{"id":146854,"date":"2018-09-27T00:54:27","date_gmt":"2018-09-27T03:54:27","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=146854"},"modified":"2018-09-26T20:57:17","modified_gmt":"2018-09-26T23:57:17","slug":"farinha-de-grilo-e-barrinhas-de-besouros-estes-brasileiros-apostam-em-insetos-como-alimento","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/09\/27\/146854-farinha-de-grilo-e-barrinhas-de-besouros-estes-brasileiros-apostam-em-insetos-como-alimento.html","title":{"rendered":"Farinha de grilo e barrinhas de besouros: estes brasileiros apostam em insetos como alimento"},"content":{"rendered":"
\"Uma
Uma panela repleta de larvas; pelo mundo, h\u00e1 apostas de que o consumo de insetos ir\u00e1 muito al\u00e9m de experi\u00eancias ex\u00f3ticas, permitindo a amplia\u00e7\u00e3o da seguran\u00e7a alimentar<\/figcaption><\/figure>\n

Essas carater\u00edsticas t\u00eam levado a Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Alimenta\u00e7\u00e3o e a Agricultura (FAO, na sigla em ingl\u00eas) \u00e0 valoriza\u00e7\u00e3o de um tipo de alimento que enfrenta grande resist\u00eancia cultural no Ocidente: os insetos, cuja ingest\u00e3o ganha o nome de “entomofagia”.<\/p>\n

Pelo mundo, no entanto, surgem exemplos de que esta resist\u00eancia – apontada como um obst\u00e1culo pela pr\u00f3pria FAO em um relat\u00f3rio de 2013, um marco na tend\u00eancia da entomofagia – est\u00e1 diminuindo. Em maio, a rede Carrefour lan\u00e7ou na Espanha uma linha de dez produtos com insetos\u00a0entre os ingredientes, como granola e macarr\u00e3o.<\/p>\n

Startups tamb\u00e9m v\u00eam surgindo nesse nicho, como a Bugfoundation, da Alemanha, que produz hamb\u00fargueres de larvas, ou a Chirps, nos EUA, que vende biscoitinhos salgados de grilos. H\u00e1 at\u00e9 uma vertente do veganismo que inclui a ingest\u00e3o de insetos, o chamado entoveganismo.<\/p>\n

Pelo Brasil, h\u00e1 tamb\u00e9m pesquisadores e empreendedores que apostam na nova onda dos insetos, preparando produtos como barras proteicas de larvas de besouro e grilos banhados em chocolate. Para eles, a entomofagia vai muito al\u00e9m de experi\u00eancias pontuais ex\u00f3ticas e pode, na verdade, vir a ser um mercado de grande escala – mas nisso, dizem, o pa\u00eds est\u00e1 atrasado.<\/p>\n

Se no mundo, de acordo com a FAO, insetos fazem parte do card\u00e1pio de cerca de 2 bilh\u00f5es de pessoas, o Brasil n\u00e3o tem a tradi\u00e7\u00e3o de comer insetos como, por exemplo, pa\u00edses da \u00c1sia.<\/p>\n

Mas, por aqui, h\u00e1 algumas tradi\u00e7\u00f5es pontuais. \u00c9 o caso do consumo de formigas i\u00e7\u00e1s ou tanajuras – que j\u00e1 ganharam at\u00e9 festivais em Tiangu\u00e1, no Cear\u00e1, ou Silveiras, em S\u00e3o Paulo. Ou ainda do consumo das formigas maniwara na Amaz\u00f4nia, que remete a tradi\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas do Alto Rio Negro.<\/p>\n

\"Larvas
Larvas de bicho-da-seda em prato t\u00edpico da Tail\u00e2ndia; em pa\u00edses ocidentais, a entomofagia enfrenta resist\u00eancia cultural<\/figcaption><\/figure>\n

Para Eraldo Medeiros Costa Neto, etnobi\u00f3logo que se dedica h\u00e1 anos ao estudo sobre a rela\u00e7\u00e3o entre humanos e insetos, a quest\u00e3o cultural \u00e9 ainda a barreira que impede o Brasil de chegar ao seu potencial na entomofagia.<\/p>\n

“Grande parte da popula\u00e7\u00e3o associa os insetos a pragas, a algo nojento. Mas uma vez que essa barreira cultural seja ultrapassada, o Brasil poderia ser uma pot\u00eancia por suas riquezas naturais”, diz Neto, professor na Universidade Estadual de Feira de Santana. “Ainda temos pouco conhecimento sobre insetos comest\u00edveis no Brasil. \u00c9 preciso fazer uma esp\u00e9cie de invent\u00e1rio e muita pesquisa”.<\/p>\n

Como no mundo todo, por\u00e9m, os brasileiros podem estar comendo insetos sem saber: um dos corantes mais usados na ind\u00fastria, o carmim, \u00e9 feito a partir de insetos chamados cochonilhas.<\/p>\n

\"O
‘Em 20, 30 anos, acredito que produtos feitos com insetos estar\u00e3o em grande escala nos supermercados’, aposta Schickler | Foto: Arquivo pessoal<\/figcaption><\/figure>\n

O zootecnista Gilberto Schickler se dedica h\u00e1 alguns anos a expandir a entomofagia. Empreendedor na \u00e1rea desde os anos 2000, ele oferece hoje consultoria e cursos para interessados na cria\u00e7\u00e3o de insetos – desde a sua alimenta\u00e7\u00e3o ao abate e conserva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ele \u00e9 s\u00f3cio tamb\u00e9m na Hakkuna, uma startup que se prepara para lan\u00e7ar no mercado, nos pr\u00f3ximos meses, uma barra de prote\u00ednas feita com farinha de grilos-pretos, comuns no Brasil. Ap\u00f3s passar por testes e uma incubadora, o produto vai recorrer a um formato comumente escolhido para driblar resist\u00eancias a esse tipo de alimento.<\/p>\n

“H\u00e1 duas formas de apresentar o inseto. Um \u00e9 por inteiro, o que gera sentimentos de repulsa \u00e0 curiosidade. N\u00f3s optamos por trabalhar com os grilos triturados, em um tipo de farelo mais grosseiro”, explica Schickler, destacando que o p\u00fablico-alvo priorit\u00e1rio est\u00e1 no ramo fitness.<\/p>\n

“Em 20, 30 anos, acredito que produtos feitos com insetos estar\u00e3o em grande escala nos supermercados. Mas trabalhamos para que este segmento seja lucrativo e vi\u00e1vel no presente. Se n\u00e3o for um neg\u00f3cio para hoje, ele n\u00e3o vai acontecer: j\u00e1 estamos muito atrasados em rela\u00e7\u00e3o a outros pa\u00edses.”<\/p>\n

Prote\u00ednas: em quantidade e qualidade<\/h2>\n

No ramo da pesquisa, a doutoranda Ariana Vieira Alves tamb\u00e9m est\u00e1 prestes a concluir a elabora\u00e7\u00e3o de uma barra proteica feita da larva de um besouro do g\u00eanero Ten\u00e9brio.<\/p>\n

“\u00c9 um inseto de f\u00e1cil cria\u00e7\u00e3o, com um ciclo de vida curto, tornando-o bastante vi\u00e1vel para a produ\u00e7\u00e3o”, aponta Alves, que estuda tecnologia ambiental na Universidade Federal da Grande Dourados.<\/p>\n

“Diferente de outras carnes como a de boi, voc\u00ea consegue modificar bastante (a constitui\u00e7\u00e3o nutricional) o inseto dependendo do que ele come, onde vive. Sempre digo que o inseto \u00e9 como um elo entre o animal e o vegetal: \u00e9 rico em prote\u00ednas como o primeiro, n\u00e3o s\u00f3 no teor mas na qualidade, s\u00f3 que com menos gorduras saturadas”.<\/p>\n

\"Duas
FAO destaca propriedades nutricionais dos insetos<\/figcaption><\/figure>\n

Segundo a FAO, os insetos t\u00eam uma grande capacidade de “convers\u00e3o alimentar”: conseguem transformar 2 kg de alimento em 1 kg de massa corporal, enquanto bois fazem isso em uma escala de 8 kg para 1 kg.<\/p>\n

“Insetos s\u00e3o fontes de nutrientes e prote\u00ednas de alta qualidade se comparados \u00e0 carne bovina e ao pescado (…) S\u00e3o particularmente importantes como suplemento alimentar para crian\u00e7as que sofrem de m\u00e1 nutri\u00e7\u00e3o, pois a maioria das esp\u00e9cies tem alto teor de \u00e1cidos graxos (compar\u00e1veis ao pescado). Tamb\u00e9m s\u00e3o ricos em fibras e micronutrientes como cobre, ferro, magn\u00e9sio, mangan\u00eas, f\u00f3sforo, sel\u00eanio e zinco”, diz o relat\u00f3rio da entidade.<\/p>\n

A ag\u00eancia da ONU destaca tamb\u00e9m que os insetos produzem menos gases de efeito estufa do que a pecu\u00e1ria convencional, podem se alimentar de res\u00edduos org\u00e2nicos e assim reduzir a carga deste tipo de descarte, al\u00e9m de exigir extens\u00f5es de terra muito menores na cria\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Associa\u00e7\u00e3o e congresso para representar a entomofagia<\/h2>\n
\"O
‘O Brasil poder\u00e1 ser um dos celeiros da entomofagia’, aposta Oliveira<\/figcaption><\/figure>\n

Representantes do setor apontam que o consumo de insetos por humanos conta com o pontap\u00e9 inicial de um segmento mais desenvolvido, o da ra\u00e7\u00e3o feita com este tipo de alimento para animais, como peixes ornamentais e p\u00e1ssaros.<\/p>\n

Mas, para os entrevistados, um passo importante ainda est\u00e1 por vir: uma regulamenta\u00e7\u00e3o espec\u00edfica da entomofagia voltada para humanos. Este \u00e9 um dos objetivos que motivaram a cria\u00e7\u00e3o da Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Criadores de Insetos, segundo explica um de seus fundadores, o bi\u00f3logo Cas\u00e9 Oliveira.<\/p>\n

“A legisla\u00e7\u00e3o n\u00e3o pro\u00edbe, mas isto (a falta de regulamenta\u00e7\u00e3o) acaba impedindo que o mercado d\u00ea um salto al\u00e9m de produ\u00e7\u00f5es em pequena escala. Enquanto fica na escala artesanal, o que vemos \u00e9 monop\u00f3lio e pre\u00e7os altos”, aponta Oliveira, que trabalha com o tema fazendo palestras e recebendo convidados para uma “entoexperi\u00eancia”, um menu gastron\u00f4mico composto de insetos. “O Brasil poder\u00e1 ser um dos celeiros da entomofagia, pelo simples motivo do nosso clima ser muito prop\u00edcio para isso.”<\/p>\n

\"Membros
Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Criadores de Insetos foi criada, entre outras raz\u00f5es, para estimular regulamenta\u00e7\u00e3o no setor<\/figcaption><\/figure>\n

Oliveira e entusiastas da \u00e1rea planejam, para novembro de 2019, o primeiro congresso brasileiro sobre a “antropoentomofagia” – o consumo humano de insetos e seus derivados.<\/p>\n

Por e-mail, a Anvisa explicou que “considerando que o consumo de insetos n\u00e3o possui hist\u00f3rico de uso como alimentos pela popula\u00e7\u00e3o brasileira, as empresas interessadas em utilizar insetos na produ\u00e7\u00e3o de alimentos devem solicitar junto \u00e0 Anvisa avalia\u00e7\u00e3o da sua seguran\u00e7a”.<\/p>\n

“Caso seja demonstrado que as condi\u00e7\u00f5es e finalidade de uso desses insetos na produ\u00e7\u00e3o de alimentos \u00e9 segura para o consumidor, seu uso \u00e9 autorizado”, completa.<\/p>\n

Ainda segundo o \u00f3rg\u00e3o, no per\u00edodo em que a ag\u00eancia recebeu propostas de temas a serem eventualmente avalidos em sua agenda regulat\u00f3ria para os anos de 2017 a 2020, n\u00e3o houve sugest\u00f5es referentes ao consumo de insetos por humanos.<\/p>\n

Quais riscos esse tipo de alimento pode apresentar?<\/h2>\n

Mas, segundo a FAO, nas condi\u00e7\u00f5es adequadas, n\u00e3o existem casos conhecidos de doen\u00e7as transmitidas com a ingest\u00e3o de insetos por pessoas.<\/p>\n

Segundo Schickler, a entomofagia pressup\u00f5e o consumo de insetos criados em cativeiro, e n\u00e3o retirados livremente da natureza – o abate costuma ocorrer com a inser\u00e7\u00e3o destes animais em \u00e1gua fervente, como feito com mariscos.<\/p>\n

No entanto, os insetos s\u00e3o male\u00e1veis \u00e0s condi\u00e7\u00f5es do ambiente em que est\u00e3o, acumulando por exemplo pesticidas ou transmitindo agentes biol\u00f3gicos danosos.<\/p>\n

“Os insetos precisam dos mesmos cuidados de produ\u00e7\u00e3o que outros animais, ambientes limpos, higienizados, com manuten\u00e7\u00e3o di\u00e1ria, cuidados espec\u00edficos de isolamento, cuidados com pragas, fungos, al\u00e9m de umidade e temperatura controladas”, aponta o chef Rossano Linassi, que atua no segmento e \u00e9 professor no Instituto Federal Catarinense (IFC).<\/p>\n

Ele destaca tamb\u00e9m a necessidade de aten\u00e7\u00e3o com alergias, principalmente para aqueles que j\u00e1 t\u00eam esta sensibilidade com frutos do mar – que t\u00eam composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica parecida.<\/p>\n

Como o sushi?<\/h2>\n
\"O
Linassi acredita em uma transi\u00e7\u00e3o gradual na aceita\u00e7\u00e3o da entomofagia<\/figcaption><\/figure>\n

Sob condi\u00e7\u00f5es ideias, Linassi v\u00ea um campo inexplorado de gostos e preparos para a entomofagia. Ele faz receitas que v\u00e3o de grilos cobertos com chocolate a omelete de ten\u00e9brios.<\/p>\n

“Acredito que assim como ocorreu com o sushi h\u00e1 cerca de 20 anos, o inseto possa ser incorporado aos poucos \u00e0 dieta regular da popula\u00e7\u00e3o. Entre mais de um milh\u00e3o de esp\u00e9cies conhecidas (hoje mais ou menos 2 mil catalogadas como alimento), encontraremos novos sabores, aromas e texturas”, escreveu Linassi por e-mail \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n

Neste caminho para os insetos ca\u00edrem no gosto dos brasileiros, o chef j\u00e1 conhece os rituais de estranhamento.<\/p>\n

“A maioria dos adultos reage com repulsa, principalmente com insetos inteiros, mas muitas vezes eles acabam comendo depois de muito ‘ensaio’. V\u00e1rios tiram suas selfies e depois d\u00e3o para seus filhos ou amigos comerem, pois lhes faltou um pouco de ‘coragem’. Rola muitas vezes uma competi\u00e7\u00e3o entre amigos para ver quem comer\u00e1 primeiro”, brinca Linassi.<\/p>\n

“Mulheres costumam ser mais ‘corajosas’ e tendem a experimentar mais que os homens. J\u00e1 as crian\u00e7as s\u00e3o muito mais receptivas e simplesmente perguntam – pode comer?”<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Nutritivos, acess\u00edveis e mais sustent\u00e1veis. Diante da demanda de mais de nove bilh\u00f5es de pessoas por comida prevista para 2050, estes atributos colocam qualquer alimento na ordem do dia em um debate global sobre nutri\u00e7\u00e3o. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":146856,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[774,306,384],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146854"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=146854"}],"version-history":[{"count":2,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146854\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":146857,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146854\/revisions\/146857"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/146856"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=146854"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=146854"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=146854"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}