{"id":142970,"date":"2018-04-10T00:03:11","date_gmt":"2018-04-10T03:03:11","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=142970"},"modified":"2018-04-09T20:13:16","modified_gmt":"2018-04-09T23:13:16","slug":"o-uso-abusivo-dos-agrotoxicos-e-o-mal-que-eles-fazem-a-saude-humana","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/04\/10\/142970-o-uso-abusivo-dos-agrotoxicos-e-o-mal-que-eles-fazem-a-saude-humana.html","title":{"rendered":"O uso abusivo dos agrot\u00f3xicos e o mal que eles fazem \u00e0 sa\u00fade humana"},"content":{"rendered":"

O avi\u00e3o percorre numa velocidade m\u00e9dia os campos de planta\u00e7\u00f5es. O ronco do motor destoa do sil\u00eancio. De vez em quando, v\u00ea-se uma nuvem de fuma\u00e7a sendo aspergida sobre o solo e algu\u00e9m, que est\u00e1 por tr\u00e1s da c\u00e2mera, comenta algo. O cen\u00e1rio fica em Mato Grosso e quem\u00a0filma a viagem do avi\u00e3o <\/a>\u00e9 um representante da Opan (Opera\u00e7\u00e3o Amaz\u00f4nia Nativa) entidade que defende os direitos dos povos ind\u00edgenas. A den\u00fancia \u00e9 que o limite de 250 metros de dist\u00e2ncia obrigat\u00f3rio por lei para aspergir agrot\u00f3xico foi violado pelo piloto flagrado nas imagens. \u00cdndios reclamaram de doen\u00e7as respirat\u00f3rias por causa das subst\u00e2ncias.<\/p>\n

O Brasil comemora o fato de ter a segunda maior frota de avia\u00e7\u00e3o agr\u00edcola <\/a>do mundo. No ano passado, eram registradas 2.115 aeronaves, 2.108 delas avi\u00f5es. Brasil tem a 2\u00aa maior frota de avia\u00e7\u00e3o agr\u00edcola do mundo. Com\u00a0464 aeronaves, Mato Grosso\u00a0\u00e9 o estado com a maior frota do pa\u00eds.\u00a0Rio Grande do Sul (427)\u00a0e\u00a0S\u00e3o Paulo (312)\u00a0v\u00eam na sequ\u00eancia. A maior frota do mundo pertence aos Estados Unidos (3.600 aeronaves), seguida do M\u00e9xico,que ocupa o terceiro lugar no ranking.<\/p>\n

Avi\u00f5es agr\u00edcolas foram feitos para distribuir sementes e aplicar defensivos agr\u00edcolas, inseticidas, nas lavouras. Tamb\u00e9m chamados de agrot\u00f3xicos. O Brasil consome 20% de todo agrot\u00f3xico comercializado mundialmente. E este consumo tem aumentado significativamente nos \u00faltimos anos.<\/p>\n

Apesar de serem motivo de comemora\u00e7\u00e3o, o aumento do n\u00famero de avi\u00f5es agr\u00edcolas e do consumo de agrot\u00f3xicosn\u00e3o s\u00e3o not\u00edcias boas para quem consome os alimentos. H\u00e1 um uso abusivo dessas subst\u00e2ncias, o que pode causar doen\u00e7as graves nos humanos.<\/p>\n

Depois de estudar cerca de tr\u00eas anos exaustivamente o tema dos agrot\u00f3xicos, a professora de Geografia Agr\u00e1riada USP Larissa Mies Bombardi escreveu uma tese, chamada \u201cGeografia do Uso de Agrot\u00f3xicos no Brasil e Conex\u00f5es com a Uni\u00e3o Europeia\u201d, em que enfatiza essas quest\u00f5es. Sobretudo fica bem claro, depois da leitura do livro (\u00e9 poss\u00edvel ler aqui, em PDF)<\/a>, que o marco regulat\u00f3rio da Uni\u00e3o Europeia \u00e9 bem mais restritivo com rela\u00e7\u00e3o aos agrot\u00f3xicos do que as proibi\u00e7\u00f5es impostas, aqui no Brasil, aos que produzem essas subst\u00e2ncias.<\/p>\n

“A Uni\u00e3o Europeia implantou em 2011 um marco regulat\u00f3rio mais restritivo para os agrot\u00f3xicos, fazendo com que uma s\u00e9rie de ingredientes ativos esteja em fase de banimento na regi\u00e3o do bloco econ\u00f4mico. 30% de todos os agrot\u00f3xicos utilizados no Brasil s\u00e3o proibidos na Uni\u00e3o Europeia. E entre os dez ingredientes ativos mais vendidos no Brasil dois s\u00e3o proibidos na uni\u00e3o europeia”, escreve ela.<\/p>\n

\u201cAtrazina \u00e9 um inseticida que foi proibido na Uni\u00e3o Europeia em 2014e que, no Brasil, segue autorizadopara os cultivos de abacaxi, cana-de-a\u00e7\u00facar, milho, milheto, pinus, seringueira, sisal e sorgo. Mato Grosso do Sul lidera o uso seguido por S\u00e3o Paulo e Mato Grosso. No Brasil est\u00e3o autorizados, para o cultivo do caf\u00e9, 121 diferentes agrot\u00f3xicos. Trinta deles s\u00e3o proibidos na Uni\u00e3o Europeia h\u00e1 15 anos\u201d, escreve ela.<\/p>\n

Um aspecto da diferen\u00e7a de quantidade de agrot\u00f3xicos usados no Brasil e na Uni\u00e3o Europeia \u00e9 evidente, em n\u00fameros absolutos. A outra parte \u00e9 invis\u00edvel: diz respeito \u00e0 quantidade de res\u00edduos de agrot\u00f3xicos permitida nos alimentos e na \u00e1gua. Isso atinge n\u00e3o s\u00f3 a popula\u00e7\u00e3o rural, como os \u00edndios que est\u00e3o denunciando na reportagem atrav\u00e9s da organiza\u00e7\u00e3o que os defende, como a popula\u00e7\u00e3o do mundo todo que consome tais produtos.<\/p>\n

\u201cH\u00e1 um fen\u00f4meno, quando se pratica a pulveriza\u00e7\u00e3o a\u00e9rea, denominado \u201cderiva\u201d que se refere \u00e0 quantidade de agrot\u00f3xicos que n\u00e3o atinge o chamado \u201ccultivo-alvo\u201d e que se dispersa no amviente. Fatores que influenciam a deriva, segundo a Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Defesa Vegetal: vento, temperatura do ar, umidade relativa do ar, dist\u00e2ncia do alvo, velocidade de aplica\u00e7\u00e3o e tamanho das gotas\u201d, escreve a professora em sua tese.<\/p>\n

Os agrot\u00f3xicos foram desenvolvidos na Primeira Guerra Mundial e usados como arma qu\u00edmica na Segunda Guerra Mundial. Quando acabou a guerra, eles come\u00e7aram a ser usados tamb\u00e9m para defender os agricultores das pragas que podiam acabar com seu sustento e, mais do que isso, arruinar planta\u00e7\u00f5es que poderiam alimentar as pessoas. At\u00e9 hoje h\u00e1 quem os defenda dessa maneira, ou seja, como ferramentas indispens\u00e1veis para permitir que os 7 bilh\u00f5es de humanos possam se alimentar.<\/p>\n

As den\u00fancias feitas por organiza\u00e7\u00f5es e pesquisadores que estudam o tema levam a outro caminho e apontam para os riscos do uso dessas subst\u00e2ncias. Vandana Shiva, cientista, pesquisadora, fil\u00f3sofa, criadora do Banco de Sementes em seu pa\u00eds, a \u00cdndia, conta que passou a pesquisar sobre os malef\u00edcios do uso de agrot\u00f3xicos para a sa\u00fade humana quando, h\u00e1 mais de trinta anos, foi testemunha de um acidente ocorrido numa f\u00e1brica de inseticidas e que matou mais de 35 mil indianos.<\/p>\n

\u201cOs agrot\u00f3xicos foram criados na Guerra para matar pessoas\u201d, diz ela.<\/p>\n

A Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Sa\u00fade Coletiva (Abrasco) fez tamb\u00e9m um documento apontando problemas com o uso abusivo de agrot\u00f3xicos. Chamado \u201cImpactos dos Agrot\u00f3xicos na Sa\u00fade\u201d,\u00a0o dossi\u00ea <\/a>n\u00e3o deixa nem margem para d\u00favidas. Segundo os cientistas, \u201cos agrot\u00f3xicos fazem mal \u00e0 sa\u00fade das pessoas e ao meio ambiente\u201d. Alguns dados coletados no estudo corroboram a afirma\u00e7\u00e3o:<\/p>\n

\u201cEntre 2007 e 2014 o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade recebeu 34.147 notifica\u00e7\u00f5es de intoxica\u00e7\u00e3o por agrot\u00f3xico\u201d<\/em><\/p>\n

\u201cEntre 2000 e 2012 o Brasil teve um aumento de 288% do uso de agrot\u00f3xicos\u201d<\/em><\/p>\n

\u201cRelat\u00f3rio da Anvisa de 2013 constatou que 64% dos alimentos est\u00e3o contaminados por agrot\u00f3xicos\u201d.<\/em><\/p>\n

Diante disso, o faturamento da ind\u00fastria de agrot\u00f3xicos no Brasil em 2014, que foi de US$ 12 bilh\u00f5es, deixa extremamente claro que estamos diante de um dos muitos casos em que o desenvolvimentismo se volta contra a sa\u00fade e o bem-estar das pessoas.<\/p>\n

\u00c9 preciso achar um equil\u00edbrio. Ou, que cada um de n\u00f3s passe a fazer mais contato com os alimentos que consumimos. Talvez n\u00e3o seja t\u00e3o f\u00e1cil num primeiro momento, mas a informa\u00e7\u00e3o \u00e9 bastante para se come\u00e7ar um movimento neste sentido.<\/p>\n

Fonte: Amelia Gonzalez, G1<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Diante disso, o faturamento da ind\u00fastria de agrot\u00f3xicos no Brasil em 2014, que foi de US$ 12 bilh\u00f5es, deixa extremamente claro que estamos diante de um dos muitos casos em que o desenvolvimentismo se volta contra a sa\u00fade e o bem-estar das pessoas. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[169,2563,767],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/142970"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=142970"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/142970\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":142971,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/142970\/revisions\/142971"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=142970"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=142970"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=142970"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}