{"id":141729,"date":"2018-02-08T00:02:07","date_gmt":"2018-02-08T02:02:07","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=141729"},"modified":"2018-02-07T22:13:01","modified_gmt":"2018-02-08T00:13:01","slug":"o-que-pode-detonar-uma-epidemia-urbana-de-febre-amarela","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/02\/08\/141729-o-que-pode-detonar-uma-epidemia-urbana-de-febre-amarela.html","title":{"rendered":"O que pode detonar uma epidemia urbana de febre amarela"},"content":{"rendered":"
Por enquanto, o Brasil s\u00f3 vem registrando casos de contamina\u00e7\u00e3o por mosquitos dos g\u00eaneros Haemagogus <\/em>e Sabethes, que s\u00e3o silvestres – ou seja, vivem em florestas. Ao longo de 2017, foram confirmados 779 casos de febre amarela, 262 deles resultando em mortes.<\/p>\n O surto poderia ser muito mais mortal se pessoas estivessem sendo infectadas dentro de centros urbanos, n\u00e3o apenas em \u00e1reas de parques e florestas. Mas nesta semana, um caso de infec\u00e7\u00e3o em S\u00e3o Bernardo do Campo, no ABC Paulista, acendeu um sinal de alerta.<\/p>\n A prefeitura informou que um homem de 35 anos teria sido contaminado na cidade, e n\u00e3o em \u00e1rea de mata. Mas o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade esclareceu, depois, que o paciente trabalharia em uma \u00e1rea rural, embora morasse em bairro urbano. E que testes precisariam ser feitos para verificar se, de fato, ele foi infectado pelo\u00a0Aedes aegypti<\/em>. A pasta disse considerar “baix\u00edssima” a possibilidade de haver infec\u00e7\u00e3o urbana.<\/p>\n Diante desse cen\u00e1rio, a BBC Brasil conversou com especialistas para saber o que poderia causar um surto de febre amarela nas cidades do pa\u00eds. A falta de controle do Aedes e uma s\u00e9rie de fatores seriam necess\u00e1rios para que isso ocorresse.<\/p>\n Uma das diferen\u00e7as centrais entre a febre amarela urbana e a silvestre est\u00e1 nos mosquitos que transmitem o v\u00edrus em cada ambiente.<\/p>\n Enquanto nas florestas insetos dos g\u00eaneros Haemagogus<\/em>e Sabethes<\/em>disseminam a doen\u00e7a, nas cidades o\u00a0Aedes aegypti<\/em>, vetor da dengue, zika e chikungunya, \u00e9 a esp\u00e9cie com potencial de transmiss\u00e3o do v\u00edrus.<\/p>\n Vale lembrar que os mosquitos silvestres t\u00eam predile\u00e7\u00e3o por sangue de macacos e o Aedes, pelo humano – essas prefer\u00eancias vem de milh\u00f5es de anos de evolu\u00e7\u00e3o e adapta\u00e7\u00e3o gen\u00e9tica desses dois tipos de inseto.<\/p>\n De acordo com pesquisador Ricardo Louren\u00e7o, chefe do Laborat\u00f3rio de Mosquitos Transmissores de Hematozo\u00e1rios do Instituto Oswaldo Cruz, ser\u00e1 necess\u00e1rio fazer tr\u00eas tipos de investiga\u00e7\u00e3o para determinar se o homem de S\u00e3o Bernardo do Campo foi infectado pelo mosquito\u00a0Aedes aegypti<\/em>:<\/p>\n – Mapear a rotina do paciente, para saber se ele passou por zonas onde existe a presen\u00e7a de mosquitos silvestres, de macacos ou de outras pessoas infectadas. \u00c9 o que os infectologistas chamam de investiga\u00e7\u00e3o epidemiol\u00f3gica.<\/p>\n – Detectar o momento exato de apresenta\u00e7\u00e3o dos primeiros sintomas, para estimar o momento em que houve a contamina\u00e7\u00e3o pela picada do mosquito.<\/p>\n – Coletar e examinar mosquitos que habitam as \u00e1reas por onde o homem infectado passou, para verificar quais esp\u00e9cies apresentam o v\u00edrus – a chamada investiga\u00e7\u00e3o “entomol\u00f3gica”.<\/p>\n A partir dessas an\u00e1lises seria poss\u00edvel, segundo Louren\u00e7o, identificar se mosquitos silvestres ou urbanos infectaram o paciente.<\/p>\n Segundo o pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, alguns fatores combinados precisam estar presentes para que o\u00a0Aedes aegypti<\/em> passe a transmitir febre amarela nas cidades.<\/p>\n Primeiro, seria preciso que uma pessoa infectada com alta concentra\u00e7\u00e3o do v\u00edrus no sangue entrasse em uma \u00e1rea com grande infesta\u00e7\u00e3o de\u00a0Aedes aegypti<\/em>. \u00c9 importante lembrar que um mosquito n\u00e3o necessariamente \u00e9 infectado ao picar uma pessoa doente, ou contrai uma quantidade suficiente do v\u00edrus para pass\u00e1-lo adiante.<\/p>\n E, para que o v\u00edrus se propague a ponto de causar um surto urbano, os Aedes infectados por essa primeira pessoa teriam que estar pr\u00f3ximos a popula\u00e7\u00f5es humanas vulner\u00e1veis a ele, ou seja, que n\u00e3o tenham tomado a vacina.<\/p>\n Ap\u00f3s ser picado, o ser humano s\u00f3 mant\u00e9m o v\u00edrus em concentra\u00e7\u00e3o suficiente para infectar mosquitos por dois ou tr\u00eas dias, diz Louren\u00e7o.<\/p>\n Uma pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz mediu a capacidade do\u00a0Aedes aegypti<\/em> de transmitir o v\u00edrus da febre amarela. Para realizar os testes, os pesquisadores coletaram ovos dos mosquitos nas cidades e em \u00e1reas de mata do Rio de Janeiro, Manaus e Goi\u00e2nia. O estudo mostrou que ele \u00e9 capaz de passar a doen\u00e7a, mas sua efici\u00eancia como vetor varia de acordo com a popula\u00e7\u00e3o de insetos.<\/p>\n Os\u00a0Aedes aegypti<\/em> do Rio de Janeiro apresentaram o maior potencial de disseminar a febre amarela, com 10% dos mosquitos apresentando part\u00edculas do v\u00edrus na saliva 14 dias ap\u00f3s a alimenta\u00e7\u00e3o por sangue infectado. Ou seja, pelo estudo, a cada 100 mosquitos que picassem uma pessoa infectada, 10 se contaminariam.<\/p>\n Da\u00ed a necessidade de v\u00e1rios fatores combinados para a dissemina\u00e7\u00e3o em meio urbano, como quantidade suficiente de v\u00edrus no sangue do ser humano infectado e presen\u00e7a de muitos Aedes para picar esse ser humano e retransmitir a doen\u00e7a no meio urbano.<\/p>\n Ainda assim, a capacidade de transmiss\u00e3o do v\u00edrus pelos mosquitos urbanos verificada na pesquisa \u00e9 considerada preocupante pelos pesquisadores.<\/p>\n “Os dados apontaram que os insetos fluminenses das esp\u00e9cies\u00a0Aedes aegypti<\/em> s\u00e3o altamente suscet\u00edveis a linhagens virais no Brasil. A compet\u00eancia vetorial dos mosquitos Aedes tamb\u00e9m foi verificada em Manaus e, em menor grau, em Goi\u00e2nia. O achado refor\u00e7a a import\u00e2ncia de medidas preventivas, como a vacina\u00e7\u00e3o e o controle do\u00a0Aedes aegypti<\/em>“, diz Louren\u00e7o.<\/p>\n Os mosquitos silvestres t\u00eam capacidade muito maior de transmitir a febre amarela. Segundo o estudo do Instituto Oswaldo Cruz, o percentual de\u00a0Haemagogus <\/em>do Rio de Janeiro infectados chegou a 20%. Entre os\u00a0Sabethes<\/em> locais, esse percentual alcan\u00e7ou 31%.<\/p>\n O professor Aloisio Falqueto, da Universidade Federal do Esp\u00edrito Santo (Ufes), diz que a popula\u00e7\u00e3o de mosquito\u00a0Aedes aegypti<\/em> existente hoje no Brasil ainda \u00e9, por enquanto, considerada pequena para ser capaz de provocar uma epidemia de febre amarela urbana.<\/p>\n Segundo ele, em per\u00edodos de chuvas e calor- ambiente mais prop\u00edcio para prolifera\u00e7\u00e3o de mosquitos -, a exist\u00eancia de focos de Aedes alcan\u00e7a at\u00e9 5% das casas brasileiras. Na \u00c1frica, onde h\u00e1 epidemia de febre amarela urbana, esse percentual varia de 20% a 40%.<\/p>\n “Se tivesse uma densidade grande de Aedes no Brasil, existiria a condi\u00e7\u00e3o de disseminar a doen\u00e7a na cidade. Por enquanto, a densidade baixa do mosquito n\u00e3o permitiu que a doen\u00e7a se disseminasse.”<\/p>\n Falqueto destaca, por\u00e9m, que \u00e9 preciso manter a\u00e7\u00f5es de combate ao mosquito para evitar que o risco de epidemia urbana aumente.<\/p>\n “No Brasil, raramente chegamos a ter 5% das casas com foco de Aedes. Mas esse j\u00e1 seria um n\u00edvel cr\u00edtico. A partir da\u00ed a gente teria que se preocupar com o v\u00edrus em transmiss\u00e3o urbana.”<\/p>\n O Minist\u00e9rio da Sa\u00fade diz que \u00e9 “baixa” essa possibilidade de transmiss\u00e3o. De acordo com a pasta, as a\u00e7\u00f5es de vigil\u00e2ncia com captura de mosquitos urbanos e silvestres n\u00e3o encontraram, at\u00e9 o momento, presen\u00e7a do v\u00edrus no Aedes.<\/p>\n “J\u00e1 h\u00e1 um programa nacionalmente estabelecido de controle do\u00a0Aedes aegypti<\/em> em fun\u00e7\u00e3o de outras arboviroses (dengue, zika, chikungunya), que consegue manter n\u00edveis de infesta\u00e7\u00e3o abaixo daquilo que os estudos consideram necess\u00e1rio para sustentar uma transmiss\u00e3o urbana de febre amarela”, disse a pasta, em nota.<\/p>\n “Al\u00e9m disso, h\u00e1 boas coberturas vacinais nas \u00e1reas de recomenda\u00e7\u00e3o de vacina e uma vigil\u00e2ncia muito sens\u00edvel para detectar precocemente a circula\u00e7\u00e3o do v\u00edrus em novas \u00e1reas para adotar a vacina\u00e7\u00e3o oportunamente.”<\/p>\n Como o tamanho da popula\u00e7\u00e3o de\u00a0Aedes aegypti<\/em> determina o risco de contamina\u00e7\u00e3o por febre amarela, os pesquisadores ressaltam que \u00e9 essencial a participa\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o para prevenir o aumento do n\u00famero de mosquitos nas cidades e nos quintais de casas perto de matas.<\/p>\n “Com esse numero de casos de febre amarela pipocando, se por alguma raz\u00e3o as densidades de Aedes aumentarem, o risco de febre amarela urbana aumentar\u00e1 de maneira assustadora”, diz o m\u00e9dico infectologista Eduardo Massad, professor da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP).<\/p>\n \u00c9 preciso estar atento ao ac\u00famulo de \u00e1gua parada em garrafas, pratos de plantas e outros objetos deixados em jardins e varandas, assim como fazer a manuten\u00e7\u00e3o de calhas e manter caixas d’\u00e1gua e outros dep\u00f3sitos vedados.<\/p>\n Os especialistas do Instituto Oswaldo Cruz tamb\u00e9m recomendam que o Brasil considere exigir a imuniza\u00e7\u00e3o de pessoas vindas de pa\u00edses que s\u00e3o alvo de febre amarela, sobretudo da \u00c1frica, onde h\u00e1 a doen\u00e7a em centros urbanos. O pa\u00eds j\u00e1 exige Certificado Internacional de Vacina\u00e7\u00e3o a pessoas vindas de Angola e da Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo.<\/p>\n Al\u00e9m disso, vacinar popula\u00e7\u00f5es de \u00e1reas de risco \u00e9 essencial para evitar a prolifera\u00e7\u00e3o da doen\u00e7a, segundo os pesquisadores.<\/p>\n “Eliminar os criadouros e controlar a prolifera\u00e7\u00e3o do\u00a0Aedes aegypti<\/em> \u00e9 uma medida importante para evitar a reemerg\u00eancia da febre amarela urbana no Brasil, al\u00e9m da quest\u00e3o b\u00e1sica e j\u00e1 amplamente conhecida de ele ser tamb\u00e9m respons\u00e1vel pela transmiss\u00e3o dos v\u00edrus da dengue, zika e chikungunya”, diz Dinair Couto Lima, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz e uma das autoras da pesquisa sobre mosquitos transmissores.<\/p>\n Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Uma das maiores preocupa\u00e7\u00f5es de cientistas que estudam a febre amarela e de autoridades que tentam controlar o atual surto da doen\u00e7a \u00e9 evitar que o v\u00edrus comece a ser transmitido nas cidades pelo mosquito Aedes aegypti, tamb\u00e9m vetor da dengue, chikungunya e zika.<\/p>\nComo saber se a contamina\u00e7\u00e3o foi ‘silvestre’ ou ‘urbana’?<\/h2>\n
O que seria necess\u00e1rio para um Aedes aegypti se infectar e transmitir febre amarela?<\/h2>\n
Controle da popula\u00e7\u00e3o de Aedes \u00e9 essencial<\/h2>\n
Medidas de preven\u00e7\u00e3o<\/h2>\n