{"id":143882,"date":"2018-05-28T00:04:30","date_gmt":"2018-05-28T03:04:30","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=143882"},"modified":"2018-05-27T22:14:48","modified_gmt":"2018-05-28T01:14:48","slug":"poluicao-luminosa-de-grandes-cidades-faz-estrelas-desaparecerem-do-ceu-e-pesquisas-minguarem","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/05\/28\/143882-poluicao-luminosa-de-grandes-cidades-faz-estrelas-desaparecerem-do-ceu-e-pesquisas-minguarem.html","title":{"rendered":"Polui\u00e7\u00e3o luminosa de grandes cidades faz estrelas ‘desaparecerem’ do c\u00e9u e pesquisas minguarem"},"content":{"rendered":"
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\"VistaDireito de imagemCLEBER GON\u00c7ALVESImage caption<\/div>\n
A forma como a ilumina\u00e7\u00e3o das cidades \u00e9 projetada tem dificultado a observa\u00e7\u00e3o dos astros em Itajub\u00e1, em Minas Gerais<\/div>\n
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Quem olhasse para o c\u00e9u na noite de 25 de janeiro de 1554, data da missa dos jesu\u00edtas Jos\u00e9 de Anchieta e Manoel da N\u00f3brega pela funda\u00e7\u00e3o da cidade de S\u00e3o Paulo, poderia avistar mais de 4 mil estrelas – caso n\u00e3o houvesse nuvens nem lua.<\/p>\n

Hoje, n\u00e3o veria mais do que uma d\u00fazia. A culpada pelo “desaparecimento” dos astros \u00e9 a ilumina\u00e7\u00e3o artificial da metr\u00f3pole, com seus milh\u00f5es de l\u00e2mpadas nas ruas, resid\u00eancias e lojas, al\u00e9m dos far\u00f3is de carros. A chamada polui\u00e7\u00e3o luminosa n\u00e3o apenas reduziu a beleza do c\u00e9u noturno, como tamb\u00e9m causa problemas pr\u00e1ticos. Ela prejudica as observa\u00e7\u00f5es astron\u00f4micos e, consequentemente, a realiza\u00e7\u00e3o de pesquisas cient\u00edficas que ampliam o conhecimento sobre o universo.<\/p>\n

Segundo uma cartilha elaborada pelo Laborat\u00f3rio Nacional de Astronomia (LNA), localizado em Itajub\u00e1, em Minas Gerais, h\u00e1 tr\u00eas categorias de polui\u00e7\u00e3o luminosa. A primeira \u00e9 o brilho do c\u00e9u (sky glow), que \u00e9 aquele aspecto alaranjado, causado pelas luzes, principalmente de l\u00e2mpadas de vapor de s\u00f3dio, indevidamente direcionadas para o alto e para os lados. \u00c9 pior em \u00e1reas com alta concentra\u00e7\u00e3o de poluentes atmosf\u00e9ricos.<\/p>\n

A segunda \u00e9 o ofuscamento (glare), luz excessiva e direta nos olhos, causando cegueira moment\u00e2nea. Um exemplo \u00e9 o carro que trafega com far\u00f3is altos na dire\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria a de outro ve\u00edculo. Por fim, a terceira categoria de polui\u00e7\u00e3o luminosa \u00e9 a chamada luz intrusa (trespass), que \u00e9 a ilumina\u00e7\u00e3o de um ambiente que invade o dom\u00ednio de outro, como, por exemplo, aquela que vem da rua e n\u00e3o permite que o quarto fique totalmente escuro durante a noite.<\/p>\n

Embora os problemas que a polui\u00e7\u00e3o luminosa causa \u00e0s observa\u00e7\u00f5es astron\u00f4mica tenham se intensificado nos \u00faltimos anos, eles n\u00e3o s\u00e3o de hoje. Segundo o pesquisador Vlad\u00edmir Jearim Pe\u00f1a Su\u00e1rez, do Projeto Olhai pro C\u00e9u Carioca, do Museu de Astronomia e Ci\u00eancias Afins (MAST), unidade de pesquisa do Minist\u00e9rio da Ci\u00eancia, quando o campus do Observat\u00f3rio Nacional do Rio de Janeiro foi transferido para o Morro de S\u00e3o Janu\u00e1rio, em S\u00e3o Crist\u00f3v\u00e3o, em 1922, a regi\u00e3o era considerada suburbana, com uma densidade de popula\u00e7\u00e3o pequena e isolada.<\/p>\n

Com o passar dos anos, o conjunto de lunetas da institui\u00e7\u00e3o foi ficando limitado tecnologicamente, prejudicado de forma crescente pelo crescimento da popula\u00e7\u00e3o, com o consequente o aumento da ilumina\u00e7\u00e3o externa artificial. “Isso fez com que o interesse de usar estes instrumentos profissionalmente fosse diminuindo”, conta Su\u00e1rez. “As \u00faltimas observa\u00e7\u00f5es profissionais com a luneta de 46 cent\u00edmetros, a maior do Brasil, datam de 1977.”<\/p>\n

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A ilumina\u00e7\u00e3o artificial tem atrapalhado a efic\u00e1cia Laborat\u00f3rio Nacional de Astronomia (LNA), localizado em Itajub\u00e1, em Minas Gerais<\/div>\n

O diretor do LNA, Bruno Vaz Castilho de Souza, lembra que algo semelhante aconteceu com o Observat\u00f3rio de Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), localizado no centro do Rio. “Ele j\u00e1 perdeu sua capacidade de fazer pesquisa h\u00e1 muitas d\u00e9cadas”, lamenta. “Mas o problema se agravou mais nos \u00faltimos 15 anos, com o barateamento dos sistemas de ilumina\u00e7\u00e3o e a pol\u00edtica de eletrifica\u00e7\u00e3o rural, que afeta agora os observat\u00f3rios de montanha, mesmo longe dos grandes centros. \u00c9 importante notar que o problema n\u00e3o \u00e9 iluminar, \u00e9 iluminar incorretamente.”<\/p>\n

Um exemplo mais recente vem do Observat\u00f3rio Astron\u00f4mico do Sert\u00e3o de Itaparica (OASI), que come\u00e7ou a operar em mar\u00e7o de 2011, no munic\u00edpio de Itacuruba, no sert\u00e3o pernambucano. A escolha do local para instala\u00e7\u00e3o do telesc\u00f3pio, o segundo maior do Brasil, com espelho principal de 1,0 metro de di\u00e2metro, obedeceu a crit\u00e9rios t\u00e9cnicos e log\u00edsticos. “Ainda que n\u00e3o seja pr\u00f3digo em montanhas, o semi\u00e1rido brasileiro tem baixo \u00edndice pluviom\u00e9trico, com noites abertas e secas”, diz Teresinha Rodrigues, da Coordena\u00e7\u00e3o de Astronomia e Astrof\u00edsica, do Observat\u00f3rio Nacional.<\/p>\n

Outra caracter\u00edstica da regi\u00e3o \u00e9 que as cidades ainda s\u00e3o pequenas e afastadas umas das outras, contribuindo pouco para a polui\u00e7\u00e3o luminosa. “Apesar disso, a ilumina\u00e7\u00e3o urbana recentemente instalada na cidade de Rodelas (BA), pr\u00f3ximo a Itacuruba, tornou-se altamente invasiva, com um fulgor amarelo que se destaca na noite da Caatinga num raio de dezenas de quil\u00f4metros”, conta Rodrigues. “No que diz respeito \u00e0 interfer\u00eancia nas observa\u00e7\u00f5es astron\u00f4micas, j\u00e1 podemos considerar que 15% do c\u00e9u da regi\u00e3o, na dire\u00e7\u00e3o Sudoeste, est\u00e3o perdidos para o trabalho de pesquisa.”<\/p>\n

A principal institui\u00e7\u00e3o de observa\u00e7\u00e3o astron\u00f4mica do Brasil tamb\u00e9m est\u00e1 \u00e0s voltas com a polui\u00e7\u00e3o luminosa. O Observat\u00f3rio do Pico dos Dias (OPD), instalado em 1980, a 1.864 metros de altitude, entre as cidades mineiras de Braz\u00f3polis e Pirangu\u00e7u, possui quatro telesc\u00f3pios, inclusive o maior no Brasil, com um espelho de 1,6 metros de di\u00e2metro. Dois telesc\u00f3pios com espelhos de 0.6 m e um de 0.4 m completam o conjunto.<\/p>\n

Segundo Souza, o OPD contribuiu decisivamente para o crescimento da astronomia brasileira, tendo aberto caminho para a participa\u00e7\u00e3o nacional em projetos internacionais de grande porte, como os telesc\u00f3pios Gemini e SOAR. “O OPD tem tamb\u00e9m papel fundamental na forma\u00e7\u00e3o de novos profissionais para a astronomia”, acrescenta.<\/p>\n

Economia na conta de luz<\/h2>\n

Tudo isso est\u00e1 em risco, no entanto. A vida \u00fatil do OPD como laborat\u00f3rio cient\u00edfico est\u00e1 sendo comprometida pelo aumento descontrolado da ilumina\u00e7\u00e3o artificial nos seus arredores. “Considerando o n\u00famero de habitantes e a dist\u00e2ncia em linha reta ao observat\u00f3rio, as cinco cidades que mais o afetam s\u00e3o Braz\u00f3polis, Itajub\u00e1, Pirangu\u00e7u, Campos do Jord\u00e3o e Piranguinho”, informa Souza. “\u00c9 preciso conscientizar a popula\u00e7\u00e3o e os governos municipais para a exist\u00eancia do problema e promover a\u00e7\u00f5es concretas visando impedir o avan\u00e7o da polui\u00e7\u00e3o luminosa e, at\u00e9 mesmo, revert\u00ea-la.”<\/p>\n

H\u00e1 v\u00e1rias iniciativas nesse sentido, tanto no Brasil como no exterior. “Os projetos em outros pa\u00edses com tradi\u00e7\u00e3o astron\u00f4mica est\u00e3o bem mais avan\u00e7adas”, diz Souza. “N\u00e3o faltam exemplos de casos bem-sucedidos, como nas cidades de La Serena e Monte P\u00e1tria, no norte do Chile, e a ilha de La Palma, nas Ilhas Can\u00e1rias (Espanha), que reduziram drasticamente a polui\u00e7\u00e3o luminosa e agora economizam na conta de luz.”<\/p>\n

De acordo ele, isso pode ser conseguido com cuidados simples. Os sistemas de ilumina\u00e7\u00e3o devem ser corretamente orientados, de modo a evitar que a luz artificial seja desviada na dire\u00e7\u00e3o do c\u00e9u. Nas ruas, estacionamentos e empresas o vidro refrator das l\u00e2mpadas deve ser plano, para que a luz seja dispersada para baixo.<\/p>\n

Em pra\u00e7as, \u00e1reas de lazer, jardins e parte externa de resid\u00eancias deve-se evitar lumin\u00e1rias esf\u00e9ricas (globos), muito comuns no Brasil. “A regra de ouro \u00e9 iluminar apenas o que for preciso e durante o tempo que for necess\u00e1rio”, ensina Souza.<\/p>\n

\"EsquemaDireito de imagemSAULOImage caption<\/div>\n
A ilumina\u00e7\u00e3o deixaria de atrapalhar observat\u00f3rios caso as l\u00e2mpadas propagassem a luz para baixo<\/div>\n

Al\u00e9m das iniciativas de observat\u00f3rios e cidades, h\u00e1 tamb\u00e9m campanhas como a Semana Internacional dos C\u00e9us Escuros 2018 (International Dark Sky Week, IDSW2018), e associa\u00e7\u00f5es, como a The International Dark-Sky Association (Associa\u00e7\u00e3o Internacional do C\u00e9u Escuro), que se dedicam ao tema.<\/p>\n

“Em 2007, cientistas e formuladores de pol\u00edticas de cerca de 50 pa\u00edses se reuniram em La Palma para a primeira Confer\u00eancia Internacional em Defesa da Qualidade do C\u00e9u Noturno, produzindo uma declara\u00e7\u00e3o sobre ‘proteger o c\u00e9u como um direito b\u00e1sico para toda a humanidade'”, conta.<\/p>\n

Souza diz que no Brasil ainda h\u00e1 poucas iniciativas concretas, mas com o crescimento das cidades do interior pr\u00f3ximas aos observat\u00f3rios, como o Pico dos Dias (Braz\u00f3polis e Pirangu\u00e7u) e o Observat\u00f3rio Municipal Jean Nicolini (Campinas), as a\u00e7\u00f5es s\u00e3o mais que nunca necess\u00e1rias. “O Observat\u00f3rio de Campinas tem trabalhado junto \u00e0 prefeitura para criar uma legisla\u00e7\u00e3o municipal”, informa.<\/p>\n

O LNA, al\u00e9m de fazer campanhas com o p\u00fablico da regi\u00e3o e produzir material informativo, tem feito esfor\u00e7os junto \u00e0s prefeituras locais para a troca da ilumina\u00e7\u00e3o incorreta. “Itajub\u00e1, por exemplo, est\u00e1 trabalhando para a cria\u00e7\u00e3o de Parceria P\u00fablico-Privada (PPP) para fazer isso e Braz\u00f3polis e o LNA pretendem submeter projeto para o mesmo fim em breve”, informa Souza.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Quem olhasse para o c\u00e9u na noite de 25 de janeiro de 1554, data da missa dos jesu\u00edtas Jos\u00e9 de Anchieta e Manoel da N\u00f3brega pela funda\u00e7\u00e3o da cidade de S\u00e3o Paulo, poderia avistar mais de 4 mil estrelas – caso n\u00e3o houvesse nuvens nem lua. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[3046,1193],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/143882"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=143882"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/143882\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":143883,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/143882\/revisions\/143883"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=143882"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=143882"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=143882"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}