{"id":143336,"date":"2018-04-30T00:03:22","date_gmt":"2018-04-30T03:03:22","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=143336"},"modified":"2018-04-29T20:23:48","modified_gmt":"2018-04-29T23:23:48","slug":"o-discurso-de-macron-sobre-o-clima-e-o-rio-que-virou-figura-juridica-na-nova-zelandia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/04\/30\/143336-o-discurso-de-macron-sobre-o-clima-e-o-rio-que-virou-figura-juridica-na-nova-zelandia.html","title":{"rendered":"O discurso de Macron sobre o clima e o rio que virou figura jur\u00eddica na Nova Zel\u00e2ndia"},"content":{"rendered":"
Dia de boas not\u00edcias, para variar um pouco. E de boas reflex\u00f5es tamb\u00e9m.<\/p>\n
Come\u00e7o com o discurso do presidente franc\u00easEmmanuel Macron no Congresso norte-americano, divulgado pelas redes sociais. Macron falou sobre o processo civilizat\u00f3rio, condenou o presidente Donald Trump por ter tirado os Estados Unidos do Acordo de Paris. Mas, principalmente, exortou a todos para se livrarem do discurso de nacionalismo exagerado porque s\u00f3 juntos \u00e9 que podemos enfrentar as verdadeiras amea\u00e7as contra o planeta. Est\u00e1 bem, pode ser apenas \u201cmais-um-discurso\u201d de pol\u00edtico. Mas a mensagem foi t\u00e3o forte que todos o aplaudiram de p\u00e9. E tem muito conte\u00fado para reflex\u00e3o, por isso decidi reproduzir aqui:<\/p>\n
\u201cEu acredito que contra a ignor\u00e2ncia, n\u00f3s temos educa\u00e7\u00e3o. Contra as amea\u00e7as contra o planeta, temos a Ci\u00eancia. Eu acredito em construir um futuro melhor para nossas crian\u00e7as, o que quer dizer oferecer a eles um planeta que ainda seja habit\u00e1vel daqui a 25 anos. Algumas pessoas acreditam que manter seus empregos e as ind\u00fastrias atuais \u00e9 mais urgente do que transformar nossas economias para fazer frente ao desafio global das mudan\u00e7as do clima. Precisamos achar um\u00a0\u00a0meio de fazer uma transi\u00e7\u00e3o suave para uma economia de baixo carbono. Poluindo os oceanos, n\u00e3o mitigando as emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono, destruindo nossa biodiversidade, estamos matando nosso planeta. Vamos encarar a realidade: N\u00e3o existe planeta B!<\/em><\/p>\n E estou certo de que um dia os Estados Unidos v\u00e3o voltar atr\u00e1s e se juntar novamente ao Acordo de Paris. Temos duas op\u00e7\u00f5es pela frente: podemos escolher o isolacionismo, a separa\u00e7\u00e3o, o nacionalismo. Pode ser tentador pensar assim, pode parecer um rem\u00e9dio tempor\u00e1rio para nossos medos. Mas fechar a porta para o mundo n\u00e3o vai parar a evolu\u00e7\u00e3o do mundo. N\u00e3o vai extinguir, mas inflamar o medo dos nossos cidad\u00e3os. Precisamos estar de olhos bem abertos aos novos riscos que est\u00e3o em frente a n\u00f3s.<\/em><\/p>\n Estou convencido de que se n\u00f3s mantivermos nossos olhos bem abertos estaremos cada vez mais fortes. E n\u00e3o vamos deixar que o nacionalismo extremado ameace um mundo cheio de esperan\u00e7a de maior prosperidade.<\/em><\/p>\n Pessoalmente, se voc\u00ea me perguntar, eu n\u00e3o sou fascinado pelos novos poderes fortes, o abandono da liberdade e a ilus\u00e3o do nacionalismo\u201d.<\/em><\/p>\n S\u00e3o palavras alentadoras.<\/p>\n Outra not\u00edcia bem simp\u00e1tica que um amigo me enviou, publicada semana passada no site da BBC e no jornal\u00a0\u201cO P\u00fablico\u201d,<\/a> portugu\u00eas, d\u00e1 conta de que o Parlamento da Nova Zel\u00e2ndia aprovou o reconhecimento do rio Whanganui como personalidade jur\u00eddica. Dessa forma, ele se torna o primeiro rio do mundo a ter, legalmente, os mesmos direitos dos seres humanos.<\/p>\n Segundo a reportagem, desde o s\u00e9culo XIX que os Maori, um povo nativo do pa\u00eds, tentava obter este reconhecimento.\u00a0\u00a0Os direitos do rio estar\u00e3o, agora, assegurados atrav\u00e9s de dois intermedi\u00e1rios humanos \u2013 um membro da tribo Maori e um membro da monarquia constitucional neozelandesa.<\/p>\n “Reconhe\u00e7o que a rea\u00e7\u00e3o inicial de muita gente \u00e9 achar estranho que se d\u00ea personalidade jur\u00eddica a um recurso natural. Mas n\u00e3o \u00e9 mais estranho do que os fundos familiares, ou as empresas ou as sociedades”,\u00a0\u00a0disse Hon Christopher Finlayson, o ministro neozeland\u00eas respons\u00e1vel pelo acordo.<\/p>\n Este reconhecimento permite que o rio seja representado em processos judiciais e, al\u00e9m disso, foi ainda atribu\u00eddo a ele uma compensa\u00e7\u00e3o financeira de 110 milh\u00f5es de d\u00f3lares para melhorar a “sa\u00fade” do rio.<\/p>\n Trata-se, aqui, de uma quest\u00e3o fundamental: a rela\u00e7\u00e3o do homem com a natureza. Neste sentido, busquei ajuda para reflex\u00e3o com Luc Ferry, ambientalista e ex-ministro de educa\u00e7\u00e3o da Fran\u00e7a, fil\u00f3sofo e autor de mais de 15 livros, entre eles “A nova ordem ecol\u00f3gica” (Ed. Difel), onde ele trata justamente desta imbricada conviv\u00eancia.<\/p>\n Ferry diz:<\/p>\n “Numa \u00e9poca em que os limites \u00e9ticos est\u00e3o mais do que nunca flutuantes e indeterminados, ela faz brotar a promessa inesperada do arraigamento, finalmente objetivo e certo, de um novo ideal moral: a pureza descobre seus direitos, mas eles n\u00e3o s\u00e3o mais fundados em cren\u00e7a religiosa ou ideol\u00f3gica. Eles pretendem ser realmente provados, demonstrados pelos dados mais incontest\u00e1veis de uma ci\u00eancia nova, a ecologia, que, para ser global, como o era a filosofia, n\u00e3o \u00e9 menos incontest\u00e1vel do que as ci\u00eancias positivas nas quais ela se apoia permanentemente. Se os servi\u00e7os de sa\u00fade demonstraram que fumar provoca doen\u00e7as graves… se os pr\u00f3prios fabricantes de autom\u00f3veis s\u00e3o obrigados a reconhecer um elo entre a polui\u00e7\u00e3o dos gases de escapamento e o desmatamento, n\u00e3o seria insensato, ou mesmo imoral, prosseguir despreocupadamente na via da depreda\u00e7\u00e3o?”<\/p>\n O fil\u00f3sofo conta hist\u00f3rias de comunidades europeias do s\u00e9culo XVI que montaram um julgamento \u2013 e absolveram \u2013 gafanhotos que provocaram a destrui\u00e7\u00e3o de planta\u00e7\u00f5es inteiras. Afinal, teriam eles tamb\u00e9m, assim como os homens, direito de se alimentar, mesmo causando tantos males. Os homens que se defendessem.<\/p>\n Ferry descobre, em suas reflex\u00f5es, que os debates te\u00f3ricos sobre ecologia se estruturam em tr\u00eas correntes principais. A primeira parte da ideia de que, atrav\u00e9s da natureza, \u00e9 ainda e sempre o homem que deve se proteger, at\u00e9 de si mesmo, “quando brinca de aprendiz de feiticeiro”.<\/p>\n “Simplesmente se tem consci\u00eancia de que, ao destruir o meio que o cerca, o homem corre o risco de realmente botar sua pr\u00f3pria exist\u00eancia em perigo e, no m\u00ednimo, privar-se das condi\u00e7\u00f5es para uma vida boa sobre a Terra. A natureza, ent\u00e3o, passa a ser apenas a que \u2018circunda\u2019 o ser humano. N\u00e3o tem valor absoluto em si mesma”.<\/p>\n A segunda corrente d\u00e1 um passo \u00e0 frente e inclui os animais na preocupa\u00e7\u00e3o moral dos humanos. Todos os seres suscet\u00edveis de prazer e dor devem ser tidos como sujeitos de direito e tratados como tais.<\/p>\n E a terceira corrente identificada por Ferry, que se aproxima da hist\u00f3ria do rio que ganhou personalidade jur\u00eddica na Nova Zel\u00e2ndia, tende, na vis\u00e3o dele, a se tornar a ideologia dominante dos “movimentos alternativos na Alemanha e nos Estados Unidos”. \u00c9 a forma que reivindica tamb\u00e9m o direito das \u00e1rvores, ou seja, da pr\u00f3pria natureza sob suas formas vegetal e mineral.<\/p>\n “\u00c9 um \u2018contrato natural\u2019 no qual o universo inteiro se tornaria sujeito de direito: n\u00e3o mais o homem, considerado o centro do mundo e precisando antes de mais nada ser protegido de si mesmo, mas o cosmos em si \u00e9 que deve ser defendido dos homens”, explica ele na tese publicada na Fran\u00e7a em 1992, talvez n\u00e3o por acaso o ano da Confer\u00eancia Mundial do Meio Ambiente que aconteceu aqui no Rio de Janeiro. No Brasil, o livro de Luc Ferry foi editado em 2009.<\/p>\n O ex-ministro franc\u00eas lembra, em suas conclus\u00f5es filos\u00f3ficas sobre nossa rela\u00e7\u00e3o com o ambiente, que o homem continua sendo, at\u00e9 prova em contr\u00e1rio, o \u00fanico ser suscet\u00edvel de emitir julgamentos de valor. N\u00f3s \u00e9 que sempre vamos decidir se vamos modificar ou proteger a natureza.<\/p>\n “A quest\u00e3o filos\u00f3fica dos direitos inerentes aos seres naturais se acrescenta \u00e0 outra, pol\u00edtica, de nossa rela\u00e7\u00e3o com o mundo liberal. A natureza n\u00e3o \u00e9 um agente, um ser suscet\u00edvel de agir com a reciprocidade que se espera de um alter ego jur\u00eddico. \u00c9 sempre atrav\u00e9s dos homens que exerce o direito, \u00e9 atrav\u00e9s deles que a \u00e1rvore ou a baleia podem se tornar objeto de uma forma de respeito ligada a legisla\u00e7\u00f5es \u2013 n\u00e3o o inverso”, escreve Ferry.<\/p>\n Bom para refletir, n\u00e3o? Fiquem \u00e0 vontade.<\/p>\n Fonte: Amelia Gonzalez , G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Come\u00e7o com o discurso do presidente franc\u00easEmmanuel Macron no Congresso norte-americano, divulgado pelas redes sociais. 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