{"id":143151,"date":"2018-04-18T00:04:03","date_gmt":"2018-04-18T03:04:03","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=143151"},"modified":"2018-04-17T21:07:59","modified_gmt":"2018-04-18T00:07:59","slug":"prioridade-para-conservacao-com-olho-no-passado","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/04\/18\/143151-prioridade-para-conservacao-com-olho-no-passado.html","title":{"rendered":"Prioridade para conserva\u00e7\u00e3o com olho no passado"},"content":{"rendered":"
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Identificar locais priorit\u00e1rios para a\u00e7\u00f5es \u00e9 um desafio importante em projetos de conserva\u00e7\u00e3o de biodiversidade. Uma alternativa adotada por um grupo de pesquisadores \u00e9 olhar para o passado, de modo a procurar entender quais foram as condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas das regi\u00f5es analisadas.<\/p>\n

\u201cAs regi\u00f5es que menos sofreram com mudan\u00e7as clim\u00e1ticas nos \u00faltimos 21 mil anos s\u00e3o aquelas onde ocorreram menos extin\u00e7\u00f5es locais. Assim, essas regi\u00f5es possuem maior riqueza de esp\u00e9cies e, consequentemente, maior diversidade gen\u00e9tica entre as esp\u00e9cies, ou seja, maior variabilidade dos genes dentro de uma mesma popula\u00e7\u00e3o\u201d, disse o bi\u00f3logo Thadeu Sobral-Souza, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro.<\/p>\n

Quanto maior a diversidade gen\u00e9tica de uma popula\u00e7\u00e3o, maiores s\u00e3o as chances de sobreviv\u00eancia \u00e0s mudan\u00e7as ambientais. Sobral-Souza \u00e9 um dos autores de um trabalho que busca criar metodologia para identificar, na Amaz\u00f4nia e na Mata Atl\u00e2ntica, regi\u00f5es climaticamente est\u00e1veis e alvos priorit\u00e1rios de estrat\u00e9gias de conserva\u00e7\u00e3o. A pesquisa tamb\u00e9m busca verificar quais unidades de conserva\u00e7\u00e3o se encontram dentro de \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis.<\/p>\n

Resultados do trabalho foram publicados na revista\u00a0Acta Oecologica<\/em><\/a><\/strong>. A pesquisa tem\u00a0apoio da FAPESP<\/a><\/strong> em projeto coordenado pelo professor\u00a0Milton Cezar Ribeiro<\/a><\/strong>, do Departamento de Ecologia da Unesp.<\/p>\n

De modo a estabelecer quais s\u00e3o as \u00e1reas climaticamente mais est\u00e1veis foi preciso estimar como era a distribui\u00e7\u00e3o de ambas as florestas no passado, particularmente antes da destrui\u00e7\u00e3o da maior parte da Mata Atl\u00e2ntica. Para tanto, os pesquisadores usaram a t\u00e9cnica de modelagem de nicho ecol\u00f3gico como meio de inferir a distribui\u00e7\u00e3o presente e a distribui\u00e7\u00e3o no passado na Amaz\u00f4nia e na Mata Atl\u00e2ntica.<\/p>\n

Novas tecnologias t\u00eam favorecido o desenvolvimento de enfoques metodol\u00f3gicos que permitem gerar informa\u00e7\u00e3o \u00fatil a partir de dados incompletos. \u00c9 o caso da modelagem dos nichos ecol\u00f3gicos das esp\u00e9cies. Sejam animais ou plantas, as esp\u00e9cies obedecem a regras ecol\u00f3gicas que determinam sua distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica.<\/p>\n

Uma vez que se conhece a distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica atual \u2013 ainda que parcialmente \u2013 de uma determinada esp\u00e9cie, assim como os n\u00edveis de varia\u00e7\u00e3o ambiental (temperaturas m\u00e1xima e m\u00ednima, varia\u00e7\u00f5es pluviom\u00e9tricas e outros dados) que s\u00e3o tolerados pelos indiv\u00edduos, faz-se uso de algoritmos computacionais e de ferramentas de geoprocessamento para se obter uma representa\u00e7\u00e3o quantitativa da distribui\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica daquela esp\u00e9cie.<\/p>\n

A partir de dados incompletos de localiza\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica de uma esp\u00e9cie, consegue-se descobrir qual \u00e9 a sua distribui\u00e7\u00e3o atual (ou potencial) no meio ambiente. Da mesma forma, ao se empregar estimativas clim\u00e1ticas do passado, consegue-se simular qual teria sido a distribui\u00e7\u00e3o espacial das esp\u00e9cies em \u00e9pocas pret\u00e9ritas.<\/p>\n

\u201cMuito embora a modelagem de nicho ecol\u00f3gico seja normalmente usada para inferir a distribui\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies, a t\u00e9cnica tamb\u00e9m \u00e9 empregada para predizer a delimita\u00e7\u00e3o de um bioma, a partir da modelagem do bioma\u201d, disse Sobral-Souza.<\/p>\n

Para prever a distribui\u00e7\u00e3o de um bioma ao longo do tempo, os autores selecionaram pontos de ocorr\u00eancia usando um filtro geogr\u00e1fico baseado na delimita\u00e7\u00e3o atual do bioma amaz\u00f4nico e na extens\u00e3o da Mata Atl\u00e2ntica. Existem diversos modelos de circula\u00e7\u00e3o global atmosf\u00e9rico-oce\u00e2nica que fazem infer\u00eancias sobre climas globais passados. \u201cCinco desses modelos serviram como fonte de dados para as simula\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas da Amaz\u00f4nia e da Mata Atl\u00e2ntica no passado\u201d, disse Sobral-Souza.<\/p>\n

A partir de dados como temperatura m\u00e9dia anual e \u00edndices anuais de precipita\u00e7\u00e3o, os pesquisadores estimaram a distribui\u00e7\u00e3o presente do bioma amaz\u00f4nico e da Mata Atl\u00e2ntica. Os modelos foram constru\u00eddos com base no cen\u00e1rio clim\u00e1tico atual e ent\u00e3o projetados para as condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas reinantes no passado, no auge da \u00faltima idade do gelo h\u00e1 21 mil anos no final do Pleistoceno e tamb\u00e9m h\u00e1 6 mil anos, no meio do Holoceno.<\/p>\n

De acordo com o estudo, a \u00e1rea potencial da floresta amaz\u00f4nica h\u00e1 21 mil anos era de 4,46 milh\u00f5es km\u00b2, e hoje \u00e9 de 3,28 milh\u00f5es km\u00b2. J\u00e1 a Mata Atl\u00e2ntica cobria 3,85 milh\u00f5es km\u00b2, \u00e1rea reduzida hoje em 80%, para menos de 770 mil km\u00b2.<\/p>\n

Para calcular as \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis dos biomas analisados, os dois paleomapas \u2013 com as distribui\u00e7\u00f5es dos biomas h\u00e1 21 mil e h\u00e1 6 mil anos \u2013 foram sobrepostos ao mapa com a distribui\u00e7\u00e3o atual dos biomas. Desse modo, foram selecionadas nos mapas as \u00e1reas previstas como adequadas para a ocorr\u00eancia do bioma em todos os cen\u00e1rios clim\u00e1tico-temporais estudados.<\/p>\n

\u201cUma vez identificados os pontos sobrepostos que s\u00e3o climaticamente est\u00e1veis nos tr\u00eas cen\u00e1rios, foi a vez de analisar a efici\u00eancia das \u00e1reas atualmente protegidas\u201d, disse Ribeiro.<\/p>\n

Um novo mapa com as unidades de prote\u00e7\u00e3o da Am\u00e9rica do Sul foi sobreposto aos mapas anteriores, de modo a visualizar quais \u00e1reas protegidas se encontram dentro ou fora das \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis.<\/p>\n

Para propor \u00e1reas de conserva\u00e7\u00e3o priorit\u00e1rias foram mapeadas as \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis desprotegidas. Foi ent\u00e3o usada a base de dados\u00a0Intact Forest Landscapes<\/a><\/strong>, de modo a inferir quais \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis e desprotegidas t\u00eam remanescentes intactos de floresta prim\u00e1ria livre de modifica\u00e7\u00f5es antropog\u00eanicas. Foram considerados apenas trechos grandes e conectados, excluindo-se os remanescentes pequenos ou desconectados.<\/p>\n

Estabilidade clim\u00e1tica<\/strong><\/p>\n

A seguir, os pesquisadores classificaram cada um desses trechos de floresta em uma de tr\u00eas categorias priorit\u00e1rias de conserva\u00e7\u00e3o. As \u00e1reas com a prioridade muito alta de conserva\u00e7\u00e3o s\u00e3o as climaticamente est\u00e1veis, n\u00e3o protegidas e onde h\u00e1 grandes trechos de floresta intacta.<\/p>\n

A segunda categoria \u00e9 a das \u00e1reas com alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o: climaticamente est\u00e1veis, n\u00e3o protegidas e com fragmentos e remanescentes florestais. J\u00e1 a terceira categoria, de prioridade m\u00e9dia de conserva\u00e7\u00e3o, s\u00e3o as \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis mais recentes, nos \u00faltimos 6 mil anos, com remanescentes desprotegidos de floresta intacta.<\/p>\n

\u201cOs resultados revelaram tr\u00eas blocos desconexos de \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis na Mata Atl\u00e2ntica, todos pr\u00f3ximos ao litoral\u201d, disse Ribeiro. O bloco mais ao norte fica nas Zonas da Mata da Para\u00edba e de Pernambuco. O segundo coincide com o desenho da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira no oeste de S\u00e3o Paulo e da Serra do \u00d3rg\u00e3os no Rio de Janeiro e no Esp\u00edrito Santo, terminando na Zona da Mata do noroeste de Minas Gerais.<\/p>\n

\u201cNo caso da Amaz\u00f4nia, as \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis s\u00e3o amplas, cont\u00ednuas, e cobrem a maior parte do bioma atual. A maioria das \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis ocorre na regi\u00e3o leste da Amaz\u00f4nia, enquanto que remanescentes menores s\u00e3o encontrados ao longo dos limites ocidental e meridional da floresta\u201d, disse Ribeiro.<\/p>\n

Com rela\u00e7\u00e3o ao \u00edndice de efici\u00eancia das \u00e1reas protegidas existentes, inferiu-se uma efici\u00eancia maior das \u00e1reas protegidas amaz\u00f4nicas, em compara\u00e7\u00e3o com aquelas da Mata Atl\u00e2ntica. A constata\u00e7\u00e3o foi que 40,1% das \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis da Amaz\u00f4nia encontram-se protegidas, percentual que cai para somente 7,1% das \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis da Mata Atl\u00e2ntica.<\/p>\n

\u201cA Amaz\u00f4nia \u00e9 mais est\u00e1vel climaticamente do que a Mata Atl\u00e2ntica e as \u00e1reas protegidas da Mata Atl\u00e2ntica s\u00e3o menos eficientes do que as que ficam na Amaz\u00f4nia\u201d, disse Ribeiro.<\/p>\n

Na Amaz\u00f4nia, o estudo identificou \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis nas tr\u00eas categorias de an\u00e1lise, aquelas com muito alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o, alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o e prioridade de conserva\u00e7\u00e3o m\u00e9dia. As \u00e1reas amaz\u00f4nicas com prioridade muito alta de conserva\u00e7\u00e3o s\u00e3o regi\u00f5es de floresta prim\u00e1ria no oeste do estado do Amazonas, na regi\u00e3o de fronteira com Peru, Col\u00f4mbia e Venezuela.<\/p>\n

\u201cSua proximidade geogr\u00e1fica com \u00e1reas protegidas sugere que a cria\u00e7\u00e3o de novas \u00e1reas protegidas, ou ent\u00e3o o aumento nas \u00e1reas existentes que incorpore essas \u00e1reas de alta prioridade, pode ser uma estrat\u00e9gia de conserva\u00e7\u00e3o eficaz\u201d, disse Sobral-Souza.<\/p>\n

As \u00e1reas amaz\u00f4nicas de alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o s\u00e3o florestas fragmentadas em \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis que, portanto, necessitam de restaura\u00e7\u00e3o. As \u00e1reas de alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia Ocidental ficam pr\u00f3ximas a \u00e1reas protegidas ou a fragmentos intactos existentes. J\u00e1 no leste da Amaz\u00f4nia, as \u00e1reas de alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o s\u00e3o por\u00e7\u00f5es de floresta cercadas pela agricultura e pecu\u00e1ria, distantes das regi\u00f5es de floresta intacta.<\/p>\n

\u201cNesses casos, a\u00e7\u00f5es de reflorestamento s\u00e3o necess\u00e1rias para aumentar a efici\u00eancia das \u00e1reas protegidas da regi\u00e3o. A Amaz\u00f4nia ainda tem uma grande oportunidade para ampliar as \u00e1reas de conserva\u00e7\u00e3o\u201d, disse Ribeiro.<\/p>\n

Sobral-Souza destaca que, quanto \u00e0 Mata Atl\u00e2ntica, o cen\u00e1rio \u00e9 catastr\u00f3fico. \u201cN\u00e3o foram identificadas \u00e1reas com muita alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o, porque nestas \u00e1reas n\u00e3o existe mais floresta. N\u00e3o tem mata intacta, n\u00e3o tem fragmento florestal, n\u00e3o tem nada. Foi tudo cortado nos \u00faltimos 500 anos\u201d, disse.<\/p>\n

As principais \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis da Mata Atl\u00e2ntica s\u00e3o pequenas. S\u00e3o fragmentos florestais classificados como \u00e1reas de alta prioridade de conserva\u00e7\u00e3o. Apenas alguns poucos remanescentes t\u00eam mais de 10 mil hectares, e muitos ocorrem em \u00e1reas com baixa estabilidade clim\u00e1tica. As \u00e1reas climaticamente est\u00e1veis da Mata Atl\u00e2ntica ficam na Zona da Mata de Pernambuco ou no Parque Estadual da Serra do Mar, \u201co maior remanescente de toda a Mata Atl\u00e2ntica brasileira\u201d, disse Sobral-Souza.<\/p>\n

O artigo\u00a0Efficiency of protected areas in Amazon and Atlantic Forest conservation: A spatio-temporal view<\/em> (doi: https:\/\/doi.org\/10.1016\/j.actao.2018.01.001), de Thadeu Sobral-Souza, Maur\u00edcio HumbertoVancine, Milton Cezar Ribeiro e Matheus S.Lima-Ribeiro, est\u00e1 publicado em\u00a0www.sciencedirect.com\/science\/article\/pii\/S1146609X17302758?via%3Dihub<\/a><\/strong>.<\/p>\n

Fonte: Ag\u00eancia FAPESP<\/div>\n<\/div>\n
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