{"id":150113,"date":"2019-01-31T00:59:57","date_gmt":"2019-01-31T02:59:57","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150113"},"modified":"2019-01-30T23:01:24","modified_gmt":"2019-01-31T01:01:24","slug":"animais-gigantes-viviam-em-megapantanal-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/01\/31\/150113-animais-gigantes-viviam-em-megapantanal-na-amazonia.html","title":{"rendered":"Animais gigantes viviam em megapantanal na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"
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Lago que existiu na regi\u00e3o h\u00e1 mais de 10 milh\u00f5es de anos sobreviveu \u00e0 invers\u00e3o de curso do rio Amazonas com a eleva\u00e7\u00e3o dos Andes<\/figcaption><\/figure>\n

Terra de gigantes. Esta \u00e9 a melhor defini\u00e7\u00e3o para o lago Pebas, o megapantanal que existia no oeste da Amaz\u00f4nia durante o Mioceno, per\u00edodo que se estendeu de 23 milh\u00f5es a 5,3 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s.<\/p>\n

O Pebas foi o lar do maior jacar\u00e9 e do maior crocodiliano gavial de que se tem not\u00edcia, ambos com mais de 10 metros de comprimento, e da maior das tartarugas, cujo casco media 3,5 metros de di\u00e2metro. Sem mencionar roedores do tamanho dos b\u00fafalos atuais.<\/p>\n

Vest\u00edgios daquele antigo bioma est\u00e3o espalhados por mais de 1 milh\u00e3o de quil\u00f4metros quadrados, divididos entre Bol\u00edvia, Acre, oeste do Amazonas, Peru, Col\u00f4mbia e Venezuela. As data\u00e7\u00f5es mais antigas, feitas na Venezuela, d\u00e3o conta de que o lago Pebas existia h\u00e1 18 milh\u00f5es de anos. Entretanto, acreditava-se que o megapantanal teria secado h\u00e1 mais de 10 milh\u00f5es de anos, antes da revers\u00e3o do curso do rio Amazonas, que na maior parte do Mioceno corria de leste a oeste, portanto no sentido contr\u00e1rio do curso atual. Com o esgotamento do Pebas, os grandes animais desapareceram.<\/p>\n

Investigando sedimentos provenientes de dois s\u00edtios paleontol\u00f3gicos dos rios Acre e Purus, associados a f\u00f3sseis de vertebrados, o bi\u00f3logo\u00a0Marcos C\u00e9sar Bissaro J\u00fanior, da Faculdade de Filosofia, Ci\u00eancias e Letras de Ribeir\u00e3o Preto da Universidade de S\u00e3o Paulo (FFCLRP-USP), obteve data\u00e7\u00f5es de ao menos 8,5 milh\u00f5es de anos, com uma margem de erro de 500 mil anos para mais ou para menos.<\/p>\n

H\u00e1 8,5 milh\u00f5es de anos, h\u00e1 ind\u00edcios de que o Amazonas j\u00e1 corria na dire\u00e7\u00e3o atual, indo dos Andes peruanos em dire\u00e7\u00e3o ao Atl\u00e2ntico. \u00c0quela altura, o Pebas n\u00e3o deveria lembrar mais o magn\u00edfico p\u00e2ntano de outrora. Deveria parecer uma plan\u00edcie inund\u00e1vel, \u00e0 semelhan\u00e7a do atual Pantanal mato-grossense. Esta \u00e9 a opini\u00e3o de\u00a0Annie Schmaltz Hsiou, professora do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP e supervisora do trabalho de Bissaro J\u00fanior, cujos resultados foram publicados na revista\u00a0Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology<\/i>.<\/p>\n

O estudo contou com\u00a0apoio da FAPESP\u00a0e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient\u00edfico e Tecnol\u00f3gico (CNPq). Participaram pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria, do Museu de Ci\u00eancias Naturais da Funda\u00e7\u00e3o Zoobot\u00e2nica do Rio Grande do Sul, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Federal do Acre e da Boise State University, nos Estados Unidos.<\/p>\n

D\u00e1-se o nome de sistema Pebas \u00e0 associa\u00e7\u00e3o dos registros de diversas forma\u00e7\u00f5es geol\u00f3gicas existentes na Amaz\u00f4nia ocidental. S\u00e3o elas a forma\u00e7\u00e3o Pebas e Fitzcarrald no Peru e no Brasil, a forma\u00e7\u00e3o Solim\u00f5es no Brasil, as forma\u00e7\u00f5es Urumaco e Socorro na Venezuela, a forma\u00e7\u00e3o La Venta na Col\u00f4mbia e a Quebrada Honda na Bol\u00edvia.<\/p>\n

“Embora a Forma\u00e7\u00e3o Solim\u00f5es seja uma das unidades estratigr\u00e1ficas do per\u00edodo Ne\u00f3geno com f\u00f3sseis de melhor amostragem do norte da Am\u00e9rica do Sul, as suposi\u00e7\u00f5es sobre a idade de deposi\u00e7\u00e3o em territ\u00f3rio brasileiro foram baseadas, em grande parte, a partir de m\u00e9todos indiretos\u201d, disse Bissaro J\u00fanior.<\/p>\n

\u201cA aus\u00eancia de idades absolutas dificulta interpreta\u00e7\u00f5es mais refinadas sobre os paleoambientes e a paleoecologia das associa\u00e7\u00f5es faun\u00edsticas ali encontradas e n\u00e3o permite responder a algumas quest\u00f5es fundamentais importantes, como se essas camadas foram depositadas antes da forma\u00e7\u00e3o do proto-Amazonas ou quando esse j\u00e1 havia se formado\u201d, disse.<\/p>\n

Para ajudar a responder a essas e outras quest\u00f5es, Bissaro J\u00fanior apresenta em seu trabalho a primeira geocronologia (por amostras do mineral zirc\u00e3o) da Forma\u00e7\u00e3o Solim\u00f5es. As amostras foram coletadas em dois dos s\u00edtios paleontol\u00f3gicos mais bem amostrados da regi\u00e3o, nas localidades de Niter\u00f3i, no rio Acre (munic\u00edpio de Senador Guiomar), e Talism\u00e3, no rio Purus (munic\u00edpio de Manuel Urbano).<\/p>\n

No s\u00edtio Niter\u00f3i foram encontrados, a partir dos anos 1980, muitos f\u00f3sseis do Mioceno, entre crocodilianos, peixes, roedores, tartarugas, aves e mam\u00edferos xenartros (pregui\u00e7as terrestres). Em Talism\u00e3, a partir do fim dos anos 1980, foram achados restos mioc\u00eanicos de crocodilianos, de serpentes, roedores, primatas, pregui\u00e7as e ungulados sul-americanos extintos (litopternas).<\/p>\n

Como resultado das data\u00e7\u00f5es, Bissaro J\u00fanior descobriu que as rochas do s\u00edtio Niter\u00f3i t\u00eam, como idade m\u00e1xima de deposi\u00e7\u00e3o, cerca de 8,5 milh\u00f5es de anos e as rochas de Talism\u00e3, cerca de 10,9 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n

“Com base em dissimilaridades faun\u00edsticas e diferen\u00e7as m\u00e1ximas de idade entre as duas localidades, sugerimos que Talism\u00e3 \u00e9 mais antigo que Niter\u00f3i, mas ressaltamos a necessidade de novas data\u00e7\u00f5es absolutas para testar essa hip\u00f3tese, bem como os esfor\u00e7os de data\u00e7\u00e3o de outras localidades da Forma\u00e7\u00e3o Solim\u00f5es\u201d, disse Bissaro J\u00fanior.<\/p>\n

Esgotamento do Pebas<\/b><\/p>\n

A forma\u00e7\u00e3o do lago Pebas foi decorr\u00eancia do soerguimento dos terrenos da protobacia amaz\u00f4nica. Isso se deu em fun\u00e7\u00e3o da eleva\u00e7\u00e3o dos Andes, que acelerou a partir de 20 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s. Naquela \u00e9poca, a Amaz\u00f4nia ocidental era banhada pelas bacias do Amazonas (que corria em dire\u00e7\u00e3o ao Caribe) e do rio Magdalena, na Col\u00f4mbia. A eleva\u00e7\u00e3o dos Andes, no que s\u00e3o hoje o Peru e a Col\u00f4mbia, acabou por interromper o fluxo de \u00e1gua em dire\u00e7\u00e3o ao Pac\u00edfico, que acabou empo\u00e7ando na altura da Amaz\u00f4nia ocidental, dando origem ao megap\u00e2ntano.<\/p>\n

Mas os Andes continuaram subindo. O cont\u00ednuo soerguimento dos terrenos da Amaz\u00f4nia teve dois efeitos. O proto-Amazonas, antes represado no lago Pebas, inverteu seu curso, tornando-se o majestoso rio que conhecemos. Ao longo desse processo, as \u00e1guas do megap\u00e2ntano Pebas foram escoando.<\/p>\n

O antigo pantanal viria a se tornar uma plan\u00edcie alagada, repleta de bichos imensos, que ainda existia h\u00e1 8,5 milh\u00f5es de anos, segundo as novas data\u00e7\u00f5es de Bissaro J\u00fanior. Eventualmente, as irrefre\u00e1veis for\u00e7as geol\u00f3gicas acabaram por escoar as \u00e1guas do que restava de lagoas e lagos tempor\u00e1rios na Amaz\u00f4nia ocidental. Foi o fim do Pebas e de sua fauna.<\/p>\n

“O problema da data\u00e7\u00e3o do Pebas sempre foi associar as data\u00e7\u00f5es diretamente \u00e0 fauna de vertebrados. Existem in\u00fameras data\u00e7\u00f5es de rochas onde se acharam f\u00f3sseis de invertebrados. Mas conseguir datar, no Brasil, rochas com vertebrados era um dos nossos objetivos\u201d, disse Schmaltz Hsiou.<\/p>\n

Segundo a professora, as novas data\u00e7\u00f5es d\u00e3o condi\u00e7\u00f5es de sugerir que o Sistema Pebas, do grande pantanal, teria existido entre 23 milh\u00f5es e 10 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s. Esse deu lugar ao chamado Sistema Acre, a grande plan\u00edcie de inunda\u00e7\u00e3o que existiu entre 10 milh\u00f5es e 7 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, onde ainda viviam r\u00e9pteis como o\u00a0Purussaurus<\/i>\u00a0e o\u00a0Mourasuchus<\/i>.<\/p>\n

“O Sistema Acre devia ser um bioma semelhante ao da Venezuela da mesma \u00e9poca, formado por lagunas ao redor do delta de um grande rio, que seria o proto-Orinoco\u201d, disse Schmaltz Hsiou.<\/p>\n

Roedores gigantes<\/b><\/p>\n

Os roedores comp\u00f5em um grupo de mam\u00edferos extremamente diversificado que habita todos os continentes, com exce\u00e7\u00e3o da Ant\u00e1rtica. Na Amaz\u00f4nia, o grupo conta com grande n\u00famero de esp\u00e9cies.<\/p>\n

\u201cParticularmente, um grupo de roedores conhecido cientificamente como Caviomorpha chegou ao nosso continente h\u00e1 cerca de 41 milh\u00f5es de anos, vindos da \u00c1frica\u201d, disse outro autor do artigo publicado na\u00a0Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology<\/i>, Leonardo Kerber, do Centro de Apoio \u00e0 Pesquisa Paleontol\u00f3gica da Quarta Col\u00f4nia (Cappa) da Universidade Federal de Santa Maria.<\/p>\n

\u201cNesse per\u00edodo, conhecido como Eoceno, a \u00c1frica e a Am\u00e9rica do Sul j\u00e1 estavam totalmente separadas por pelo menos 1.000 km de extens\u00e3o entre os pontos mais pr\u00f3ximos de ambos continentes, o que inviabilizaria as conex\u00f5es biogeogr\u00e1ficas para que os vertebrados terrestres pudessem migrar entre as duas massas de terra. Entretanto, as correntes oce\u00e2nicas propiciaram a dispers\u00e3o por meio de balsas flutuantes naturais formadas por aglomerado de troncos e galhos derrubados em rios por tempestades, que acabam por desembocar no mar. Essas balsas flutuantes eventualmente carregam pequenos vertebrados. Um evento como este pode ter favorecido a travessia de pequenos mam\u00edferos, como os macacos\u00a0Platyrrhyni<\/i>\u00a0e tamb\u00e9m pequenos roedores que dariam origem a um dos mais emblem\u00e1ticos grupos de mam\u00edferos sul-americanos, os roedores caviomorfos\u201d, disse.<\/p>\n

Segundo Kerber, desde que chegaram ao continente, os roedores caviomorfos passaram por um longo per\u00edodo de evolu\u00e7\u00e3o o que fez com que se tornassem extremamente diversificados. Atualmente, os representantes desse grupo encontrados no Brasil s\u00e3o as pacas, cutias, pre\u00e1s, porcos-espinhos, ratos-espinhosos e a capivara, o maior roedor do mundo.<\/p>\n

\u201cParticularmente na Amaz\u00f4nia, hoje encontramos uma grande diversidade de ratos-espinhosos e porcos-espinhos ou ouri\u00e7os, al\u00e9m de cutias e pacas. Entretanto, no Mioceno, a fauna da regi\u00e3o amaz\u00f4nica era bastante diferente daquela que podemos observar atualmente\u201d, disse Kerber.<\/p>\n

\u201cNos \u00faltimos anos, al\u00e9m de termos comunicado a presen\u00e7a de diversos f\u00f3sseis de esp\u00e9cies j\u00e1 conhecidas pela ci\u00eancia, algumas que j\u00e1 haviam sido registradas na Forma\u00e7\u00e3o Solim\u00f5es e outras conhecidas para outras regi\u00f5es da Am\u00e9rica do Sul, e registradas ali pela primeira vez, descrevemos tr\u00eas esp\u00e9cies novas de roedores de m\u00e9dio porte (Potamarchus adamiae<\/i>,\u00a0Pseudopotamarchus villanuevai<\/i>\u00a0e\u00a0Ferigolomys pacarana \u2013 Dinomyidae<\/i>), que possuem uma rela\u00e7\u00e3o de parentesco com a pacarana\u201d, disse.<\/p>\n

Kerber conta que em artigo que ser\u00e1 publicado em breve no\u00a0Journal of Vertebrate Paleontology<\/i>\u00a0a esp\u00e9cie\u00a0Neoepiblema acreensis<\/i>, um roedor neoepiblem\u00eddeo end\u00eamico do Mioceno do Brasil que pesava cerca de 120 quilos, foi reconhecida como uma esp\u00e9cie v\u00e1lida.<\/p>\n

\u201cA esp\u00e9cie foi descrita em 1990, mas havia sido considerada inv\u00e1lida ao final da mesma d\u00e9cada. Esses registros, tanto das esp\u00e9cies j\u00e1 conhecidas como tamb\u00e9m das esp\u00e9cies novas, auxiliam a entender como a vida evoluiu naquela regi\u00e3o, mostrando como a biodiversidade evoluiu e tamb\u00e9m se extinguiu ao longo dos \u00faltimos milh\u00f5es de anos\u201d, disse Kerber.<\/p>\n

O artigo\u00a0Detrital zircon U\u2013Pb geochronology constrains the age of Brazilian Neogene deposits from Western Amazonia<\/i>\u00a0(doi: https:\/\/doi.org\/10.1016\/j.palaeo.2018.11.032), de Marcos C. Bissaro-J\u00fanior, Leonardo Kerber, James L. Crowley, Ana M. Ribeiro, Renato P. Ghilardi, Edson Guilherme, Francisco R. Negri, Jonas P. Souza Filho e Annie S. Hsiou, est\u00e1 publicado em:\u00a0www.sciencedirect.com\/science\/article\/pii\/S003101821830405X<\/a><\/b>.<\/p>\n

Fonte: FAPESP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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