{"id":146898,"date":"2018-09-28T05:52:40","date_gmt":"2018-09-28T08:52:40","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=146898"},"modified":"2018-09-27T22:56:58","modified_gmt":"2018-09-28T01:56:58","slug":"pesquisas-ambientais-na-amazonia-devem-integrar-questoes-socioeconomicas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/09\/28\/146898-pesquisas-ambientais-na-amazonia-devem-integrar-questoes-socioeconomicas.html","title":{"rendered":"Pesquisas ambientais na Amaz\u00f4nia devem integrar quest\u00f5es socioecon\u00f4micas"},"content":{"rendered":"
\"Pesquisas
Em workshop em Washington, cientistas demonstram avan\u00e7os de pesquisa na regi\u00e3o e a necessidade de investigar o impacto social das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas para a cria\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas (Paulo Artaxo, professor do Instituto de F\u00edsica da USP \/ foto: Brazil Institute – Wilson Center)<\/figcaption><\/figure>\n

A Amaz\u00f4nia est\u00e1 em transi\u00e7\u00e3o. A altern\u00e2ncia entre per\u00edodos de secas seguidos por cheias, uma das caracter\u00edsticas principais da regi\u00e3o, est\u00e1 mais espa\u00e7ada. Estima-se que a cada d\u00e9cada a temporada de estiagem ganhe 6,5 dias, ou um m\u00eas de seca a mais a cada 40 anos.<\/p>\n

Houve tamb\u00e9m o crescimento de 30% do fluxo do rio Amazonas, na altura da cidade paraense de \u00d3bidos. A mudan\u00e7a ocorreu nos \u00faltimos 25 anos. A regi\u00e3o amaz\u00f4nica tamb\u00e9m est\u00e1 mais quente, e n\u00e3o \u00e9 pouco. Observou-se um aumento de 0,9 \u00b0C na temperatura m\u00e9dia do ar, o suficiente para mudar o comportamento de plantas, animais e do ser humano.<\/p>\n

Mudan\u00e7as no balan\u00e7o energ\u00e9tico e nos ciclos hidrol\u00f3gicos da regi\u00e3o t\u00eam sido observadas em estudos cient\u00edficos. Essas mudan\u00e7as t\u00eam impacto profundo na composi\u00e7\u00e3o da biodiversidade, do solo e tamb\u00e9m no cotidiano amaz\u00f4nico. Por\u00e9m, para que haja pol\u00edticas p\u00fablicas voltadas ao desenvolvimento social sustent\u00e1vel na regi\u00e3o, estudos ambientais na Amaz\u00f4nia devem estar integrados a quest\u00f5es socioecon\u00f4micas.<\/p>\n

A avalia\u00e7\u00e3o foi feita por participantes no workshop Scientific, Social and Economic Dimensions of Development in the Amazon, realizado em Washington, Estados Unidos, em 24 de setembro. O evento \u2013 continua\u00e7\u00e3o de outro\u00a0realizado em Manaus em agosto \u2013 foi organizado pela FAPESP em conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amaz\u00f4nia (Inpa) e o Wilson Center.<\/p>\n

Na abertura do workshop, foi apresentado um v\u00eddeo com mensagem de Thomas Lovejoy, professor da George Mason University, nos Estados Unidos.<\/p>\n

\u201cA Amaz\u00f4nia tem um ciclo hidrol\u00f3gico que permite gerar seu padr\u00e3o de chuva. Hoje, esse ciclo est\u00e1 sendo impactado pelo desmatamento, pelo uso excessivo de fogo e pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Com isso, existe o risco de chegarmos a um ponto de inflex\u00e3o, quando o desmatamento estiver prestes a atingir um determinado limite a partir do qual regi\u00f5es da floresta tropical podem passar por mudan\u00e7as irrevers\u00edveis”, disse.<\/p>\n

Em fevereiro deste ano, Lovejoy e\u00a0Carlos Nobre,\u00a0 coordenador do Instituto Nacional de Ci\u00eancia e Tecnologia para Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas \u2013 um dos INCTs apoiados pela FAPESP no Estado de S\u00e3o Paulo em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient\u00edfico e Tecnol\u00f3gico (CNPq) \u2013, publicaram um alerta sobre o assunto na revista\u00a0<\/b>Science Advances.<\/i><\/p>\n

\u201cMudan\u00e7as no balan\u00e7o energ\u00e9tico e em ciclos hidrol\u00f3gicos j\u00e1 s\u00e3o observadas em pesquisas realizadas na Amaz\u00f4nia. Estamos descobrindo e monitorando essas mudan\u00e7as. Por\u00e9m, para conseguir que pol\u00edticas p\u00fablicas sejam feitas para a regi\u00e3o, \u00e9 preciso integrar aos estudos cient\u00edficos aspectos socioecon\u00f4micos cr\u00edticos para a sustentabilidade da regi\u00e3o\u201d, disse Paulo Artaxo, <\/b>professor do Instituto de F\u00edsica da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) e membro da coordena\u00e7\u00e3o do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas Globais.<\/p>\n

Mudan\u00e7as no ciclo de cheias e secas afetam a biodiversidade e o cotidiano na regi\u00e3o. \u201cNem todas as plantas s\u00e3o adaptadas ao per\u00edodo de seca prolongado. Com isso, a composi\u00e7\u00e3o da biodiversidade acaba sendo alterada e ocorre maior mortandade de \u00e1rvores, por exemplo, o que pode impactar no armazenamento de carbono\u201d, disse.<\/p>\n

Por ser t\u00e3o extensa, a Floresta Amaz\u00f4nica \u00e9 capaz de armazenar uma grande quantidade de carbono da atmosfera, quest\u00e3o determinante para o avan\u00e7o das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n

\u201cA Amaz\u00f4nia armazena entre 100 bilh\u00f5es e 120 bilh\u00f5es de toneladas de carbono na biomassa. Por\u00e9m, nos \u00faltimos anos, com o aumento da perda de \u00e1rvores \u2013 por seca, enchente e desmatamento \u2013, se uma pequena fra\u00e7\u00e3o desse montante for para a atmosfera, v\u00e3o ocorrer grandes mudan\u00e7as no balan\u00e7o CO2<\/sub>\u00a0atmosf\u00e9rico\u201d, disse Artaxo.<\/p>\n

Eventos extremos<\/b><\/p>\n

Registros hist\u00f3ricos recentes de dados de chuva e ocorr\u00eancia de secas e cheias mais intensas comprovam essa transi\u00e7\u00e3o no bioma. \u201cForam tr\u00eas secas muito fortes, uma ap\u00f3s a outra, em menos de 20 anos. Isso \u00e9 um indicador grave. Os dados mostram que algo importante est\u00e1 acontecendo\u201d, disse\u00a0Jos\u00e9 Marengo, coordenador-geral do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).<\/p>\n

Esses eventos clim\u00e1ticos extremos t\u00eam aumentado tamb\u00e9m o risco de inc\u00eandios na floresta.<\/p>\n

\u201cNem toda a seca \u00e9 provocada pelo El Ni\u00f1o. Algumas s\u00e3o, outras t\u00eam rela\u00e7\u00e3o com o Atl\u00e2ntico Tropical Norte mais aquecido, como ocorreu em 2005 e 2010. Em alguns casos, quem manda \u00e9 o El Ni\u00f1o [aquecimento natural das \u00e1guas do Pac\u00edfico], em outros \u00e9 o Atl\u00e2ntico e em outros os dois v\u00eam juntos, como em 1983 e 1998\u201d, disse Marengo.<\/p>\n

Ele ressaltou, no entanto, que seja por El Ni\u00f1o ou por aquecimento do Atl\u00e2ntico, essa \u00e9 a parte natural. N\u00e3o inclui a a\u00e7\u00e3o humana. \u201cSe acrescentarmos ao El Ni\u00f1o e ao aquecimento do Atl\u00e2ntico outras condi\u00e7\u00f5es, como por exemplo o aumento no desmatamento, veremos que a situa\u00e7\u00e3o pode ser muito mais agravada\u201d, disse.<\/p>\n

As consequ\u00eancias da intensidade de secas e cheias v\u00e3o al\u00e9m das fronteiras amaz\u00f4nicas. Estima-se que 70% dos recursos h\u00eddricos da bacia do rio da Prata, mais ao sul do continente, dependem da evapora\u00e7\u00e3o sobre a Amaz\u00f4nia. A transi\u00e7\u00e3o passada pela Amaz\u00f4nia e o impacto em seu ciclo hidrol\u00f3gico, portanto, podem ter consequ\u00eancias importantes no agroneg\u00f3cio das regi\u00f5es Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, assim como na Argentina.<\/p>\n

Marengo tamb\u00e9m defende a necessidade de maior integra\u00e7\u00e3o entre as pesquisas. Ele foi coordenador do projeto Metr\u00f3pole, iniciativa internacional que estuda estrat\u00e9gias de adapta\u00e7\u00e3o aos impactos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. O estudo, realizado na cidade de Santos (SP), estimou perdas econ\u00f4micas, modelagem dos extremos clim\u00e1ticos e impactos na sa\u00fade.<\/p>\n

\u201cPoder\u00edamos fazer algo nesse sentido na Amaz\u00f4nia. A previs\u00e3o \u00e9 de significativo aumento dos eventos extremos na regi\u00e3o nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas\u201d, disse.<\/p>\n

Outra participante do workshop, Rita Mesquita, pesquisadora do Inpa, concorda com a necessidade de maior integra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\u201cOs estudos precisam ser interdisciplinares. Modelos sociais, econ\u00f4micos e ambientais nem sempre t\u00eam os interesses alinhados. Mas s\u00f3 quando colocarmos todos esses aspectos juntos, poderemos avan\u00e7ar em quest\u00f5es de sustentabilidade\u201d, disse.<\/p>\n

Estimar a a\u00e7\u00e3o do homem<\/b><\/p>\n

Questionado pela plateia sobre qual seria a o peso do efeito antr\u00f3pico nas queimadas na Amaz\u00f4nia, Artaxo respondeu: \u201c100%. Mesmo nos per\u00edodos de seca, trata-se de uma floresta \u00famida, onde \u00e9 dif\u00edcil fazer e manter o fogo\u201d, disse.<\/p>\n

A destrui\u00e7\u00e3o da floresta por queimadas tem se mostrada muito mais significativa que o corte para a explora\u00e7\u00e3o madeireira. \u201cO fogo \u00e9 a maneira mais eficiente para destruir\u201d, disse Douglas Morton, do Goddard Space Flight Center, da Nasa, durante sua fala no workshop.<\/p>\n

\u201cO Brasil foi um dos l\u00edderes no monitoramento do desmatamento. Sistemas como o Prodes e o Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) criaram uma base, com dados hist\u00f3ricos, mas \u00e9 preciso ir al\u00e9m, com mais investimento\u201d, disse.<\/p>\n

Morton coordena um projeto para medir a degrada\u00e7\u00e3o das florestas. Nele avi\u00f5es sobrevoam a Floresta Amaz\u00f4nica para identificar a degrada\u00e7\u00e3o em tr\u00eas etapas (alturas) da floresta.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, como Morton comentou, a Nasa disp\u00f5e de 20 sat\u00e9lites de monitoramento, com dados abertos. \u201cOs sat\u00e9lites d\u00e3o padr\u00f5es sobre o que est\u00e1 ocorrendo. Temos modelos para previs\u00f5es que podem servir para a cria\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas\u201d, disse.<\/p>\n

No evento em Washington, pesquisadores apresentaram outros resultados de projetos apoiados pela FAPESP, para uma plateia formada por cientistas e representantes de ONGs e de ag\u00eancias norte-americanas ligadas ao meio ambiente. A inten\u00e7\u00e3o foi trocar experi\u00eancia para no futuro elaborar colabora\u00e7\u00f5es internacionais no estudo da Amaz\u00f4nia.<\/p>\n

Fonte: Ag\u00eancia FAPESP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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