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No Brasil, as quest\u00f5es ligadas aos agrot\u00f3xicos s\u00e3o consolidadas pela Lei n\u00ba 7.802, de 1989, que fala de pesquisa, rotulagem, armazenamento, importa\u00e7\u00e3o, exporta\u00e7\u00e3o, e registro \u2013 quase todos os processos relacionados ao uso, libera\u00e7\u00e3o e fiscaliza\u00e7\u00e3o dos pesticidas no pa\u00eds.<\/p>\n<\/div>\n
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A comiss\u00e3o para discutir as mudan\u00e7as foi criada em 2016 pela presid\u00eancia da C\u00e2mara. Na \u00e9poca, a presidente eleita para a comiss\u00e3o especial foi a deputada Tereza Cristina (DEM). Ela designou como relator o deputado Luiz Nishimori (PR), que deu parecer favor\u00e1vel ao projeto de lei.<\/p>\n<\/div>\n
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A Comiss\u00e3o estabeleceu um cronograma de trabalhos e escolheu especialistas para debater 18 eixos. Antes de dar seu parecer favor\u00e1vel, Nishimori escreveu mais de uma dezena de considera\u00e7\u00f5es, como as dificuldades de produ\u00e7\u00e3o em regi\u00f5es tropicais, “avalia\u00e7\u00e3o atrasada” em rela\u00e7\u00e3o ao cen\u00e1rio internacional, crit\u00e9rios de risco e, assim como os defensores da lei, um sistema de registro de pesticidas “extremamente burocr\u00e1tico”. Segundo o relat\u00f3rio, um novo produto leva de 6 a 8 anos para aprova\u00e7\u00e3o.<\/p>\n<\/div>\n
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Lei pretende mudar nome “agrot\u00f3xicos” para “produtores fitossanit\u00e1rios” (Foto: Nathalia Ceccon\/Idaf-ES)<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n
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O que est\u00e1 previsto na proposta<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n\n
Veja abaixo o que est\u00e1 no projeto de lei:<\/p>\n<\/div>\n
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\n- Passa a usar os termos “defensivos agr\u00edcolas” e “produtos fitossanit\u00e1rios” no lugar de “agrot\u00f3xico”.<\/li>\n
- As an\u00e1lises para novos produtos e autoriza\u00e7\u00e3o de registros passam a ficar coordenadas pelo Minist\u00e9rio da Agricultura.<\/li>\n
- O Minist\u00e9rio da Agricultura tamb\u00e9m ir\u00e1 “definir e estabelecer prioridades de an\u00e1lise dos pleitos de registros de produtos fitossanit\u00e1rios para os \u00f3rg\u00e3os de sa\u00fade e meio ambiente”.<\/li>\n
- \u00c9 criado um registro e autoriza\u00e7\u00e3o tempor\u00e1rios para produtos que j\u00e1 sejam registrados em outros tr\u00eas pa\u00edses que sejam membros da Organiza\u00e7\u00e3o para Coorpera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico (OCDE) e adotem o c\u00f3digo da FAO. O prazo ser\u00e1 de 1 ano de an\u00e1lise e, ent\u00e3o, o registro ser\u00e1 liberado temporariamente.<\/li>\n
- A an\u00e1lise de risco \u00e9 obrigat\u00f3ria para a concess\u00e3o de registro e dever\u00e1 ser apresentada pela empresa que solicita a libera\u00e7\u00e3o do produto. Produtos com “risco aceit\u00e1vel” passam a ser permitidos e apenas produtos com “risco inaceit\u00e1vel” podem ser barrados.<\/li>\n
- Os Estados e o Distrito Federal n\u00e3o poder\u00e3o restringir a distribui\u00e7\u00e3o, comercializa\u00e7\u00e3o e uso de produtos autorizados pela Uni\u00e3o.<\/li>\n
- Facilita a burocracia para a libera\u00e7\u00e3o de agrot\u00f3xicos id\u00eanticos e similares a outros j\u00e1 registrados.<\/li>\n<\/ol>\n<\/div>\n
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Constitucionalidade questionada<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n\n
O deputado Luiz Nishimori escreveu em seu relat\u00f3rio que considerou as mudan\u00e7as constitucionais. O Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal (MPF) discorda e, em nota t\u00e9cnica, disse que pelo menos seis artigos da Constitui\u00e7\u00e3o Federal ser\u00e3o violados caso o projeto seja aprovado.<\/p>\n<\/div>\n
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“No entendimento da 4\u00aa C\u00e2mara, o texto de autoria do atual ministro da agricultura, Blairo Maggi, flexibiliza o controle sobre os produtos em detrimento da sa\u00fade e do meio ambiente”, disse a C\u00e2mara de Meio Ambiente e Patrim\u00f4nio Cultural do MPF (4CCR).<\/p>\n<\/div>\n
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De acordo com o MPF, a atual legisla\u00e7\u00e3o veda a aprova\u00e7\u00e3o de subst\u00e2ncias com caracter\u00edsticas teratog\u00eanicas, carcinog\u00eanicas ou mutag\u00eanicas, ou que provoquem dist\u00farbios hormonais e danos ao sistema reprodutivo.<\/p>\n<\/div>\n
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O projeto de lei, segundo o \u00f3rg\u00e3o, permite que elas sejam registradas j\u00e1 que \u00e9 estabelecida a an\u00e1lise de risco \u2013 somente os produtos com “risco inaceit\u00e1vel” poderiam ser barrados.<\/p>\n<\/div>\n
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“Fica proibido o registro de agrot\u00f3xicos, seus componentes e afins que revelem caracter\u00edsticas teratog\u00eanicas, carcinog\u00eanicas ou mutag\u00eanicas, de acordo com os resultados atualizados de experi\u00eancias da comunidade cient\u00edfica”, diz o texto da lei de 1989.<\/p><\/blockquote>\n<\/div>\n
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Produtores dizem que libera\u00e7\u00e3o de novos produtos \u00e9 ‘cara e demorada’ (Foto: Pascal Rosssignol\/Reuters)<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Avalia\u00e7\u00e3o de risco<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n\n
Silvia Fagnani, diretora-executiva do Sindicato Nacional da Ind\u00fastria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), se diz defensora da “moderniza\u00e7\u00e3o da lei atual”.<\/p>\n<\/div>\n
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Segundo ela, pa\u00edses pr\u00f3ximos, como a Argentina, fazem a avalia\u00e7\u00e3o de risco. “H\u00e1 c\u00e1lculos que s\u00e3o feitos. Eles pegam uma popula\u00e7\u00e3o de cobaias e fazem um teste para saber em que dosagem aquela popula\u00e7\u00e3o come\u00e7a a desenvolver qualquer muta\u00e7\u00e3o. Essa dosagem \u00e9 dividida por 1 mil. E essa \u00e9 a dosagem m\u00e1xima”, disse.<\/p>\n<\/div>\n
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Inca e Fiocruz contra<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n\n
Mas e o risco aceit\u00e1vel? Algumas entidades, como o Inca e a Fiocruz, acreditam que n\u00e3o devemos tolerar qualquer tipo de risco a doen\u00e7as e muta\u00e7\u00f5es.<\/p>\n<\/div>\n
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No texto em que o relator exp\u00f5e as pessoas chamadas para debater sobre o projeto n\u00e3o h\u00e1 men\u00e7\u00e3o de convite a especialistas do Inca. Assim como o MPF, o \u00f3rg\u00e3o ligado ao Minist\u00e9rio da Sa\u00fade publicou uma nota p\u00fablica com 22 estudos cient\u00edficos de refer\u00eancia declarando contrariedade ao projeto de lei.<\/p>\n<\/div>\n
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O Inca argumenta que a atual legisla\u00e7\u00e3o considera que a “identifica\u00e7\u00e3o do perigo” j\u00e1 \u00e9 suficiente para barrar o uso dos produtos. Segundo o \u00f3rg\u00e3o de sa\u00fade, a nova medida leva em considera\u00e7\u00e3o os “riscos” e n\u00e3o o “perigo”.<\/p>\n<\/div>\n
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“O risco \u00e9 a probabilidade de ocorr\u00eancia de um efeito t\u00f3xico para a sa\u00fade humana e o meio ambiente e a ‘an\u00e1lise de riscos’ proposta \u00e9 um processo constitu\u00eddo de tr\u00eas etapas que fixa um limite permitido de exposi\u00e7\u00e3o aos agrot\u00f3xicos, que desconsidera as seguintes quest\u00f5es: a periculosidade intr\u00ednseca dos agrot\u00f3xicos, o fato de n\u00e3o existir limites seguros de exposi\u00e7\u00e3o a subst\u00e2ncias mutag\u00eanicas e carcinog\u00eanicas”, diz o texto do Inca.<\/p>\n<\/div>\n
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A Funda\u00e7\u00e3o Oswaldo Cruz (Fiocruz) tamb\u00e9m divulgou uma nota\u00a0 t\u00e9cnica com 25 p\u00e1ginas. Nas primeiras p\u00e1ginas, a organiza\u00e7\u00e3o critica a tentativa de substituir o termo agrot\u00f3xico por “produtos fitossanit\u00e1rios” e argumenta que o pedido tenta ocultar o fato de que os “produtos s\u00e3o, em sua ess\u00eancia, t\u00f3xicos”.<\/p>\n<\/div>\n
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Segundo a Fiocruz, o texto desconsidera que a Anvisa j\u00e1 realiza a an\u00e1lise e avalia\u00e7\u00e3o de risco. “Como o pr\u00f3prio PL aponta, a primeira das quatro etapas de avalia\u00e7\u00e3o de risco \u00e9 constitu\u00edda pela identifica\u00e7\u00e3o do perigo”. Em resumo: caso haja chance de uma pessoa contrair c\u00e2ncer ou qualquer outro problema em decorr\u00eancia da exposi\u00e7\u00e3o\/ingest\u00e3o ao produto, na atual legisla\u00e7\u00e3o, ele \u00e9 barrado pela ag\u00eancia sanit\u00e1ria.<\/p>\n<\/div>\n
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“Entretanto, a an\u00e1lise de risco nos moldes preconizados pelo PL ir\u00e1 permitir o registro de produtos hoje proibidos no Brasil em fun\u00e7\u00e3o do perigo que representam, sempre que o risco for considerado ‘aceit\u00e1vel'” – Fiocruz<\/p><\/blockquote>\n<\/div>\n
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Como nova lei, apenas produtos considerados com risco ‘inaceit\u00e1vel’ ser\u00e3o barrados (Foto: Marcelo Brandt\/G1)<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Aprova\u00e7\u00e3o pelo Minist\u00e9rio da Agricultura<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n\n
O Ibama tamb\u00e9m publicou uma nota t\u00e9cnica em que declara posicionamento contr\u00e1rio \u00e0 lei. O \u00f3rg\u00e3o diz que a lei muda as compet\u00eancias institucionais estabelecidas hoje, dando apenas ao Minist\u00e9rio da Agricultura poder de decis\u00e3o quanto aos registros. Segundo o Ibama, a proposta “substitui a incumb\u00eancia dos \u00f3rg\u00e3os federais de avalia\u00e7\u00e3o dos estudos referentes aos produtos submetidos a registro, pela homologa\u00e7\u00e3o de parecer t\u00e9cnicos”.<\/p>\n<\/div>\n
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Na pr\u00e1tica, o Minist\u00e9rio da Agricultura aprova e os outros \u00f3rg\u00e3os e pastas fazem avalia\u00e7\u00f5es. Sobre o registro tempor\u00e1rio estabelecido na nova lei, o Ibama diz que a situa\u00e7\u00e3o do status do produto em outros pa\u00edses tem import\u00e2ncia, mas isso n\u00e3o pode ser determinate j\u00e1 que a ado\u00e7\u00e3o das medidas n\u00e3o extrapolam as condi\u00e7\u00f5es ambientais do Brasil.<\/p>\n<\/div>\n
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Silvia Fagnani, do Sindiveg, apesar de ser favor\u00e1vel \u00e0 moderniza\u00e7\u00e3o do projeto de lei de 1989, diz que este ponto \u00e9 um dos que “poderia melhorar” na proposta de Blairo Maggi.<\/p>\n<\/div>\n
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“Principalmente a quest\u00e3o da Anvisa e do Ibama no processo regulat\u00f3rio. A lei atual n\u00e3o d\u00e1 nenhuma compet\u00eancia para a Anvisa e pro Ibama, e o novo projeto traz eles para o processo. A gente acha que devemos dar mais autonomia para a Anvisa e pro Ibama participarem do registro”, disse.<\/p>\n<\/div>\n
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M\u00e1rcio Astrini, coordenador de pol\u00edticas p\u00fablicas do Greenpeace, faz parte da comiss\u00e3o especial criada pelo presidente da C\u00e2mara, Rodrigo Maia, que \u00e9 de organiza\u00e7\u00f5es contr\u00e1rias ao novo projeto de lei.<\/p>\n<\/div>\n
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“A gente faz parte do time de resist\u00eancia”, disse:<\/p><\/blockquote>\n<\/div>\n
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De acordo com Astrini, a Anvisa, Ibama e o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade “n\u00e3o tem mais poder de veto, agora s\u00e3o facultativos”.<\/p>\n<\/div>\n
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“Eles dizem que n\u00e3o est\u00e3o retirando esses \u00f3rg\u00e3os do processo, mas est\u00e3o tirando eles do poder de decis\u00e3o”, explicou.<\/p><\/blockquote>\n<\/div>\n