{"id":145380,"date":"2018-08-16T00:03:57","date_gmt":"2018-08-16T03:03:57","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=145380"},"modified":"2018-08-15T21:10:28","modified_gmt":"2018-08-16T00:10:28","slug":"florestas-refletem-cultura-economia-e-sociedade-da-alemanha","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/08\/16\/145380-florestas-refletem-cultura-economia-e-sociedade-da-alemanha.html","title":{"rendered":"Florestas refletem cultura, economia e sociedade da Alemanha"},"content":{"rendered":"

\"Blick<\/p>\n

O local de trabalho de Erik Aschenbrand est\u00e1 permeado pelo mito das florestas como poucos na Alemanha. O Parque Natural Reinhardswald, que ele dirige, \u00e9 um dos pontos centrais da Deutsche M\u00e4rchenstrasse, a Rota Alem\u00e3 de Contos de Fadas, cujos 600 quil\u00f4metros de extens\u00e3o convidam a visitar muitos dos locais lendariamente habitados por princesas, duendes, fam\u00edlias de ursos e gnomos.<\/p>\n

Os irm\u00e3os Jacob e Wilhelm Grimm compilaram muitos de seus contos em volta dos bosques supervisionados por Aschenbrand. Entre eles, o da Bela Adormecida \u2013 a qual teria dormido por cem anos em Sababurg, bem nas proximidades, rodeada por espinheiros, at\u00e9 um valente pr\u00edncipe despert\u00e1-la com um beijo. Ou o de Rapunzel, que, para deixar entrar seu salvador, lan\u00e7ava sua longu\u00edssima cabeleira dourada do alto da torre onde estava presa.<\/p>\n

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Conhe\u00e7a os encantos da Floresta Negra<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n

As antigas narrativas que os irm\u00e3os Grimm registraram lhes foram transmitidas oralmente, seu conte\u00fado de verdade \u00e9 secund\u00e1rio, importante s\u00e3o as hist\u00f3rias e o ato de narrar. E a por vezes tenebrosa mata representa um papel decisivo nesses contos tradicionais.<\/p>\n

Aschenbrand cita como exemplo Jo\u00e3ozinho e Maria: “Eles s\u00e3o enviados para a floresta. L\u00e1 se oculta o mal, na forma da bruxa m\u00e1. Mas ambos vencem esse perigo e conseguem sair felizes da floresta.”<\/p>\n

O arvoredo escuro \u00e9 o espa\u00e7o selvagem, perigoso, em que se confrontam os desafios. Qu\u00e3o “malvada” seja essa floresta\u00a0depende muito da perspectiva do observador: para quem vive nela e dela, ela n\u00e3o \u00e9 obscura \u2013 para os de fora, possivelmente.<\/p>\n

\"No
No Castelo Sababurg, em Hesse, reza a lenda, a Bela Adormecida esperou 100 anos por seu pr\u00edncipe encantado<\/figcaption><\/figure>\n

A origem<\/h2>\n

“A Floresta Negra n\u00e3o tem esse nome por lan\u00e7ar sombras escuras”, explica Uwe Schmidt, professor de Hist\u00f3ria das Florestas Naturais e Comerciais da Universidade de Freiburg. “Quando se olham as pinturas da Idade M\u00e9dia, a hostilidade em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s florestas salta aos olhos. Elas nem s\u00e3o pintadas, de t\u00e3o ‘negras’ que s\u00e3o \u2013 ou seja, incivilizadas e refrat\u00e1rias \u00e0 coloniza\u00e7\u00e3o. Em vez disso, os fundos das pinturas medievais s\u00e3o dourados, a cor da pureza e da atemporalidade.”<\/p>\n

Ao contr\u00e1rio das cidades modernas, em que \u00e1reas verdes e as \u00e1rvores s\u00e3o t\u00e3o apreciadas pelos moradores, nos assentamentos da Idade M\u00e9dia a natureza n\u00e3o era bem-vinda, com exce\u00e7\u00e3o das t\u00edlias. Na Freiburg medieval n\u00e3o havia praticamente nenhuma \u00e1rvore, embora a cidade fique praticamente no meio da Floresta Negra, observa Schmidt.<\/p>\n

As \u00e1rvores s\u00f3 eram boas como recurso material, como fonte aparentemente inesgot\u00e1vel de madeira, e eram exploradas radicalmente. Contudo, o mais tardar na \u00e9poca barroca, fica claro que isso n\u00e3o \u00e9 sustent\u00e1vel.<\/p>\n

\"Misterioso,
Misterioso, sombrio: neste bosque Jo\u00e3ozinho e Maria poderiam ter se perdido<\/figcaption><\/figure>\n

Ascens\u00e3o, explora\u00e7\u00e3o, reflex\u00e3o<\/h2>\n

Do fim do s\u00e9culo 16 ao 18, as cidades cresciam, o com\u00e9rcio florescia, pal\u00e1cios e castelos ficavam cada vez maiores e mais suntuosos. Sobretudo os comerciantes e artes\u00e3os procuravam multiplicar sua fortuna, e a floresta se transformou em principal fonte de energia.<\/p>\n

No s\u00e9culo 18\u00a0eram cortados at\u00e9 10\u00a0milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de madeira por ano, para fabricar novos telhados, cascos de navios e para a produ\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o, o qual garantia o funcionamento das primeiras instala\u00e7\u00f5es industriais, conta Schmidt. Pois ainda n\u00e3o havia como utilizar e transportar carv\u00e3o mineral em larga escala.<\/p>\n

Esse esquema n\u00e3o era sustent\u00e1vel, e a cada d\u00e9cada as florestas sofriam mais, sobretudo nas proximidades dos centros comerciais e cidades maiores. Paralelamente, elas se transformaram num tema para os artistas rom\u00e2nticos.<\/p>\n

\"Guarda
Guarda florestal na reserva de Schorfheide-Chorin: a partir do fim do s\u00e9culo 19, um emprego cobi\u00e7ado<\/figcaption><\/figure>\n

O bosque ferido e os rom\u00e2nticos<\/h2>\n

Impulsionados pelo rec\u00e9m-descoberto amor \u00e0 natureza, os rom\u00e2nticos cantaram o valor da floresta e descobriram para si a gente pobre que sempre vivera nela e com ela. Foi nesse meio que os Irm\u00e3os Grimm compilaram seus contos \u2013 nem todos de fadas. De Reinhardswald a Spessart, Hamelin ou Bremen, alguns eram um tanto sinistros, meio assustadores, e definitivamente estranhos para os moradores das cidades.<\/p>\n

At\u00e9 hoje, at\u00e9 certo ponto continua sendo assim\u00a0quando cidad\u00e3os urbanos descobrem a natureza como local de retiro, comenta Aschenbrand, ou quando se trata de estabelecer reservas naturais: “A gente da cidade tem uma vis\u00e3o da natureza totalmente diversa da de quem vive l\u00e1.”<\/p>\n

No in\u00edcio da Revolu\u00e7\u00e3o Industrial, no s\u00e9culo 18, como tamb\u00e9m hoje em dia, os habitantes da cidade procuravam um meio puro e inocente, “queriam ver a floresta como um mundo oposto \u00e0 cidade deles”.<\/p>\n

\"Amor
Amor pelos bosques permeia literatura, m\u00fasica e artes pl\u00e1sticas do Romantismo<\/figcaption><\/figure>\n

Mito inflacionado e virada energ\u00e9tica<\/h2>\n

O especialista em florestas Schmidt fala at\u00e9 mesmo de uma glorifica\u00e7\u00e3o da floresta. No Romantismo, bosques e \u00e1rvores foram carregados com simbologia. \u00c9 tamb\u00e9m a \u00e9poca em que as feridas na natureza come\u00e7am a ser fechadas.<\/p>\n

“No Romantismo, s\u00e3o plantadas na Alemanha esp\u00e9cies pioneiras de \u00e1rvores, sobretudo abetos no Sudoeste e carvalhos no Norte.” Essas \u00e1rvores n\u00e3o transformam apenas a apar\u00eancia dos arvoredos, mas tamb\u00e9m o status de tudo o que se relacionava a eles.<\/p>\n

No fim do s\u00e9culo 19, guarda florestal passa a ser visto cada vez mais como a profiss\u00e3o ideal. Existem at\u00e9 estat\u00edsticas de quantos homens queriam adot\u00e1-la e quantas mulheres gostariam de se casar com um guarda florestal, revela Schmidt. “A floresta ganha uma \u00f3tima reputa\u00e7\u00e3o, do ponto de vista do grande p\u00fablico.”<\/p>\n

\"Teutoburgo:
Teutoburgo: floresta como aliada dos germanos?<\/figcaption><\/figure>\n

Instrumentaliza\u00e7\u00e3o pelos nazistas<\/h2>\n

Com a ascens\u00e3o da extrema direita na Alemanha, a natureza \u00e9 reinstrumentalizada, prossegue o especialista. “No nacional-socialismo, a floresta ganhou uma carga ideol\u00f3gica”, a liga\u00e7\u00e3o \u00edntima dos alem\u00e3es com seus arvoredos foi acentuada.<\/p>\n

Supostamente esses la\u00e7os existiam desde a Batalha de Varo, no s\u00e9culo 9\u00ba, em que os germanos conseguiram vencer os romanos gra\u00e7as a sua aliada, a Floresta de Teutoburgo. Para os nazistas, as matas e o povo alem\u00e3o formavam uma unidade. E naturalmente tratava-se tamb\u00e9m de exclus\u00e3o: segundo a ideologia, os judeus, como povo das estepes, seriam incapazes de compreender a cultura silvestre alem\u00e3, conta Uwe Schmidt.<\/p>\n

Ap\u00f3s o fim da Segunda Guerra Mundial, os alem\u00e3es voltaram-se para os bosques a fim de esquecer os horrores recentes. “A floresta, a natureza, se regeneraram mais depressa do que as cidades bombardeadas.”<\/p>\n

Sob as \u00e1rvores, era poss\u00edvel abstrair-se da destrui\u00e7\u00e3o e do desastre, pelo menos por algum tempo. “Esqueceu-se que antes a floresta fora explorada pelos nacional-socialistas para sua ideologia: a floresta tinha seu pr\u00f3prio valor.”<\/p>\n

\"Bildergalerie<\/p>\n

O p\u00e2nico da\u00a0waldsterben<\/em><\/h2>\n

E ela permaneceu valiosa nas d\u00e9cadas seguintes. Sua cota\u00e7\u00e3o era t\u00e3o alta na sociedade, que nos anos 1980 houve grande apreens\u00e3o de que as florestas desapareceriam, ao se descobrirem danos em larga escala nos topos e ra\u00edzes das \u00e1rvores: falou-se de\u00a0waldsterben<\/em>, a extin\u00e7\u00e3o paulatina e em parte inexplic\u00e1vel das matas.<\/p>\n

“Quando a s\u00edndrome da morte das florestas veio \u00e0 tona, ela n\u00e3o era discutida e tratada apenas nos meios cient\u00edficos, mas percebida por todas as camadas da sociedade”, recorda o professor Schmidt. Esbo\u00e7aram-se “verdadeiros cen\u00e1rios apocal\u00edpticos, de como estariam as matas da Alemanha em dois ou tr\u00eas d\u00e9cadas.”<\/p>\n

Isso resultou numa consci\u00eancia ambiental cada vez mais aprofundada, os cidad\u00e3os passaram a se dar conta das consequ\u00eancias de sua sociedade de consumo e bem-estar.<\/p>\n

E isso “mostra que a floresta \u00e9 sempre um espelho da sociedade”, resume o pesquisador da Universidade de Freiburg. “A hist\u00f3ria alem\u00e3 \u00e9 um excelente exemplo das fun\u00e7\u00f5es variadas que a floresta pode ter, e do valor social que possui.”<\/p>\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Ao coletarem contos populares no s\u00e9culo 19, irm\u00e3os Grimm revelaram mundo de mitos e mist\u00e9rios. Mas matas alem\u00e3s tamb\u00e9m t\u00eam forte papel comercial, e seu valor social se revela sobretudo quando est\u00e3o amea\u00e7adas de morrer. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[987,202,157],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145380"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=145380"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145380\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":145381,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145380\/revisions\/145381"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=145380"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=145380"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=145380"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}