{"id":146914,"date":"2018-09-28T13:01:34","date_gmt":"2018-09-28T16:01:34","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=146914"},"modified":"2018-09-28T13:01:18","modified_gmt":"2018-09-28T16:01:18","slug":"mapeamento-a-laser-revela-mais-de-60-mil-construcoes-maias-escondidas-em-floresta-da-guatemala","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2018\/09\/28\/146914-mapeamento-a-laser-revela-mais-de-60-mil-construcoes-maias-escondidas-em-floresta-da-guatemala.html","title":{"rendered":"Mapeamento a laser revela mais de 60 mil constru\u00e7\u00f5es maias escondidas em floresta da Guatemala"},"content":{"rendered":"
\"Vis\u00c3\u00a3o
Simula\u00e7\u00e3o de vis\u00e3o a\u00e9rea da cidade maia de Naachtun ao entardecer; cada ponto amarelo representa uma constru\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

De acordo com novo e abrangente estudo arqueol\u00f3gico realizado na Guatemala, a civiliza\u00e7\u00e3o maia, uma das mais proeminentes culturas pr\u00e9-colombianas do continente americano, experimentou um auge civilizat\u00f3rio com not\u00f3rio e complexo patamar de constru\u00e7\u00e3o de cidades.<\/p>\n

Os dados, publicados na edi\u00e7\u00e3o de quinta-feira da revista Science, trazem um panorama at\u00e9 ent\u00e3o in\u00e9dito de uma cole\u00e7\u00e3o de resqu\u00edcios arqueol\u00f3gicos cobertos por floresta tropical no norte da Guatemala, na Am\u00e9rica Central.<\/p>\n

O estudo \u00e9 resultado de um cons\u00f3rcio de 18 pesquisadores de institui\u00e7\u00f5es norte-americanas, europeias e guatemaltecas, em uma iniciativa denominada Patrim\u00f4nio Cultural e Natural Maia (Pacunam).<\/p>\n

Desde 2016 os cientistas vinham analisando uma \u00e1rea de 2,1 mil quil\u00f4metros quadrados na Reserva Biosfera Maia, no Departamento de Peten, na Guatemala.<\/p>\n

\n

Para tanto, eles utilizaram mapas gerados por uma tecnologia chamada LiDAR (da sigla em ingl\u00eas\u00a0Light Detection and Ranging<\/i>, ou seja, detec\u00e7\u00e3o e medi\u00e7\u00e3o com luz). A t\u00e9cnica de mapeamento a laser revelou mais de 60 mil constru\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

\u00c9 o mais amplo estudo j\u00e1 realizado at\u00e9 hoje na arqueologia mesoamericana. Como o mapeamento topogr\u00e1fico permite “ver” o que h\u00e1 por baixo da floresta, o material sugere “uma reavalia\u00e7\u00e3o da demografia, da agricultura e da pol\u00edtica dos maias”, conforme noticia a Science.<\/p>\n

Sofistica\u00e7\u00e3o<\/h2>\n

“A mais surpreendente conclus\u00e3o a que chegamos foi a magnitude e a densidade de algumas cidades maias. Ainda existem teorias que classificam as cidades maias como de baixa densidade. Estes dados claramente demonstram que tais teorias est\u00e3o equivocadas”, afirmou \u00e0 BBC News Brasil o arque\u00f3logo \u00edtalo-guatemalteco Francisco Estrada-Belli, pesquisador da Universidade Tulane, dos Estados Unidos, e autor de, entre outros livros,\u00a0The First Maya Civilization: Ritual and Power Before the Classic Period<\/i>.<\/p>\n

“Ressalto tamb\u00e9m que a escala e a onipresen\u00e7a das constru\u00e7\u00f5es, bem como a manipula\u00e7\u00e3o realizada por eles na paisagem natural, s\u00e3o surpreendentes”, comentou \u00e0 reportagem o antrop\u00f3logo norte-americnao Marcello Canuto, professor de estudos latino-americanos da Universidade Tulane.<\/p>\n

“Estas informa\u00e7\u00f5es nos ajudam a entender como eram altos o n\u00edvel de trabalho e a interdepend\u00eancia socioecon\u00f4mica na sociedade maia.”<\/p>\n

\"Florestas
Mapeamento a laser identificou mais de 61.480 constru\u00e7\u00f5es escondidas em meio \u00e0 floresta<\/figcaption><\/figure>\n

Estrada-Belli acredita que tais informa\u00e7\u00f5es podem contribuir para se valorizar melhor a cultura e a civiliza\u00e7\u00e3o dos maias – povo que viveu seu auge entre os anos de 250 e 950 e estava praticamente colapsado quando a Am\u00e9rica foi conquistada pelos europeus, a partir de 1492.<\/p>\n

“O estudo fornece uma grande quantidade de dados sobre a forma de urbanismo e agricultura praticada pelos maias. Portanto, as teorias sobre esses elementos fundamentais agora podem ser reavaliadas a partir de uma base mais s\u00f3lida”, diz o arque\u00f3logo.<\/p>\n

O antrop\u00f3logo Canuto complementa, lembrando que com tais dados \u00e0 m\u00e3o, agora se pode melhor realizar an\u00e1lises comparativas entre a civiliza\u00e7\u00e3o maia e outras culturas ancestrais ao redor do mundo.<\/p>\n

O mapeamento a laser identificou mais de 61.480 constru\u00e7\u00f5es antigas escondidas em meios \u00e0s densas florestas tropicais do norte da Guatemala. Ap\u00f3s extensa an\u00e1lise, os cientistas envolvidos no estudo puderam reconhecer edifica\u00e7\u00f5es urbanas, estruturas rurais e redes de transporte.<\/p>\n

No total, 12 \u00e1reas independentes – ou 12 conjuntos de resqu\u00edcios arqueol\u00f3gicos – foram estudados, todos na mesma regi\u00e3o.<\/p>\n

Os dados permitem inferir que mais de 11 milh\u00f5es de habitantes viveram na regi\u00e3o entre os anos de 650 e 800, o chamado Per\u00edodo Cl\u00e1ssico Tardio. Uma densidade populacional de 100 habitantes por quil\u00f4metro quadrado – para efeitos de compara\u00e7\u00e3o, a densidade demogr\u00e1fica do Estado de S\u00e3o Paulo, por exemplo, \u00e9 de 166 pessoas por quil\u00f4metro quadrado.<\/p>\n

\"Mapamento
Maias praticavam agricultura de forma intensa e tinham complexo sistema de estradas<\/figcaption><\/figure>\n

Uma popula\u00e7\u00e3o de tal escala exigiria agricultura praticada de forma intensiva – o que, at\u00e9 ent\u00e3o, n\u00e3o era algo apontado como existente na regi\u00e3o. Conforme enfatizam os cientistas, esta seria a \u00fanica maneira de sustentar tanta gente em uma \u00e1rea de tais dimens\u00f5es.<\/p>\n

As imagens confirmam a hip\u00f3tese. H\u00e1 ind\u00edcios de que grande parte do solo da regi\u00e3o tenha sido fortemente modificado, justamente pelas pr\u00e1ticas agr\u00edcolas.<\/p>\n

Os pesquisadores encontraram sinais de uma eficiente rede de estradas conectando as cidades e as vilas da regi\u00e3o e, para surpresa, remanescentes de algumas fortalezas, provavelmente erigidas com o objetivo de guarnecer os centros urbanos – o que indica a exist\u00eancia de conflitos b\u00e9licos.<\/p>\n

Decl\u00ednio maia<\/h2>\n

Estrada-Belli ressalta que a descoberta das pr\u00e1ticas de agricultura intensiva vai ao encontro a algumas teorias atuais sobre o colapso da civiliza\u00e7\u00e3o maia. “Refiro-me \u00e0quelas que partem da premissa de que os maias cl\u00e1ssicos entraram em decl\u00ednio devido \u00e0 deteriora\u00e7\u00e3o do meio ambiente, solos e lagos, causada por eles pr\u00f3prios”, comenta.<\/p>\n

Conforme publicado em agosto na mesma Science, estudo realizado por cientistas da Universidade de Cambridge e da Universidade da Fl\u00f3rida aponta que um longo per\u00edodo de estiagem na Am\u00e9rica Central pode ter levado a civiliza\u00e7\u00e3o ao colapso. A teoria mostra que, por volta do ano 1000, houve uma mudan\u00e7a clim\u00e1tica dr\u00e1stica por ali.<\/p>\n

Na ocasi\u00e3o, o geoqu\u00edmico Nicholas Evans, do Departamento de Ci\u00eancias da Terra da Universidade de Cambridge, afirmou \u00e0 BBC News Brasil que uma das causas admitidas para essa longa seca pode ter sido o desmatamento realizado pelos pr\u00f3prios maias.<\/p>\n

“Existem v\u00e1rias teorias”, afirmou ele, aventando tamb\u00e9m fen\u00f4menos como o El Ni\u00f1o e outras suscetibilidades naturais.<\/p>\n

\"Estudo
Cores mostram diferen\u00e7a de densidade populacional em \u00e1rea habitada pelos maias na Guatemala<\/figcaption><\/figure>\n

Sujar os sapatos<\/h2>\n

Na mesma edi\u00e7\u00e3o da Science, um artigo assinado pela arque\u00f3loga americana Anabel Ford, diretora do Centro de Pesquisas Mesoamericanas da Universidade da Calif\u00f3rnia, e pelo antrop\u00f3logo e arque\u00f3logo Sherman Horn, pesquisador da Universidade Tulane, comenta a descoberta dos cientistas do cons\u00f3rcio Pacunam.<\/p>\n

Os acad\u00eamicos, entretanto, fazem uma ressalva: essa “arqueologia de computador”, baseada em estudos de imagens, n\u00e3o pode vir a substituir os m\u00e9todos consagrados e tradicionais de pesquisa arqueol\u00f3gica. Para eles, os pesquisadores devem continuar de “botas no ch\u00e3o”, revirando in loco em busca dos ind\u00edcios hist\u00f3ricos.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"