{"id":143870,"date":"2018-05-26T00:05:08","date_gmt":"2018-05-26T03:05:08","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=143870"},"modified":"2018-05-25T20:34:32","modified_gmt":"2018-05-25T23:34:32","slug":"a-energia-nuclear-merece-uma-segunda-chance","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/05\/26\/143870-a-energia-nuclear-merece-uma-segunda-chance.html","title":{"rendered":"A energia nuclear merece uma segunda chance?"},"content":{"rendered":"
\"default\"<\/a>Diversos grupos tentam promover retomada da produ\u00e7\u00e3o de energia nuclear, que a Alemanha quer abandonar<\/p>\n<\/div>\n
\n
\n

“N\u00f3s estamos convencidos de que a energia nuclear \u00e9 parte da solu\u00e7\u00e3o para a matriz energ\u00e9tica e o meio ambiente”, diz Jos\u00e9 Ram\u00f3n Torralbo, ex-presidente da associa\u00e7\u00e3o nuclear espanhola num v\u00eddeo da Iniciativa Nuclear pelo Clima, que re\u00fane associa\u00e7\u00f5es nucleares de 38 pa\u00edses desde 2015.<\/p>\n

O objetivo da campanha \u00e9 educar pol\u00edticos e p\u00fablico sobre a import\u00e2ncia da energia nuclear como solu\u00e7\u00e3o para as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Esse objetivo tamb\u00e9m \u00e9 reiteradamente enfatizado por representantes do lobby da organiza\u00e7\u00e3o em confer\u00eancias sobre o clima das Na\u00e7\u00f5es Unidas.<\/p>\n

“A energia nuclear vai desempenhar um papel importante para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustent\u00e1vel da ONU e do Acordo de Paris”, destaca Mikhail Chudakov, vice-diretor-geral da Ag\u00eancia Internacional de Energia At\u00f4mica (AIEA), sediada em Viena, em fala divulgada pela Iniciativa Nuclear pelo Clima.<\/p>\n

Com o objetivo de pavimentar o caminho para uma economia de baixa emiss\u00e3o de carbono, a AIEA defende a inclus\u00e3o de danos ambientais no custo de produ\u00e7\u00e3o\u00a0da energia. Um “custo\u00a0CO2” \u00e9 um bom instrumento para isso. E tamb\u00e9m para ajudar a tornar a energia nuclear mais competitiva.<\/p>\n

Necessidade de expans\u00e3o<\/p>\n

Nas suas proje\u00e7\u00f5es para conter\u00a0o aquecimento global em dois graus cent\u00edgrados, a AIEA defende uma r\u00e1pida expans\u00e3o da capacidade nuclear. No final de 2017, usinas nucleares com uma capacidade total de 353 gigawatts (GW) estavam em opera\u00e7\u00e3o pelo mundo. Pela proje\u00e7\u00e3o da AIEA deveriam ser\u00a0598 GW em 2030. Para chegar l\u00e1, as usinas agora obsoletas precisariam ser substitu\u00eddas com mais frequ\u00eancia e pelos menos 19 GW extras \u2013 ou 19 novas usinas \u2013 deveriam ser adicionados \u00e0 rede a cada ano.<\/p>\n

A implementa\u00e7\u00e3o desse projeto significaria um giro de 180 graus na atual pol\u00edtica de energia nuclear: em compara\u00e7\u00e3o com a capacidade energ\u00e9tica de dez anos atr\u00e1s, a energia nuclear n\u00e3o aumentou sua fatia \u2013 chegou at\u00e9 mesmo a diminuir levemente. Ao mesmo tempo, em apenas alguns anos ela foi superada pelas produ\u00e7\u00e3o\u00a0e\u00f3lica\u00a0e solar.<\/p>\n

A China, que impulsionara a energia nuclear mais do qualquer outro pa\u00eds nos \u00faltimos anos, agora indica a nova dire\u00e7\u00e3o, diz Mycel Schneider, editor do\u00a0World Nuclear Industry Report<\/em> ou seja, rumo \u00e0s energias renov\u00e1veis.<\/p>\n

Em 2017, apenas quatro novas usinas nucleares foram colocadas em funcionamento: tr\u00eas delas na China e uma no Paquist\u00e3o (que foi constru\u00edda com tecnologia chinesa). A capacidade total dessas usinas \u00e9 de 2,7 GW. S\u00f3 que ao mesmo tempo a China instalou em seu territ\u00f3rio pain\u00e9is solares com uma capacidade total de 53 GW. “At\u00e9 mesmo na China\u00a0a energia nuclear se tornou negligenciada”, diz Schneider.<\/p>\n

Energia mais cara<\/p>\n

A energia nuclear pode ser boa para\u00a0o clima, mas vale mesmo a pena investir nela? A verdade \u00e9 que o custo da energia nuclear tem aumentado constantemente. Novas usinas est\u00e3o se tornando cada vez mais caras, e a sua constru\u00e7\u00e3o \u00e9 regularmente marcada por atrasos. Usinas solares ou e\u00f3licas s\u00e3o muito mais baratas e podem ser instaladas mais rapidamente.<\/p>\n

A eletricidade a ser gerada pela futura usina nuclear de Hinkley Point, no Reino Unido, a partir de 2025, deve ser oferecida por 12 centavos de euro por quilowatt\/hora (kWh) \u2013 a pre\u00e7os de hoje. Energias solar e e\u00f3lica s\u00e3o\u00a0bem mais baratas do que isso.<\/p>\n

\"Japan<\/a>Usina de Fukushima, no Jap\u00e3o. Custos para lidar com potenciais acidentes torna a energia nuclear ainda menos competitiva<\/p>\n<\/div>\n

De acordo com um estudo do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar (ISE), a eletricidade gerada hoje por turbinas e\u00f3licas na Alemanha custa em m\u00e9dia 6,1 centavos de euro por kWh \u2013 e a eletricidade de novas usinas solares chega a custar 5,2 centavos. Em pa\u00edses ensolarados, o custo de produ\u00e7\u00e3o \u00e9 ainda mais barato e pode cair para menos de 4 centavos de euro. Cientistas do Instituto Fraunhofer preveem que os custos da energia solar e e\u00f3lica devem cair ainda mais nos pr\u00f3ximos anos.<\/p>\n

Mas a\u00a0energia nuclear fica\u00a0cara mesmo se todos os custos forem inclu\u00eddos. Al\u00e9m dos gastos ainda n\u00e3o especificados com o descarte de lixo nuclear, que permanece altamente radiativo por milhares de anos, h\u00e1 ainda o custo de reparar os danos causados por grandes acidentes nucleares, como Chernobyl e Fukushima.<\/p>\n

Hoje as operadoras de usinas nucleares n\u00e3o s\u00e3o obrigadas a contratar seguros contra acidentes desse tipo. Se fossem,\u00a0o custo da energia nuclear aumentaria entre 11 e\u00a034 centavos de euro por kWh, segundo um estudo do F\u00f3rum Ecol\u00f3gico-Social de Economia do Mercado (F\u00d6S). Assim, at\u00e9 mesmo a eletricidade das usinas nucleares j\u00e1 existentes deixaria de ser vi\u00e1vel.<\/p>\n

Novas tecnologias de armazenamento<\/p>\n

As energias solar\u00a0e e\u00f3lica\u00a0n\u00e3o est\u00e3o\u00a0sempre suficientemente dispon\u00edveis,\u00a0e isso \u00e9\u00a0visto como uma de suas desvantagens. Mas esse problema pode ser solucionado por\u00a0novas tecnologias de armazenamento, como a convers\u00e3o de energia para g\u00e1s. Com essa tecnologia, hidrog\u00eanio ou g\u00e1s natural sint\u00e9tico \u00e9 produzido a partir de eletricidade solar e e\u00f3lica. Esse material\u00a0\u00e9 armazenado, e, se houver necessidade, e a eletricidade pode ser recuperada numa usina termoel\u00e9trica a g\u00e1s.<\/p>\n

O instituto Energy Brainpool, de Berlim, estimou que os custos para a produ\u00e7\u00e3o segura de energia de fontes e\u00f3licas e solares em combina\u00e7\u00e3o com a tecnologia de convers\u00e3o de energia para g\u00e1s deve ficar em 12 centavos de euro por kWh nos pr\u00f3ximos dez anos. O valor \u00e9, portanto, mais competitivo que o da energia de novos reatores. Outra vantagem de tal ciclo combinado de usinas \u00e9 que a sociedade n\u00e3o corre riscos significativos ou tem que arcar com os custos de acidentes nucleares com o descarte de dejetos.<\/p>\n

Lobby at\u00f4mico com n\u00fameros defasados<\/p>\n

A DW entrou em contato com a Iniciativa Nuclear pelo\u00a0Clima e com outras associa\u00e7\u00f5es que promovem a energia at\u00f4mica para conseguir dados e questionar como a energia nuclear pode competir com as usinas e\u00f3licas e solares, especialmente se todos os custos foram inclu\u00eddos.<\/p>\n

O representante da Iniciativa Nuclear peloClima n\u00e3o respondeu aos questionamentos. J\u00e1 o lobby que representa a associa\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria nuclear alem\u00e3, o F\u00f3rum At\u00f4mico Alem\u00e3o (DAtF), que tamb\u00e9m apoia a Iniciativa Nuclear, n\u00e3o quis mediar entrevistas com seus membros. “Sob condi\u00e7\u00f5es igualit\u00e1rias de mercado, a energia nuclear \u00e9 econ\u00f4mica”, se limitou a afirmar. A DAtF tamb\u00e9m informou que v\u00ea uma demanda mundial crescente em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 energia nuclear.<\/p>\n

\"Hinkley<\/a>Usina de Hinkley Point, no Reino Unido, \u00e9 uma das raras usinas em constru\u00e7\u00e3o na Europa<\/p>\n<\/div>\n

A AIEA, por sua vez, se recusou a comentar sobre as compara\u00e7\u00f5es entre energia renov\u00e1vel e nuclear e disse que seus dados se baseiam\u00a0em estimativas da Ag\u00eancia de Energia Nuclear (NEA), baseada em Paris e ligada \u00e0 Organiza\u00e7\u00e3o para a Coopera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico (OCDE).<\/p>\n

No entanto, a NEA est\u00e1 divulgando n\u00fameros defasados. No mais recente relat\u00f3rio da organiza\u00e7\u00e3o, divulgado em abril, por exemplo, pain\u00e9is solares aparecem custando o dobro do seu pre\u00e7o real de mercado. A DW questionou a NEA sobre essas discrep\u00e2ncias e se elas foram propositais, mas n\u00e3o obteve resposta.<\/p>\n

Os riscos dos\u00a0velhos reatores<\/p>\n

A Fran\u00e7a \u00e9 a\u00a0l\u00edder em energia nuclear. A estatal EDF, com o apoio do presidente Emmanuel Macron, quer prorrogar a vida \u00fatil dos reatores existentes em at\u00e9 50 ou 60 anos. Esse velhos reatores, segundo estimativas, ainda s\u00e3o rent\u00e1veis para o mercado europeu de energia.<\/p>\n

No entanto, est\u00e1 crescendo a oposi\u00e7\u00e3o a esse tipo de iniciativa na Europa. O medo de que velhos reatores sejam\u00a0mais suscet\u00edveis a um acidente nuclear est\u00e1 crescendo.<\/p>\n

Quinze regi\u00f5es da Alemanha, \u00c1ustria e B\u00e9lgica formaram uma alian\u00e7a para cobrar responsabilidade dos operadores de usinas at\u00f4micas no caso de um acidente nuclear. No momento, a cobertura do seguro das usinas s\u00f3 cobre 1 bilh\u00e3o de euros na maior parte dos pa\u00edses da Uni\u00e3o Europeia, sendo que os custos de um acidente como Fukushima passaram de 100 bilh\u00f5es de euros.<\/p>\n

“Os desafios do Acordo de Paris sobre altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas s\u00f3 pode ser enfrentados com maior efici\u00eancia e uso das energias renov\u00e1veis”, disse em abril a ministra do Meio Ambiente de Luxemburgo, Carole Dieschbourg, durante um encontro da\u00a0alian\u00e7a de regi\u00f5es. “A energia nuclear n\u00e3o \u00e9 a solu\u00e7\u00e3o, mas uma tecnologia cara, arriscada e inflex\u00edvel.”<\/p>\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"