{"id":150110,"date":"2019-01-31T12:00:52","date_gmt":"2019-01-31T14:00:52","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150110"},"modified":"2019-01-30T22:30:06","modified_gmt":"2019-01-31T00:30:06","slug":"a-dolorosa-espera-junto-ao-rio-tomado-por-rejeitos-toxicos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/01\/31\/150110-a-dolorosa-espera-junto-ao-rio-tomado-por-rejeitos-toxicos.html","title":{"rendered":"A dolorosa espera junto ao rio tomado por rejeitos t\u00f3xicos"},"content":{"rendered":"
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Popula\u00e7\u00e3o de Brumadinho observa o rio Paraopeba, atingido pela lama de rejeitos<\/figcaption><\/figure>\n

As \u00e1guas do rio que passa perto da casa de Helton ficaram marrons no s\u00e1bado. Alguns peixes come\u00e7aram a morrer, trazendo at\u00e9 a sua porta o rastro de uma trag\u00e9dia que j\u00e1 o atingira duramente no dia anterior.<\/p>\n

Sua mulher e sua irm\u00e3 trabalhavam no refeit\u00f3rio dos funcion\u00e1rios da Vale na mina de C\u00f3rrego do Feij\u00e3o, sepultado na sexta-feira passada pela mar\u00e9 de barro que arrasou a pequena cidade mineira.<\/p>\n<\/div>\n

Desde ent\u00e3o, o tempo parou na humilde casa \u00e0s margens do Paraopeba, cujas \u00e1guas marrom-avermelhadas lembram o tempo todo de uma trag\u00e9dia que deixou, por ora, 84 mortos e 276 desaparecidos.<\/p>\n

“Dizem que as buscas est\u00e3o frequentes, mas o ponto de acesso onde elas estavam \u00e9 muito cr\u00edtico. S\u00e3o 15 metros de profundidade de barro”, explica, abatido, esse operador de cargas de 28 anos, que ainda n\u00e3o sabe como dizer a seu filho de 8 anos onde est\u00e1 sua m\u00e3e.<\/p>\n

Seus olhos inchados observam o rio passando, bem diante de sua casa, em uma ponte suspensa que conecta a estrada regional com uma exuberante mata atl\u00e2ntica.<\/p>\n

H\u00e1 apenas cinco dias, essa \u00e1gua era cristalina, como mostram as fotos no celular de Helton Adriano, e onde se pode ver seu filho brincar com o Paraopeba ao fundo.<\/p>\n

Pouco depois do meio-dia de sexta-feira, a cerca de 20 quil\u00f4metros dali, a barreira I do C\u00f3rrego do Feij\u00e3o arrebentou. Expeliu 12,7 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de res\u00edduos t\u00f3xicos sobre a \u00e1rea administrativa da mina, onde muitos dos funcion\u00e1rios da Vale almo\u00e7avam, e prosseguiu com sua onda de destrui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Servindo a comida, como todos os dias, estavam Carla – a irm\u00e3 35 anos de Helton – e Samara, sua esposa, de 28.<\/p>\n

Com um fio de voz, Helton recorda de quando lhes dizia para arranjar outro emprego, porque ouvia rumores sobre os perigos da represa.<\/p>\n

Mas n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil arrumar trabalho nesta regi\u00e3o em que a economia depende principalmente das minas da Vale.<\/p>\n

“Eu pedi para elas sa\u00edrem, e elas falavam: n\u00e3o, porque precisamos do emprego”.<\/p>\n

Cercado por in\u00fameras barreiras que ningu\u00e9m sabe exatamente em que condi\u00e7\u00e3o est\u00e3o, muitos sempre ouviram rumores sobre os riscos das represas que armazenam os rejeitos da mina do C\u00f3rrego do Feij\u00e3o. Mas ningu\u00e9m fazia nada.<\/p>\n

“Eles sabiam que ia arrebentar. Sabiam. Os meninos que trabalham l\u00e1 tinham medo de denunciar (as mineradoras) e serem mandados embora”, lamenta Vanderlei Alves, um caminhoneiro de 52 anos, que perdeu v\u00e1rios amigos.<\/p>\n

– At\u00e9 o S\u00e3o Francisco –<\/p>\n

A camada superficial da \u00e1gua arrasta sedimentos leves, enquanto o barro vai se acumulando na parte inferior. Chuvas fortes poder\u00e3o aumentar o potencial nocivo que ainda est\u00e1 sendo avaliado, mas j\u00e1 salta aos olhos.<\/p>\n

Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil), foram perdidos aproximadamente 125 hectares de matas, o equivalente a 125 campos de futebol, e a mar\u00e9 avan\u00e7a a 1 km\/h.<\/p>\n

A Ag\u00eancia Nacional de \u00c1guas (ANA) avalia que a onda de res\u00edduos e barro chegar\u00e1 entre 5 e 10 de fevereiro at\u00e9 a hidroel\u00e9trica Retiro Baixo, a 300 km do C\u00f3rrego do Feij\u00e3o.<\/p>\n

O temor \u00e9 que alcance o S\u00e3o Francisco, 30 km abaixo de Retiro Baixo.<\/p>\n

– Peixes mortos –<\/p>\n

A poucos metros da casa de Helton, uma equipe de especialistas ambientais toma notas e quebra o sil\u00eancio apenas para perguntar a um menino se viu peixes mortos.<\/p>\n

“Muitos!”, responde o garoto.<\/p>\n

O n\u00edvel do desastre ainda tem de ser determinado, mas os moradores locais temem pelo pior.<\/p>\n

“A maioria das pessoas aqui s\u00e3o muito rurais, ribeirinhos. Ent\u00e3o usamos o rio Parapeba como alimento, pela pesca, e para canalizar a \u00e1gua e regar a horta, e agora n\u00e3o se pode mais fazer isso”, lamenta Leda de Oliveira, uma cuidadora de idosos de 31 anos.<\/p>\n

A fam\u00edlia de Helton tamb\u00e9m ser\u00e1 afetada, apesar de, no momento, ele n\u00e3o estar pensando nisso.<\/p>\n

“Dizem que \u00e9 perigoso, que h\u00e1 um alto risco de contamina\u00e7\u00e3o. Mas a gente n\u00e3o est\u00e1 t\u00e3o preocupado com a quest\u00e3o dos peixes, porque a gente est\u00e1 com o foco nas buscas”, completa ele, conformado em continuar olhando as \u00e1guas marrons do rio.<\/p>\n

Fonte: AFP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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