Leio esta not\u00edcia enquanto, l\u00e1 fora, um sol de ver\u00e3o insiste em invadir a paisagem e me obriga a usar o artif\u00edcio mais odiado pelos ambientalistas, o ar condicionado, para escrever este texto. N\u00e3o fosse assim, os pingos de suor entrariam pelas frestas do teclado e, possivelmente, me obrigariam\u00a0\u00a0a desistir do computador.<\/p>\n

J\u00e1 n\u00e3o \u00e9 tempo disso, deste calor abusado, pelo menos n\u00e3o em minha mem\u00f3ria. A Semana Santa sempre foi uma \u00e9poca meio cinza, quando as roupas de manga come\u00e7avam a sair dos arm\u00e1rios, quando o destempero do ver\u00e3o escaldante ia se despedindo. E o c\u00e9u de abril \u2013 ahhh, o c\u00e9u de abril\u00a0\u00a0—- come\u00e7ava a se desnudar, transportando cada camada de nossas mem\u00f3rias para dias mais tranquilos, puxando uma coberta aqui, vestindo uma l\u00e3zinha ali.<\/p>\n

S\u00e3o outros tempos. E ainda h\u00e1 quem aposte em duvidar que o aquecimento global \u00e9 verdadeiro, que \u00e9 causado pelas atividades humanas e que tende a aumentar at\u00e9 tornar quase imposs\u00edvel a vida do homem no planeta. Se voc\u00ea, caro leitor, tem filhos e netos, \u00e9 hora de olhar para este argumento: eles n\u00e3o v\u00e3o ter, como n\u00f3s, a alegria de um belo por-de-sol \u00e0 beira-mar, a menos que morem longe dos centros urbanos.<\/p>\n

Mas, a not\u00edcia \u00e9 a China. E a pergunta \u00e9: por que aquele pa\u00eds decidiu investir t\u00e3o fortemente em baixar as emiss\u00f5es de carbono? Um dos motivos \u00e9 o mal que a polui\u00e7\u00e3o exagerada, causada pelo uso\u00a0\u00a0abusivo dos combust\u00edveis f\u00f3sseis,\u00a0tem causado aos cidad\u00e3os chineses<\/a>.\u00a0\u00a0H\u00e1 um ano, o \u00edndice de polui\u00e7\u00e3o na China era t\u00e3o alto que mais de um milh\u00e3o de pessoas morreram por causa disso. Mesmo antes disso, o nevoeiro de gases poluentes em grandes cidades do pa\u00eds come\u00e7ou a incomodar os cidad\u00e3os, que sa\u00edram \u00e0s ruas\u00a0para protestar.<\/a><\/p>\n

Reportagem da revista \u201cThe Economist\u201d d\u00e1 conta de que os cidad\u00e3os mais corajosos, num regime que n\u00e3o permite manifesta\u00e7\u00f5es ruidosas, come\u00e7aram a protestar para valer. No ano passado, nessa \u00e9poca, que marca a sess\u00e3o anual do parlamento chin\u00eas, as autoridades pediram \u00e0s f\u00e1bricas que encerrassem suas atividades durante, pelo menos, um m\u00eas, para que n\u00e3o ficasse t\u00e3o \u00e0 vista o ar nublado da cidade de Pequim.<\/p>\n

O primeiro ministro Li Keqiang (foi reeleito no domingo passado (18)\u00a0\u00a0para um segundo mandato de cinco anos no Parlamento chin\u00eas), fez ent\u00e3o uma promessa aos seus compatriotas: se depender dos esfor\u00e7os governamentais, o c\u00e9u da segunda maior economia do mundo voltar\u00e1 a ser azul novamente.<\/p>\n

O\u00a0\u00a0corte do uso de carv\u00e3o, a moderniza\u00e7\u00e3o das usinas a carv\u00e3o, a redu\u00e7\u00e3o\u00a0\u00a0das emiss\u00f5es dos ve\u00edculos, o incentivo ao uso de carros limpos e a puni\u00e7\u00e3o de funcion\u00e1rios p\u00fablicos que ignorem o crime ambiental foram algumas das iniciativas tomadas pelo governo. \u00a0Al\u00e9m de\u00a0\u00a0monitoramento 24 horas em pontos chave de polui\u00e7\u00e3o, nas ind\u00fastrias, para refor\u00e7ar e punir quem n\u00e3o obedecer a ordem de baixar as emiss\u00f5es.<\/p>\n

Parece que deu certo. Segundo informa\u00e7\u00f5es do site\u00a0ClimateAction, <\/a>parceiro das Na\u00e7\u00f5es Unidas, dados do governo chin\u00eas mostram que entre 2005 e 2015 a economia da China cresceu 1,48 vezes, mas sua intensidade de carbono caiu 38,6%.\u00a0 Importante lembrar que a China \u00e9 o maior emissor de di\u00f3xido de carbono do mundo e que um esquema para enfrentar essa quest\u00e3o \u00e9 considerado essencial para atingir os objetivos gerais do Acordo de Paris, conseguido pelas Na\u00e7\u00f5es Unidas em 2015.<\/p>\n

O Ministro da Administra\u00e7\u00e3o Estatal de Prote\u00e7\u00e3o Ambiental,\u00a0Xie Zhenhua,\u00a0\u00a0afirma que at\u00e9 o final de 2017 a China conseguiu cortar as emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono em 46% por unidade de crescimento econ\u00f4mico em rela\u00e7\u00e3o aos n\u00edveis de 2005, segundo relat\u00f3rios da Xinhua, ag\u00eancia de not\u00edcias oficial do pa\u00eds. Ele atribui o sucesso, parcialmente, ao principal esquema de com\u00e9rcio de carbono da China.<\/p>\n

O enorme mercado de carbono chin\u00eas atualmente cobre 1.700 empresas, que juntas emitem cerca de 3 bilh\u00f5es de toneladas de gases de efeito estufa.\u00a0Isso faz com que seja o maior mercado de carbono do mundo, mas a inten\u00e7\u00e3o \u00e9 crescer ainda mais para abranger mais de sete mil empresas e outros setores intensivos em carbono. Sendo assim, o fato de a China estar, ao menos, preocupada e demonstrando interesse em se livrar do apelido de \u201cmaior emissor\u201d \u00e9 alvissareiro para a causa ambiental.<\/p>\n

E s\u00f3 \u00e9 poss\u00edvel quando h\u00e1 disposi\u00e7\u00e3o, por parte das autoridades competentes e dos cidad\u00e3os comuns, em rever ao menos parte de suas convic\u00e7\u00f5es e abrir para a possibilidade de perceber como leg\u00edtimos e verdadeiros os estudos dos cientistas que demonstram o processo, agora j\u00e1 n\u00e3o mais lento e gradual, das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n

Fonte: Amelia Gonzalez, G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"