{"id":145140,"date":"2018-08-01T00:03:35","date_gmt":"2018-08-01T03:03:35","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=145140"},"modified":"2018-07-31T22:01:44","modified_gmt":"2018-08-01T01:01:44","slug":"exploracao-de-ouro-no-brasil-comecou-em-sao-paulo-e-a-regiao-pode-conter-pepitas-ate-hoje-dizem-especialistas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/08\/01\/145140-exploracao-de-ouro-no-brasil-comecou-em-sao-paulo-e-a-regiao-pode-conter-pepitas-ate-hoje-dizem-especialistas.html","title":{"rendered":"Explora\u00e7\u00e3o de ouro no Brasil come\u00e7ou em S\u00e3o Paulo – e a regi\u00e3o pode conter pepitas at\u00e9 hoje, dizem especialistas"},"content":{"rendered":"
\"Duas
Estas pepitas de ouro foram extra\u00eddas em local pr\u00f3ximo ao Pico do Jaragu\u00e1, em S\u00e3o Paulo<\/figcaption><\/figure>\n

Mais de um s\u00e9culo antes do ciclo do ouro em Minas Gerais – este sim bem conhecido -, j\u00e1 se garimpava metais preciosos na base do Pico do Jaragu\u00e1, na atual zona oeste da capital, e em \u00e1reas pr\u00f3ximas.<\/p>\n

Segundo historiadores e ge\u00f3logos, muitas pepitas ainda podem estar enterradas em cidades como Guarulhos, Itapecerica da Serra, Mogi das Cruzes e Embu-Gua\u00e7u, al\u00e9m da pr\u00f3pria capital paulista.<\/p>\n

Na regi\u00e3o onde est\u00e1 o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, havia um grande garimpo que funcionou at\u00e9 o s\u00e9culo 19. Em Iguape, no sul do Estado de S\u00e3o Paulo, a atividade mineradora era t\u00e3o grande que, no s\u00e9culo 16, havia uma casa de fundi\u00e7\u00e3o nos mesmos moldes da instalada tempos depois em Ouro Preto, durante o Ciclo do Ouro em Minas Gerais, no s\u00e9culo 18.<\/p>\n

“A minera\u00e7\u00e3o do ouro no Brasil come\u00e7ou em S\u00e3o Paulo, e n\u00e3o em Minas Gerais, como acreditam muitas pessoas”, explica o arquiteto Nestor Goulart Reis, professor titular da Faculdade Arquitetura da Universidade de S\u00e3o Paulo (FAU-USP) e um dos mais respeitados especialistas em hist\u00f3ria do urbanismo do pa\u00eds.<\/p>\n

Autor do livro\u00a0As Minas de Ouro e a Forma\u00e7\u00e3o das Capitanias do Sul<\/em>, Goulart Reis fez um levantamento de mais de 150 minas de ouro descobertas a partir de meados do s\u00e9culo 16 e localizadas entre S\u00e3o Paulo e o norte de Santa Catarina.<\/p>\n

Explora\u00e7\u00e3o de m\u00e3o de obra<\/h2>\n

Algumas jazidas, como a de Embu-Gua\u00e7u, pertenciam aos padres jesu\u00edtas que, assim como outros mineradores portugueses e brasileiros da \u00e9poca, contratavam \u00edndios para explor\u00e1-las em troca de objetos como facas, anz\u00f3is, machados, utens\u00edlios dom\u00e9sticos e outros materiais \u00fateis \u00e0s tribos.<\/p>\n

“Essa hist\u00f3ria de que os \u00edndios eram apenas escravos n\u00e3o \u00e9 verdadeira. Eles ganhavam para trabalhar”, diz Reis, que destaca a participa\u00e7\u00e3o paulista na produ\u00e7\u00e3o do min\u00e9rio.<\/p>\n

\"Lavagem<\/dt>\n
A gravura mostra uma opera\u00e7\u00e3o de extra\u00e7\u00e3o de ouro em Itapecerica da Serra, perto da capital paulistana.<\/figcaption><\/figure>\n

Entre 1600 e 1820, foram produzidas na prov\u00edncia de S\u00e3o Paulo um total de 4.650 arrobas de ouro. Os n\u00fameros referem-se apenas ao min\u00e9rio registrado pela Coroa portuguesa para cobran\u00e7a de impostos, o quinto.<\/p>\n

\u00c9 pouco quando comparada \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de ouro em Minas Gerais durante o Ciclo do Ouro: 35.687 arrobas, entre 1700 e 1820. Mas \u00e9 superior \u00e0 produ\u00e7\u00e3o total de Mato Grosso (3.187 arrobas, entre 1721 e 1820) e metade de Goi\u00e1s (9.212 arrobas, entre 1720 e 1730).<\/p>\n

Se os paulistas n\u00e3o ganham em quantidade, podem se orgulhar do pioneirismo. Os primeiros registros come\u00e7aram logo ap\u00f3s a funda\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Vicente, em 1532. Em cartas enviadas \u00e0 Coroa, os portugueses da Col\u00f4nia e os jesu\u00edtas falavam sobre as “itaberabas” (pedras que brilham, em tupi) trazidas pelos \u00edndios. Hoje, Itaberaba \u00e9 nome de uma importante avenida na zona norte de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n

A minera\u00e7\u00e3o se espalha<\/h2>\n

Em 1562, o fundador da vila de Santos, Br\u00e1s Cubas, tamb\u00e9m citou a poss\u00edvel exist\u00eancia de ouro no vilarejo de Piratininga, a cerca de 30 l\u00e9guas do litoral mato adentro. Os primeiros exploradores do ouro do Jaragu\u00e1 teriam sido o portugu\u00eas Afonso Sardinha, o Velho, e seu filho, Afonso Sardinha, o Mo\u00e7o. Eles come\u00e7aram a extrair as jazidas nos arredores da atual cidade de S\u00e3o Paulo e na Serra da Mantiqueira por volta de 1580.<\/p>\n

“\u00c9 poss\u00edvel que a pr\u00f3pria funda\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Vicente esteja relacionada com ind\u00edcios da exist\u00eancia de minas de ouro. Esses ind\u00edcios teriam sido revelados pelos \u00edndios que desciam do planalto ao litoral”, diz o pesquisador em geologia Carlos Cornejo, um dos autores do livro Minerais e Pedras Preciosas do Brasil, um calhama\u00e7o de mais de 700 p\u00e1ginas sobre minera\u00e7\u00e3o no Brasil desde os prim\u00f3rdios da coloniza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ele lembra que a \u00e1rea do atual bairro na zona oeste e do Pico do Jaragu\u00e1 era conhecida entre os europeus como “o Peru do Brasil”, por causa das riquezas minerais encontradas pelos espanh\u00f3is no pa\u00eds andino.<\/p>\n

\"Ocorr\u00c3\u00aancias
O mapa \u00e9 de um livro editado em 1939, e mostra locais onde o ouro teria sido extra\u00eddo em S\u00e3o Paulo<\/figcaption><\/figure>\n

O ouro paulista tamb\u00e9m era alvo de cobi\u00e7a dos piratas que atacavam a costa de Santos e S\u00e3o Vicente. “Por que motivo os cors\u00e1rios iriam se interessar em atacar o litoral paulista? Com certeza n\u00e3o era pela cana-de-a\u00e7\u00facar”, diz Cornejo. N\u00e3o era mesmo. O cors\u00e1rio ingl\u00eas Thomas Cavendish, que fez v\u00e1rios ataques a vilas do litoral paulista entre 1585 e 1590, levou muitas riquezas do Jaragu\u00e1 para a Europa.<\/p>\n

Di\u00e1rios da tripula\u00e7\u00e3o de Cavendish relatam que, entre os produtos saqueados em Santos e S\u00e3o Vicente, havia ouro extra\u00eddo de um lugar chamado pelos \u00edndios de Mutinga, onde os portugueses tinham minas. Atualmente, uma das principais art\u00e9rias vi\u00e1rias da regi\u00e3o do Jaragu\u00e1 \u00e9 justamente a avenida Mutinga.<\/p>\n

Confec\u00e7\u00e3o de moedas<\/h2>\n

A casa de fundi\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Paulo, instalada pela Coroa portuguesa em 1601 nas proximidades do atual P\u00e1tio do Col\u00e9gio, no Centro de S\u00e3o Paulo, tamb\u00e9m abrigou a primeira casa da moeda do Brasil. Essa rudimentar casa da moeda antecedeu a de Salvador, fundada em 1694 e que se transformou na atual Casa da Moeda do Brasil. As moedas paulistas eram feitas com autoriza\u00e7\u00e3o do governo de Portugal para suprir a circula\u00e7\u00e3o de dinheiro na isolada vila de Piratininga.<\/p>\n

“Desde o come\u00e7o da coloniza\u00e7\u00e3o houve uma atividade mineradora intensa em S\u00e3o Paulo, de ouro e outros min\u00e9rios”, explica o jornalista e historiador Jorge Caldeira, autor de livros sobre\u00a0Hist\u00f3ria<\/a> do Brasil e biografias de personagens como o Bar\u00e3o de Mau\u00e1 e o jornalista Julio de Mesquita. Em seu livro\u00a0O Banqueiro do Sert\u00e3o<\/em>, Caldeira conta a trajet\u00f3ria do padre Guilherme Pompeu de Almeida (1656-1713), um religioso que virou grande capitalista e fazia neg\u00f3cios com os mineradores e \u00edndios da \u00e9poca em que viveu.<\/p>\n

\"O
O pesquisador Carlos Cornejo<\/figcaption><\/figure>\n

O bi\u00f3grafo lembra que a fam\u00edlia do padre Guilherme foi uma das maiores produtoras de ferro na regi\u00e3o de Santana do Parna\u00edba e, desde aquele per\u00edodo, S\u00e3o Paulo j\u00e1 exibia riquezas e um vigoroso mercado interno e externo, em decorr\u00eancia da minera\u00e7\u00e3o e do com\u00e9rcio.<\/p>\n

“O capit\u00e3o Guilherme Pompeu de Almeida, pai do padre Guilherme, era um dos maiores fornecedores de ferro para neg\u00f3cios com \u00edndios em S\u00e3o Paulo”, explica Caldeira, descartando o mito de que a capitania de S\u00e3o Vicente, em especial a vila de S\u00e3o Paulo de Piratininga, era pobre e despovoada nos primeiros s\u00e9culos.<\/p>\n

“Nenhuma capitania no Brasil foi pobre. A economia (da Col\u00f4nia) era muito maior que a dos Estados Unidos no mesmo per\u00edodo”, completa o jornalista.<\/p>\n

Opini\u00e3o semelhante \u00e9 do urbanista Goulart Reis. “Em 1700, as capitanias ao sul da Col\u00f4nia possu\u00edam quase a mesma quantidade de vilas, povoados e cidades das capitanias do norte, que englobavam Bahia e Pernambuco e eram as principais da \u00e9poca”, diz Goulart Reis, autor de mais de 30 livros sobre hist\u00f3ria e urbanismo no Brasil.<\/p>\n

“Essa prolifera\u00e7\u00e3o de aglomerados urbanos se deve \u00e0 minera\u00e7\u00e3o e ao com\u00e9rcio nesses locais”, completa Reis, que destaca outros dados curiosos sobre a minera\u00e7\u00e3o no Brasil. Um deles \u00e9 que a primeira pessoa a descobrir ouro na regi\u00e3o de Ouro Preto foi um mulato de Curitiba – que tamb\u00e9m nasceu de povoados ligados \u00e0 minera\u00e7\u00e3o no sul do pa\u00eds. O mulato, cujo nome se perdeu no tempo, acompanhava os bandeirantes paulistas em expedi\u00e7\u00f5es pela regi\u00e3o das minas, no come\u00e7o do s\u00e9culo 18. Ele descobriu ouro por acaso ao “bater a gamela” (minerar) em um c\u00f3rrego da regi\u00e3o.<\/p>\n

Mas h\u00e1 chance de encontrar ouro na Grande S\u00e3o Paulo? Sim, garantem os pesquisadores, pois as minas n\u00e3o foram totalmente exauridas. “Na \u00e9poca, o ouro era mal explorado e de maneira superficial e rudimentar. O subsolo paulista, com certeza, ainda \u00e9 rico”, diz o pesquisador Cornejo, lembrando que at\u00e9 na d\u00e9cada de 50 ainda havia alguma atividade mineradora no Jaragu\u00e1 e outras regi\u00f5es da Grande S\u00e3o Paulo, como Itapecerica da Serra.<\/p>\n

“Com certeza h\u00e1 ouro em terras paulistas”, concorda Goulart Reis. Mas isso n\u00e3o deve despertar a cobi\u00e7a dos eventuais exploradores que resolverem abrir buracos no pr\u00f3prio quintal. “Diante das complexas dificuldades de minera\u00e7\u00e3o na profundidade do solo, n\u00e3o haveria qualquer viabilidade econ\u00f4mica nesse tipo de atividade hoje em dia, mesmo em grande escala”, completa o professor da FAU-USP. “Isso sem contar a quest\u00e3o ambiental e a densa urbaniza\u00e7\u00e3o, que tornariam a atividade de minera\u00e7\u00e3o muito dif\u00edcil de ser executada e com pouco retorno financeiro”, completa Cornejo.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"