{"id":143349,"date":"2018-04-30T00:04:06","date_gmt":"2018-04-30T03:04:06","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=143349"},"modified":"2018-04-29T20:58:04","modified_gmt":"2018-04-29T23:58:04","slug":"acumulo-de-conchas-em-estuario-recifense-causa-impacto-ambiental","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/04\/30\/143349-acumulo-de-conchas-em-estuario-recifense-causa-impacto-ambiental.html","title":{"rendered":"Ac\u00famulo de conchas em estu\u00e1rio recifense causa impacto ambiental"},"content":{"rendered":"

ituada no encontro dos rios Beberibe, Tejipi\u00f3 e Jord\u00e3o, no\u00a0estu\u00e1rio recifense da Bacia do Pina<\/strong>, a comunidade ribeirinha Ilha de Deus, com mais de duas mil pessoas, sobrevive basicamente da pesca artesanal. \u00c9 assim desde as primeiras d\u00e9cadas do s\u00e9culo 20, quando o lugar come\u00e7ou a ser ocupado. Hoje cerca de 400 mulheres trabalham como marisqueiras, ocupando-se das coletas de sururu e marisco. Mas, com o passar dos anos, a atividade que garante a sobreviv\u00eancia da comunidade pesqueira vem gerando um\u00a0s\u00e9rio problema de impacto ambiental<\/strong>. O molusco \u00e9 aproveitado, mas as conchas est\u00e3o se acumulado sem controle na pequena ilha. Basta chegar ao local para se deparar com montanhas delas, depositadas nas margens dos manguezais, dificultando a dispers\u00e3o de sementes do mangue e comprometendo o desenvolvimento do bioma. Entre outros problemas, os res\u00edduos ainda reduzem o oxig\u00eanio da \u00e1gua e atraem animais transmissores de doen\u00e7as, como ratos e baratas.<\/p>\n

A empregada dom\u00e9stica Lucicleide Maria da Silva, 38 anos, exerce a fun\u00e7\u00e3o de marisqueira h\u00e1 dez, como uma forma de complementar a renda. Ela entende que o problema n\u00e3o s\u00e3o as\u00a0conchas <\/strong>em si, mas o excesso delas. \u201cMas se \u00e9 o ganha p\u00e3o da gente, fazer o qu\u00ea? N\u00e3o \u00e9 que a gente queira acumular, mas vai jogar onde?\u201d, questiona. \u201cO ac\u00famulo preocupa, porque daqui a pouco [as conchas] v\u00e3o sair do mangue e entrar na ilha\u201d, diz. Morador e pescador desde a inf\u00e2ncia, Wellington Jos\u00e9 Francisco, 39, compartilha da mesma justificativa. \u201cEra para ter um lugar espec\u00edfico para descartar e a prefeitura recolher. Mas n\u00e3o \u00e9 assim. Ent\u00e3o, a gente vai acumulando no mangue. Est\u00e1 desse jeito porque n\u00e3o tem quem d\u00ea fim\u201d, complementa.<\/p>\n

A situa\u00e7\u00e3o chegou a esse ponto por n\u00e3o existir uma destina\u00e7\u00e3o correta dos dejetos, confirma a professora de biologia da Universidade de Pernambuco (UPE) e doutora em ecologia e recursos naturais, Viviane de Melo. \u201cEsse descarte inadequado \u00e9 feito porque n\u00e3o h\u00e1 uma orienta\u00e7\u00e3o para os pescadores e catadoras de sururu e marisco. H\u00e1 tamb\u00e9m a dificuldade de se fazer a coleta p\u00fablica do material por conta do dif\u00edcil acesso \u00e0 comunidade\u201d, reconhece ela, que visitou a ilha recentemente.<\/p>\n

Para chegar \u00e0 Ilha de Deus, \u00e9 preciso passar por uma estreita ponte, que permite a passagem de um carro por vez. Caminh\u00e3o de lixo, por exemplo, n\u00e3o entra. A coleta dos res\u00edduos s\u00f3lidos \u00e9 realizada manualmente pela gest\u00e3o municipal. \u201cIsso s\u00f3 contribui para que o\u00a0ac\u00famulo [de conchas]<\/strong> aumente na ilha cada vez mais\u201d, observa ela, que, atualmente, coordena uma pesquisa de inicia\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, a fim de buscar solu\u00e7\u00f5es para minimizar os impactos na Ilha de Deus. Entre as alternativas, estaria o uso das\u00a0conchas<\/strong> na constru\u00e7\u00e3o civil e como complementa\u00e7\u00e3o de ra\u00e7\u00e3o animal, a partir da extra\u00e7\u00e3o do c\u00e1lcio, mineral encontrado em abund\u00e2ncia nas\u00a0conchas<\/strong>.<\/p>\n

Embora o material forme um \u201ctapete\u201d na lama do manguezal, n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 a vegeta\u00e7\u00e3o que sofre. A coleta dos\u00a0moluscos<\/strong> causa outras pertuba\u00e7\u00f5es ambientais, como dist\u00farbios das comunidades naturais de fitopl\u00e2ncton e da qualidade da \u00e1gua. \u00c9 que, mesmo estando acumuladas nas margens, quando a mar\u00e9 sobe, a \u00e1gua do rio leva toda a mat\u00e9ria org\u00e2nica decomposta presente nas conchas, levando a um processo chamado eutrofiza\u00e7\u00e3o. \u201c\u00c9 quando voc\u00ea coloca dentro do rio uma carga maior [de res\u00edduo org\u00e2nico] do que ele suporta. A \u00e1gua precisa de oxig\u00eanio para depurar toda essa sobrecarga e o excesso compromete tamb\u00e9m a fauna aqu\u00e1tica, que precisa desse oxig\u00eanio para sobreviver. Quanto maior a carga que o rio recebe, menos rico em biodiversidade ele \u00e9. Toda a cadeia \u00e9 afetada\u201d, explica a bi\u00f3loga. A situa\u00e7\u00e3o se torna ainda mais preocupante porque trechos de rio inseridos em zonas urbanas geralmente t\u00eam baixas cargas de oxig\u00eanio, devido \u00e0 polui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ac\u00famulo afeta a sa\u00fade<\/strong>
\nAl\u00e9m do mau cheiro causado pela decomposi\u00e7\u00e3o dos\u00a0res\u00edduos de molusco presentes<\/strong> nas\u00a0conchas<\/strong>, os restos contribuem para atrair vetores de doen\u00e7as, como ratos e insetos. \u201cSe alguma crian\u00e7a ou qualquer outra pessoa andar por cima desses montes e as conchas estiverem com urina de rato, aumentam as chances dela contrair leptospirose\u201d, alerta a bi\u00f3loga Viviane de Melo. O problema tende a se agravar nos per\u00edodos chuvosos. \u201cAs\u00a0conchas <\/strong>viradas para cima, juntas, tornam-se focos em potencial para o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, o Aedes aegypti\u201c, avalia.<\/p>\n

Uma forma de minimizar o problema dos\u00a0ac\u00famulos de conchas na ilha,<\/strong> sugere a especialista, seria equilibrar a extra\u00e7\u00e3o e reposi\u00e7\u00e3o de sururus e mariscos. \u201cVamos dizer que o pescador pega 10kg de sururu. Ap\u00f3s a cata\u00e7\u00e3o, o certo seria devolver as conchas desses 10kg pescados. Essa troca ajudaria no equil\u00edbrio do ecossistema, uma vez que o rio iria depurar a mesma carga org\u00e2nica que foi extra\u00edda dele. Por isso, jogar o que j\u00e1 est\u00e1 acumulado hoje est\u00e1 longe do ideal\u201d, afirma.<\/p>\n

Essa extra\u00e7\u00e3o exagerada sem a reposi\u00e7\u00e3o, salienta, afeta tamb\u00e9m os pr\u00f3prios moluscos. Isso porque, ao diminuir a quantidade de c\u00e1lcio da natureza (mineral que serve de mat\u00e9ria-prima para a produ\u00e7\u00e3o da concha), reduz-se a popula\u00e7\u00e3o de moluscos, prejudicando a atividade pesqueira tamb\u00e9m. \u201c\u00c9 um ciclo. O molusco retira do ambiente o c\u00e1lcio e o transforma em carbonato de c\u00e1lcio, um material mais resistente para fazer a concha. Se a atividade pesqueira impactar ao ponto de empobrecer o volume de c\u00e1lcio no ambiente aqu\u00e1tico, n\u00e3o vai ter uma grande popula\u00e7\u00e3o de moluscos ali\u201d, afirma.<\/p>\n

Embora a\u00a0Ilha de Deus esteja situada no centro do Parque dos Manguezais<\/strong>, unidade de conserva\u00e7\u00e3o que disp\u00f5e de uma \u00e1rea equivalente a 320 campos de futebol, a Secretaria de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel e Meio Ambiente (SDSMA) afirma, em nota, que \u201co territ\u00f3rio da\u00a0Ilha de Deus <\/strong>n\u00e3o integra a Unidade de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza (UCN) Parque dos Manguezais\u201d. Quanto ao ac\u00famulo de conchas, a secretaria e a Autarquia de Manuten\u00e7\u00e3o e Limpeza Urbana (Emlurb) informaram que est\u00e3o \u201catentas \u00e0 quest\u00e3o e t\u00eam mantido di\u00e1logo com a comunidade pesqueira da \u00e1rea em busca de estabelecer uma solu\u00e7\u00e3o que concilie o descarte sustent\u00e1vel desses res\u00edduos e a atividade econ\u00f4mica tradicional daquela comunidade<\/p>\n

Fonte: Priscilla Costa, da Folha de Pernambuco<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Com o passar dos anos, atividade que garante a sobreviv\u00eancia da comunidade pesqueira vem gerando um s\u00e9rio problema ao meio ambiente com o ac\u00famulo de conchas <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[2749,730],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/143349"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=143349"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/143349\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":143350,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/143349\/revisions\/143350"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=143349"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=143349"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=143349"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}