{"id":142685,"date":"2018-03-28T00:05:04","date_gmt":"2018-03-28T03:05:04","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=142685"},"modified":"2018-03-27T22:29:45","modified_gmt":"2018-03-28T01:29:45","slug":"75-do-planeta-danificado-pelo-homem","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/03\/28\/142685-75-do-planeta-danificado-pelo-homem.html","title":{"rendered":"75% do planeta danificado pelo homem"},"content":{"rendered":"

Apenas 25% da superf\u00edcie terrestre permanece livre de impactos substanciais causados por atividades humanas. E o \u00edndice deve cair para meros 10% at\u00e9 2050, segundo proje\u00e7\u00f5es da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Servi\u00e7os Ecossist\u00eamicos (IPBES).<\/p>\n

\u201cApenas algumas regi\u00f5es nos polos, desertos e as partes mais inacess\u00edveis das florestas tropicais permanecem intactas\u201d, afirmou o sul-africano Robert Scholes, um dos coordenadores do relat\u00f3rio tem\u00e1tico sobre Degrada\u00e7\u00e3o e Restaura\u00e7\u00e3o de Terras Degradadas divulgado pela IPBES nesta segunda-feira (26\/3), em Medell\u00edn, na Col\u00f4mbia.<\/p>\n

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O documento na \u00edntegra e um sum\u00e1rio para tomadores de decis\u00e3o foram aprovados pelos 129 pa\u00edses-membros da entidade durante a 6a\u00a0Reuni\u00e3o Plen\u00e1ria, que ocorreu entre os dias 17 e 24 de mar\u00e7o.<\/p>\n

Segundo o texto, at\u00e9 o ano de 2014, mais de 1,5 bilh\u00e3o de hectares de ecossistemas naturais foram convertidos em \u00e1reas agr\u00edcolas. Planta\u00e7\u00f5es e pastagens cobrem atualmente mais de um ter\u00e7o da superf\u00edcie do planeta. \u201cOs processos mais recentes de desmatamento est\u00e3o ocorrendo nas regi\u00f5es do globo mais ricas em biodiversidade\u201d, afirmaram os autores no texto.<\/p>\n

De acordo com Scholes, pode ser definido como degrada\u00e7\u00e3o o processo que leva um ecossistema terrestre ou aqu\u00e1tico a sofrer um decl\u00ednio persistente das fun\u00e7\u00f5es ecossist\u00eamicas e da biodiversidade. \u201c\u00c9 quando uma determinada regi\u00e3o tem sua capacidade de sustentar a vida \u2013 humana ou n\u00e3o \u2013 persistentemente reduzida\u201d, explicou.<\/p>\n

A expans\u00e3o n\u00e3o sustent\u00e1vel de \u00e1reas dedicadas \u00e0 agricultura e \u00e0 pecu\u00e1ria \u00e9 apontada no relat\u00f3rio como uma das principais causas do problema \u2013 que tende a se agravar com a demanda crescente por comida e biocombust\u00edveis. Segundo os autores, o uso de pesticidas e fertilizantes deve dobrar at\u00e9 2050.<\/p>\n

\u201cEsses produtos qu\u00edmicos em excesso contaminam n\u00e3o apenas o solo como tamb\u00e9m os sistemas aqu\u00e1ticos, terminando por afetar a zona costeira. J\u00e1 temos centenas de \u00e1reas mortas em regi\u00f5es como o Golfo do M\u00e9xico e isso ocorre por causa da forma que manejamos a terra. Portanto, esta \u00e9 tamb\u00e9m uma quest\u00e3o de seguran\u00e7a h\u00eddrica e de preserva\u00e7\u00e3o da costa\u201d, disse Robert Watson, presidente da IPBES.<\/p>\n

Outro fator importante que tem contribu\u00eddo para a degrada\u00e7\u00e3o de ecossistemas, de acordo com os cientistas da IPBES, \u00e9 o estilo de vida de alto consumo dos pa\u00edses desenvolvidos \u2013 bem como o consumo crescente observado nos pa\u00edses em desenvolvimento.<\/p>\n

O combate ao problema, afirmam, deve necessariamente incluir a ado\u00e7\u00e3o de uma dieta mais sustent\u00e1vel, com menos produtos de origem animal e maior preocupa\u00e7\u00e3o com os m\u00e9todos usados na produ\u00e7\u00e3o dos alimentos e demais produtos consumidos.<\/p>\n

\u201cN\u00e3o estamos dizendo para as pessoas pararem de comer carne, mas para se preocuparem com o modo com que ela foi produzida. E, acima de tudo, acabar com o desperd\u00edcio de comida. Hoje, entre 35% e 40% do que \u00e9 produzido nos pa\u00edses desenvolvidos n\u00e3o \u00e9 aproveitado\u201d, disse Watson.<\/p>\n

Para o italiano Luca Montanarella, outro coordenador do relat\u00f3rio, \u00e9 necess\u00e1rio um esfor\u00e7o de comunica\u00e7\u00e3o que ajude moradores das \u00e1reas urbanas a se reconectarem com a terra que os alimenta.<\/p>\n

\u201cEsperamos que a solu\u00e7\u00e3o para problemas como esse venha de fora, mas n\u00f3s, como consumidores, temos nossa carga de responsabilidade. Estamos dispostos a pagar caro por celulares ou computadores, mas queremos que a comida seja barata. E n\u00e3o percebemos os impactos de nossas escolhas alimentares porque, muitas vezes, eles se manifestam em regi\u00f5es distantes\u201d, disse.<\/p>\n

Para Montanarella, a degrada\u00e7\u00e3o da superf\u00edcie terrestre \u00e9 um problema que precisa ser resolvido localmente, mas em um contexto global. Na avalia\u00e7\u00e3o de Scholes, os subs\u00eddios oferecidos pelos governos aos produtores rurais tendem a promover uma expans\u00e3o n\u00e3o sustent\u00e1vel da produ\u00e7\u00e3o, pois permitem que corram mais riscos.<\/p>\n

\u201c\u00c9 poss\u00edvel aumentar a produ\u00e7\u00e3o sem avan\u00e7ar sobre \u00e1reas naturais e sem abusar de produtos qu\u00edmicos. Intensifica\u00e7\u00e3o \u00e9 uma grande parte da resposta, mas por meio de uma melhora das pr\u00e1ticas de manejo da terra, promovendo a ciclagem de nutrientes, por exemplo\u201d, afirmou.<\/p>\n

Para Scholes, o\u00a0Brasil<\/a> est\u00e1 em uma posi\u00e7\u00e3o favor\u00e1vel para lidar com essas quest\u00f5es por ter fortalecido ao longo dos \u00faltimos anos sua capacidade de realizar pesquisas cient\u00edficas e por ter especialistas capazes de orientar solu\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

\u201cH\u00e1 um clamor pol\u00edtico pelo fim do desmatamento e da destrui\u00e7\u00e3o de \u00e1reas alag\u00e1veis. Temos uma oportunidade de come\u00e7ar a fazer as coisas de um jeito melhor. H\u00e1 espa\u00e7o no mercado para isso. As pessoas cada vez mais v\u00e3o se questionar se os produtos que compram do\u00a0Brasil<\/a> s\u00e3o bons ou ruins [do ponto de vista ambiental]\u201d, disse Scholes.<\/p>\n

Watson reconhece que a produ\u00e7\u00e3o de biocombust\u00edveis, soja e carne \u00e9 hoje a base da\u00a0economia<\/a> brasileira e afirma ser valiosa para muitos outros pa\u00edses. \u201cO desafio \u00e9 produzir esses bens de maneira mais sustent\u00e1vel. Avan\u00e7ar em dire\u00e7\u00e3o das boas pr\u00e1ticas. H\u00e1 um jeito mais esperto de fazer isso e seria uma grande contribui\u00e7\u00e3o do\u00a0Brasil<\/a>.\u201d<\/p>\n

Tr\u00eas faces do mesmo problema<\/p>\n

De acordo com o relat\u00f3rio da IPBES, os processos de degrada\u00e7\u00e3o da terra j\u00e1 comprometem o bem-estar de dois quintos da humanidade \u2013 3,2 bilh\u00f5es de pessoas. Isso tem sido uma das principais causas de migra\u00e7\u00e3o humana \u2013 o que, por sua vez, est\u00e1 relacionado com a intensifica\u00e7\u00e3o de conflitos entre os povos e empobrecimento de popula\u00e7\u00f5es, na avalia\u00e7\u00e3o de Watson.<\/p>\n

\u201cA degrada\u00e7\u00e3o da superf\u00edcie terrestre est\u00e1 nos conduzindo para a sexta extin\u00e7\u00e3o em massa de esp\u00e9cies\u201d, alertou Scholes.<\/p>\n

Para os autores do relat\u00f3rio, processos de degrada\u00e7\u00e3o, perda de biodiversidade e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas s\u00e3o tr\u00eas faces de um mesmo problema \u2013 um fator intensifica o outro e n\u00e3o pode ser combatido isoladamente.<\/p>\n

Segundo o documento, os processos de degrada\u00e7\u00e3o contribuem fortemente para a mudan\u00e7a clim\u00e1tica, tanto pelas emiss\u00f5es de gases-estufa resultantes do desmatamento como pela libera\u00e7\u00e3o do carbono anteriormente armazenado no solo. Foram liberados 4,4 bilh\u00f5es de toneladas de CO2 somente entre os anos de 2000 e 2009, segundo a IPBES.<\/p>\n

\u201cDada a import\u00e2ncia da fun\u00e7\u00e3o de sequestro e armazenamento de carbono pelo solo, reduzir e reverter os processos de degrada\u00e7\u00e3o da terra podem oferecer mais de um ter\u00e7o das atividades de mitiga\u00e7\u00e3o da emiss\u00e3o de gases estufa necess\u00e1rias at\u00e9 2030 para manter a eleva\u00e7\u00e3o da temperatura m\u00e9dia da Terra abaixo de 2\u00a0oC, como prop\u00f5e o Acordo de Paris, al\u00e9m de aumentar a seguran\u00e7a alimentar, h\u00eddrica e reduzir conflitos relacionados \u00e0 migra\u00e7\u00e3o\u201d, disseram os cientistas.<\/p>\n

Outro objetivo do relat\u00f3rio tem\u00e1tico foi avaliar processos de restaura\u00e7\u00e3o de terras degradadas j\u00e1 conclu\u00eddos ou em andamento. Como explicou Scholes, foi definida como restaura\u00e7\u00e3o qualquer iniciativa intencional de acelerar a recupera\u00e7\u00e3o de ecossistemas degradados.<\/p>\n

\u201cFizemos uma diferencia\u00e7\u00e3o entre restaura\u00e7\u00e3o e reabilita\u00e7\u00e3o. Esta \u00faltima corresponde a iniciativas voltadas a recuperar algumas das fun\u00e7\u00f5es cr\u00edticas da terra e criar condi\u00e7\u00f5es para que talvez ela seja recuperada. Mas retornar ao que era antes da degrada\u00e7\u00e3o pode n\u00e3o ser poss\u00edvel em muitos lugares\u201d, explicou.<\/p>\n

Segundo Scholes, a restaura\u00e7\u00e3o de \u00e1reas agr\u00edcolas degradadas, por exemplo, pode significar devolver ao solo sua qualidade original \u2013 bem como promover a integra\u00e7\u00e3o de culturas agr\u00edcolas, cria\u00e7\u00e3o de animais e silvicultura.<\/p>\n

Iniciativas bem-sucedidas em \u00e1reas alag\u00e1veis incluem controle de fontes poluidoras e reinunda\u00e7\u00e3o de \u00e1reas \u00famidas danificadas por drenagem. Para \u00e1reas urbanas as op\u00e7\u00f5es s\u00e3o planejamento espacial, replantio de esp\u00e9cies nativas, desenvolvimento de \u201cinfraestrutura verde\u201d (parques e rios), remedia\u00e7\u00e3o de solos contaminados e cobertos (sob asfalto, por exemplo), tratamento de \u00e1guas residuais e restaura\u00e7\u00e3o de canais fluviais.<\/p>\n

Para os cientistas, a solu\u00e7\u00e3o do problema requer a integra\u00e7\u00e3o das agendas agr\u00edcola, florestal, energ\u00e9tica, h\u00eddrica e de infraestrutura e servi\u00e7os. Isso, por sua vez, necessita de pol\u00edticas coordenadas entre os diferentes minist\u00e9rios para, simultaneamente, incentivar pr\u00e1ticas mais sustent\u00e1veis de produ\u00e7\u00e3o e de consumo de commodities.<\/p>\n

Os benef\u00edcios obtidos por meio da restaura\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas excedem em mais de 10 vezes o custo dessas iniciativas, segundo a IPBES.<\/p>\n

\u201cImplementar as a\u00e7\u00f5es adequadas pode transformar a vida de milh\u00f5es de pessoas no planeta, por\u00e9m, quanto mais demoramos para agir mais dif\u00edcil e cara se torna a revers\u00e3o do problema\u201d, afirmou Watson.<\/p>\n

O caso brasileiro<\/p>\n

De acordo com Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP e da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Servi\u00e7os Ecossist\u00eamicos (BPBES), a degrada\u00e7\u00e3o est\u00e1 presente em todos os biomas e regi\u00f5es brasileiras. \u00c9 mais intensa, por\u00e9m, em \u00e1reas onde a ocupa\u00e7\u00e3o humana \u00e9 mais antiga, como \u00e9 o caso da Mata Atl\u00e2ntica.<\/p>\n

Segundo dados do Departamento de Florestas do Minist\u00e9rio do Meio Ambiente (MMA), o\u00a0Brasil<\/a> tem 200 milh\u00f5es de hectares de \u00e1reas degradadas.<\/p>\n

Exemplos bem-sucedidos de restaura\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m est\u00e3o presentes no pa\u00eds, ressaltou Joly, sendo um dos mais antigos da \u00e9poca do Imp\u00e9rio, no s\u00e9culo 19.<\/p>\n

\u201cA restaura\u00e7\u00e3o da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi ordenada por D. Pedro II por recomenda\u00e7\u00e3o do Conselheiro Jos\u00e9 Bonif\u00e1cio de Andrada e Silva, para recuperar e proteger as nascentes que abasteciam a cidade. O imperador mandou desapropriar terras de fazendeiros e nobres nas encostas do maci\u00e7o que divide a cidade ao meio para recompor a \u00e1rea que, j\u00e1 no s\u00e9culo 19, estava quase totalmente ocupada por fazendas, pastos e lavouras de caf\u00e9. Poucos turistas que visitam o Parque Nacional da Tijuca sabem que est\u00e3o caminhando em uma \u00e1rea restaurada\u201d, disse Joly.<\/p>\n

Outro bom exemplo em pleno desenvolvimento \u00e9 o\u00a0Pacto pela Restaura\u00e7\u00e3o da Mata Atl\u00e2ntica<\/a> \u2013 do qual o BIOTA participa por meio de pesquisadores como\u00a0Ricardo Ribeiro Rodrigues<\/a> e\u00a0Pedro Brancalion<\/a>.<\/p>\n

Dados do BIOTA tamb\u00e9m embasaram a norma baixada pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de S\u00e3o Paulo para regulamentar a restaura\u00e7\u00e3o ambiental na regi\u00e3o (leia mais em: <\/em>http:\/\/agencia.fapesp.br\/4773\/<\/a><\/em>).<\/p>\n

Rodrigues e Brancalion \u2013 ambos membros do BIOTA e da BPBES \u2013 est\u00e3o entre os brasileiros que integraram a equipe de cientistas que elaborou o relat\u00f3rio divulgado nesta segunda-feira pela IPBES, assim como\u00a0Jean Paul Metzger<\/a>. Tamb\u00e9m contribu\u00edram Marina Morais Monteiro (Universidade Federal de Goi\u00e1s), Geraldo Wilson Fernandes (Universidade Federal de Minas Gerais), Simone Athayde (University of Florida, Estados Unidos) e Daniel Luis Mascia Vieira (Embrapa).<\/p>\n

Para produzir o documento, mais de 100 autores de 45 pa\u00edses revisaram mais de 3 mil fontes de informa\u00e7\u00e3o \u2013 que incluem artigos cient\u00edficos, relat\u00f3rios de governos e reuni\u00f5es com representantes de comunidades ind\u00edgenas e locais.<\/p>\n

\u201cO texto passou por um extenso processo de revis\u00e3o por pares e foi melhorado com mais de 7,3 mil coment\u00e1rios de revisores externos. Al\u00e9m disso, o sum\u00e1rio para tomadores de decis\u00e3o foi amplamente debatido com os representantes dos pa\u00edses que integram a IPBES. O objetivo desse debate \u00e9 aumentar a relev\u00e2ncia do conte\u00fado para a formula\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas\u201d, explicou Anne Larigauderie, secret\u00e1ria executiva da IPBES.<\/p>\n

Fonte: Agencia Fapesp\/\u00a0Karina Toledo<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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