{"id":142023,"date":"2018-02-24T00:05:08","date_gmt":"2018-02-24T03:05:08","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=142023"},"modified":"2018-02-23T20:18:19","modified_gmt":"2018-02-23T23:18:19","slug":"mineradora-norueguesa-tinha-duto-clandestino-para-lancar-rejeitos-em-nascentes-amazonicas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/02\/24\/142023-mineradora-norueguesa-tinha-duto-clandestino-para-lancar-rejeitos-em-nascentes-amazonicas.html","title":{"rendered":"Mineradora norueguesa tinha ‘duto clandestino’ para lan\u00e7ar rejeitos em nascentes amaz\u00f4nicas"},"content":{"rendered":"

Al\u00e9m de um vazamento de restos t\u00f3xicos de minera\u00e7\u00e3o, que contaminou diversas comunidades de Barcarena, no Par\u00e1, a gigante norueguesa Hydro usou uma “tubula\u00e7\u00e3o clandestina de lan\u00e7amento de efluentes n\u00e3o tratados” em um conjunto de nascentes do rio Muripi, aponta um laudo divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Evandro Chagas, do Minist\u00e9rio da Sa\u00fade.<\/p>\n

Ap\u00f3s negar irregularidades, a Hydro admitiu, em nota, a exist\u00eancia do canal encontrado por pesquisadores.<\/p>\n

“Durante uma das vistorias, verificou-se a exist\u00eancia de uma tubula\u00e7\u00e3o com pequena vaz\u00e3o de \u00e1gua de colora\u00e7\u00e3o avermelhada na \u00e1rea da refinaria”, afirma a empresa. “Conforme solicitado pelas autoridades, a empresa est\u00e1 fazendo as investiga\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias para identificar a origem e natureza do material, bem como realizando a imediata veda\u00e7\u00e3o desta tubula\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n

A multinacional produtora de alum\u00ednio, cujo acionista majorit\u00e1rio e controlador \u00e9 o governo da Noruega, voltou ao notici\u00e1rio brasileiro ap\u00f3s a confirma\u00e7\u00e3o do vazamento, no \u00faltimo s\u00e1bado, de uma barragem que continha soda c\u00e1ustica e metais t\u00f3xicos, ap\u00f3s chuvas fortes na regi\u00e3o.<\/p>\n

No ano passado, em meio a cr\u00edticas do governo noruegu\u00eas sobre o desmatamento na Amaz\u00f4nia, a BBC Brasil informou que a empresa devia R$ 17 milh\u00f5es ao Ibama em multas por contamina\u00e7\u00e3o de rios da regi\u00e3o em 2009.<\/p>\n

“Houve duas constata\u00e7\u00f5es. Primeiro, transbordo de efluentes. Os n\u00edveis de alum\u00ednio nos rios estavam 25 vezes mais altos que os estabelecidos pela legisla\u00e7\u00e3o. Segundo, o mais grave de tudo, a empresa fez uma tubula\u00e7\u00e3o para jogar res\u00edduos diretamente no ambiente”, disse \u00e0 BBC Brasil o pesquisador em sa\u00fade p\u00fablica Marcelo de Oliveira Lima, que assina o laudo oficial.<\/p>\n

Segundo o especialista, “a popula\u00e7\u00e3o usa estas \u00e1guas para recrea\u00e7\u00e3o, consumo e captura de peixes”, o que poderia levar a contamina\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m para o solo e o organismo dos moradores. Resultados de testes feitos no cabelo e pele dos vizinhos \u00e0 barragem devem ser divulgados nas pr\u00f3ximas semanas.<\/p>\n

Ap\u00f3s den\u00fancias feitas por moradores de comunidades pr\u00f3ximas sobre o vazamento, a Hydro divulgou a seus clientes uma nota em que classificava o epis\u00f3dio como “boato”, afirmando que “n\u00e3o houve vazamentos ou rompimentos” nos dep\u00f3sitos.<\/p>\n

Ap\u00f3s ser informada sobre o laudo oficial, entretanto, a empresa norueguesa disse, em nota enviada \u00e0 BBC Brasil, que “tem o compromisso de corrigir qualquer problema que possa ter sido causado pela sua opera\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n

“A Hydro Alunorte informa que est\u00e1 providenciando imediatamente o fornecimento de \u00e1gua pot\u00e1vel para as comunidades de Vila Nova e Bom Futuro, com apoio da Defesa Civil. A empresa se compromete a colaborar com as comunidades, onde foram coletadas as amostras pelo Instituto Evandro Chagas, para encontrar solu\u00e7\u00f5es de acesso permanente \u00e0 \u00e1gua pot\u00e1vel, em conjunto com as partes interessadas”, afirma a companhia.<\/p>\n

Questionada sobre a tubula\u00e7\u00e3o clandestina apontada pelo laudo e sobre a nota em que negava o vazamento, a empresa disse que aguarda receber o laudo oficial para coment\u00e1-lo.<\/p>\n

Procurado, o governo noruegu\u00eas afirmou que n\u00e3o conseguiria responder \u00e0s perguntas enviadas pela reportagem em tempo h\u00e1bil.<\/p>\n

Barcarena x Mariana<\/h2>\n

Nesta sexta, o Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal e do estado do Par\u00e1 enviaram \u00e0 empresa um documento que solicita que uma das bacias da empresa seja imediatamente embargada.<\/p>\n

Segundo os \u00f3rg\u00e3os, h\u00e1 risco de rompimento da bacia, o que despertou temor por uma trag\u00e9dia semelhante \u00e0 de Mariana (MG), em 2015, quando um mar de lama cobriu munic\u00edpios e se espalhou pelo rio Doce at\u00e9 chegar ao oceano.<\/p>\n

“Uma das bacias sequer tinha licen\u00e7a para operar. Estamos recomendando desde o fornecimento de \u00e1gua, uma vez que o Evandro Chagas constatou que essa \u00e1gua n\u00e3o \u00e9 pr\u00f3pria para o consumo”, afirmou a promotora de justi\u00e7a agr\u00e1ria Eliane Moreira, em entrevista coletiva.<\/p>\n

\u00c0 BBC Brasil, o ge\u00f3grafo Luiz Jardim, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), disse que as barragens de Mariana e de Barcarena “t\u00eam naturezas distintas”.<\/p>\n

“Enquanto a da Samarco, em Mariana, era para lavagem de min\u00e9rio, a da Hydro, em Barcarena, \u00e9 industrial, e guarda os resultados t\u00f3xicos da transforma\u00e7\u00e3o da bauxita em alumina. Ela j\u00e1 pressup\u00f5e a exist\u00eancia de produtos qu\u00edmicos que fazem parte desta transforma\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que a limpeza dos min\u00e9rios \u00e9 feita antes, em Oriximin\u00e1.”<\/p>\n

Para Jardim, que integra o Comit\u00ea Nacional em Defesa dos Territ\u00f3rios Frente \u00e0 Minera\u00e7\u00e3o, que re\u00fane 110 organiza\u00e7\u00f5es ligadas ao tema, o risco de inunda\u00e7\u00e3o em Mariana era maior gra\u00e7as ao relevo mineiro.<\/p>\n

“Em Mariana, a barragem \u00e9 muito mais alta do ponto de vista de relevo, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 declividade da Amaz\u00f4nia, onde h\u00e1 uma plan\u00edcie fluvial. Ent\u00e3o a for\u00e7a do rompimento, caso ele ocorra, ser\u00e1 menor. O que \u00e9 central no caso de Barcarena \u00e9 o potencial mais alto de contamina\u00e7\u00e3o dos rejeitos”, avalia.<\/p>\n

‘A gente n\u00e3o quer migalha’<\/h2>\n

Em junho do ano passado, a BBC Brasil revelou que a empresa controlada pelo governo noruegu\u00eas \u00e9 alvo de uma s\u00e9rie de den\u00fancias do Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal (MPF) do Par\u00e1 e de quase 2 mil processos judiciais por contamina\u00e7\u00e3o de rios e comunidades de Barcarena (PA).<\/p>\n

Segundo o Ibama, a empresa n\u00e3o pagou at\u00e9 hoje multas estipuladas em R$ 17 milh\u00f5es, ap\u00f3s outro transbordamento de lama t\u00f3xica, em 2009. Ainda de acordo com o instituto, o vazamento na \u00e9poca colocou a popula\u00e7\u00e3o local em risco e gerou “mortandade de peixes e destrui\u00e7\u00e3o significativa da biodiversidade”.<\/p>\n

O trauma com o \u00faltimo vazamento trouxe p\u00e2nico a moradores de comunidades pr\u00f3ximas \u00e0 sede da empresa, localizada em \u00e1rea de dif\u00edcil acesso na floresta amaz\u00f4nica.<\/p>\n

“Esse n\u00e3o \u00e9 o primeiro vazamento. O de 2009 impactou demais”, diz \u00e0 reportagem Sandra Amorim, moradora da comunidade quilombola s\u00edtio S\u00e3o Jo\u00e3o, que fica a um quil\u00f4metro da bacia da Hydro.<\/p>\n

“Primeiro eles negaram. Depois do laudo, dizem que teve vazamento. Eles prometeram agora que v\u00e3o come\u00e7ar a distribuir \u00e1gua mineral pot\u00e1vel e comida. Isso n\u00e3o \u00e9 suficiente pra gente. A gente n\u00e3o quer migalha. A gente quer essa situa\u00e7\u00e3o resolvida”, afirmou.<\/p>\n

A moradora prossegue, dizendo que “tem pessoas com coceiras pelo corpo e gente ficando doente” na comunidade.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 confirma\u00e7\u00e3o oficial sobre contamina\u00e7\u00e3o de moradores da regi\u00e3o afetada at\u00e9 que os testes feitos por peritos sejam divulgados. O laudo rec\u00e9m-divulgado pelo Instituto Evandro Chagas aponta que a concentra\u00e7\u00e3o de elementos como alum\u00ednio, chumbo, s\u00f3dio e nitrato e alum\u00ednio nos rios da regi\u00e3o extrapolaram os limites estipulados pelo Minist\u00e9rio da Sa\u00fade.<\/p>\n

O pH registrado nas \u00e1guas foi 10 – extremamente alcalino, em decorr\u00eancia do derrame de soda c\u00e1ustica, usada no processo de beneficiamento da bauxita, mat\u00e9ria-prima do alum\u00ednio.<\/p>\n

Rastro de polui\u00e7\u00e3o<\/h2>\n

A Ordem dos Advogados do Brasil no Par\u00e1 (OAB-PA) afirmou, em nota, que vai pedir o afastamento do secret\u00e1rio de Meio Ambiente do Par\u00e1, Thales Belo, e interven\u00e7\u00e3o judicial na Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Par\u00e1 (Semas), ap\u00f3s a constata\u00e7\u00e3o da tubula\u00e7\u00e3o clandestina na regi\u00e3o.<\/p>\n

“Causou indigna\u00e7\u00e3o especial a constata\u00e7\u00e3o pelos pesquisadores do IEC da exist\u00eancia de um dreno ‘clandestino’, por onde a empresa, com a aquiesc\u00eancia da Semas, drenava rejeitos quando as chuvas se intensificavam”, diz o \u00f3rg\u00e3o.<\/p>\n

Gra\u00e7as a uma rede de abastecimento de \u00e1gua que atende a apenas 40% da popula\u00e7\u00e3o local, os rios e po\u00e7os artesianos s\u00e3o a principal fonte de \u00e1gua na regi\u00e3o da pequena Barcarena – que viu sua popula\u00e7\u00e3o crescer em ritmo tr\u00eas vezes mais r\u00e1pido que o do resto do pa\u00eds nos \u00faltimos 40 anos gra\u00e7as aos empregos gerados por mineradoras que se instalaram na regi\u00e3o.<\/p>\n

Formado por dezenas de ilhas e igarap\u00e9s, o munic\u00edpio experimenta crescimento desordenado desde que se tornou um importante exportador de commodities minerais (bauxita, alum\u00ednio e caulim), vegetais (soja) e animais (gado vivo).<\/p>\n

“O hist\u00f3rico de acidentes ambientais em Barcarena \u00e9 impressionante, uma m\u00e9dia de um por ano”, disse \u00e0 BBC Brasil, em junho passado, o procurador da Rep\u00fablica Bruno Valente, que assina uma a\u00e7\u00e3o civil p\u00fablica movida em 2016.<\/p>\n

“O transbordamento de lama da bacia de rejeitos da Hydro afetou uma s\u00e9rie de comunidades em 2009 e at\u00e9 hoje nunca houve uma compensa\u00e7\u00e3o ou pagamento de multa”, afirmou.<\/p>\n

Dono de 34,3% das a\u00e7\u00f5es da megaprodutora mundial de alum\u00ednio, o governo da Noruega ganhou manchetes em todo o mundo no ano passado, ap\u00f3s criticar publicamente o aumento do desmatamento na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n

Despertando constrangimento na primeira visita oficial do presidente Michel Temer \u00e0 Noruega, o pa\u00eds anunciou, na \u00e9poca, um corte estimado em R$ 200 milh\u00f5es nos recursos que repassa ao Fundo Amaz\u00f4nia, destinado \u00e0 preserva\u00e7\u00e3o ambiental.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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