{"id":145248,"date":"2018-08-07T00:03:34","date_gmt":"2018-08-07T03:03:34","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=145248"},"modified":"2018-08-06T23:24:24","modified_gmt":"2018-08-07T02:24:24","slug":"apos-serem-quase-extintas-ariranhas-retornam-a-rios-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/08\/07\/145248-apos-serem-quase-extintas-ariranhas-retornam-a-rios-na-amazonia.html","title":{"rendered":"Ap\u00f3s serem quase extintas, ariranhas retornam a rios na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"
\"Ariranha
Ariranha na bacia do rio I\u00e7ana, onde esp\u00e9cie havia desaparecido por volta dos anos 1940 (Foto: NAT\u00c1LIA PIMENTA\/BBC)<\/figcaption><\/figure>\n
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p\u00f3s serem quase extintas pela ca\u00e7a comercial, as ariranhas est\u00e3o retornando a rios da Amaz\u00f4nia.<\/p>\n<\/div>\n

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Os \u00faltimos ind\u00edcios da recupera\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie foram divulgados nesta semana pela revista cient\u00edfica Biological Conservation.<\/p>\n<\/div>\n

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Liderada pela bi\u00f3loga Nat\u00e1lia Pimenta, a pesquisa analisou sinais da presen\u00e7a de ariranhas na bacia do rio I\u00e7ana, no noroeste do Amazonas, onde ela havia sido considerada extinta.<\/p>\n<\/div>\n

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O estudo foi feito ap\u00f3s outras pesquisas apontarem uma tend\u00eancia de recupera\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie – com nome cient\u00edfico Pteronura brasiliensis – em diferentes partes da Amaz\u00f4nia, como a bacia do Solim\u00f5es e a regi\u00e3o da hidrel\u00e9trica de Balbina.<\/p>\n<\/div>\n

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Maior carn\u00edvoro semiaqu\u00e1tico da Am\u00e9rica do Sul, com at\u00e9 1,80 m quando adulta, a ariranha \u00e9 um dos dois tipos de lontra encontrados no Brasil e est\u00e1 na Lista Vermelha da Uni\u00e3o Internacional para a Conserva\u00e7\u00e3o, entre as esp\u00e9cies consideradas amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n<\/div>\n

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Mordidas de ariranha<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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O estudo no I\u00e7ana teve in\u00edcio ap\u00f3s membros do povo baniwa alertarem sobre o retorno das ariranhas a seu territ\u00f3rio, dentro da Terra Ind\u00edgena Alto Rio Negro.<\/p>\n<\/div>\n

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Presidente da Associa\u00e7\u00e3o Ind\u00edgena da Bacia do I\u00e7ana, Andr\u00e9 Baniwa diz que moradores notaram os primeiros sinais da volta dos animais uns dez anos atr\u00e1s, ao encontrar carca\u00e7as de peixes com mordidas de um bicho que n\u00e3o reconheciam.<\/p>\n<\/div>\n

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Os mais velhos deram o veredicto: a \u00f1eewi (ariranha, em l\u00edngua baniwa) estava de volta.<\/p>\n<\/div>\n

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Nos \u00faltimos anos, os sinais aumentaram – e v\u00e1rios moradores chegaram a topar com os mam\u00edferos.<\/p>\n<\/div>\n

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Membros da comunidade participaram do estudo sobre o retorno dos animais, que contou com o apoio das funda\u00e7\u00f5es Capes, CNPq, The Rufford Foundation e Idea Wild.<\/p>\n<\/div>\n

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Baniwa conta que ariranhas n\u00e3o eram vistas na regi\u00e3o desde os anos 1940. Na \u00e9poca, eram as esp\u00e9cies mais cobi\u00e7adas no movimentado mercado de peles amaz\u00f4nicas.<\/p>\n

\"Bacia
Bacia do rio Negro, no noroeste amaz\u00f4nico, onde popula\u00e7\u00e3o de ariranhas vem se recuperando (Foto: JO\u00c3O FELLET\/BBC)<\/figcaption><\/figure>\n
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Com\u00e9rcio de peles de animais<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Ao pesquisar o tema, a bi\u00f3loga Nat\u00e1lia Pimenta encontrou estudos que estimaram em 23 milh\u00f5es os animais ca\u00e7ados na Amaz\u00f4nia Ocidental para a extra\u00e7\u00e3o de peles entre 1904 e 1969.<\/p>\n<\/div>\n

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O couro de ariranha – animal amaz\u00f4nico que mais sofreu com a ca\u00e7a comercial, segundo a pesquisadora – costumava ser exportado para os Estados Unidos ou a Europa, onde viraria casacos, chap\u00e9us e echarpes.<\/p>\n<\/div>\n

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Em um cat\u00e1logo de 1946 de uma loja de peles em Manaus, o couro de ariranha \u00e9 vendido por 180 cruzeiros – acima do pre\u00e7o de peles de on\u00e7a (150), maracaj\u00e1 (150) e caititu (47).<\/p>\n<\/div>\n

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Baniwa diz que os pr\u00f3prios membros da comunidade ca\u00e7avam os animais para trocar as peles por armas e outros bens. Um bom couro de ariranha valia o equivalente a duas espingardas.<\/p>\n<\/div>\n

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A moderniza\u00e7\u00e3o das t\u00e9cnicas de ca\u00e7a acelerou o exterm\u00ednio da esp\u00e9cie.<\/p>\n<\/div>\n

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A partir dos anos 1960, leis passaram a regulamentar o com\u00e9rcio de peles silvestres no pa\u00eds. Em 1975, o Brasil aderiu a uma conven\u00e7\u00e3o internacional que proibia o com\u00e9rcio de esp\u00e9cies amea\u00e7adas – entre elas, as ariranhas.<\/p>\n<\/div>\n

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A demarca\u00e7\u00e3o de grandes terras ind\u00edgenas na Amaz\u00f4nia a partir dos anos 1990 tamb\u00e9m golpeou a atividade.<\/p>\n<\/div>\n

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A demanda pelas peles diminuiu, permitindo que as ariranhas come\u00e7assem a se recuperar.<\/p>\n

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Casa de com\u00e9rcio de peles em Manaus, que exportava produtos para outras partes do mundo (Foto: IBGE)<\/figcaption><\/figure>\n
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Encontros com ariranhas<\/h2>\n<\/div>\n
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Na bacia do rio I\u00e7ana, ind\u00edgenas esperam que volta das ariranhas sinalize aumento da oferta de peixe (Foto: JO\u00c3O FELLET\/BBC)<\/figcaption><\/figure>\n
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“As ariranhas est\u00e3o voltando, mas \u00e9 s\u00f3 o in\u00edcio de um processo de recupera\u00e7\u00e3o”, diz \u00e0 BBC News Brasil a bi\u00f3loga Nat\u00e1lia Pimenta, que chefiou a pesquisa sobre a volta da esp\u00e9cie ao I\u00e7ana.<\/p>\n<\/div>\n

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Segundo Pimenta – analista de pesquisa intercultural do Instituto Socioambiental (ISA), em S\u00e3o Gabriel da Cachoeira -, a densidade da popula\u00e7\u00e3o de ariranhas na regi\u00e3o ainda \u00e9 baixa.<\/p>\n<\/div>\n

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Ela diz que, para que a recupera\u00e7\u00e3o se consolide, \u00e9 necess\u00e1rio que haja diversidade gen\u00e9tica entre os grupos remanescentes.<\/p>\n<\/div>\n

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Pimenta notou que, embora os encontros com ariranhas no I\u00e7ana tenham se tornado mais frequentes, elas ainda s\u00e3o muito ariscas – “possivelmente por terem sido t\u00e3o cruelmente ca\u00e7adas no passado”.<\/p>\n<\/div>\n

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“Como estavam muito isoladas, n\u00e3o est\u00e3o acostumadas com a presen\u00e7a de humanos. Quando escutam o barco, logo fogem.”<\/p>\n<\/div>\n

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Ela conta que, no passado, as ariranhas eram encontradas da Venezuela ao sul da Argentina. Mas a ca\u00e7a predat\u00f3ria fez com que ficassem restritas a poucas \u00e1reas, como o Pantanal e as cabeceiras de alguns rios amaz\u00f4nicos.<\/p>\n<\/div>\n

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Outrora o maior habitat do animal no planeta, a bacia do rio Negro quase viu a esp\u00e9cie desaparecer.<\/p>\n<\/div>\n

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Nos \u00faltimos anos, conforme a esp\u00e9cie come\u00e7ou a se recuperar no Brasil, Pimenta conta que pa\u00edses vizinhos – como a Bol\u00edvia, a Col\u00f4mbia e as Guianas – tamb\u00e9m viram as ariranhas ressurgirem.<\/p>\n<\/div>\n

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Boas pescadoras<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Andr\u00e9 Baniwa diz que a ariranha tem papel importante na mitologia de seu povo, considerada um dos cinco animais que surgiram no in\u00edcio do mundo e que viraram paj\u00e9s, ao lado de botos, morcegos, on\u00e7as e lontras.<\/p>\n<\/div>\n

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No topo da cadeia alimentar, s\u00e3o associadas \u00e0 sa\u00fade e ao equil\u00edbrio das \u00e1guas – e vistas como excelentes pescadoras. “Ela n\u00e3o come qualquer peixe. N\u00e3o assusta, n\u00e3o bagun\u00e7a a \u00e1gua, escolhe o peixe e come s\u00f3 a parte que interessa.”<\/p>\n<\/div>\n

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Ele conta que muitos ind\u00edgenas esperam que a volta dos animais seja um ind\u00edcio de que a popula\u00e7\u00e3o de peixes tamb\u00e9m esteja aumentando.<\/p>\n<\/div>\n

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Outros, por\u00e9m, temem que as ariranhas compitam com os humanos pelos pescados. Um ariranha adulta pode consumir at\u00e9 4 kg de peixe por dia.<\/p>\n<\/div>\n

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Ataque de ariranhas em Bras\u00edlia<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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Tamb\u00e9m chamadas de on\u00e7as d’\u00e1gua, elas vivem em grupos de at\u00e9 20 indiv\u00edduos e s\u00e3o territorialistas. No YouTube, h\u00e1 v\u00eddeos de ariranhas expulsando on\u00e7as de seu territ\u00f3rio.<\/p>\n<\/div>\n

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“Se algu\u00e9m chega no ambiente delas, elas v\u00e3o para cima para se defender, ainda mais se estiverem com filhote”, diz a bi\u00f3loga Nat\u00e1lia Pimenta.<\/p>\n<\/div>\n

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Em 1977, um acidente no zool\u00f3gico de Bras\u00edlia fez com que a esp\u00e9cie se tornasse temida em muitos lares brasileiros.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n

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Naquele ano, o sargento do Ex\u00e9rcito S\u00edlvio Delmar Hollenbach saltou no tanque das ariranhas para resgatar um garoto de 13 anos que havia ca\u00eddo no local.<\/p>\n<\/div>\n

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O jovem se salvou, mas o sargento n\u00e3o suportou as mais de cem mordidas e, tr\u00eas dias depois, morreu no hospital.<\/p>\n<\/div>\n

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Para Nat\u00e1lia Pimenta, o comportamento de ariranhas em zool\u00f3gicos, onde vivem confinadas e estressadas, deve ser relativizado.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n

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“Nunca ouvi nenhum relato de ataques de ariranhas a pessoas em ambientes naturais”, afirma.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n

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