{"id":142067,"date":"2018-02-27T00:02:56","date_gmt":"2018-02-27T03:02:56","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=142067"},"modified":"2018-02-26T21:23:03","modified_gmt":"2018-02-27T00:23:03","slug":"carolina-freitas-e-os-matupas-da-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/02\/27\/142067-carolina-freitas-e-os-matupas-da-amazonia.html","title":{"rendered":"Carolina Freitas e os matup\u00e1s da Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"

Se existe uma maneira de conciliar a utiliza\u00e7\u00e3o de recursos naturais e o meio ambiente, a resposta est\u00e1 dentro das comunidades ribeirinhas da regi\u00e3o da floresta amaz\u00f4nica que vivem harmonicamente com a natureza. A ecologista e Jovem Exploradora National Geographic Carolina Freitas persegue o que consideramos ser um grande desafio da sustentabilidade em um trabalho focado no uso tradicional dos matup\u00e1s, ilhas flutuantes formadas por material org\u00e2nico parcialmente decomposto na base e vegeta\u00e7\u00e3o superficial. De fala tranquila e bom humor, ela explica sua pesquisa durante o\u00a0Explorer\u00a0Festival<\/a>, evento que uniu v\u00e1rios pesquisadores na Cidade do M\u00e9xico, ao longo da semana passada.<\/p>\n

NG: Como voc\u00ea se interessou em pesquisar os matup\u00e1s?<\/strong><\/p>\n

CF: Os matup\u00e1s surgiram na minha vida totalmente por acaso. Fui para a Amaz\u00f4nia fazer um mestrado e n\u00e3o sabia ainda qual seria o tema da minha pesquisa, mas sempre gostei muito da ideia de estudar a rela\u00e7\u00e3o dos seres humanos com o meio ambiente, acabei me deparando com a quest\u00e3o dos matup\u00e1s, ilhas flutuantes que as pessoas usam como \u00e1rea de cultivo, e fiquei muito curiosa. Descobri que ningu\u00e9m ainda tinha estudado esse assunto. Minha motiva\u00e7\u00e3o foi tentar entender melhor como funcionam, o que tem nesses ambientes, como as pessoas os utilizam e qual a import\u00e2ncia deles para elas e para todo o ecossistema ali existente.<\/p>\n

Qual o seu objetivo com esse estudo?<\/strong><\/p>\n

Eu sempre fui muito interessada pela rela\u00e7\u00e3o dos seres humano e o meio ambiente, como conciliar conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade com a qualidade de vida dos povos locais. Muitas vezes, os povos locais que usam os recursos diretamente acabam pagando\u00a0o pato pelo consumismo e pelo modo de vida dos bilh\u00f5es de vidas de pessoas que existem na Terra. Dessa forma, eles s\u00e3o desprovidos de utilizar aqueles recursos naturais porque existem uma s\u00e9rie de proibi\u00e7\u00f5es impostas. O meu objetivo \u00e9 pensar em alternativas para que essas pessoas continuem usando os recursos como elas v\u00eam fazendo h\u00e1 s\u00e9culos, mas que seja de forma sustent\u00e1vel e que possa garantir o provimento desses recursos para todo o mercado, assim como a manuten\u00e7\u00e3o do modo de vida tradicional da popula\u00e7\u00e3o local.<\/p>\n

Quais\u00a0hist\u00f3rias voc\u00ea trouxe dessa experi\u00eancia?<\/strong><\/p>\n

Estudando os matup\u00e1s, eu passei por algumas situa\u00e7\u00f5es engra\u00e7adas, porque, como eu disse, nunca ningu\u00e9m havia pesquisado essas ilhas. Ent\u00e3o, eu n\u00e3o sabia como fazer, os m\u00e9todos, como trabalhar, e foi quando comecei a procurar pessoas que conheciam esses ambientes. Mas todo mundo que eu encontrava me dizia que era totalmente louca, que eu n\u00e3o podia ir a esses lugares porque tinham muitos crocodilos, cobras, aranhas etc. Eu fiquei com bastante medo, mas encarei. Quando cheguei \u00e0s comunidades, todos realmente me consideravam louca e acabei descobrindo que essas ilhas, al\u00e9m de ter toda uma fauna assustadora, s\u00e3o envoltas por lendas sobre um ser m\u00e1gico chamado Cobra Grande. Todo mundo tinha medo dela. Eu precisava de assistentes de campo, por exemplo, e eles queriam ir armados, diziam que, se ouvissem qualquer barulho, sairiam correndo. Acabei vivendo um pouco dessa apreens\u00e3o porque eu n\u00e3o sabia bem o que esperar.<\/p>\n

Qual foi seu maior desafio durante a pesquisa?<\/strong><\/p>\n

Eu n\u00e3o me senti muito desafiada porque sempre me senti muita vontade de estar ali, sempre foi o ambiente que eu queria estar. Acho que o \u00fanico real desafio era o cuidado necess\u00e1rio em abordar as pessoas, explicar direito minhas inten\u00e7\u00f5es de pesquisa e\u00a0voltar depois para mostrar os resultados. \u00c0s vezes, ficamos t\u00e3o focados em nossos objetivos que esquecemos que essas pessoas n\u00e3o est\u00e3o inclusas no nosso mundo, elas muitas vezes sequer entendem realmente o que queremos. \u00c9 preciso deixar tudo claro.<\/p>\n

Por que voc\u00ea considera que as comunidades locais podem nos ensinar tanto?<\/strong><\/p>\n

Eu acho que as comunidades podem ensinar muita coisa porque na maioria das vezes os modos de vida tradicionais s\u00e3o bem mais sustent\u00e1veis do que os modos de vida que temos. Acredito que h\u00e1 muito o que aprender com a popula\u00e7\u00e3o local. A vis\u00e3o da natureza delas \u00e9 muito mais ampla, elas percebem padr\u00f5es que n\u00f3s deixamos escapar. As coisas que\u00a0est\u00e3o ali na nossa frente podem nos ensinar a observar melhor o meio em que vivemos. Al\u00e9m disso, elas nos fazem viver o hoje, n\u00e3o est\u00e3o interessadas em acumular coisas. O uso dos recursos delas \u00e9 muito mais imediato. Muito diferente do comportamento da nossa sociedade.<\/p>\n

Se n\u00e3o fosse Exploradora, o que voc\u00ea faria?<\/strong><\/p>\n

N\u00e3o consigo me imaginar fazendo outra coisa. Na verdade, eu acho que se eu n\u00e3o trabalhasse com pesquisa eu trabalharia com outro tipo de a\u00e7\u00e3o nesse mundo de preserva\u00e7\u00e3o. Talvez em uma ONG ou em algum tipo de a\u00e7\u00e3o do terceiro setor em que eu possa trazer para o mundo pr\u00e1tico algo que eu acredito. Mas seria dentro dessa tem\u00e1tica da conserva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O que \u00e9 preciso levar em conta nas medidas de preserva\u00e7\u00e3o do meio ambiente?<\/strong><\/p>\n

A primeira coisa a ser considerada \u00e9 entender que os povos locais t\u00eam contato direto com os recursos naturais. Temos leis que protegem os ambientes mas esquecemos que \u00e9 a popula\u00e7\u00e3o de l\u00e1 que vive nele e maneja seus recursos. Portanto, a primeira coisa \u00e9 incluir essas pessoas nas decis\u00f5es. Porque, no final das contas, elas v\u00e3o fazer aquilo que acreditam ser certo ou necess\u00e1rio. Eu vejo as popula\u00e7\u00f5es locais como pe\u00e7a-chave na garantia da biodiversidade de todos ambientes em m\u00e9dio e longo prazo. Elas t\u00eam um grande impacto e um conhecimento que precisa ser valorizado e incorporado nas pesquisas cient\u00edficas.<\/p>\n

O que voc\u00ea espera do seu futuro?<\/strong><\/p>\n

Eu gosto muito da pesquisa, mas me vejo cada vez mais trabalhando de uma forma mais pr\u00e1tica com o objetivo de aplicar esse conhecimento cient\u00edfico na vida real em iniciativas que promovem mudan\u00e7as. Eu me vejo trabalhando em comunidades locais ajudando-os a perceber alternativas. Ajud\u00e1-los a conseguir apoio para aplicar essas mudan\u00e7as, esse tipo de coisa.<\/p>\n

Como voc\u00ea imagina que ser\u00e1 o futuro da Terra?<\/strong><\/p>\n

Eu acho que pode ser horr\u00edvel, mas acho tamb\u00e9m que podemos encontrar algumas alternativas para melhorar nossa rela\u00e7\u00e3o com o meio ambiente e conseguir dosar melhor nosso impacto e recuperar alguns retrocessos. Vai depender das nossas atitudes de hoje.<\/p>\n

Fonte: National Geographic<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A ec\u00f3loga brasileira foi ao cora\u00e7\u00e3o da floresta para pesquisar as ilhas de vegeta\u00e7\u00e3o flutuante e seu uso pelas comunidades ribeirinhas. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4,6],"tags":[2163,802,2164,170],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/142067"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=142067"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/142067\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":142068,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/142067\/revisions\/142068"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=142067"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=142067"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=142067"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}