{"id":150076,"date":"2019-01-30T12:01:58","date_gmt":"2019-01-30T14:01:58","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150076"},"modified":"2019-01-29T22:59:22","modified_gmt":"2019-01-30T00:59:22","slug":"quais-sao-os-tipos-de-barragem-e-por-que-a-vale-construiu-a-menos-segura-na-mina-corrego-do-feijao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/01\/30\/150076-quais-sao-os-tipos-de-barragem-e-por-que-a-vale-construiu-a-menos-segura-na-mina-corrego-do-feijao.html","title":{"rendered":"Quais s\u00e3o os tipos de barragem e por que a Vale construiu a menos segura na mina C\u00f3rrego do Feij\u00e3o?"},"content":{"rendered":"
\"Local
Barragem que se rompeu em Brumadinho era mais baratas e menos seguras, dizem especialistas<\/figcaption><\/figure>\n

A barragem da Vale que se rompeu em Brumadinho (MG) deixando centenas de desaparecidos e dezenas de mortos j\u00e1 n\u00e3o recebia rejeitos da minera\u00e7\u00e3o h\u00e1 tr\u00eas anos, mas usava um m\u00e9todo de conten\u00e7\u00e3o que especialistas dizem ser mais barato e que muitos atestam ser tamb\u00e9m o menos seguro.<\/p>\n

Apesar disso, a fiscaliza\u00e7\u00e3o ainda \u00e9 limitada e muito dependente do monitoramento das pr\u00f3prias mineradoras – o que aumenta ainda mais os riscos da explora\u00e7\u00e3o de min\u00e9rio, afirmam ge\u00f3logos e engenheiros ouvidos pela BBC News Brasil.<\/p>\n

O m\u00e9todo conhecido como “alteamento a montante”, no qual a barreira de conten\u00e7\u00e3o recebe camadas do pr\u00f3prio material do rejeito da minera\u00e7\u00e3o, era usado pela mina C\u00f3rrego do Feij\u00e3o em Brumadinho e tamb\u00e9m pela mina do Fund\u00e3o, tamb\u00e9m da Vale, em Mariana, onde uma barragem se rompeu h\u00e1 tr\u00eas anos.<\/p>\n

“\u00c9 a forma mais comum porque \u00e9 mais barata para se construir e mais r\u00e1pida de se licenciar porque ocupa menos espa\u00e7o da bacia hidrogr\u00e1fica. Mas \u00e9 tamb\u00e9m a mais perigosa e com maior risco. Por isso pa\u00edses com caracter\u00edsticas similares ao do Brasil n\u00e3o usam ou est\u00e3o proibindo”, explica o ge\u00f3logo Eduardo Marques, professor da Universidade Federal de Vi\u00e7osa (UFV).<\/p>\n

Ele cita o Chile e o Peru como pa\u00edses que baniram o m\u00e9todo e a \u00c1frica do Sul como um dos que podem proibir em breve. A Austr\u00e1lia, por\u00e9m, ainda o usa. “Mas a regi\u00e3o \u00e9 mais seca que no Brasil e os vales s\u00e3o mais abertos que os de Minas Gerais”, salienta Marques.<\/p>\n

Nesta segunda-feira, em entrevista \u00e0 GloboNews, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles tamb\u00e9m criticou esse tipo de barragem, dizendo que usa um m\u00e9todo “antigo” e “superado”. Salles afirmou ainda que mineradoras devem deixar de us\u00e1-lo quando for poss\u00edvel.<\/p>\n

\"Homem
Homem abre covas no cemit\u00e9rio Parque das Rosas onde maior parte dos corpos da trag\u00e9dia em Brumadinho ser\u00e3o enterrados<\/figcaption><\/figure>\n

Mas a engenheira Rafaela Bald\u00ed, que \u00e9 projetista de barragens, diz que n\u00e3o se pode “vilanizar” m\u00e9todos de constru\u00e7\u00e3o porque “absolutamente todos t\u00eam riscos”.<\/p>\n

“O problema n\u00e3o \u00e9 o alteamento (amplia\u00e7\u00e3o da capacidade) da barragem, \u00e9 como ele \u00e9 feito e monitorado. N\u00e3o gosto de demonizar o m\u00e9todo. S\u00e3o as pessoas que em algum momento tomam a decis\u00e3o errada”, salienta Bald\u00ed.<\/p>\n

Por que \u00e9 preciso construir barragens de rejeitos?<\/h2>\n

O professor Eduardo Marques explica que o min\u00e9rio extra\u00eddo solo precisa passar por um processo de separa\u00e7\u00e3o de impurezas para aumentar o valor comercial e, para isso, normalmente usa-se \u00e1gua e subst\u00e2ncias qu\u00edmicas.<\/p>\n

O que resta desse processo \u00e9 chamado de rejeito e h\u00e1 tr\u00eas tipos mais comuns barragens para conten\u00e7\u00e3o desse material, para evitar que os res\u00edduos sigam para os rios. Todos come\u00e7am com a constru\u00e7\u00e3o de um dique e um tapete drenante, para eliminar a \u00e1gua armazenada no interior da barragem. O que muda \u00e9 o m\u00e9todo usado para aumentar a capacidade de armazenamento por meio de constru\u00e7\u00e3o de alteamentos.<\/p>\n

Barragem a montante<\/h2>\n

\u00c9 o m\u00e9todo mais comum e mais barato. Os rejeitos s\u00e3o depositados na pr\u00f3pria barragem, formando uma “praia” de res\u00edduos da minera\u00e7\u00e3o que, com o tempo, \u00e9 adensada. Esse material \u00e9 usado, com o tempo, para fazer novos alteamentos.<\/p>\n

No caso de Brumadinho, os rejeitos s\u00e3o compostos basicamente de ferro, s\u00edlica e \u00e1gua. Esse tipo de estrutura \u00e9 considerada mais barata porque usa menos material e tamb\u00e9m ocupa uma \u00e1rea menor, portanto, desmata menos, diz o professor Eduardo Marques. Mas \u00e9 muito sens\u00edvel a qualquer vibra\u00e7\u00e3o, explica Rafaela Bald\u00ed.<\/p>\n

Barragem a jusante<\/h2>\n

\u00c9 a mais cara, mas considerada a mais segura. Por\u00e9m, ocupa um espa\u00e7o maior e provoca, j\u00e1 na constru\u00e7\u00e3o, impacto ambiental com desmatamento, diz o professor Eduardo Marques. N\u00e3o se usa rejeitos consolidados para os alteamentos – \u00e9 poss\u00edvel aumentar a capacidade da barragem com mesmo material do dique inicial ou com outros materiais como pedras e argila, normalmente recolhidos na pr\u00f3pria minera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\"Bombeiros
Barragem a jusante s\u00e3o as mais caras, por\u00e9m s\u00e3o consideradas as mais seguras<\/figcaption><\/figure>\n

Nesse caso, cada alteamento \u00e9 estruturalmente independente da disposi\u00e7\u00e3o do rejeito, o que melhora a estabilidade da estrutura. Segundo Rafaela Bald\u00ed gasta-se pelo menos 30% mais material para armazenar o mesmo volume que no caso das barragens a montante.<\/p>\n

Barragem linha de centro<\/h2>\n

\u00c9 um sistema intermedi\u00e1rio em termos de custo, com disposi\u00e7\u00e3o semelhante ao do m\u00e9todo a montante. No entanto, um dreno acompanha o alteamento da constru\u00e7\u00e3o e os rejeitos s\u00e3o lan\u00e7ados a partir da crista do dique inicial. “Esse \u00e9 o m\u00e9todo mais seguro para constru\u00e7\u00e3o de barragens de rejeito”, diz o site do Instituto de Tecnologia da Vale.<\/p>\n

Dep\u00f3sito de rejeitos a seco<\/h2>\n

H\u00e1 tamb\u00e9m o m\u00e9todo a seco, ainda pouco comum no Brasil. Ao contr\u00e1rio dos outros m\u00e9todos, que depositam a \u00e1gua juntamente com os rejeitos, no m\u00e9todo a seco o rejeito \u00e9 acumulado e armazenado na bacia de disposi\u00e7\u00e3o, normalmente em \u00e1reas inclinadas para facilitar o escoamento. Eles s\u00e3o drenados e depositados em pilhas, que ficam expostas \u00e0 secagem ao sol.<\/p>\n

“N\u00e3o temos experi\u00eancia t\u00e9cnica ainda, pode ser que haja uma curva de aprendizado. Mas o Canad\u00e1 tem tido problema com esse m\u00e9todo nas \u00e1reas onde chove mais”, observa.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 risco zero<\/h2>\n

Especialistas alertam ainda que nenhum desses m\u00e9todos tem risco zero de acidentes – mesmo que a barragem n\u00e3o esteja sendo mais utilizada.<\/p>\n

“Barragens t\u00eam que ser monitoradas para o resto da vida”, diz Rafaela Bald\u00ed.<\/p>\n

A escolha do m\u00e9todo, contudo, depende de uma s\u00e9rie de fatores – entre eles, o clima, a topografia e a ocupa\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o pr\u00f3xima \u00e0 barragem. E, claro, os custos e o prazo para se construir.<\/p>\n

Especialista em monitoramento, o ge\u00f3logo Br\u00e1ulio Magalhaes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, afirma que o Brasil n\u00e3o perde em nada para outros pa\u00edses em termos de tecnologia de monitoramento. As empresas j\u00e1 usam drones e aeronaves capazes de detectar qualquer varia\u00e7\u00e3o milim\u00e9trica, al\u00e9m de diferentes medidores e radares.<\/p>\n

‘N\u00e3o vejo a fiscaliza\u00e7\u00e3o no mesmo n\u00edvel’<\/h2>\n

Para Magalh\u00e3es, contudo, h\u00e1 ainda pouco investimento das empresas na contrata\u00e7\u00e3o de m\u00e3o de obra capacitada para analisar esses dados. Ele afirma ainda que as empresas dificilmente compartilham os dados com pesquisadores, o que dificulta monitoramento externo das barragens.<\/p>\n

“Falta transpar\u00eancia”, diz Magalh\u00e3es, emendando que tamb\u00e9m falta exigir projetos que levem em conta a integra\u00e7\u00e3o das minas com a popula\u00e7\u00e3o local. “N\u00e3o basta fazer audi\u00eancias p\u00fablicas”, diz, sugerindo que empreendimentos das mineradoras devem ser desenhados na medida para cada comunidade e ainda fazer com que moradores locais ajudem no monitoramento.<\/p>\n

“Eles sabem quando o rio est\u00e1 diferente, quando vai chover mais forte… Moradores locais s\u00e3o excelentes sensores e as empresas ainda n\u00e3o os veem assim no Brasil”, observa o professor da UFMG.<\/p>\n

\"Bombeiros
Especialista diz que todas as barragens correm algum risco e devem ser monitoradas pelo resto da vida<\/figcaption><\/figure>\n

Br\u00e1ulio Magalh\u00e3es, contudo, afirma que os \u00f3rg\u00e3os de fiscaliza\u00e7\u00e3o n\u00e3o est\u00e3o no mesmo n\u00edvel das empresas, que t\u00eam condi\u00e7\u00f5es e recursos para investir em equipamentos de seguran\u00e7a e monitoramento.<\/p>\n

A engenheira Rafaela Bald\u00ed lembra que, em 2017, o Departamento Nacional de Produ\u00e7\u00e3o Mineral, agora Ag\u00eancia Nacional de Minera\u00e7\u00e3o (ANM), baixou uma portaria dificultando a constru\u00e7\u00e3o de barragens a montante e que, depois da trag\u00e9dia em Mariana, todas as empresas foram obrigadas a entregar um plano de seguran\u00e7a – a Vale entregou um para a mina C\u00f3rrego do Feij\u00e3o.<\/p>\n

“Quando acontece algo como em Brumadinho, me pergunto: o que aconteceu com os planos de a\u00e7\u00e3o emergencial e de evacua\u00e7\u00e3o?”, diz Bald\u00ed.<\/p>\n

Por meio de nota, a Ag\u00eancia Nacional de Minera\u00e7\u00e3o informou que “est\u00e1 tomando todas as medidas institucionais cab\u00edveis, visando a auxiliar na mitiga\u00e7\u00e3o dos danos causados pelo incidente” em Brumadinho.<\/p>\n

Segundo a ANM, a barragem “n\u00e3o apresentava pend\u00eancias documentais” e a Vale apresentou declara\u00e7\u00f5es de condi\u00e7\u00e3o de estabilidade, que atestam a seguran\u00e7a f\u00edsica e hidr\u00e1ulica da barragem.<\/p>\n

“De acordo com as informa\u00e7\u00f5es declaradas pela empresa Vale S.A. no Sistema Integrado de Gest\u00e3o de Seguran\u00e7a de Barragens de Minera\u00e7\u00e3o (SIGBM), pertencente \u00e0 ANM, com base em vistoria realizada em dezembro de 2018, por um grupo de t\u00e9cnicos da empresa, n\u00e3o foram encontrados ind\u00edcios de problemas relacionados \u00e0 seguran\u00e7a da referida estrutura”, diz a nota da ANM.<\/p>\n

A Vale, tamb\u00e9m por meio de nota, diz que est\u00e1 “ainda buscando respostas para o ocorrido”. Afirma ainda que a barragem que rompeu “estava inativa (n\u00e3o recebia rejeitos), n\u00e3o tinha a presen\u00e7a de lago e n\u00e3o existia nenhum outro tipo de atividade operacional em andamento”. “No momento, encontrava-se em desenvolvimento o projeto de descomissionamento da mesma”, explicou a companhia.<\/p>\n

Alternativa para as barragens de rejeito<\/h2>\n

Segundo o site do ITV (Instituto Tecnol\u00f3gico da Vale), “a Vale e o ITV j\u00e1 atuam intensamente na busca e desenvolvimento de tecnologias que tornem o reaproveitamento de rejeitos uma realidade”.<\/p>\n

Ainda de acordo com o site, rejeitos depositados em barragens t\u00eam teor igual \u2014 e em alguns casos at\u00e9 maior \u2014 ao mineral bruto que \u00e9 lavrado em outras minas.<\/p>\n

“A recupera\u00e7\u00e3o e o aproveitamento desse material iria possibilitar um aumento da recupera\u00e7\u00e3o metal\u00fargica e em massa nas plantas de beneficiamento e contribuir para a redu\u00e7\u00e3o do impacto e passivo ambiental das empresas mineradoras. Dessa forma, ainda seria poss\u00edvel evitar os custos e o tempo gasto para obten\u00e7\u00e3o das licen\u00e7as ambientais necess\u00e1rias para amplia\u00e7\u00e3o ou constru\u00e7\u00e3o de novas barragens de rejeito”, afirma o ITV.<\/p>\n

Na UFMG, por exemplo, h\u00e1 pesquisas para transformar os rejeitos em material de constru\u00e7\u00e3o como tijolos.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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