Bi\u00f3logos examinam os peixes que vivem no lago<\/figcaption><\/figure>\nAt\u00e9 agora, esse tipo de experimento s\u00f3 tinha sido feito em laborat\u00f3rio, onde n\u00e3o era poss\u00edvel reproduzir o cen\u00e1rio real. \u00c9 o primeiro estudo do g\u00eanero realizado no Canad\u00e1 – uma oportunidade para os cientistas responderem algumas quest\u00f5es que podem ajudar a proteger os lagos do pa\u00eds: o que acontece com o betume derramado nos ecossistemas de \u00e1gua doce? Onde ele vai parar? E qual o processo de limpeza mais seguro e eficaz (a t\u00e9cnica tem de ser diferente, por exemplo, daquela usada em casos de vazamento de petr\u00f3leo bruto convencional)?<\/p>\n
Nas semanas que antecederam o “derramamento”, dezenas de estudantes trabalharam ensacando areia. Eles transportaram o material de caminh\u00e3o e quadriciclo por uma trilha at\u00e9 o lago. E, ap\u00f3s descarregarem os ve\u00edculos, levaram os pesados sacos de areia at\u00e9 o deque, para serem colocados nos barcos e levados aos locais de pesquisa.<\/p>\n
“\u00c9 um crossfit de baixo custo”, brinca Sonya Michaleski, aluna da Universidade de Manitoba, no Canad\u00e1.<\/p>\n
Transportar sacos de areia \u00e9 uma parte do trabalho dela. A coleta de muco e v\u00f4mito de peixe para an\u00e1lise \u00e9 outra.<\/p>\n
Sam Patterson, estudante de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o, explica a fun\u00e7\u00e3o dele: colher \u00e1gua dos compartimentos antes e depois do derramamento de betume dilu\u00eddo e, em seguida, colocar ovos de r\u00e3s-da-floresta na \u00e1gua tratada e n\u00e3o tratada para ver como a exposi\u00e7\u00e3o afeta seu desenvolvimento.<\/p>\nRede de pesca \u00e9 usada para recolher amostras de peixe em um lago n\u00e3o-contaminado<\/figcaption><\/figure>\nA maior parte da coleta de dados acontecer\u00e1 neste ver\u00e3o e no outono, antes que o lago congele. As an\u00e1lises subsequentes da equipe de mais de 30 cientistas ser\u00e3o compartilhadas primeiro em publica\u00e7\u00f5es acad\u00eamicas, mas, em \u00faltima an\u00e1lise, com o p\u00fablico.<\/p>\n
O IISD-ELA \u00e9 uma esta\u00e7\u00e3o de pesquisa conhecida pela realiza\u00e7\u00e3o de experimentos em lagos. Em estudos anteriores, contaminaram as \u00e1guas de outros lagos com f\u00f3sforo, c\u00e1dmio, merc\u00fario e estrog\u00eanio sint\u00e9tico, princ\u00edpio ativo das p\u00edlulas anticoncepcionais. At\u00e9 ent\u00e3o, nunca com \u00f3leo.<\/p>\n
A experi\u00eancia – chamada de Boreal, um acr\u00f4nimo para\u00a0Boreal Lake Oil Release Experiment by Additions to Limnocorrals<\/em> – tampouco ser\u00e1 realizada em todo lago. Pequenos compartimentos restringem a \u00e1rea de derramamento de \u00f3leo, e quatro medidas de conten\u00e7\u00e3o adicionais est\u00e3o sendo adotadas para evitar a contamina\u00e7\u00e3o de todo o espelho d’\u00e1gua, conforme explica o cientista Vince Palace, chefe de pesquisa do IISD-ELA.<\/p>\nA explora\u00e7\u00e3o de betume \u00e9 uma quest\u00e3o pol\u00eamica no Canad\u00e1<\/figcaption><\/figure>\nAinda assim, essa \u00e1rea de vazamento menor dar\u00e1 aos cientistas uma ideia muito melhor de como o betume se comporta e afeta o meio ambiente do que o que eles s\u00e3o capazes de reproduzir dentro de um laborat\u00f3rio.<\/p>\n
“Em laborat\u00f3rio, h\u00e1 problemas t\u00e9cnicos em rela\u00e7\u00e3o ao dimensionamento (quando voc\u00ea vai de uma escala pequena para grande)”, diz Bruce Hollebone, analista qu\u00edmico da Environment and Climate Change Canada e colaborador do experimento da Boreal.<\/p>\n
“N\u00e3o \u00e9 como miniaturas de navios, em que voc\u00ea pode testar, por exemplo, como um canal funciona em uma escala muito menor. Voc\u00ea n\u00e3o pode fazer isso com vazamentos de \u00f3leo porque tem muitos fatores envolvidos, e todos eles mudam a taxas diferentes quando voc\u00ea aumenta o tamanho.”<\/p>\n
“O Boreal nos d\u00e1 a oportunidade de trabalhar n\u00e3o em tamanho real, mas bem perto disso\u2026 E realmente nos oferece uma boa no\u00e7\u00e3o do que acontece nesses ambientes naturais.”<\/p>\n
Al\u00e9m disso, o que mais se estuda \u00e9 o derramamento de \u00f3leo nos oceanos. E, mesmo em pesquisas dedicadas \u00e0 \u00e1gua doce, Hollebone adverte: “H\u00e1 pouqu\u00edssimas que observam os ecossistemas boreais.”<\/p>\n
A Floresta Boreal \u00e9 o bioma que est\u00e1 no imagin\u00e1rio popular da t\u00edpica paisagem canadense: \u00e1rvores con\u00edferas, rochas de granito, terrenos pantanosos e lagos.<\/p>\n
“Metade do Canad\u00e1 \u00e9 um ecossistema boreal”, acrescenta Hollebone.<\/p>\n
Como um derramamento de \u00f3leo pode afetar esse e outros ecossistemas tornou-se uma quest\u00e3o controversa no pa\u00eds, principalmente depois que o governo canadense anunciou recentemente a nacionaliza\u00e7\u00e3o de um projeto de oleoduto at\u00e9 o Oceano Pac\u00edfico.<\/p>\n
Diversos sistemas de transporte, incluindo oleodutos e ferrovias, escoam o \u00f3leo pelos ecossistemas boreais do Canad\u00e1. Segundo Hollebone, na \u00faltima d\u00e9cada, ocorreram v\u00e1rios vazamentos na floresta e nos p\u00e2ntanos. E, na hora de lidar com os derramamentos, “somos mal equipados em termos de conhecimento”, diz ele.<\/p>\nPesquisadores jogam betume em lago canadense<\/figcaption><\/figure>\nUm dos desafios \u00e9 que o betume \u00e9 muito viscoso, mesmo quando dilu\u00eddo com fra\u00e7\u00f5es de \u00f3leos mais leves que permitem que ele escoe pelos dutos. Ao ser derramado, ele se comporta de maneira muito distinta em sistemas de \u00e1gua doce e marinhos, explica Diane Orihel, da Queen’s University, em Ont\u00e1rio, uma das l\u00edderes do projeto Boreal.<\/p>\n
Entre outras quest\u00f5es, os pesquisadores querem investigar por quanto tempo o betume dilu\u00eddo flutuar\u00e1 nos ecossistemas de \u00e1gua doce, com que rapidez o componente mais leve evapora, que quantidade de fato acaba no sedimento e com que velocidade ele entra e se acumula na cadeia alimentar.<\/p>\n
Para rastrear at\u00e9 onde o betume vai, os cientistas v\u00e3o trabalhar em equipes – cada uma vai avaliar os efeitos da subst\u00e2ncia no ecossistema com base em diferentes categorias, como ar, \u00e1gua, sedimentos, perif\u00edton (a comunidade de min\u00fasculos organismos que crescem em superf\u00edcies submersas) e animais, como r\u00e3s-da-floresta e peixes.<\/p>\n
Em seguida, eles v\u00e3o calcular a massa de hidrocarbonetos arom\u00e1ticos polic\u00edclicos (PAHs) – uma fam\u00edlia de subst\u00e2ncias qu\u00edmicas encontradas em materiais org\u00e2nicos, como o \u00f3leo, que incluem agentes cancer\u00edgenos conhecidos – em cada se\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
A equipe tamb\u00e9m vai examinar os organismos que integram a comunidade local e compar\u00e1-los antes e depois do vazamento. Que tipos de bact\u00e9rias, fitopl\u00e2nctons, zoopl\u00e2nctons, invertebrados aqu\u00e1ticos e insetos existem? Quantos de cada? E como o betume afeta a capacidade deles de sobreviverem, se reproduzirem e fornecerem alimento para as demais esp\u00e9cies que se alimentam deles?<\/p>\n
O principal pesquisador do projeto Boreal, Jules Blais, da Universidade de Ottawa, no Canad\u00e1, est\u00e1 estudando a velocidade com que os PAHs do derramamento de betume s\u00e3o acumulados ou eliminados dos peixes. Ele destaca que a capacidade do experimento de analisar os efeitos biol\u00f3gicos, a partir de seis doses diferentes de betume, em um ambiente natural \u00e9 \u00fanica.<\/p>\n
“Nunca foi feito um estudo desse tipo antes”, diz ele.<\/p>\n
“Ao olhar para as doses mais baixas at\u00e9 as mais altas (e comparar com tr\u00eas compartimentos sem nenhuma dose), podemos identificar limiares al\u00e9m dos quais vemos efeitos.”<\/p>\n
As doses de betume dilu\u00eddo foram cuidadosamente calculadas para reproduzir vazamentos de oleodutos que ocorreram recentemente no Canad\u00e1 e nos EUA. Em termos de propor\u00e7\u00e3o \u00f3leo\/\u00e1gua, a dose mais alta chega perto da derramada no Rio Kalamazoo, em Michigan, em julho de 2010 – um dos maiores vazamentos da hist\u00f3ria americana.<\/p>\n
Os pesquisadores v\u00e3o examinar quanto tempo o betume derramado flutua na superf\u00edcie antes de afundar. O betume dilu\u00eddo, mistura formada 50% por asfalto, \u00e9 bastante pegajoso, o que o torna dif\u00edcil de limpar quando afunda.<\/p>\n
No ano passado, um projeto-piloto do Boreal despejou betume em tr\u00eas tanques terrestres ao ar livre, com \u00e1gua do lago e sedimentos. O resultado sugeriu que o clima pode ter um papel fundamental em rela\u00e7\u00e3o ao tempo que o betume derramado flutua.<\/p>\n
Inicialmente, a subst\u00e2ncia pairou sobre a superf\u00edcie da \u00e1gua, mas “muito rapidamente, a densidade e a viscosidade do \u00f3leo mudaram e ele come\u00e7ou a afundar”, conta Orihel. A primeira semana do estudo-piloto foi bastante ensolarada, mas depois de uma forte chuva no s\u00e9timo dia, o betume imergiu.<\/p>\n
A cientista adverte que essa constata\u00e7\u00e3o ainda \u00e9 prematura. Como o betume se comportar\u00e1 nos tubos de ensaio gigantes rec\u00e9m-instalados no lago continua sendo um mist\u00e9rio \u00e0 espera de ser desvendado.<\/p>\n
Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
\u00c9 raro que um derramamento de \u00f3leo na natureza seja algo intencional. Mas foi exatamente isso que aconteceu recentemente em Ont\u00e1rio, no Canad\u00e1. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[3906,276,2245],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145346"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=145346"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145346\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":145347,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145346\/revisions\/145347"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=145346"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=145346"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=145346"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}