{"id":146150,"date":"2018-09-11T13:32:57","date_gmt":"2018-09-11T16:32:57","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=146150"},"modified":"2018-09-11T17:54:08","modified_gmt":"2018-09-11T20:54:08","slug":"agricultores-alemaes-ja-sentem-as-mudancas-climaticas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/09\/11\/146150-agricultores-alemaes-ja-sentem-as-mudancas-climaticas.html","title":{"rendered":"Agricultores alem\u00e3es j\u00e1 sentem as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas"},"content":{"rendered":"
\"Imagem
Espiga de milho seca: retrato do escaldante ver\u00e3o na Alemanha<\/figcaption><\/figure>\n

Esculpida num bloco de madeira, uma cita\u00e7\u00e3o de Goethe est\u00e1 exposta num lugar de destaque na entrada da casa de uma antiga fazenda, cerca de 100 quil\u00f4metros\u00a0a noroeste de Berlim:\u00a0Was du ererbt von deinen V\u00e4tern hast, erwirb es, um es zu besitzen<\/em>.<\/p>\n

Sentado \u00e0 cabeceira de uma s\u00f3lida mesa de madeira, o agricultor Hans-Heinrich Gr\u00fcnhagen recita as palavras, que tamb\u00e9m se lia na casa onde cresceu, no oeste da Alemanha:\u00a0o que herdaste dos teus antepassados, conquista-o para possu\u00ed-lo<\/em>.<\/p>\n

Gr\u00fcnhagen interpreta as palavras como uma lembran\u00e7a de sua obriga\u00e7\u00e3o de cuidar t\u00e3o bem das terras para deix\u00e1-las para os filhos em melhores condi\u00e7\u00f5es do que as recebeu. Ainda jovem, ele deixou a Baixa Sax\u00f4nia e a propriedade da fam\u00edlia, que remonta ao ano de 936, e, h\u00e1 quase tr\u00eas d\u00e9cadas, administra seu pr\u00f3prio s\u00edtio na antiga Alemanha Oriental.<\/p>\n

Durante o per\u00edodo, vivenciou mudan\u00e7as, n\u00e3o apenas em sua fazenda e no din\u00e2mico vilarejo onde ela fica, mas na paisagem pol\u00edtica, social e, cada vez mais, clim\u00e1tica.<\/p>\n

“N\u00e3o estou falando dos extremos, porque sempre os tivemos”, relembra. “Falo da \u00e9poca de cultivo, que agora come\u00e7a mais cedo na primavera, mesmo quando temos invernos longos como o \u00faltimo, quando ainda estava muito frio em janeiro e fevereiro”, explica.<\/p>\n

Gr\u00fcnhagen possui uma propriedade de 1.300 hectares \u2013 parte convencional, parte org\u00e2nica \u2013 onde cultiva 19 variedades de cereais incluindo gr\u00e3os, ervilhas, c\u00e2nhamo, tupinambo (tub\u00e9rculo com gosto de alcachofra) e milho.<\/p>\n

Uma das plantas mais conhecidas cultivadas por ele \u00e9 a batata,\u00a0que lutou para sobreviver nesse \u00faltimo e escaldante ver\u00e3o europeu, com poucas chuvas e temperaturas beirando os 40 graus.<\/p>\n

“Batatas n\u00e3o gostam de temperaturas acima de 25 graus, param de crescer corretamente”, afirma o agricultor, que investiu num sistema de irriga\u00e7\u00e3o h\u00e1 alguns anos. “N\u00e3o impede o calor, mas pelo menos mant\u00e9m as plantas vivas”, conforma-se.<\/p>\n

\"De
Hans-Heinrich Gr\u00fcnhagen: “colheitas antecipadas e risco de geada”<\/figcaption><\/figure>\n

Onde \u00e9 poss\u00edvel, o lavrador tamb\u00e9m come\u00e7ou a migrar para variedades mais resistentes a esse tipo de temperatura. Mas nem isso funcionou neste ano. “Plantamos milho, mas estava t\u00e3o seco que nem germinou. O campo est\u00e1 vazio”, lamenta.<\/p>\n

Para os cereais que de fato germinam, ainda h\u00e1 a amea\u00e7a real de geadas tardias de primavera, severas o suficiente para eliminar jovens plantas que, por causa das temperaturas diurnas mais quentes do que o normal, brotaram prematuramente.<\/p>\n

“O tempo de crescimento das plantas n\u00e3o mudou. Mas as plantas brotam mais cedo do que costumavam. A espiga pode at\u00e9 j\u00e1 estar no caule e quer germinar. Mas, se h\u00e1 geada noturna, a espiga pode morrer e ficamos sem nada”, lamenta.<\/p>\n

Centenas de quil\u00f4metros a sudoeste dali, na regi\u00e3o vin\u00edcola de Rheinhessen, o viticultor Adolf Dahlem procura meios de superar desafios similares, que ele diz estarem “inegavelmente” ligados \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. “O primeiro ano ruim mesmo foi 2003. N\u00e3o havia nada al\u00e9m de sol durante meses a fio”, recorda. “Tivemos v\u00e1rios anos quentes e prematuros desde ent\u00e3o, e os intervalos entre eles est\u00e3o ficando cada vez mais curtos”, constata.<\/p>\n

Apesar de um sol ininterrupto soar como o sonho de um viticultor, a situa\u00e7\u00e3o \u00e9 mais complexa. Al\u00e9m de enfrentarem os mesmos problemas de plantas que produzem frutos antes do fim da temporada de geadas fatal, os viticultores da regi\u00e3o lutam contra novas estirpes de pragas e colheitas cada vez mais antecipadas.<\/p>\n

Quando Dahlem era crian\u00e7a, a colheita das uvas era feita em outubro. Mas, nos \u00faltimos anos, o evento anual foi adiantado para setembro ou mesmo para agosto. “Essa colheita precoce est\u00e1 ligada \u00e0s altas temperaturas”, explica. E \u00e9 a\u00ed que est\u00e1 o problema: “Se colhemos quando a temperatura ambiente est\u00e1 em torno de 30 graus, as uvas e o mosto tamb\u00e9m ter\u00e3o uma temperatura de 30 graus”, coloca.<\/p>\n

\"Batatas
A batata comum n\u00e3o lida bem com temperaturas altas demais<\/figcaption><\/figure>\n

Apesar de Dahlem tentar colher durante a noite e bem cedo de manh\u00e3, quando as frutas est\u00e3o mais frescas, \u00e9 necess\u00e1rio um “processo altamente tecnol\u00f3gico e de alta intensidade energ\u00e9tica” para manter as uvas na temperatura certa, para atingir a “harmonia exata entre a fruta e a acidez” respons\u00e1veis pela fama do vinho branco Riesling produzido na regi\u00e3o.<\/p>\n

Alguns lavradores enxergam uma oportunidade de fazer experi\u00eancias com tipos diferentes de uvas para produzir vinhos tintos, at\u00edpicos para a regi\u00e3o, mas Dahlem diz que h\u00e1 um desejo real na comunidade de encontrar formas de continuar produzindo um Riesling de alta qualidade. “Tentaremos nos adaptar. Mas \u00e9 realmente muito dif\u00edcil atender \u00e0s expectativas do mercado.”<\/p>\n

E esse dilema existe em toda a Alemanha. Hans- Heinrich Gr\u00fcnhagen espera tempos dif\u00edceis e uma queda de 50% na colheita deste ano. “Tem consequ\u00eancias para a ind\u00fastria agr\u00edcola, para aqueles que compram os nossos cereais ou a f\u00e1brica de amido que processa as nossas batatas”, enumera.<\/p>\n

Ele diz que tudo o que pode fazer \u00e9 tentar se adaptar \u00e0s mudan\u00e7as, selecionar mais os gr\u00e3os que semeia, irrigar onde \u00e9 poss\u00edvel e garantir que o solo fique saud\u00e1vel.<\/p>\n

Para o presidente da Federa\u00e7\u00e3o Alem\u00e3 da Ind\u00fastria de Alimentos Org\u00e2nicos (B\u00d6LW, na sigla em alem\u00e3o), Felix zu L\u00f6wenstein, a situa\u00e7\u00e3o das terras agr\u00edcolas na Alemanha \u00e9 um assunto urgente.<\/p>\n

Ele diz que j\u00e1 faz tempo que o sistema agr\u00edcola do pa\u00eds precisa de uma reestrutura\u00e7\u00e3o completa, mas que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas trouxeram a necessidade ainda mais iminente de uma revis\u00e3o radical.<\/p>\n

Citando o aumento da incid\u00eancia de eventos meteorol\u00f3gicos como seca e chuvas torrenciais, ele afirma que \u00e9 insustent\u00e1vel “fingir que tudo precisa ficar como era e, de tempos em tempos, pedir dinheiro p\u00fablico para manter o setor vivo”.<\/p>\n

\"Foto
Na regi\u00e3o de Rheinhessen, vinhas secam com o calor ou queimam com geadas tardias<\/figcaption><\/figure>\n

Para L\u00f6wenstein, a fertilidade dos solos, maior quantidade de h\u00famus e a compacta\u00e7\u00e3o reduzida das terras \u2013 que facilitam a absor\u00e7\u00e3o e armazenagem de \u00e1gua pelo solo \u2013, aumento da biodiversidade e rota\u00e7\u00e3o de cultivo s\u00e3o medidas potenciais para altera\u00e7\u00f5es de longo prazo.<\/p>\n

Ele foi criticado por muitos agricultores por ter verbalizado essas ideias num momento em que o calor implac\u00e1vel dos \u00faltimos meses no hemisf\u00e9rio norte causou temores existenciais em muitos lavradores. “Eles recebem como uma repreens\u00e3o”, entende L\u00f6wenstein, “o que me entristece porque \u00e9 a \u00faltima coisa que quero fazer”.<\/p>\n

O que o presidente da B\u00d6LW quer \u00e9 usar os extremos do ver\u00e3o europeu como catalisadores para uma discuss\u00e3o s\u00e9ria sobre o futuro do setor. L\u00f6wenstein enxerga os planos da Uni\u00e3o Europeia para reformular sua Pol\u00edtica Agr\u00edcola Comum at\u00e9 2020 como uma oportunidade de acabar com o pagamento atual de subs\u00eddios por hectare, uma pr\u00e1tica que beneficia principalmente as grandes fazendas.<\/p>\n

“Precisamos mudar para uma pol\u00edtica na qual os agricultores s\u00e3o pagos por um servi\u00e7o que oferecem”, explica. “Para medidas que aumentem a biodiversidade, que tornem a agricultura e a produ\u00e7\u00e3o de alimentos mais flex\u00edveis”.<\/p>\n

Gr\u00fcnhagen, por\u00e9m, teme que o fim do atual sistema de subs\u00eddios levaria a terras ociosas. “Nessa \u00e1rea, temos solos leves, o que significa que o potencial de colheita \u00e9 relativamente baixo”, diz, acrescentando que os subs\u00eddios s\u00e3o uma forma de subsist\u00eancia para muitos agricultores. Sem o financiamento, ele teme ver\u00f5es com “largas extens\u00f5es de terra marrom” se espalhando em todo o pa\u00eds porque agricultores simplesmente desistiriam.<\/p>\n

O agricultor espera que a situa\u00e7\u00e3o n\u00e3o chegue a isso e afirma que vai continuar se adaptando e cuidando de suas terras para fazer jus \u00e0 sua interpreta\u00e7\u00e3o da frase de Goethe e poder garantir que haver\u00e1 algo que ele possa deixar para a pr\u00f3xima gera\u00e7\u00e3o \u2013 mesmo diante do aquecimento global.<\/p>\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Estiagem, plantas brotando mais cedo, para depois serem mortas pelo frio, safra de uvas at\u00e9 dois meses antes do normal: aquecimento global faz agricultores alem\u00e3es repensarem tradi\u00e7\u00f5es seculares. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":146152,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[752,476,46,243],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146150"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=146150"}],"version-history":[{"count":2,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146150\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":146153,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146150\/revisions\/146153"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/146152"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=146150"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=146150"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=146150"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}