{"id":146878,"date":"2018-09-28T03:23:02","date_gmt":"2018-09-28T06:23:02","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=146878"},"modified":"2018-09-27T22:25:50","modified_gmt":"2018-09-28T01:25:50","slug":"o-residuo-industrial-que-se-tornou-um-dos-principais-assassinos-das-orcas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/09\/28\/146878-o-residuo-industrial-que-se-tornou-um-dos-principais-assassinos-das-orcas.html","title":{"rendered":"O res\u00edduo industrial que se tornou um dos principais ‘assassinos’ das orcas"},"content":{"rendered":"
\"orca\"
Os PCBs, conhecidos no Brasil pelo nome comercial Ascarel, s\u00e3o uma subst\u00e2ncia que resulta de uma mistura de hidrocarbonetos derivados do petr\u00f3leo. Muito usado em fluidos el\u00e9tricos e lubrificantes, ele se tornou uma amea\u00e7a para as orcas<\/figcaption><\/figure>\n

Os PCBs, conhecidos no Brasil pelo nome comercial Ascarel, s\u00e3o uma subst\u00e2ncia que resulta de uma mistura de hidrocarbonetos derivados do petr\u00f3leo. Por suas propriedades extremamente convenientes – praticamente n\u00e3o entra em combust\u00e3o, tem estabilidade t\u00e9rmica e qu\u00edmica e \u00e9 resistentes a bases e a \u00e1cidos -, o produto acabou sendo muito utilizado na ind\u00fastria. Foi bastante empregado em fluidos el\u00e9tricos, lubrificantes hidr\u00e1ulicos, tintas e adesivos.<\/p>\n

O grande problema, entretanto, \u00e9 o descarte desse material. Os PCBs acabam se acumulando, passando de indiv\u00edduo para indiv\u00edduo ao longo da cadeia alimentar. Ou seja: quem est\u00e1 no topo, por fim, absorve uma quantidade maior da subst\u00e2ncia qu\u00edmica. A decomposi\u00e7\u00e3o do produto \u00e9 extremamente lenta.<\/p>\n

Funciona assim: as subst\u00e2ncias descartadas chegam ao ambiente marinho e s\u00e3o primeiro assimiladas pelos fitoplanctos, o primeiro elo da cadeia alimentar. Em seguida, os zooplanctos os ingerem – e levam junto doses de PCBs.<\/p>\n

Peixes menores comem zooplanctos, depois s\u00e3o devorados por peixes maiores, outros maiores ainda, at\u00e9 chegarem \u00e0s orcas – que, por estarem no fim do elo, acabam acumulando todos os PCBs da s\u00e9rie.<\/p>\n

Em 2004, na Conven\u00e7\u00e3o de Estocolmo sobre Poluentes Org\u00e2nicos Persistentes firmou-se um compromisso mundial para que o uso dos PCBs fosse abolido, justamente por conta dos danos ambientes. Noventa na\u00e7\u00f5es assinaram o termo, comprometendo-se a eliminar gradualmente os grandes estoques ainda existentes da subst\u00e2ncia.<\/p>\n

No Brasil, o Ascarel n\u00e3o \u00e9 mais utilizado desde 1981, mas ainda existem equipamentos antigos com o produto. Era uma tend\u00eancia que vinha desde os anos 1970, em diversos pa\u00edses.<\/p>\n

\"orcas\"
A despeito dos esfor\u00e7os das \u00faltimas quatro d\u00e9cadas em todo o mundo para erradicar a aplica\u00e7\u00e3o industrial do PCB, derivado do petr\u00f3leo, seus efeitos ainda s\u00e3o sentidos pelo meio ambiente, especialmente as orcas<\/figcaption><\/figure>\n

Estudo publicado nesta quinta-feira pela revista Science, entretanto, mostra que a despeito dos esfor\u00e7os das \u00faltimas quatro d\u00e9cadas em todo o mundo para erradicar a aplica\u00e7\u00e3o industrial desse derivado do petr\u00f3leo, seus efeitos ainda s\u00e3o sentidos pelo meio ambiente.<\/p>\n

Um grupo de cientistas formado por pesquisadores de Estados Unidos, Canad\u00e1, Inglaterra, Isl\u00e2ndia e Dinamarca revisou a literatura existente sobre o assunto e comparou os dados hist\u00f3ricos com resultados de an\u00e1lises atuais. Foram estudadas mais de 350 baleias assassinas, as orcas, em todo o mundo. Trata-se do maior estudo j\u00e1 realizado sobre o animal na hist\u00f3ria.<\/p>\n

De acordo com o especialista em ecossistemas marinhos Jean-Pierre Desforges, pesquisador do Departamento de Bioci\u00eancia e Centro de Pesquisa do \u00c1rtico, da Universidade Aarhus, da Dinamarca, os resultados da pesquisa foram surpreendentes: o estudo constatou que mais de 50% das popula\u00e7\u00f5es de orcas de todo o mundo est\u00e3o severamente afetadas pela subst\u00e2ncia.<\/p>\n

“Os resultados, simulando os efeitos da subst\u00e2ncia na reprodu\u00e7\u00e3o e supress\u00e3o imunol\u00f3gica, revelaram que mais da metade das popula\u00e7\u00f5es estudadas apresentam alto risco”, afirmou o pesquisador, em entrevista \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n

“V\u00e1rias popula\u00e7\u00f5es de baleias assassinas, particularmente aquelas que se alimentam no mais alto n\u00edvel tr\u00f3fico, comendo atuns tubar\u00f5es e outros mam\u00edferos marinhos, bem como aquelas pr\u00f3ximas de regi\u00f5es altamente industrializadas, est\u00e3o em risco de colapso”, diz Desforges.<\/p>\n

“Os dados s\u00e3o consider\u00e1veis, pois inclu\u00edmos apenas o risco de uma classe de contaminantes, os PCBs, mas sabemos que as orcas est\u00e3o expostas a centenas de outros produtos qu\u00edmicos e ainda fatores como limita\u00e7\u00f5es alimentares e ru\u00eddo subaqu\u00e1tico.”<\/p>\n

\"Orca\"
“Sabemos que os PCBs deformam os \u00f3rg\u00e3os reprodutivos de animais como os ursos polares. Diante disso, resolvemos examinar os impactos da subst\u00e2ncia nas escassas popula\u00e7\u00f5es de baleias assassinas em todo o mundo”, diz o pesquisador Rune Dietz<\/figcaption><\/figure>\n

Gera\u00e7\u00f5es futuras<\/h2>\n

A pesquisa n\u00e3o s\u00f3 mediu os n\u00edveis dos PCBs no organismo desses animais como tamb\u00e9m, aplicando modelos matem\u00e1ticos, possibilitou que fossem previstos os efeitos da subst\u00e2ncia nos descendentes das orcas, em seus sistemas imunol\u00f3gicos e em suas taxas de mortalidade durante os pr\u00f3ximos 100 anos.<\/p>\n

“Sabemos que os PCBs deformam os \u00f3rg\u00e3os reprodutivos de animais como os ursos polares. Diante disso, resolvemos examinar os impactos da subst\u00e2ncia nas escassas popula\u00e7\u00f5es de baleias assassinas em todo o mundo”, diz o pesquisador Rune Dietz, tamb\u00e9m do Departamento de Bioci\u00eancia e Centro de Pesquisa do \u00c1rtico, da Universidade Aarhus, da Dinamarca.<\/p>\n

Demografia das orcas<\/p>\n

Como o estudo recolheu amostras de diferentes regi\u00f5es do globo – a orca est\u00e1 presente em todos os oceanos, com popula\u00e7\u00f5es espalhadas de polo a polo – os cientistas ainda mapearam em quais regi\u00f5es o dano est\u00e1 num est\u00e1gio maior.<\/p>\n

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Apesar de conhecidas como baleias-assassinas, as orcas n\u00e3o s\u00e3o baleias. O gigantesco animal, considerado um superpredador vers\u00e1til e cujo nome cient\u00edfico \u00e9 Orcinus orca, \u00e9, na realidade, integrante da fam\u00edlia dos golfinhos<\/figcaption><\/figure>\n

De acordo com a pesquisa, a situa\u00e7\u00e3o \u00e9 pior na costa brasileira, no Estreito de Gibraltar, no nordeste do Oceano Pac\u00edfico e no entorno do Reino Unido. Nesses pontos, as popula\u00e7\u00f5es das baleias assassinas foram reduzidas pela metade durante os cerca de 50 anos em que os PCBs foram largamente utilizados, entre as d\u00e9cadas de 1930 e 1980.<\/p>\n

Segundo a especialista em mam\u00edferos marinhos Ailsa Hall, pesquisadora da Universidade de St. Andrews, do Reino Unido, nessas regi\u00f5es raramente s\u00e3o observadas orcas rec\u00e9m-nascidas, um indicativo perigoso de que as popula\u00e7\u00f5es podem vir a ser extintas.<\/p>\n

“Como os efeitos dos PCBs foram reconhecidos h\u00e1 mais de 50 anos, \u00e9 assustador concluir que h\u00e1 um alto risco de colapso populacional nessa \u00e1reas nos pr\u00f3ximos 30 ou 40 anos”, observa Desforges. Um exemplar de orca chega a viver 70 anos.<\/p>\n

O cen\u00e1rio menos sombrio est\u00e1 nos mares das regi\u00f5es das Ilhas Faroe, Isl\u00e2ndia, Noruega e Alasca, bem como no entorno do continente ant\u00e1rtico. Nesses locais, os efeitos da subst\u00e2ncia s\u00e3o menos presentes e as popula\u00e7\u00f5es seguem crescendo.<\/p>\n

PCBs<\/h2>\n

Conforme aponta Desforges, a solu\u00e7\u00e3o para esse problema ambiental passa por uma postura “complexa e multifacetada”. Depois que os PCBs foram apontados como um problema global, esfor\u00e7os foram feitos para abolir seu uso em todo o mundo. “Os n\u00edveis ca\u00edram desde os picos nos anos 1970 e 1980”, concorda o cientista.<\/p>\n

\"orca\"
‘Observamos dados de mais de 350 amostras de orcas de todo o mundo e encontramos n\u00edveis alarmantes de PCBs em muitas popula\u00e7\u00f5es. Os resultados, simulando os efeitos da subst\u00e2ncia na reprodu\u00e7\u00e3o e supress\u00e3o imunol\u00f3gica, revelaram que mais da metade das popula\u00e7\u00f5es estudadas apresentam alto risco’, disse o pesquisador<\/figcaption><\/figure>\n

No entanto, dados indicam que a subst\u00e2ncia ainda \u00e9 utilizada – ou descartada de modo inadequado. “Relat\u00f3rios recentes revelam que, com as taxas atuais de descarte, poucos pa\u00edses conseguir\u00e3o atender aos requisitos firmados na Conven\u00e7\u00e3o de Estocolmo, pelo menos at\u00e9 2025”, comenta Desforges. “O cumprimento mais rigoroso do que foi assinado ali seria um bom primeiro passo para evitar mais contamina\u00e7\u00e3o ambiental.”<\/p>\n

O cientista tamb\u00e9m acredita que novas atitudes precisam ser tomadas, principalmente em fontes menos controladas de PCBs. “Por exemplo, tintas e selantes. N\u00e3o s\u00e3o bem regulados e provavelmente seguem sendo uma importante contribui\u00e7\u00e3o para o estoque global restante da subst\u00e2ncia”, acredita.<\/p>\n

Orcas n\u00e3o s\u00e3o realmente baleias<\/h2>\n

Apesar de conhecidas como baleias assassinas, as orcas n\u00e3o s\u00e3o baleias. O gigantesco animal, considerado um superpredador vers\u00e1til e cujo nome cient\u00edfico \u00e9 Orcinus orca, \u00e9, na realidade, integrante da fam\u00edlia dos golfinhos – uma das 35 esp\u00e9cies identificadas de golfinhos no planeta.<\/p>\n

Em termos de distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica, o mam\u00edfero s\u00f3 perde para o homem. Est\u00e1 presente em todos os oceanos. Estudos paleontol\u00f3gicos fazem crer que o animal existe h\u00e1 5 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n

A esp\u00e9cie foi descrita cientificamente pela primeira vez pelo zo\u00f3logo e bot\u00e2nico sueco Carl Nilsson Linnaeus (1707-1778), o Lineu, considerado o pai da taxonomia moderna. Mas a primeira men\u00e7\u00e3o ao animal data de muito antes. O naturalista Caio Pl\u00ednio Segundo (23-79), conhecido como Pl\u00ednio, o Velho, na Roma Antiga j\u00e1 citava o gigantesco bicho em sua obra Hist\u00f3ria Natural, escrita por volta do ano 77 d.C. Para ele, se tratava de um “monstro marinho feroz”.<\/p>\n

Exemplares podem chegar a 10 metros de comprimento e pesar at\u00e9 10 toneladas.<\/p>\n

Fonte:BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Bifenilpoliclorado. Ou, simplesmente, PCB (do ingl\u00eas polychlorinated biphenyl). Se durante milh\u00f5es de anos a orca reinou absoluta no topo da cadeia alimentar, n\u00e3o \u00e0 toa recebendo o apelido de baleia assassina, um res\u00edduo industrial que j\u00e1 deveria ter sido abolido vem amea\u00e7ando a sobreviv\u00eancia da esp\u00e9cie. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":146880,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[3850,446,650],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146878"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=146878"}],"version-history":[{"count":2,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146878\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":146881,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/146878\/revisions\/146881"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/146880"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=146878"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=146878"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=146878"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}