo adolescentes. Ficavam atra\u00eddos por promessas de ganhos exorbitantes nessas expedi\u00e7\u00f5es, j\u00e1 que tinham uma pequena participa\u00e7\u00e3o nos lucros do que fosse conseguido. Entretanto, como precisavam pagar por todo o material e despesas pessoais em um endividamento pr\u00e9vio, anterior \u00e0 viagem, acabavam ficando com um saldo final pequeno.<\/p>\n Durante a empreitada, era comum que os sapatos ficassem para tr\u00e1s, j\u00e1 que acabavam extremamente gastos, cheios de consertos e remendos, segundo a pesquisadora. Por isso, \u00e9 grande a quantidade desse tipo de material encontrada pelos arque\u00f3logos.<\/p>\n Em outro trabalho, que resultou em disserta\u00e7\u00e3o de mestrado defendida na mesma UFMG em 2014, a antrop\u00f3loga Mar\u00eda Jimena Cruz investigou o que esses ca\u00e7adores de focas e lobos comiam e o que ca\u00e7avam.<\/p>\n H\u00e1 vest\u00edgios de garrafas que, ap\u00f3s an\u00e1lises, os pesquisadores conclu\u00edram se tratar de antigos recipientes para cerveja. Tamb\u00e9m foram encontrados res\u00edduos de cereais, como milho e trigo.<\/p>\n J\u00e1 a pesquisadora Sarah Viana Hissa focou seus estudos em buscar entender como os oper\u00e1rios conseguiam perceber o tempo – mesmo em uma terra onde n\u00e3o h\u00e1 noite no ver\u00e3o.<\/p>\n Ela concluiu que, ao contr\u00e1rio da vida nas cidades, onde o dia a dia j\u00e1 era controlado por uma rotina estanque entre trabalho, lazer e descanso, tudo sob o rel\u00f3gio, os ca\u00e7adores acabavam concentrando longas e intensas jornadas de ca\u00e7adas – que, depois, eram compensadas com dias de descanso.<\/p>\n As marcas do tempo tamb\u00e9m eram observadas por eles a partir dos desgastes dos materiais – afinal, uma vez terminados os provimentos, era hora inevit\u00e1vel de voltar para casa.<\/p>\n Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Um grupo de arque\u00f3logos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) est\u00e1 ajudando a reescrever a hist\u00f3ria daquele que \u00e9 o continente mais misterioso do mundo: a g\u00e9lida e ainda pouqu\u00edssimo explorada Ant\u00e1rtida.<\/p>\nPegadas do passado<\/h2>\n