{"id":145935,"date":"2018-09-03T06:40:45","date_gmt":"2018-09-03T09:40:45","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=145935"},"modified":"2018-09-03T10:17:32","modified_gmt":"2018-09-03T13:17:32","slug":"diversidade-de-arvores-em-areas-umidas-da-amazonia-e-tres-vezes-maior-do-que-o-esperado","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/09\/03\/145935-diversidade-de-arvores-em-areas-umidas-da-amazonia-e-tres-vezes-maior-do-que-o-esperado.html","title":{"rendered":"Diversidade de \u00e1rvores em \u00e1reas \u00famidas da Amaz\u00f4nia \u00e9 tr\u00eas vezes maior do que o esperado"},"content":{"rendered":"
\"Diversidade
Compila\u00e7\u00e3o de dados de invent\u00e1rios florestais e cole\u00e7\u00f5es biol\u00f3gicas gerou lista com 3.615 esp\u00e9cies de \u00e1rvores nas \u00e1reas \u00famidas da bacia amaz\u00f4nica (foto: Thiago Sanna Freire Silva)<\/figcaption><\/figure>\n

Ao longo das plan\u00edcies dos rios amaz\u00f4nicos existem florestas imensas que passam quase metade do ano alagadas. S\u00e3o vegeta\u00e7\u00f5es como igap\u00f3s, p\u00e2ntanos, campinas, mangues e v\u00e1rzeas que margeiam nascentes e depress\u00f5es de terrenos que constituem as chamadas \u00e1reas \u00famidas amaz\u00f4nicas.<\/p>\n

Segundo um novo estudo, esses h\u00e1bitats re\u00fanem 3.615 esp\u00e9cies de \u00e1rvores conhecidas, n\u00famero tr\u00eas vezes maior que o previsto e que configura a maior diversidade em \u00e1reas \u00famidas no mundo.<\/p>\n

O estudo, com apoio da FAPESP, foi realizado no \u00e2mbito do programa BIOTA. Resultados publicados na revista PLOS One constituem a mais abrangente listagem de esp\u00e9cies arb\u00f3reas presentes em \u00e1reas \u00famidas.<\/p>\n

Os autores combinaram dados dispon\u00edveis em invent\u00e1rios florestais e cole\u00e7\u00f5es biol\u00f3gicas sobre os nove pa\u00edses em que a bacia amaz\u00f4nica se faz presente.<\/p>\n

\u201cA lista com o nome de todas as esp\u00e9cies \u00e9 a grande contribui\u00e7\u00e3o desse trabalho, que tem acesso aberto. Com ela, ser\u00e1 poss\u00edvel avan\u00e7ar em estudos futuros, pois h\u00e1 um vazio de conhecimento bot\u00e2nico sobre as \u00e1reas \u00famidas, principalmente nos afluentes dos rios Solim\u00f5es e Amazonas. Se houvesse mais invent\u00e1rios o n\u00famero de esp\u00e9cies poderia triplicar de novo rapidamente\u201d, disse Bruno Garcia Luize, primeiro autor do artigo e doutorando no Instituto de Bioci\u00eancias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, com bolsa da FAPESP.<\/p>\n

O n\u00famero de esp\u00e9cies tr\u00eas vezes maior do que o estipulado em estudos anteriores \u00e9 resultado da amplia\u00e7\u00e3o tanto da \u00e1rea de investiga\u00e7\u00e3o como dos tipos de h\u00e1bitats.<\/p>\n

\u201cEstudos anteriores focavam apenas nas florestas alag\u00e1veis das v\u00e1rzeas dos rios de \u00e1gua branca e nas plan\u00edcies de inunda\u00e7\u00e3o. Inclu\u00edmos dados de igap\u00f3s, de campinas alagadas e de mangues, por exemplo. Conseguimos tamb\u00e9m acrescentar dados, al\u00e9m da calha do Solim\u00f5es-Amazonas, de afluentes importantes a partir de raros invent\u00e1rios florestais nos rios Purus, Juru\u00e1, Madeira e v\u00e1rios outros\u201d, disse Luize \u00e0 Ag\u00eancia FAPESP.<\/p>\n

Para os pesquisadores, a alta quantidade de esp\u00e9cies arb\u00f3reas \u00e9 indicador de que as \u00e1reas \u00famidas t\u00eam papel importante no mecanismo de manuten\u00e7\u00e3o e gera\u00e7\u00e3o de diversidade na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n

\u201cTradicionalmente, esse papel \u00e9 atribu\u00eddo aos Andes, com seu gradiente clim\u00e1tico. Mas o fato de encontrarmos quase todas as fam\u00edlias e g\u00eaneros bem distribu\u00eddos, com esp\u00e9cies capazes de colonizar \u00e1reas \u00famidas, sugere que esse ecossistema esteja envolvido no processo de diversifica\u00e7\u00e3o h\u00e1 bastante tempo\u201d, disse Thiago Sanna Freire Silva,\u00a0professor no Departamento de Geografia da Unesp e coordenador do estudo. O trabalho integra o Projeto Tem\u00e1tico ” Estrutura\u00e7\u00e3o e evolu\u00e7\u00e3o da biota amaz\u00f4nica e seu ambiente: uma abordagem interativa”, coordenado pela professora L\u00facia Garcez Lohmann.<\/p>\n

Interc\u00e2mbio entre esp\u00e9cies<\/b><\/h3>\n

As florestas de \u00e1reas \u00famidas t\u00eam grande sazonalidade, com varia\u00e7\u00f5es de per\u00edodos de seca e de alagamento, quando as \u00e1rvores podem ter at\u00e9 oito metros de inunda\u00e7\u00e3o. Com essa situa\u00e7\u00e3o limite, as \u00e1reas \u00famidas podem ser consideradas filtros ambientais que selecionam indiv\u00edduos e esp\u00e9cies capazes de tolerar inunda\u00e7\u00f5es e secas recorrentes durante sua vida \u00fatil.<\/p>\n

\u201c\u00c9 um ambiente incrivelmente bonito. O igap\u00f3, por exemplo, \u00e9 uma das imagens mais emblem\u00e1ticas da Amaz\u00f4nia. Por quatro ou cinco meses, os embri\u00f5es das \u00e1rvores ficam submersos enquanto se desenvolvem. Isso ao mesmo tempo em que macacos passam pelas copas das \u00e1rvores ou um boto-rosa se alimenta de peixes dentro da floresta\u201d, disse Luize.<\/p>\n

Mesmo com o dif\u00edcil regime hidrol\u00f3gico imposto, o total de esp\u00e9cies das \u00e1reas \u00famidas amaz\u00f4nicas compreende 53% das 6.727 esp\u00e9cies confirmadas em estudo mais recente da flora arb\u00f3rea de toda a Amaz\u00f4nia.<\/p>\n

Para os pesquisadores da Unesp, essa alta propor\u00e7\u00e3o de \u00e1rvores \u2013 sendo que territorialmente as \u00e1reas \u00famidas compreendem 30% dos 7 milh\u00f5es de km2 da Amaz\u00f4nia \u2013 \u00e9 dada pelo interc\u00e2mbio entre as esp\u00e9cies. Dentro d\u2019\u00e1gua as ra\u00edzes ficam inundadas e algumas chegam a apodrecer, dificultando a troca de oxig\u00eanio.<\/p>\n

\u201cAs \u00e1reas alagadas demandam um metabolismo diferente das \u00e1rvores e algumas esp\u00e9cies de terra firme tamb\u00e9m conseguem tolerar as condi\u00e7\u00f5es de inunda\u00e7\u00e3o. Por\u00e9m, estudos mostram que as popula\u00e7\u00f5es nos diferentes ambientes n\u00e3o t\u00eam a mesma performance. Basicamente, isso quer dizer que se voc\u00ea plantar uma semente da mesma esp\u00e9cie de terra firme na \u00e1rea inundada, e vice-versa, elas provavelmente n\u00e3o v\u00e3o vingar\u201d, disse Luize.<\/p>\n

Segundo ele, essa diferen\u00e7a leva a crer que ocorre um ajuste fisiol\u00f3gico ao longo da vida das \u00e1rvores, ou que as popula\u00e7\u00f5es que cresceram nas \u00e1reas \u00famidas j\u00e1 est\u00e3o se adaptando para aquele ambiente.<\/p>\n

\u201cCom isso, chegamos ao extremo que s\u00e3o esp\u00e9cies exclusivas de ambientes de \u00e1reas \u00famidas ou que s\u00f3 ocorrem nos ambientes de terra firme\u201d, disse.<\/p>\n

Varia\u00e7\u00e3o da varia\u00e7\u00e3o<\/b><\/h3>\n

Nas \u00e1reas \u00famidas, existe uma varia\u00e7\u00e3o grande na dura\u00e7\u00e3o das inunda\u00e7\u00f5es de um ano para o outro.<\/p>\n

\u201cConforme a inunda\u00e7\u00e3o fica mais curta, menos intensa, a composi\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies de \u00e1rvores tende a se aproximar da encontrada em terra firme. No entanto, uma vez que essas esp\u00e9cies desenvolvem toler\u00e2ncia ao per\u00edodo de cheia, mesmo que seja inicialmente uma toler\u00e2ncia baixa, isso abre caminho para que as esp\u00e9cies colonizem novos ambientes inundados. Isso eventualmente pode levar a uma especializa\u00e7\u00e3o dos indiv\u00edduos de \u00e1rea \u00famida, que se tornam diferentes dos indiv\u00edduos de terra firme\u201d, disse Freire Silva.<\/p>\n

As \u00e1rvores podem ficar cada vez mais tolerantes \u00e0 inunda\u00e7\u00e3o ou adquirir novas formas de dispers\u00e3o de sementes pela \u00e1gua ou por peixes. \u201cAo longo de milhares de anos ocorre a maior diversidade de esp\u00e9cies, aumentando a variedade de nichos dispon\u00edveis para serem ocupados por elas\u201d, disse.<\/p>\n

A Am\u00e9rica do Sul \u00e9 considerada a regi\u00e3o com maior quantidade de \u00e1reas \u00famidas, ecossistema fundamental para o balan\u00e7o de \u00e1gua doce no planeta. Os pesquisadores destacam que \u00e9 preciso entender melhor a varia\u00e7\u00e3o entre as caracter\u00edsticas, sejam metab\u00f3licas ou fisiol\u00f3gicas, das esp\u00e9cies que vivem tanto em terra firme como em zona \u00famida.<\/p>\n

\u201cEsse \u00e9 um ponto que precisamos estudar melhor, mas h\u00e1 estudos que indicam os efeitos de secas e cheias na produtividade da floresta, na tomada de carbono da atmosfera e da emiss\u00e3o de carbono para a atmosfera. A toler\u00e2ncia a esses extremos h\u00eddricos de seca e de inunda\u00e7\u00e3o, que \u00e9 uma caracter\u00edstica das \u00e1rvores alag\u00e1veis, \u00e9 importante entender esses balan\u00e7os, essas trocas em uma escala da bacia como um todo\u201d, disse Luize.<\/p>\n

O doutorado de Luize tem como tema principal a influ\u00eancia das \u00e1reas \u00famidas na gera\u00e7\u00e3o da diversidade de esp\u00e9cies de \u00e1rvores. Atualmente, o pesquisador est\u00e1 na University of Michigan, nos Estados Unidos, com\u00a0Bolsa Est\u00e1gio de Pesquisa no Exterior<\/a><\/b>\u00a0da FAPESP, estudando a filogenia de uma fam\u00edlia espec\u00edfica de \u00e1rvores da Amaz\u00f4nia (Lecythidaceae<\/i>) \u2013 da qual se inclui a castanha-do-par\u00e1 \u2013, para entender como ocorre essa migra\u00e7\u00e3o e adapta\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies de terra firme e \u00e1reas \u00famidas.<\/p>\n

O artigo\u00a0The tree species pool of Amazonian wetland forests: Which species can assemble in periodically waterlogged habitats?<\/i>(doi: 10.1371\/journal.pone.0198130), de Bruno Garcia Luize, Jos\u00e9 Leonardo Lima Magalh\u00e3es, Helder Queiroz, Maria Aparecida Lopes, Eduardo Martins Venticinque, Evlyn M\u00e1rcia Le\u00e3o de Moraes Novo, Thiago Sanna Freire Silva, pode ser lido emhttp:\/\/journals.plos.org\/plosone\/article?id=10.1371\/journal.pone.0198130<\/a><\/b>.<\/p>\n

Fonte: FAPESP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"