{"id":146705,"date":"2018-09-24T00:02:53","date_gmt":"2018-09-24T03:02:53","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=146705"},"modified":"2018-09-23T23:11:36","modified_gmt":"2018-09-24T02:11:36","slug":"o-desastre-em-florenca-que-pode-servir-de-licao-para-preservacao-do-patrimonio-historico-do-brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/09\/24\/146705-o-desastre-em-florenca-que-pode-servir-de-licao-para-preservacao-do-patrimonio-historico-do-brasil.html","title":{"rendered":"O desastre em Floren\u00e7a que pode servir de li\u00e7\u00e3o para preserva\u00e7\u00e3o do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico do Brasil"},"content":{"rendered":"
\"Estrago
A grande enchente em Floren\u00e7a, em 1966, casou destrui\u00e7\u00e3o, mas tamb\u00e9m estimulou a cria\u00e7\u00e3o de um refinado sistema de restauro em obras de arte que se tornou refer\u00eancia mundial<\/figcaption><\/figure>\n

O hist\u00f3rico italiano deixa li\u00e7\u00f5es, segundo especialistas do setor, para pa\u00edses como o Brasil, que acaba de ter o seu\u00a0Museu Nacional<\/a>\u00a0destru\u00eddo por um inc\u00eandio – mesmo que a causa de um desastre seja um fen\u00f4meno natural e a de outro a a\u00e7\u00e3o (ou ina\u00e7\u00e3o) humana.<\/p>\n

No caso da It\u00e1lia, a trag\u00e9dia foi provocada pela enchente – causada por fortes chuvas – do rio Arno, na Toscana, em novembro de 1966.<\/p>\n

O aguaceiro danificou uma parte consider\u00e1vel do acervo hist\u00f3rico de Floren\u00e7a (o n\u00edvel da \u00e1gua chegou a quase seis metros de altura, inundando galerias, museus, igrejas e bibliotecas) e impulsionou uma s\u00e9rie de medidas que foram adotadas progressivamente nos anos seguintes.<\/p>\n

O trabalho desenvolvido ali levou \u00e0 forma\u00e7\u00e3o de um refinado sistema de restauro em obras de arte que se tornou refer\u00eancia mundial e marcou na hist\u00f3ria um dos momentos mais bonitos de solidariedade – para a preserva\u00e7\u00e3o do acervo e limpeza da cidade – que envolveu 74 pa\u00edses, inclusive o Brasil.<\/p>\n

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De Floren\u00e7a, onde vive e leciona na Universit\u00e0 degli Studi Firenze, a historiadora da arte italiana Cristina Acidini acompanhou com desalento o inc\u00eandio no Rio de Janeiro no in\u00edcio deste m\u00eas. N\u00e3o faz muito tempo, ela havia visitado o local destru\u00eddo. “N\u00e3o h\u00e1 d\u00favidas de que se trata de uma verdadeira perda para toda a humanidade”, lamentou.<\/p>\n

\"paisagem
Foi criado, ap\u00f3s a enchente em Floren\u00e7a, um c\u00f3digo civil para a prote\u00e7\u00e3o do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico de todo o pa\u00eds e, uma d\u00e9cada depois, o Minist\u00e9rio dos Bens Culturais, respons\u00e1vel ainda pela \u00e1rea de cinema, arquivos e bibliotecas<\/figcaption><\/figure>\n

Para Acidini, que foi diretora do polo de museus de Floren\u00e7a e atualmente preside a Academia da Arte do Desenho, a trag\u00e9dia no Museu Nacional s\u00f3 se compara \u00e0s destrui\u00e7\u00f5es do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico vistas em conflitos como a Segunda Guerra Mundial (1939-45) – que muito afetou a It\u00e1lia – ou mesmo na atual guerra da S\u00edria, que j\u00e1 destruiu mais de duas dezenas de locais declarados como patrim\u00f4nio da humanidade. “Em tempos de paz, nunca vi algo semelhante como o desastre no Rio”, ressaltou.<\/p>\n

Se h\u00e1 algo positivo no epis\u00f3dio, acrescenta ela, est\u00e1 a revis\u00e3o imediata das condi\u00e7\u00f5es dos demais museus e institui\u00e7\u00f5es culturais do Brasil para que, no futuro, novos desastres dessa magnitude n\u00e3o se repitam.<\/p>\n

Na It\u00e1lia, a enchente em Floren\u00e7a resultou na cria\u00e7\u00e3o de um c\u00f3digo civil para a prote\u00e7\u00e3o do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico de todo o pa\u00eds e, uma d\u00e9cada depois, na cria\u00e7\u00e3o do Minist\u00e9rio dos Bens Culturais, respons\u00e1vel tamb\u00e9m pela \u00e1rea de cinema, arquivos e bibliotecas.<\/p>\n

Na regi\u00e3o da Toscana se criou ainda um plano de prote\u00e7\u00e3o ao centro hist\u00f3rico (um dos patrim\u00f4nios listados pela Unesco) que envolve Corpo de Bombeiros, policiais e a popula\u00e7\u00e3o civil, treinada para agir em caso de emerg\u00eancia.<\/p>\n

“Muitos moradores foram capacitados para, ao primeiro alarme, estarem aptos a salvar as obras de arte”, disse Giorgio Federici, engenheiro hidr\u00e1ulico que coordenou os trabalhos de uma comiss\u00e3o formada na cidade sobre a enchente ocorrida h\u00e1 mais de meio s\u00e9culo.<\/p>\n

Al\u00e9m da preven\u00e7\u00e3o contra inc\u00eandios e enchentes, o pa\u00eds tamb\u00e9m desenvolveu um plano antiss\u00edsmico, j\u00e1 que \u00e9 alvo frequente de terremotos.<\/p>\n

P\u00e2ntano no ber\u00e7o do renascimento<\/h2>\n

No dia 4 de novembro de 1966, 80 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de \u00e1gua invadiram Floren\u00e7a ap\u00f3s o rompimento de um dique do rio Arno – por aqueles dias, chuvas torrenciais atingiram toda a It\u00e1lia.<\/p>\n

Al\u00e9m de deixar dezenas de mortos e milhares de desabrigados, a \u00e1gua tomou igrejas, galerias como a dos Of\u00edcios, um dos mais antigos e famosos museus do mundo, que re\u00fane a maior cole\u00e7\u00e3o de obras do Renascimento italiano, e institui\u00e7\u00f5es como a Biblioteca Nacional.<\/p>\n

Pelo menos 1.500 obras de arte sofreram danos (muitas delas se perderam para sempre), assim como milhares de livros, manuscritos, esculturas e pontes. Ap\u00f3s a \u00e1gua ser drenada, o centro hist\u00f3rico da cidade parecia um grande p\u00e2ntano.<\/p>\n

A rede de solidariedade que se formou em seguida reuniu gente do mundo inteiro que chegou a Floren\u00e7a para ajudar na sua reconstru\u00e7\u00e3o – sobretudo jovens, que passaram a ser chamados de “angeli del fango”, ou anjos do barro.<\/p>\n

\"Duomo\"
As \u00e1guas da enchente de 1966 tomaram igrejas, museus e a Bliblioteca Nacional de Floren\u00e7a<\/figcaption><\/figure>\n

De m\u00e1quinas para drenar a \u00e1gua enviadas pela Holanda e Alemanha \u00e0s bananas despachadas pela Som\u00e1lia, a It\u00e1lia recebeu ajuda de pelo menos 74 pa\u00edses.<\/p>\n

O Brasil, que fez parte da rede, contribuiu com doa\u00e7\u00f5es em dinheiro do governo do Rio de Janeiro e com o envio de not\u00e1veis como o curador de arte Deoclecio Redig de Campos (que trabalhou por anos no Museu Vaticano), al\u00e9m da presen\u00e7a de jovens estudantes que estavam \u00e0 \u00e9poca em Paris e foram se juntar ao mutir\u00e3o na Toscana.<\/p>\n

Segundo o centro que documentou os danos da enchente, cerca de mil quadros e afrescos j\u00e1 foram restaurados, al\u00e9m de milhares de livros – quase 52 anos depois, pelo menos 80 mil volumes ainda esperam para serem restaurados.<\/p>\n

Uma das obras-primas danificadas s\u00f3 voltou a ser exibida ao p\u00fablico no final de 2016. Trata-se do quadro\u00a0A \u00faltima ceia<\/i>, pintura de Giorgio Vasari datada de 1546 que passou \u00e0 \u00e9poca mais de 12 horas debaixo d’\u00e1gua.<\/p>\n

Uma das obras mais importantes do Renascimento italiano, a tela passou 40 anos num dep\u00f3sito e s\u00f3 foi recuperada gra\u00e7as ao financiamento da funda\u00e7\u00e3o americana Getty em parceria com a marca de roupas Prada.<\/p>\n

Ela voltou a ser exposta no seu lugar de origem, o antigo refeit\u00f3rio da bas\u00edlica de Santa Croce – agora com um moldura especial que faz com que ela seja al\u00e7ada ao teto em caso de novo alagamento.<\/p>\n

Or\u00e7amento reduzido<\/h2>\n

Assim como o setor cultural brasileiro, a It\u00e1lia sofre com a redu\u00e7\u00e3o gradual do or\u00e7amento destinado \u00e0 \u00e1rea.<\/p>\n

Em 2017, segundo dados do Minist\u00e9rio de Bens Culturais, o valor dispon\u00edvel foi quase o mesmo do ano 2000 (cerca de 2,1 bilh\u00f5es de euros anuais, ap\u00f3s uma queda significativa na \u00faltima d\u00e9cada, consequ\u00eancia da crise econ\u00f4mica). A previs\u00e3o or\u00e7ament\u00e1ria para este ano \u00e9 de leve melhora.<\/p>\n

Um alento, por um lado, \u00e9 a enormidade do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico italiano, o que permite diferentes fontes de financiamentos – em todo o pa\u00eds, s\u00e3o mais de 4 mil museus, bibliotecas, monumentos, etc.<\/p>\n

Muitos s\u00e3o geridos pela Igreja Cat\u00f3lica, caso por exemplo do Museu Vaticano e da Capela Sistina, marcos art\u00edsticos de Roma, al\u00e9m de igrejas que abrigam obras-primas como\u00a0Mois\u00e9s<\/i>\u00a0de Michelangelo.<\/p>\n

A participa\u00e7\u00e3o do Vaticano na manuten\u00e7\u00e3o de parte do patrim\u00f4nio cultural, contudo, n\u00e3o significa progresso. No final do m\u00eas passado desabou em Roma o teto da igreja San Giuseppe dei Falegnami, constru\u00edda no s\u00e9culo 16. A poucos passos do F\u00f3rum Romano, outro ponto bastante visitado por turistas na capital italiana, a igreja estava fechada na hora do desabamento – ningu\u00e9m se feriu.<\/p>\n

H\u00e1, ainda, fundos repassados ao pa\u00eds pela Uni\u00e3o Europeia. Um dos programas garantiu entre 2014 e 2020 pelo menos 490 milh\u00f5es de euros para as cinco prov\u00edncias do sul da It\u00e1lia, regi\u00e3o historicamente menos desenvolvida e com grandes atra\u00e7\u00f5es como Pompeia.<\/p>\n

Um dos problemas do pa\u00eds, segundo Giorgio Federici, \u00e9 a forma\u00e7\u00e3o de pessoal que possa continuar a atuar na \u00e1rea da restaura\u00e7\u00e3o e preserva\u00e7\u00e3o do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico – ele diz que muitos profissionais foram aposentados compulsoriamente pelo Estado italiano.<\/p>\n

“Um bom restaurador custa algum dinheiro, e n\u00e3o \u00e9 simples form\u00e1-lo”, conta.<\/p>\n

Para Marco Ciatti, superintendente do Opificio delle Pietre Dure, instituto ligado ao Minist\u00e9rio de Bens Culturais que se dedica ao restauro de obras de arte (e criado ap\u00f3s a enchente em Floren\u00e7a), a enormidade do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico italiano, se por um lado cria oportunidades de gest\u00e3o, por outro gera obst\u00e1culos para a preserva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ele diz que o \u00f3rg\u00e3o, que j\u00e1 colaborou na recupera\u00e7\u00e3o de obras de arte de outros pa\u00edses, poderia ajudar a amenizar o luto cultural brasileiro. “Mas isso depende de uma a\u00e7\u00e3o entre os dois governos, o que ainda n\u00e3o foi feito”, ressalta.<\/p>\n

Um caminho, que vem sendo implementado na It\u00e1lia desde 2014, \u00e9 o financiamento do restauro e preserva\u00e7\u00e3o de obras ou monumentos por parte de empresas em troca de benef\u00edcios fiscais. Nesses casos, a lista das interven\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias \u00e9 elaborada pelo Estado italiano.<\/p>\n

Nos \u00faltimos quatro anos, foram mais de 1.300 financiamentos privados, que somaram mais de 200 milh\u00f5es de euros pagos por cerca de 6.300 empresas ou pessoas f\u00edsicas.<\/p>\n

Um dos financiamentos restaurou e modernizou a \u00e1rea de visita\u00e7\u00e3o do Coliseu, um dos mais movimentados pontos tur\u00edsticos do pa\u00eds. Bancado pela Tod’s, empresa italiana que produz cal\u00e7ados e outros acess\u00f3rios de couro, a reforma custou 25 milh\u00f5es de euros.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n<\/div>\n

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Pa\u00eds que ostenta o maior n\u00famero (54) de patrim\u00f4nios da humanidade reconhecidos pela Unesco, a It\u00e1lia teve num grande desastre natural que alagou o centro hist\u00f3rico de Floren\u00e7a, cidade ber\u00e7o do Renascentismo, uma inflex\u00e3o crucial nos procedimentos de seguran\u00e7a adotados na sua extensa lista de bens culturais – que v\u00e3o da pr\u00e9-hist\u00f3ria aos dias atuais. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":146708,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[146,1609,1390,884],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146705"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=146705"}],"version-history":[{"count":2,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146705\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":146709,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146705\/revisions\/146709"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/146708"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=146705"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=146705"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=146705"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}