{"id":145864,"date":"2018-08-30T10:50:46","date_gmt":"2018-08-30T13:50:46","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=145864"},"modified":"2018-08-30T10:50:46","modified_gmt":"2018-08-30T13:50:46","slug":"canudos-plasticos-eles-foram-eleitos-viloes-mas-problema-vai-bem-alem","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/08\/30\/145864-canudos-plasticos-eles-foram-eleitos-viloes-mas-problema-vai-bem-alem.html","title":{"rendered":"Canudos pl\u00e1sticos: eles foram eleitos vil\u00f5es, mas problema vai bem al\u00e9m"},"content":{"rendered":"
\"Cabe\u00c3\u00a7a
(FOTO: TOM\u00c1S ARTHUZZI)<\/figcaption><\/figure>\n

O achocolatado quente s\u00f3 tem gra\u00e7a se bebido com um canudinho, diz a pequena Alice. Mas tem que ser de inox. Nos restaurantes, costuma perguntar \u00e0 m\u00e3e se est\u00e1 com o utens\u00edlio na bolsa. Se a resposta for negativa, a menina recusa os de pl\u00e1stico oferecidos pelo gar\u00e7om. Alice tem apenas sete anos, mas j\u00e1 incorporou as li\u00e7\u00f5es de sustentabilidade aprendidas em casa. Certa vez, ao ser questionada pela m\u00e3e na praia sobre o que deveriam fazer para se divertir, sugeriu algo pouco usual: recolher todo o lixo deixado pelos banhistas na areia.<\/p>\n

A garota \u00e9 filha de Jessica Pertile, uma consultora ambiental que em 2016, em Curitiba, abriu com a s\u00f3cia, Patricya Bezerra, a BeeGreen, uma empresa dedicada a fabricar canudos de inox. O neg\u00f3cio come\u00e7ou a ser desenhado ap\u00f3s Pertile pedir a um familiar que trouxesse dos Estados Unidos um acess\u00f3rio do tipo. Gostou do produto e, como n\u00e3o encontrou ningu\u00e9m que vendesse algo semelhante no Brasil, decidiu produzi-lo.<\/p>\n

Hoje, j\u00e1 possui mais de 60 revendedores e fornece o artigo para restaurantes de v\u00e1rios estados e para a rede Accor, que possui mais de 250 hot\u00e9is no pa\u00eds. A empresa hoteleira est\u00e1 substituindo os canudinhos pl\u00e1sticos pelos de inox por aqui, seguindo uma tend\u00eancia global que tem sido impulsionada por previs\u00f5es sombrias quanto ao lixo que produzimos.<\/p>\n

O mais assombroso dos press\u00e1gios, divulgado em relat\u00f3rio do F\u00f3rum Econ\u00f4mico Mundial de 2016, afirma que, em 2050, teremos mais pl\u00e1stico nos oceanos do que peixes. Segundo o documento, a cada ano despejamos 8 milh\u00f5es de toneladas de pl\u00e1stico, \u00e9 uma ca\u00e7amba de caminh\u00e3o de lixo sendo jogada nas \u00e1guas por minuto. Se nada for feito, a expectativa \u00e9 de que pule para duas por minuto em 2030 e para quatro em 2050. Hoje, diz o relat\u00f3rio, temos mais de 150 milh\u00f5es de toneladas de pl\u00e1stico nos oceanos.<\/p>\n

\u00c9 f\u00e1cil comprovar os malef\u00edcios. Em 2015, um v\u00eddeo que mostra uma tartaruga marinha se debatendo de dor e sangrando por causa de um canudinho enfiado na narina viralizou e desencadeou uma onda de revolta. A press\u00e3o contra esses cilindros pl\u00e1sticos come\u00e7ou a crescer a partir dali. Estava eleito o principal inimigo do meio ambiente.<\/p>\n

Campanhas como a For a Strawless Ocean (Por um Oceano sem Canudinhos), iniciada por uma ONG de Seattle, nos EUA, e respons\u00e1vel pela hashtag #StopSucking (em ingl\u00eas, h\u00e1 duplo sentido: \u201cpare de chupar\u201d e \u201cpara de ser desagrad\u00e1vel\u201d), come\u00e7aram a alimentar a discuss\u00e3o sobre o tema e acabaram encampadas por personalidades como o ator Russell Crowe e o astro do futebol americano Tom Brady, marido de Gisele B\u00fcndchen.<\/p>\n

A resposta a tanto barulho tem aparecido. Nos \u00faltimos meses, o McDonald\u2019s anunciou que, a partir de setembro, fornecer\u00e1 aos clientes das 1.361 lojas no Reino Unido apenas os de papel. A rede usava 1,8 milh\u00e3o de canudos pl\u00e1sticos por dia. A iniciativa se enquadra num esfor\u00e7o do governo local. Em janeiro, a primeira-ministra brit\u00e2nica, Theresa May, anunciou um plano para banir os res\u00edduos pl\u00e1sticos na ilha nos pr\u00f3ximos 25 anos. Para isso, deve come\u00e7ar tornando obrigat\u00f3ria a cobran\u00e7a das sacolas pl\u00e1sticas em todo o com\u00e9rcio e taxando as embalagens descart\u00e1veis.<\/p>\n

Outras grandes empresas trilham o mesmo caminho. A rede de cafeterias Starbucks divulgou que vai banir o apetrecho de suas mais de 28 mil unidades ao redor do mundo at\u00e9 2020. S\u00f3 no Brasil, por ano, a companhia usa 8 milh\u00f5es de canudos pl\u00e1sticos, e vai substitu\u00ed-los pelos de papel biodegrad\u00e1vel at\u00e9 o fim de setembro.<\/p>\n

A Disney, que usa anualmente 175 milh\u00f5es, prometeu agir mais r\u00e1pido. Vai acabar com a distribui\u00e7\u00e3o em seus parques at\u00e9 meados do pr\u00f3ximo ano, mas n\u00e3o disse que modelo adotar\u00e1 no lugar.<\/p>\n

Mudan\u00e7a de h\u00e1bito<\/em><\/strong>
\nA onda anticanudo tem se espalhado de maneira t\u00e3o avassaladora que est\u00e1 mexendo at\u00e9 nas legisla\u00e7\u00f5es. No in\u00edcio de julho, Seattle foi a primeira grande cidade dos EUA a proibir os utens\u00edlios pl\u00e1sticos e a definir multa de US$ 250 (R$ 961) para quem descumprir a lei. No mesmo m\u00eas, Rio de Janeiro e Santos viram leis banindo o produto serem sancionadas pelos prefeitos. Em S\u00e3o Paulo, um projeto semelhante tramita na C\u00e2mara Municipal.<\/p>\n

Na capital fluminense, onde a prefeitura ainda n\u00e3o definiu quando a medida passa a valer, a multa ser\u00e1 de R$ 3 mil, e na cidade do litoral paulista, que colocar\u00e1 a determina\u00e7\u00e3o em pr\u00e1tica em 2019, de R$ 500 a R$ 1 mil. Penas leves se comparadas \u00e0s aplicadas em alguns pa\u00edses em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s sacolas pl\u00e1sticas. No Qu\u00eania, produzi-las, comercializ\u00e1-las ou us\u00e1-las pode resultar em multa de at\u00e9 US$ 40 mil (R$ 154 mil) ou em at\u00e9 quatro anos de cadeia.<\/p>\n

A cruzada antipl\u00e1stico tem tentado endurecer as leis tamb\u00e9m nos EUA. Na Calif\u00f3rnia, o deputado democrata Ian Calderon prop\u00f4s pris\u00e3o de at\u00e9 seis meses e multa de US$ 1 mil para gar\u00e7ons que entregarem canudinhos aos clientes sem que tenham pedido.<\/p>\n

E se n\u00e3o podem os de pl\u00e1stico, as legisla\u00e7\u00f5es t\u00eam previsto a substitui\u00e7\u00e3o desses apetrechos por outros de papel ou produtos biodegrad\u00e1veis. Assim, um novo mercado est\u00e1 aparecendo.<\/p>\n

Em Ilhabela, litoral norte paulista, o engenheiro Marcio Gennari mant\u00e9m a Paz em Gaia, empresa que produz canudinhos artesanais de bambu. A mat\u00e9ria-prima \u00e9 comprada de uma comunidade cai\u00e7ara que j\u00e1 tira 60% de sua renda dessa atividade. Gennari desenvolveu o produto em 2013, com o pai, marceneiro, e passou a vend\u00ea-lo no ano seguinte. Lentamente, o neg\u00f3cio foi dando certo. Dos 20 canudinhos vendidos em 2014, pulou para 54 (2015), 223 (2016) e 520 (2017). At\u00e9 junho deste ano, j\u00e1 foram 2.170.<\/p>\n

Seu produto, sem data de validade, pode ser usado por anos. Gennari conta ter o mesmo desde 2013. Ele lembra que, no in\u00edcio, levava os canudos aos restaurantes a que ia com a mulher e o filho. Tudo era novidade para quem assistia. \u201cFicamos conhecidos como a fam\u00edlia do canudinho de bambu\u201d, brinca. Ap\u00f3s o uso do utens\u00edlio, ele sugere limpeza com \u00e1gua e sab\u00e3o de coco. Tamb\u00e9m \u00e9 poss\u00edvel comprar uma escovinha feita na medida para lav\u00e1-lo.<\/p>\n

A quest\u00e3o da necessidade de higieniza\u00e7\u00e3o ap\u00f3s o uso representa um obst\u00e1culo na hora de convencer as empresas a adotar os canudos alternativos, conta Pertile, da BeeGreen. \u201cA gente fazia muita propaganda, mas sempre tinha essa barreira. Agora, como as pessoas est\u00e3o se conscientizando, muita gente nos procura.\u201d Ela tamb\u00e9m vende seus canudinhos de inox acompanhados de uma escovinha. Um kit de quatro canudos e uma escova sai por at\u00e9 R$ 45. O unit\u00e1rio custa, em m\u00e9dia, R$ 10.<\/p>\n

Mais em conta, a Paz em Gaia oferece dois canudinhos de bambu e uma escovinha por R$ 25. Cada canudo custa R$ 7,50, mas pode chegar a R$ 3,50 se comprado em grandes quantidades. Mesmo assim, os valores est\u00e3o bem acima dos de pl\u00e1stico, outro motivo que dificulta a ades\u00e3o \u00e0s vers\u00f5es ecol\u00f3gicas. Na internet, \u00e9 poss\u00edvel encontrar pacotes com 200, 500 ou 800 unidades pl\u00e1sticas ao custo de R$ 0,01 a R$ 0,05 por pe\u00e7a.<\/p>\n

Devido ao material que escolheu para fazer os seus, a farmac\u00eautica Helen Rodrigues cobra ainda mais caro: R$ 17 cada um. Ela criou no ano passado, ap\u00f3s uma viagem a Bali, onde pesquisou iniciativas sustent\u00e1veis, a Mentah!, empresa carioca que produz canudinhos de vidro. \u201cUsamos um vidro que \u00e9 mais resistente que o comum e aguenta altas temperaturas. Temos um diferencial que \u00e9 a grava\u00e7\u00e3o dos nomes das marcas a 500\u00b0C, quando o vidro est\u00e1 quase l\u00edquido e absorve a tinta para que ela n\u00e3o saia\u201d, conta.<\/p>\n

Sem revelar n\u00fameros, Rodrigues, que abandonou o emprego no setor de quimioterapia de um hospital em janeiro para se dedicar ao neg\u00f3cio, diz vender hoje, por m\u00eas, o que vendeu no ano passado inteiro. \u201cEu imaginava que esse movimento aconteceria, mas n\u00e3o achei que viria t\u00e3o r\u00e1pido.\u201d Ela transferiu a empresa de casa para um escrit\u00f3rio. \u201cEstamos crescendo, contratando, aumentando a escala.\u201d Para ela, por\u00e9m, seu produto n\u00e3o ser\u00e1 aceito pelas grandes da alimenta\u00e7\u00e3o. \u201cO nosso canudo tem um valor agregado maior e um apelo de ser um item pessoal. N\u00e3o \u00e9 aplic\u00e1vel ao McDonald\u2019s\u201d, afirma.<\/p>\n

J\u00e1 o grupo Rio Quente, que utiliza 2 milh\u00f5es de canudinhos por m\u00eas, vai apostar nos biodegrad\u00e1veis feitos de derivados de milho, ra\u00edzes de mandioca e cana. Os apetrechos, que ser\u00e3o importados da China, v\u00e3o aumentar o custo anual da empresa em R$ 100 mil. Fl\u00e1vio Monteiro, diretor de marketing do grupo, diz que preferiria compr\u00e1-los no Brasil. \u201cMas o biodegrad\u00e1vel ainda \u00e9 incipiente no mercado brasileiro. Talvez as pr\u00f3ximas compras a gente j\u00e1 fa\u00e7a por aqui\u201d, conta.<\/p>\n

Fonte: Revista Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Campanha contra polui\u00e7\u00e3o dos oceanos elegeu os canudinhos como inimigos, mas novos h\u00e1bitos precisam avan\u00e7ar para outros itens se quisermos fazer a diferen\u00e7a <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":145865,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[2013,3304,191,158],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145864"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=145864"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145864\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":145866,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/145864\/revisions\/145866"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/145865"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=145864"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=145864"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=145864"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}